domingo, 13 de janeiro de 2008

religião/misticismo

O presente trabalho foi elaborado em decorrência do interesse manifestado por meu filho Rafael em conhecer a Bíblia pessoal e diretamente, tendo em vista assuntos religiosos atualmente ventilados com alguma freqüência no seu círculo social (amigos, companheiros de estudos e de trabalho). Minha esposa sugeriu que, além do roteiro, eu fizesse um resumo dos 2 testamentos. Está feito. Em complemento, estou preparando um resumo específico de alguns livros da Bíblia que será editado a seguir neste blog. Fraternalmente, ASLima.

ROTEIRO PARA LER A BIBLIA

(de pai para filho)

I - INTRODUÇÃO

Bíblia é palavra grega que significa livro. A bíblia sagrada é uma coleção de livros. A bíblia cristã divide-se em duas partes: o antigo testamento (hebraico) e o novo testamento (cristão). O antigo testamento refere-se à aliança de Javé (deus hebreu) com Abraão (patriarca dos hebreus) e depois com Moisés (culto que exige sacrifícios de gente e de animais). O novo testamento refere-se à aliança do deus Pai Celestial com Jesus (que substitui os sacrifícios de gente e de animais pela intermediação do Cristo). A igreja católica acrescentou ao antigo testamento os seguintes livros rejeitados pelos judeus e pelos protestantes: Tobias, Judith, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico. O argumento da rejeição é o de que esses livros não são frutos da inspiração divina. A bíblia cristã católica tem mais livros do que a bíblia cristã protestante e algumas diferenças de redação. Os judeus admitem um único testamento. Dividem-no em 3 partes principais: (i) a Lei de Moisés (Tora), que corresponde ao Pentateuco (5 primeiros livros); (ii) os livros históricos, sob a denominação genérica de Profetas; (iii) os demais textos sob a denominação genérica de hagiógrafos: salmos, provérbios, cântico dos cânticos, lamentações, crônicas, Eclesiastes, Jó, Ruth, Esther, Daniel, Esdras, Neemias. Os judeus não reconhecem a legitimidade de um novo testamento cristão. Para eles, Jesus não era o messias esperado, nem pertencia à linhagem sagrada de Davi.

Observação: (1) A rigor, nenhum livro da Bíblia pode ser creditado à inspiração divina. Todos são frutos da arte, do engenho, da crença e da inteligência humana. Só remotamente, talvez, Deus participe de alguma coisa como criador do mundo. A participação direta de Deus em qualquer coisa no mundo, após a criação, afigura-se improvável diante da suficiência das leis divinas que governam o universo. Os seres humanos podem se harmonizar com a fonte divina, graças à inteligência e sensibilidade de que são dotados e, assim, obter orientação. A crença no sobrenatural brota da ignorância dos homens quanto às leis naturais e divinas. Da compreensão e interpretação dessas leis podem surgir crenças lúcidas. O paradoxo é aparente (fé lúcida?). Nada impede que depois de conhecer (razão), o indivíduo passe a crer (fé).

(2) O roteiro ora proposto acolhe algumas sugestões e informações contidas na Bíblia Sagrada da Editora Ave Maria, de São Paulo/SP, 58ª edição/1987. Idem no que tange ao resumo, além dos apontamentos de que me servi para escrever o romance O Evangelho da Irmandade (RTN Editora e Artes Gráficas, Resende/RJ, 2006).

(3) Os tempos de leitura de cada livro fixados neste roteiro foram calculados sobre a página integral (duas colunas) da bíblia católica acima citada. O cálculo foi de 4 minutos para cada página. Esse tempo pode variar: (i) segundo a velocidade individual do leitor; (ii) segundo o salteamento de trechos por falta de interesse (genealogias, descrições de lugares e templos, dietas, etc.); (iii) segundo o modelo e as dimensões das páginas e dos caracteres da bíblia que o leitor estiver utilizando. A seqüência indicada trará melhor aproveitamento e maior compreensão dos acontecimentos históricos e religiosos.

II - PROCEDIMENTOS

1. Preparação. Lavar o rosto e as mãos só com água (sem sabonete). Enxugar sem esfregar a toalha na pele. Beber um copo de água. Colocar a bíblia no local da leitura. Utilizar caderno para anotações e transcrições. Colocar caderno e caneta na mesa de leitura. Deixar o ambiente na penumbra. A luz deverá incidir exclusivamente sobre o texto e o caderno. Se possível, queimar incenso e colocar música suave (sem vocal). Duração desta fase: 5 minutos.

2. Consulta esporádica. Segurar a bíblia com as duas mãos. Fechar os olhos. Inspirar e expirar 3 vezes, lentamente. Abrir a bíblia e os olhos. Ler o trecho em que primeiro incidiu o seu olhar. Fechar a bíblia e meditar sobre o que leu. Duração desta consulta: leitura, 1 minuto; meditação, 5 minutos.

3. Consulta sistemática. Selecionar os dias da semana para a leitura (preferencialmente, todos os dias). Escolher a hora da leitura (manhã, tarde, noite, madrugada). Manter sempre o mesmo horário para as leituras seguintes. Fazer a preparação. Acomodar-se no local de leitura. Relaxar (coluna reta, pernas separadas e mãos sobre os joelhos até o inicio da leitura). Ler sem ansiedade ou pressa. Após a leitura, fechar a bíblia, apagar a lâmpada e meditar. Duração: preparação, 5 minutos; leitura, 30 minutos (média); meditação, 5 minutos; total: 40 minutos, aproximadamente, para cada sessão de leitura.

4. Leitura complementar. História da Civilização - idades antiga e clássica: Egito, Palestina, Mesopotâmia, Grécia e Roma. História das Religiões: hinduismo, budismo, judaísmo, cristianismo, islamismo, espiritismo.

5. Leitura suplementar de textos bíblicos. Salmos, Cântico dos Cânticos, Cartas dos Apóstolos e Apocalipse.

III - ANTIGO TESTAMENTO

Advertência inicial. O antigo testamento contém a narrativa da criação do mundo e do primeiro casal humano (Adão/Eva), da extinção da primeira raça humana (dilúvio), geração da nova raça (Noé), saga do povo hebreu (Abraão) e das suas relações com o deus Javé. O novo testamento contém a narrativa da vida de Jesus, as suas relações com o deus Pai Celestial e a futura extinção da segunda raça humana (juízo final). A unidade desses 2 deuses não encontra apoio na bíblia. Os atributos de cada um são diferentes e opostos. Javé (ou Jeová), um deus nacional (do povo hebreu), implacável, colérico, vingativo, cruel, genocida, sedutor, negociador, materialista. Pai Celestial, um deus universal (de toda a humanidade), justo, bondoso, misericordioso, espiritualista. O antigo testamento serviu de ponto de partida para a pregação de Jesus e, posteriormente, à pregação de Maomé. Isto aliado ao fato de esse testamento narrar períodos de devoção monoteísta do povo hebreu e ao fato de Jesus ter nascido na Palestina, explica o seu estudo por sacerdotes, crentes e profanos. A doutrina cristã independe da doutrina hebraica. À fé cristã basta a mensagem trazida por Jesus e registrada no novo testamento. À fé islâmica basta a mensagem trazida por Maomé e registrada no Alcorão.

Resumo. Os primeiros 5 livros do antigo testamento foram escritos ou ditados por Moisés entre 1250 e 1200 AC. Antes disso havia apenas a tradição oral. O Senhor Deus criou o mundo em 6 dias e descansou no 7º (em sendo onipotente, Deus cansa?). Do barro criou o primeiro homem e inspirou-lhe nas narinas o sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente (Adão). Da costela de Adão o Senhor Deus formatou a primeira mulher (Eva). O Senhor Deus havia plantado o Jardim do Éden e ali colocou o casal para que dele cuidassem. Proibiu o consumo do fruto da árvore do bem e do mal. Esse casal gerou a primeira raça humana, porém, desobedeceu a ordem divina e foi expulso do paraíso. Os filhos de Deus se agradaram das filhas dos homens e com elas se relacionaram sexualmente, gerando os heróis da antiguidade. Naquele tempo viviam gigantes na terra. Deus se desagradou da conduta dessa primeira raça de homens e afogou todos em um dilúvio, porém poupou a vida de Noé e da sua família. Seguindo instrução divina, Noé construiu uma grande arca e nela recolheu animais de todas as espécies. Depois de 40 dias e 40 noites cessou o dilúvio. Todos saem da arca. Noé e seus familiares recebem instrução divina para serem fecundos, multiplicarem-se e encherem a terra. Deus celebra uma aliança com Noé, seus filhos e toda a sua posteridade. Todos falavam uma só língua, porém alguns construíram uma torre para atingir o céu. Isto desagradou ao Senhor Deus que, para impedir aquele propósito, confundiu os homens com línguas diferentes e os dispersou daquele lugar pela face da terra. O patriarca dos hebreus, segundo a narrativa de Moisés, foi um homem chamado Abrão, rebatizado pelo deus Javé (ou Jeová) com o nome de Abraão após abandonar o politeísmo e fazer aliança com o citado deus. Esse homem partiu de Ur, na Caldéia, ao tempo do rei Hamurabi e chegou a Canaã (Palestina) com a sua família (era casado com Sara, sua prima, mulher muito bonita e que o livrou de alguns apuros). Os hebreus formavam uma pequena comunidade que vivia da produção agrícola. Hebreu significa nômade e bandido. Os hebreus consideravam o seu deus superior aos deuses dos outros povos. No entanto, mesmo depois da aliança com Javé, esse povo, em distintas ocasiões, cultuou vários deuses, afastando-se do monoteísmo. Por volta de 1600 AC, liderados por um neto de Abraão, de nome Jacó (depois foi rebatizado por Javé com o nome de Israel), os hebreus foram para o Egito e se fixaram na rica região do delta do rio Nilo. Por volta de 1250 AC, Moisés, príncipe egípcio, liderou os hebreus para fora do Egito. Enquanto estavam no deserto, os hebreus censuraram Moisés por ter se casado com uma negra (princesa etíope); culparam-no pela fome e pelas agruras que estavam passando e manifestaram a vontade de retornar ao Egito. Com a morte de Moisés, coube a Josué conduzir o povo a Canaã (Palestina), começando pela tomada de Jericó no ano de 1200 AC. O povo hebreu estava organizado em 12 tribos que dividiram entre si o território de Canaã (a tribo de Levi só recebeu algumas cidades). Por algum tempo esse povo foi governado pelos juízes. Rei era o deus Javé. As tribos passaram a exigir um rei humano. Saul foi ungido rei pelo juiz e profeta Samuel. Morto Saul, seu filho Isboset reinou sobre 11 tribos, enquanto Davi reinou sobre a tribo de Judá. Após a morte de Isboset, Davi foi eleito rei de todas as tribos. Salomão, filho e sucessor de Davi, alia-se ao Egito (casa com a filha do faraó) e constrói o palácio real, o templo e o muro de Jerusalém. Após a morte de Salomão, as tribos de Judá e Benjamim formam o reino de Judá e as demais tribos formam o reino de Israel (2 reinos independentes e hostis). Israel foi extinto em 722 AC. Os israelitas foram removidos para rincões do Oriente pelo rei assírio. Depois, foi a vez do reino de Judá. O rei da Babilônia removeu os judeus para a Mesopotâmia. Ciro, rei da Pérsia (538 AC) autorizou a volta dos judeus à Palestina. Em 331 AC, os judeus caíram sob o domínio de Alexandre Magno. Em 163 AC, Judas Macabeu e seus irmãos, dando seqüência às lutas do pai (Matatias) conquistam a independência. Em 63 AC, a Palestina cai sob o domínio de Roma e se torna uma província do império romano.

Primeira seqüência de leitura

Gênesis (3h20´), Êxodo (2h56´) Levítico (2h00), Números (2h48´), Deuteronômio (2h40´). Total da primeira leitura: 13h 44´.

Segunda seqüência de leitura

Josué (1h36´), Juízes (1h37´), Rute (00h16´), Samuel I e II (3h44´) e Reis I e II (4h16´). Total da segunda leitura: 11h13´.

Terceira seqüência de leitura

Amós (1h.36´), Oséias (1h.36´), Tobias (00h48´), Judite (00h.56´), Ester (00h.56´), Isaías I - 1/39 (3h.28´), Miquéias (00h32´), Naum (00h32´), Sofonias (00h24´), Habacuc (00h24´), Jeremias (6h.00). Total: 14h32´.

Quarta seqüência de leitura

Lamentações (00h32´), Ezequiel (4h00), Abdias (00h08´), Isaías II – 40/55 (1h.44´), Crônicas I e II (4h16´), Neemias (1h04´) e Esdras (00h40´). Total: 12h24´.

Quinta seqüência de leitura

Ageu (00h08´), Zacarias (00h40´), Isaías III – 56/66 (1h12´), Malaquias (00h16´), Joel (00h24´), Jonas (00h08´). Total: 5h44´.

Sexta seqüência de leitura

Provérbios (2h.40´), Jó (2h.56´), Eclesiastes (00h40´), Eclesiástico (5h04´). Total: 11h20´.

Sétima seqüência de leitura

Sabedoria (1h52´), Baruc (00h40´), Daniel (1h44´), Macabeus I e II (3h44´). Total: 8h.

IV - NOVO TESTAMENTO

Advertência inicial. O novo testamento resultou dos trabalhos escritos pelos apóstolos de Jesus, ou por eles ditados ou a eles atribuídos, a partir do ano 60 DC, aproximadamente. Apóstolo era o cristão investido de autoridade para divulgar a mensagem de Jesus, ensinar a doutrina, curar enfermidades e organizar igrejas. Apóstolos da primeira hora eram aqueles que conheceram Jesus pessoalmente e com ele conviveram. Apóstolos da segunda hora eram os novos adeptos que não conheceram Jesus. O vocábulo evangelho deriva do grego e significa boa nova. Foram selecionados, pela igreja católica, para compor o novo testamento, os seguintes escritos: (i) os 4 evangelhos (2 de apóstolos da primeira hora, Mateus e João e 2 de apóstolos da segunda hora, Marcos e Lucas); (ii) atos dos apóstolos (redigidos por Lucas); (iii) cartas de apóstolos da primeira hora (3 de João, 2 de Pedro, 1 de Tiago e 1 de Judas Tadeu); (iv) 14 cartas do apóstolo da segunda hora (Paulo); (v) livro profético do apóstolo João (Apocalipse). Há evangelhos de outros apóstolos da primeira hora que não foram incluídos no testamento (Felipe, Judas, Maria Madalena, Pedro, Tomé).

Resumo. O novo testamento contém a narrativa dos acontecimentos que precederam o nascimento de Jesus, as circunstâncias do nascimento dele e do primo João, a pregação de João e o seu ritual de batismo (daí o seu apelido de João Batista), a pregação de Jesus na Palestina (Galiléia, Samária e Judéia), as suas tentações, os seus milagres, os seus padecimentos, a ressurreição e ascensão celestial, os testemunhos e as atividades dos apóstolos, a difusão da nova doutrina (evangelho) pelos países da Ásia Menor e Europa, o surgimento da igreja cristã primitiva, a presença do espírito santo nessa comunidade e a catequese dos pagãos. Ao tempo dos pais de Jesus, por volta do ano 30 AC, o imperador romano César Augusto dividiu a Palestina em 4 regiões, cada qual governada por um tetrarca. A região da Galiléia (norte da Palestina) coube a um príncipe judeu de nome Herodes Magno. Durante o governo desse príncipe, nasceu Jesus. A região da Judéia (sul da Palestina) foi confiada a um procurador romano. Na época em que Jesus estava adulto, o procurador era Pôncio Pilatos, general romano. O governador da Galiléia era Herodes Antipas, neto de Herodes Magno. Nessa época, já havia judeus planejando repetir a façanha de Judas Macabeu: conquistar a independência da Palestina. Jesus negou-se a liderar esse movimento ou dele participar de alguma forma, sob a justificativa de que o seu reino não era deste mundo. Por ironia, Jesus foi acusado de subverter a ordem com o objetivo de se tornar rei de uma Palestina independente. Foi condenado à morte. A guerra civil sobreveio à execução da pena (crucifixão). As tropas romanas sufocaram a revolta e no ano 70 DC, destruíram Jerusalém (inclusive o templo, como Jesus profetizara). Este foi o fim da história do povo hebreu.

Observação. (i) A igreja cristã primitiva não se confunde com a igreja cristã católica. Esta foi organizada a partir do concílio de Nicéia, na Idade Média (364 DC). A igreja católica se considera herdeira de Jesus, o Cristo (noiva de Cristo). (ii) Havia na Palestina, sob domínio britânico, na década de 1930, uma comunidade judaica (descendentes dos hebreus do reino de Judá). Movimento sionista internacional pleiteava a fundação do Estado judaico. Em 1947, sob o impacto do holocausto (natural ou artificial) a ONU permitiu a partilha do território entre árabes e judeus. Ao findar o mandato britânico, em 1948, foi criado o Estado de Israel. Os árabes protestaram e se recusaram a constituir um Estado Palestino enquanto os judeus ali se mantivessem (os árabes não reconheciam a legitimidade do Estado de Israel). Os conflitos se sucederam. Israel, sob a proteção dos EUA, avançou na cota que coube aos árabes. O presidente dos EUA aproximou as duas partes, recentemente (2007). A criação do Estado Palestino, autorizada pela ONU, pode se tornar realidade, o que talvez leve paz à região.

Seqüência de leitura

Mateus (2h32´), Marcos (1h28´), Lucas (2h40´), Atos dos Apóstolos (2h24´), João (2h00). Total da leitura: 11h4´.

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