terça-feira, 24 de janeiro de 2012

BBB

BIG BROTHER BRASIL.

A rede de computadores e a imprensa vêm apresentando denúncias contra esse programa de televisão. Os críticos apontam o baixo nível e a má influência desse programa sobre a família, as crianças e os adolescentes. A emissora de TV é censurada por manter o programa no ar, explorar a ignorância dos telespectadores e obter rios de dinheiro em ligações telefônicas e patrocínios. O apresentador é censurado por qualificar de heróis pessoas ociosas que passam os dias sem nada fazer de útil. O elenco é censurado por se constituir de mentecaptos e deficientes no vernáculo. 

A Constituição da República (CR) concede liberdade às emissoras de rádio e televisão para criar e exibir programas. Veda censura de natureza política, ideológica e artística (CR 220, §2º). Censura que não seja de tal natureza está permitida a contrario sensu. Legítima, pois, censura de natureza social. A ordem social compreende o trabalho, a seguridade social, a educação, a cultura, o desporto, a ciência, a tecnologia, a comunicação social, o meio ambiente, a família, a criança, o adolescente, o idoso e o índio. No seu artigo 220, §3º, II, a CR autoriza o legislador federal a estabelecer meios que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas de televisão que desatendam a preferência por finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas e desrespeitem os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Compete: (i) ao legislador federal, regular as diversões e espetáculos públicos; (ii) ao Poder Público, informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua exibição se mostre inadequada (CR 220, §3º, I). Segundo esses dispositivos da CR, a liberdade de informação jornalística é plena, mas não absoluta; o anonimato é proibido; a intimidade, a privacidade, a honra e a imagem das pessoas devem ser respeitadas e a resposta do ofendido, publicada. A lei poderá impor restrições à informação desprovida de feição jornalística.   

Consoante se depreende das críticas, o programa em tela não tem caráter educativo, artístico, cultural ou informativo. Cuida-se de mera diversão com o intuito de arrecadar dinheiro. Fundada na CR, a autoridade pública pode proibir a exibição do programa nocivo à sociedade. Todavia, sensível ao tráfico de influência, a autoridade pública poderá manter o programa e mudar apenas o horário de exibição. Ao telespectador inconformado restará: (i) processar a autoridade por corrupção e a emissora por abuso de direito; (ii) representar ao Ministério Público; (iii) mudar de canal ou desligar o aparelho de TV.

O nível baixo do programa e dos participantes agrada a um público considerável, tendo em vista a excelente arrecadação citada nas críticas, obtida pela emissora e pela companhia telefônica. Substancial à crítica é o conhecimento do alvo. Se houve críticas é porque seus autores assistem ao programa e integram o público. O fato de o programa eventualmente servir de campo à pesquisa de psicólogos não justifica a sua exibição durante anos a fio. Bastariam duas ou três apresentações com pessoas diferentes. Para mim, bastaram duas exibições ainda no tempo da outra emissora. Depois, nunca mais me interessei. Voto pela exclusão. Prefiro noticiário, filmes, esportes, reportagens e programas sobre arte, ciência, misticismo, costumes, em distintos canais. Ocupo maior tempo da semana a ler e a escrever, à técnica rosacruz de meditação, à prática do caratê, a dedilhar o violão, ao computador, à sauna, à piscina, aos três cães, às plantas, à caminhada nas ruas sem pavimento do bucólico bairro onde moro, às reuniões com ecologistas da aldeia, às conversas com a minha esposa e filhos, fora o tempo das refeições, do repouso e demais exigências do organismo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


VI

Rogai por nós, pecadores.

Pecado é o crime religioso, a violação das leis ditadas pelo clero supostamente em nome de Deus. Pecador é quem o comete por ação ou omissão. A artificiosa maneira de provocar o sentimento de culpa no crente passou do judaísmo para o cristianismo, assim como o temor à divindade. A doutrina do pecado original está na base desse artifício.      

Impotente em face do pecado, o cristão roga a intercessão de Maria junto a Deus. O pressuposto desta prece é a separação entre os santos e os pecadores. Haverá pecadores até o final dos tempos. Os homens serão julgados segundo as suas obras e palavras. Adepto desta doutrina, Jesus sabia que não nascera para salvar a humanidade e trazer paz ao mundo: Não julgueis que vim trazer paz a terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas da sua própria casa (Mt 10: 34-36 + Lc 12: 51-53). A redação dessa passagem é pouco diferente nas bíblias das editoras Barsa, Sociedade Bíblica e Gideões Internacionais, sem alterar o essencial.

Do exame conjunto dos evangelhos e das epístolas verifica-se que Jesus tinha por objetivo criar uma comunidade de santos. Na epístola dirigida às igrejas estrangeiras Pedro confirma a intenção do mestre: “e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais desse edifício espiritual, um sacerdócio santo” (Pedro 2: 5). Jesus estava cônscio de que não nascera para expiar os pecados do mundo; haveria pecadores até o mundo acabar. No seu ministério, ele sempre deixou nítida a separação entre os santos (seguidores da sua doutrina) e os pecadores (o resto da humanidade). Afirmava ser estreita a porta que conduzia ao reino de Deus e que poucos a cruzariam. No sermão da montanha, ele aconselha os ouvintes: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7: 13-14). No caminho de Jerusalém, alguém perguntou: Senhor: são poucos os homens que se salvam? Ele respondeu: Procurai entrar pela porta estreita porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão (Lc 13: 22-24).

Faltam alicerces à doutrina salvacionista e do juízo final. A humanidade não foi salva. Permanecem os males que a afligem. “No dia do juízo os homens prestarão conta de toda palavra vã que tiverem proferido” (Mt 12: 36-37). Não haveria conta a prestar se Jesus tivesse salvado a humanidade. “Vigiai, pois, em todo o tempo, e orai a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer” (Lc 21: 36). “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” (Jo 17: 9). Ao dizer todas essas coisas, Jesus evidencia a discriminação e admite gente predestinada. Os eleitos (minoria) serão premiados com a felicidade eterna e os pecadores castigados com o fogo eterno. “Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento” (Tiago 2: 13).      

Agora e na hora da nossa morte. Amém.

O cristão católico suplica a Maria que rogue a Deus por ele, enquanto vida tiver. Assim, o devoto pode entrar para a comunhão dos santos. Depois da morte, ele espera entrar no céu pela graça divina.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


V

Santa Maria, mãe de Deus.

Há divergência entre a bíblia católica da editora Ave Maria e as bíblias das demais editoras. Naquela, não consta menção à primogenitura nem ao limite de tempo em que a adolescente Maria permaneceria virgem (Mt 1: 25). Nas outras bíblias consta que ela permaneceria sem ter relações sexuais com José até dar luz ao primogênito, ou enquanto não viesse à luz o filho primogênito. A referência à primogenitura indica que o autor, quando escreveu o texto, sabia da existência de irmãos de Jesus. A prole vem confirmada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós, também, suas irmãs?” (Mt 13: 55-56; Mc 3: 31-32 + 6: 3-4; Lc 8: 19-20). A expressão “até” acontecer ou “enquanto” não acontecer algum fato, separa o presente do futuro; indica que após o fato acontecer haverá mudança; até o parto, abstinência; depois do parto, relação sexual. Maria pariu mais seis filhos.

Santa é possível. Afinal, parir e criar sete filhos em sociedade patriarcal é de santificar qualquer mulher honesta. Mãe de Deus é impossível. Sendo onipotente, onisciente, onipresente, Deus não tem genitores; ele que é o pai e a mãe do mundo. A expressão “mãe de Deus” destinava-se a convencer os fiéis de que Jesus e Deus eram a mesma essência. Destarte, se Maria era mãe de Jesus, então também o era de Deus. Lógica falaciosa com o intuito de divinizar o profeta e, assim, amparar a doutrina da santíssima trindade copiada do sistema religioso hindu que inclui o culto à trindade: Brahmã (criador) + Vishnú (conservador) + Shiva (renovador), incorporada ao cristianismo pelo clero católico na Idade Média. Trindade havia no Egito (Osíris + Isis + Horus), na Pérsia (Varuna + Indra + Naatya) e na Grécia (Urano + Gaia + Eros).

A doutrina católica da trindade presta vassalagem não só à teogonia oriental (brâmane, egípcia, persa) como também à ocidental (grega e romana) e à mística do número três herdada dos pitagóricos. Essa mística envolve o triângulo e diversas tríades dentro e fora do campo da religião, tais como: (i) a de Platão: mundo real (divino) + mundo virtual (natureza) + verbo divino (logos); (ii) de Hegel: tese + antítese + síntese; (iii) de Comte: ordem + progresso + amor; (iv) de Gandhi: não violência (ahimsa) + força da verdade (satyagraha) + governo autônomo (swaraj); (v) da Psicologia: pensamento + sentimento + vontade; (vi) da revolução francesa: liberdade + igualdade + fraternidade.

Mediante o artifício da divinização, os bispos visavam ao incremento da catequese e aumento do rebanho, o que a igreja conseguiu no curso dos séculos. O mistério da trindade foi criado no Concílio de Nicéia (325 d.C.), aprovado pela maioria dos bispos, quando ficou assentado que Pai, Filho e Espírito Santo, eram consubstanciais, três pessoas em uma só substância. O mistério foi rejeitado pelos bispos do Concílio de Antioquia (341 d.C.). Depois de avanços e recuos, finalmente o mistério foi convertido em dogma no Concílio de Latrão IV (1215).   

A igreja cristã adquiriu poder na esfera espiritual e na esfera secular; acumulou riqueza fabulosa e domínio político e social. Os mitos da divindade de um ser humano (faraó, imperador, sacerdote, profeta) e do nascimento virginal, integram a cultura de povos antigos. Milhões de pessoas ainda acreditam nos relatos mitológicos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


IV

Bendito é o fruto do vosso ventre: Jesus.

A frase atribuída a Izabel “bendito é o fruto do teu ventre” consta apenas do evangelho de Lucas. Antes da duvidosa visita de Maria a Izabel, o futuro embrião já estava abençoado conforme as palavras tranqüilizadoras do anjo Gabriel: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás luz a um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo e o senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi (Lc 1: 30-32). Os escritores bíblicos eram obcecados por nomes e genealogia. Gabriel explica a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1: 35). Como se vê da narrativa, Maria ainda não estava grávida quando o anjo apareceu. Isto indica a forte probabilidade de Gabriel haver seduzido Maria. Ela cede ao encanto daquele belo jovem e se entrega: Eis aqui a serva do senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1: 38). Gabriel, então, desce sobre ela como se fora o espírito santo, a penetra e faz a santa semeadura. Excitado, Gabriel se esquece da profecia do Antigo Testamento, segundo a qual o nome do menino teria de ser Emanuel, que significa Deus está conosco e não Jesus, que significa Salvador.

Quando Lucas escreveu tal evangelho, o estrago já estava feito: o filho primogênito de Maria chamava-se Jesus e não Emanuel. Rezando para ninguém notar, Lucas põe na boca do anjo Gabriel o nome Jesus no lugar de Emanuel. Depois, para disfarçar, sai a passeio com as mãos no bolso, assobiando e olhando as nuvens.

Lucas atribui dois pais a Jesus, Deus e Davi, para convencer os crentes de que o profeta era judeu e também o messias anunciado no Antigo Testamento. Jesus não era uma coisa, nem outra; viveu e morreu sem ocupar o trono de Davi. Jesus recusou esse trono ao dizer que o reino dele não era deste mundo. Isto causou o afastamento de muitos discípulos que esperavam um messias político, guerreiro, que derrotasse os romanos e restaurasse o trono de Davi (entre os judeus, o trono de Davi era mais importante do que o trono de Salomão). Inteligente e sensível, Jesus percebeu que a insurgência contra os romanos era suicídio. A história lhe deu razão. Os judeus se rebelaram (ano 66). Os romanos venceram-nos e destruíram Jerusalém (ano 70). Quanto ao trono celeste, Jesus o compartilha com outros avataras. Rola muita fantasia a respeito. A expressão “senhor Deus” resulta da distinção que havia na família, na tribo, na aldeia, na cidade, no reino entre: pai e filhos, chefe e subordinados, comandante e comandados, proprietário e servos, rei e povo. Diante da onipotência divina, aquela expressão (“senhor Deus”) se mostra redundante e reflete apenas a organização social dos humanos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


III

Cheia de graça, o senhor é convosco.

O vocábulo graça tem significado múltiplo. No plural (graças), significa agradecimento. No singular (graça), significa favor, dádiva sem exigência de retribuição, compensação ou pagamento. Especificamente, graça significa: (i) no uso social: nome de batismo, chiste, fala espirituosa, gestos humorísticos; (ii) no sentido jurídico: perdão concedido pelo Estado a um delinqüente; (iii) no sentido moral: benevolência; (iv) no sentido estético: elegância, encanto, aparência agradável; (v) no sentido religioso: favor divino, dádiva de Deus, dom sobrenatural que santifica a pessoa, benefício recebido de Deus independente de penitência. Na oração, graça significa o privilégio de Maria ser escolhida por Deus. A expressão “o senhor é convosco” indica que esse privilégio foi o de conceber do espírito santo e o de ser mãe do filho de Deus. Por força de repetição, o cristão acredita, sem análise racional, no conteúdo da prece. Funciona o sinal sonoro (ladainha) que condiciona a mente do devoto (experiência de Pavlov). 

Bendita sois vós entre as mulheres.

O modelo patriarcal da sociedade palestina daquela época influiu no pensamento de Lucas ao criar a frase: bendita és tu entre as mulheres. Essa frase do versículo 28, do primeiro capítulo, do evangelho de Lucas, não consta da bíblia católica da Editora Ave Maria, nem da bíblia protestante editada pela Sociedade Bíblica. Consta, porém, da bíblia católica editada pela Barsa e do novo testamento editado pelos Gideões Internacionais. Por ocasião da visita a Izabel, sua prima, Maria foi saudada com as seguintes palavras: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1: 42). Mateus, Marcos e João nada falam sobre essa visita. Por seu caráter simbólico e valor histórico, tal visita teria sido registrada também por esses evangelistas se houvesse acontecido de fato. Médico, apóstolo da segunda hora, Lucas revela-se escritor dotado de imaginação criadora. Maria é abençoada entre as mulheres, mas não entre os homens. Benção discriminatória. O anjo Gabriel mostrou-se machista. Aliás, a mulher é discriminada em toda a extensão da bíblia, nos testamentos antigo e novo. Retirada de uma costela do macho, na esperta e facciosa versão do escritor do Gênesis, a mulher deve submissão ao homem. A mulher deve se conformar com o papel subalterno na sociedade machista dos hebreus (israelitas + judeus). Os evangelhos mantêm a discriminação na sociedade dos cristãos. Paulo, apóstolo da segunda hora, fundador da igreja católica, expõe, nas suas epístolas, vigorosa repulsa à mulher.

sábado, 14 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


II

Ave, Maria.

O clero católico serviu-se da saudação contida no evangelho de Lucas: ave, cheia de graça, o senhor é contigo (Lc 1: 28). Na bíblia protestante, a expressão cheia de graça é substituída por agraciada. Lucas afirma que: (i) Maria foi saudada pelo anjo Gabriel; (ii) ela ainda era virgem, embora desposada por um homem chamado José, da casa de Davi; (iii) o anjo anunciou futura gravidez por obra do espírito santo.

Interessante o acréscimo “da casa de Davi”. Bastava o escritor mencionar o nome do esposo. O malicioso acréscimo foi para colocar o renovo na descendência daquele rei e assim ajustar-se à profecia do Antigo Testamento.  

No evangelho de Mateus: (i) não há saudação; (ii) o anjo não tem nome; (iii) o anjo apareceu a José e não a Maria; (iv) o anjo apareceu em sonho e não em vigília; (v) José e Maria estavam casados, mas ainda não coabitavam; (vi) os dois não se relacionavam sexualmente; (vii) Maria já estava grávida e concebera do espírito santo; (viii) cita a virgem da profecia de Isaías e não a virgindade de Maria (Mt 1: 18-25).

Ainda que não coabitassem, se José e Maria eram esposos, a abstinência sexual não tem sentido, salvo se a gravidez de Maria resultou de relação extraconjugal, como sugere Mateus. A vingar esta hipótese, o casal teria resolvido aguardar o parto. Marcos e João silenciam sobre o assunto em seus evangelhos. Nenhum dos quatro evangelistas sabe a verdade, pois sequer eram nascidos à época da gravidez de Maria. Neste e em outros assuntos, os evangelistas apóiam-se na tradição oral, no que ouviram dizer. A origem dessa tradição é obscura. Pode ser relato: (i) de pessoas contemporâneas da família de José; (ii) da própria Maria aos apóstolos; (iii) de algum texto apócrifo, como o evangelho de Tiago, irmão de Jesus.

A aparição do anjo e o diálogo com mulher em vigília, se fossem verdadeiros, dificilmente deixariam de ser registrados pelos outros evangelistas, principalmente por João, o mais fanático dos apóstolos. No entanto, só Lucas narra o episódio. Isto indica que Lucas, provavelmente, inventou o episódio para: (i) zombar da credulidade alheia; (ii) evitar que José fosse visto como esposo traído e Maria como esposa adúltera; (iii) estabelecer a crença na origem divina da semente depositada no útero de Maria.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


AVE MARIA.

I

No extraordinário experimento de Pavlov, o organismo do animal responde ao sinal sonoro e funciona como se estivesse ingerindo alimento quando não ingeriu comida alguma. Houve condicionamento prévio do animal através da repetição do sinal sempre que ele buscava o alimento. A repetição da prece também cria um condicionamento que afasta o raciocínio e a crítica racional. O fiel acredita nos termos da oração, sem pensar, ainda que o texto seja malicioso.

As religiões têm as suas orações padronizadas e bem articuladas para condicionar a mente dos membros das suas comunidades mediante repetição. Os textos padronizados funcionam à semelhança dos mantras ou dos passos do processo hipnótico. Quiçá por isto, Karl Marx tenha pronunciado a célebre frase: a religião é o ópio do povo. Como um drogado, o devoto recebe, passivamente, o arsenal de idéias e de estímulos passados às claras ou de modo subliminal nas preces, missas e cultos.

Religião não se discute, dizem os espertalhões, interessados em manter o rebanho na ignorância. Tudo se discute: matéria religiosa, mística, artística, científica, filosófica, social, econômica, política. Não há matéria do mundo físico e do mundo metafísico imune à análise racional. Os humanos são dotados de sensibilidade, vontade, razão e voz para examinar, criticar e debater. Aos estelionatários da fé, entretanto, interessa manter os fiéis em nível dos animais irracionais. Daí o tratamento dispensado à comunidade de crentes: rebanho, coletividade de pessoas dóceis ao comando do clero.

Servindo-se de trechos dos evangelhos dos apóstolos Lucas e Mateus, a igreja católica montou a prece Ave Maria assim redigida:

Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre: Jesus. Santa Maria, mãe de Deus rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


IV

Perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Pondo-se de acordo com o sistema capitalista e cuidando para que os fiéis ricos não se afastassem com suas generosas doações, a igreja moderna substituiu, no evangelho de Mateus, a expressão original, de fundo econômico, perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores, que recitávamos na infância, por essa outra de fundo moral: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam. A expressão original conformava-se com a doutrina cristã e reforçava a diferença diante da doutrina judaica. A riqueza para os judeus é bênção divina. Já o cristão não pode servir a Deus e à riqueza; deve emprestar sem nada esperar, dar a quem pedir e não reclamar de que quem lhe tira alguma coisa (Mt 5: 42 + 6: 24) (Lc 6: 30, 35). No plano dos fatos, raramente se vê cristão perdoar dívida. O devedor inadimplente é processado, preso e perde seus bens. Há cristão que perdoa ofensas. O presidente Luis Inácio perdoou dívida de país africano, mas não era ele o credor e sim o Estado brasileiro.

Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Tentação compreende o fato de tentar. Inclui ensaio, indução, por à prova, provocar desejo, atração concupiscente. Na esfera religiosa, entende-se por tentação: (i) série de provas postas por deuses para avaliar a fidelidade dos homens; (ii) atração para o sensualismo e o materialismo; (iii) tendência para o mal. Ao pé da montanha, Jesus ensinava como os seus ouvintes deviam rezar. Falava no plural, incluindo ele próprio, em toda a extensão da prece. Ele sabia das fraquezas humanas e indicava à platéia o caminho para superá-las: idoneidade moral, prece, comunhão com Deus. “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26: 41). Jesus também sofrera tentações, pois o mal tem domicilio na mente e no coração dos humanos. Impotente para vencer a tentação, o crente pede ajuda divina. O crente sincero livra-se do mal quando ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como si mesmo. Jesus notou o germe da discórdia no seio da confraria quando a mãe de Thiago e de João, deles acompanhada, veio solicitar ao mestre, em favor dos filhos, especial atenção na terra e no céu. Isto gerou discussão entre os apóstolos sobre quem teria privilégios e quem seria o líder. Jesus os repreendeu, dizendo que os chefes das nações as subjugam e que isto não devia acontecer na confraria; todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo (Mt 20: 20-28 + Mc 10: 35-45 + Lc 22: 24-30). Posteriormente, na última ceia, Jesus dá exemplo de humildade e igualdade ao lavar os pés dos apóstolos. A seguir diz que, se ele mestre fizera aquilo, o mesmo deviam fazer os discípulos: lavei os vossos pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Ao fim da reunião, antes de sair para o jardim das oliveiras e pensando nos laços do amor fraterno, ele acrescentou novo mandamento: amai-vos uns aos outros ((Jo 13: 13-16, 34 + 15: 12). Prezando a igualdade, Jesus havia organizado o colégio apostólico com número par de membros (12), sem hierarquia, sem apóstolo ímpar. Apesar disto, havia rivalidades e disputas por liderança. Apóstolos, sucessores e demais seguidores do Cristo sucumbiram à tentação. Organizaram o clero hierarquizado, dividiram-se e guerrearam-se durante séculos. Mataram, torturaram, roubaram, fraudaram, violaram os mandamentos e frustraram a doutrina cristã. Dedicaram-se a Cezar e deixaram Deus na prateleira. A imagem do profeta Jesus decora o cenário. Todos o invocam, mas cada qual puxa a brasa para a sua sardinha. As epístolas escritas 20 anos após a crucifixão e 10 anos antes do primeiro evangelho, já advertiam para as tentações. Os cristãos caíram na idolatria (I Cor 10: 14). Permitiram que o lado diabólico da personalidade humana dominasse suas mentes e seus corações (Thiago 4: 7). Deixaram-se arrebatar pelo engano dos abomináveis. Ignoraram a piedade que poderia livrá-los do mal (II Pedro 2: 9 + 3: 17).

sábado, 7 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


III

Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. A vontade divina é incontrastável tanto no lado material como no lado espiritual do universo. Deus é onipotente, onisciente e onipresente. A sua vontade soberana independe do assentimento humano. Literalmente, essa frase da oração carece de sentido. Entretanto, ela indica a disposição do fiel de se submeter à vontade divina. No Getsêmani, na iminência da prisão e do flagelo, Jesus deu exemplo de submissão: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas, sim, o que tu queres.” (Mt 26: 39).

O pão nosso de cada dia nos dai hoje. No amplo sentido, o vocábulo pão aplica-se ao essencial à vida: ar, água, alimento e abrigo. Este último elemento (abrigo) inclui: (i) roupa, que protege o indivíduo do clima e cobre a nudez; (ii) casa, que o protege das forças telúricas, das agressões externas e enseja privacidade no lar; (iii) oficina, que o protege da ociosidade e propicia ganho honesto; (iv) escola, que o protege da ignorância e o exercita na convivência com seu semelhante; (v) hospital, que o protege da doença e o ajuda a recuperar a saúde; (vi) templo, que o protege das tentações e lhe permite cultivar o amor transcendental. O devoto pede esse pão ao deus providencial (Pai celeste). O judeu reza a um deus temperamental (Jeová): “Tirarás dela (terra) com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias da tua vida. Tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto.” O autor do Gênesis (primeiro livro do Antigo Testamento) faz Jeová humilhar Adão e Eva, personagens do romance, e castigá-los por desobediência. Apesar de raivoso, Jeová mostra habilidade como alfaiate e costureiro: sob medida, esse deus confecciona túnicas de peles para Adão e Eva. A origem das peles não é informada (Gen 3: 17-19, 21). A doutrina cristã inclui a confiança na providência divina: Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? (...) vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isto. Buscai, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo (Mt 6: 31-34). A súplica “nos dai hoje” não implica passividade. O devoto obtém o sustento ativamente em sintonia com a natureza e com a justiça divina (buscai). O apóstolo João considera Jesus o pão da vida que desceu do céu (Jo 6: 35-51). No sul do Brasil, anos 60, século XX, moço bonito era chamado pão pelas moças. Na última ceia, em momento narrado por Mateus (26: 26-29), Marcos (14: 22-25) e Lucas (22: 17-20), Jesus corta o pão e distribui aos discípulos, dizendo ser a sua carne. Faz o cálice de vinho (copo, caneca, graal) circular entre eles para que bebam, dizendo ser o seu sangue. Jesus adaptou à cerimônia, o ritual de celebração da primavera realizado nas antigas escolas de mistérios quando, segundo a tradição, cada participante come pequena porção de cereal e bebe três goles de vinho. No simbolismo daquelas escolas a conotação é agrária. No simbolismo da última ceia, a conotação é antropofágica. Gente comer carne de gente é antropofagia. Outrora, gente era sacrificada para agradar aos deuses. Depois, o animal racional foi substituído pelo animal irracional. Os hebreus passaram a sacrificar cordeiros. Jesus representou-se no pão e vinho e substituiu o cordeiro por ele próprio. Os seguidores aproveitaram o episódio para exibir Jesus em moldura judaica: cordeiro expiatório dos pecados do mundo. O modelo expiatório dos judeus foi abolido entre os cristãos. O deus de Jesus não exige aquele tipo de sacrifício exigido pelo deus de Moisés. Na missa católica, o oficiante imita Jesus: eleva a hóstia e o vinho, carne e sangue de Jesus, e os come e bebe. Distribui hóstias entre os fiéis e guarda o vinho. Os fiéis comem a carne, mas não bebem o sangue.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


II

A bíblia não resiste a uma lúcida análise. Inteligências privilegiadas como a de Einstein, consideraram-na infantil, contos da carochinha. Realmente, em seu bojo, além das ficções, há contradições, falsidades, delírios, propósitos de catequese e domínio, tanto nos livros do Antigo Testamento (pentateuco, históricos, sapienciais, proféticos) como nos livros do Novo Testamento (evangelhos, atos dos apóstolos, epístolas, apocalipse). A bíblia serviu de fonte moral e religiosa da cultura européia e americana. Influiu na estrutura e no funcionamento político, econômico e social dos povos desses dois continentes. Isto justifica o interesse no estudo e na desmistificação do que nela se contém. No momento, procedemos à análise da oração ensinada por Jesus, relatada nos evangelhos.

Pai nosso que está no céu. Em algumas ocasiões, Jesus usa o singular meu Pai: “Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26: 53). Em outras, porque se dirige à coletividade, usa o plural vosso: “(...) para que também vosso Pai, que está nos céus (...)” (Mc 11: 25). Na oração ao pé da montanha, ele usa o plural nosso, abarcando a si próprio, os discípulos e a platéia de palestinos e estrangeiros que ouvia o seu discurso (Mt 6: 5-13). Ao dirigir-se à divindade que está no céu, deixa implícita a separação entre a morada celeste e a morada terrena. Sem nome, o deus é tratado de Pai Celestial. Sexo masculino. O tratamento condiz com o caráter patriarcal da sociedade palestina da época, onde a posição da mulher era subalterna, submissa ao macho, operária na casa, lavradora no quintal, matriz da prole. Não há lugar para Mãe Celestial. Todavia, a lógica elementar do povo reclamava: se há pai, tem que haver mãe. Para preencher a lacuna, o clero católico divinizou a mãe de Jesus. 

Santificado seja o vosso nome. Que nome? Jesus se dirige ao Pai celeste ao ensinar como se reza. Portanto, refere-se ao nome desse Pai. Acontece que Jesus nunca deu nome a esse Pai. Logo, tal expressão é vazia. Apesar disto, a frase indica postura de humildade do cristão perante a divindade. Postura semelhante quando se diz: Deus seja louvado. Nomes tinham os deuses dos hebreus (judeus e israelitas) e dos outros povos, como os egípcios, babilônios e assírios. O escritor do Levítico (terceiro livro do Antigo Testamento) faz o deus dos hebreus de nome Jeová dizer sem modéstia: “Pois eu sou o Senhor, vosso deus. Vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo.” Na bíblia protestante há pequena diferença: “Eu sou o Senhor vosso deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo”. (Lev 11: 44). Do ponto de vista lógico e místico, santo não é Deus, mas quem o venera. Santo é quem, encarnado ou desencarnado, se conduz de acordo com as leis de Deus. A santidade advém da efetiva proximidade com Deus. Nem sempre atentos a isto, os humanos costumam sagrar ou santificar pessoas, idéias, palavras, lugares e coisas. Todavia, santificar um nome que não existe é alienação mental. Ademais, na doutrina cristã, sendo o Pai Celestial a fonte de toda santidade, o seu nome – se houvesse um nome –seria sagrado por sua própria natureza divina.

Venha a nós o vosso reino. Esta frase supõe separação entre reino divino e reino da natureza. Na Antiguidade, a monarquia prevalecia sobre a república na organização política dos povos. Assim, falar em reino causava forte impressão. Se há reino, há rei. De acordo com o ensinamento cristão, Deus é rei e seu trono é o céu. Todavia, ao contrário do significado literal, o reino divino não vem ao encontro dos humanos; estes é que devem ir ao encontro do reino divino. Destarte, a frase da oração há de ser entendida como súplica de acesso ao reino divino. Cabe assinalar que a separação entre os dois reinos é fictícia. Jesus deixou isto claro ao dizer: “O reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá ei-lo aqui, ou ei-lo ali. Pois o reino de Deus já está no meio de vós”. (Lc 17: 20-21). Batei e abrir-vos-se-á (Mt 7: 7-8). Se verdadeiro esse relato evangélico, então a unidade do mundo material e do mundo espiritual integra a doutrina cristã. O reino de Deus abrange as faces material e espiritual do universo e a sua realeza está presente nas mentes e nos corações humanos. Basta vigiar, orar e buscar sinceramente, que os passos conduzirão à fonte da Luz, da Vida e do Amor.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


PAI NOSSO.

Os apóstolos Mateus e Lucas reproduzem essa oração ensinada por Jesus no sermão da montanha. Os demais apóstolos silenciam a respeito. Segundo Lucas, os discípulos solicitaram ao mestre que lhes ensinasse a rezar. Mateus não menciona tal solicitação e coloca a prece no bojo do discurso que Jesus proferia sem interrupção.   

Depreende-se do evangelho de Mateus, que o mestre ensinava o modo de rezar. O discípulo devia orar em segredo, isolado em um quarto, com portas fechadas, sem multiplicar as palavras, diferente dos hipócritas que gostam de orar em pé nos templos e nas esquinas das ruas. No dizer do apóstolo Marcos, as palavras devem sair conforme inspiração do momento, pois antes de serem pronunciadas, Deus sabe quais serão (Mc 13: 11). A atitude de fé, de respeito e de recolhimento vale tanto quanto as palavras. Jesus exemplifica. Entretanto, os seus seguidores mantêm atitude diversa e congelaram as palavras do exemplo como se fossem únicas e eternas:

Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. (Mt 6: 5-13)

Pai, santificado seja o vosso nome, venha o vosso reino, dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento, perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aqueles que nos ofenderam e não nos deixeis cair em tentação. (Lc 11: 2-4).

Da comparação entre o texto de Mateus e o texto de Lucas, percebe-se que a linguagem dos apóstolos não espelha fielmente as idéias e as palavras do mestre. Nesta e em outras passagens, os quatro evangelistas colocam na boca de Jesus palavras que ele não disse, pois algumas são contraditórias e outras desprovidas de sentido. Marcos e Lucas não são testemunhas da vida de Jesus. Marcos narra o que lhe contou o apóstolo Pedro. Lucas declara expressamente, no prólogo do seu evangelho, não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos. Mateus e João, apóstolos da primeira hora, escreveram depois de 50 e 70 anos da crucifixão de Jesus, respectivamente, lapso de tempo favorável ao esquecimento e à confusão. Além disto, o clero procedeu a acréscimos e supressões que desfiguraram a mensagem original. O evangelho de Mateus foi escrito em aramaico; os três restantes, em grego; todos traduzidos para o latim em conseqüência do domínio romano. Durante os séculos IV (anos 301 a 400) e V (anos 401 a 500), Jerônimo, erudito sacerdote católico, procedeu, a pedido do papa Dâmaso, à revisão das versões latinas dos evangelhos e os reuniu na versão denominada Vulgata. Após a queda do império romano, o latim perdeu, paulatinamente, o papel de língua universal. A partir do século XIII (anos 1201 a 1300) a bíblia começa a ser traduzida para o vernáculo de reinos medievais e de nações modernas. No século XX (anos 1901 a 2000), centros de estudos bíblicos traduziram textos originais dos apóstolos – e não exclusivamente dos quatro evangelistas – o que possibilitou melhor compreensão daquele movimento histórico. Nessa viagem de dois mil anos, passando por diferentes mãos, épocas e contextos históricos, os evangelhos sofreram interpolações. Há discrepâncias que abalam sua credibilidade.