domingo, 13 de janeiro de 2008

religião/misticismo

RESUMO DOS LIVROS DA BÍBLIA – II

NOVO TESTAMENTO

O evangelho segundo Mateus

Este livro foi redigido em aramaico por Mateus, nome que Jesus deu a Levi, homem coletor de impostos. Jesus o recrutou para integrar o colégio apostólico (que se constituiu com 12 apóstolos). O texto, escrito por volta de 60 AC, foi traduzido para o grego antes de ter sido extraviado. Provavelmente o tradutor recorreu aos evangelhos de Marcos e Lucas para sanar dúvidas e preencher lacunas. Esses 3 evangelhos são chamados de sinóticos em virtude da semelhança entre eles percebida num só golpe de vista. Mateus começa com a genealogia de Jesus, vinculando-o à Casa de Davi, tanto pela linha paterna como pela materna. Narra o nascimento de Jesus do seguinte modo: a mãe estava casada com José, porém, antes de coabitarem, ou seja, antes de terem relações sexuais, ela concebeu do Espírito Santo (partenogênese). José a rejeitou na intimidade. Um anjo apareceu a José e o convenceu a receber Maria como esposa. O casal não se relacionou sexualmente até o nascimento do menino, em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes. Maria e o menino receberam a visita dos magos (não diz quantos, nem os nomes) em casa (não diz estrebaria, nem manjedoura), precedidos de uma estrela vista no Oriente. Os magos ofereceram ouro, incenso e mirra como presentes. Um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e o instruiu a fugir para o Egito porque Herodes ia procurar o menino para mata-lo, tendo em vista o anúncio do nascimento do rei dos judeus. Sentindo a sua dinastia ameaçada, Herodes mandou matar, em Belém e arredores, todas as crianças com menos de 2 anos de idade. Após a morte de Herodes, José retorna à Palestina, vai para a Galiléia e escolhe a cidade de Nazaré para morar, a fim de que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: será chamado Nazareno (qualquer homem consagrado a Deus era chamado nazareno, independentemente da cidade natal; há dúvida quanto à existência de uma cidade com o nome de Nazaré, ao tempo de Jesus; provavelmente, a cidade natal de Jesus não foi Belém, nem Nazaré e sim outra cidade ou aldeia da Galiléia). Mateus refere-se à pregação de João Batista, precursor de Jesus e arauto do reino dos céus, ao batismo de Jesus por João e à experiência extática de Jesus no deserto depois de jejuar 40 dias e 40 noites. Com a prisão de João, teve início a pregação e o trabalho terapêutico de Jesus, na Galiléia, onde recrutou os seus apóstolos e para onde convergiam pessoas da Síria e de outras localidades. Diante da multidão, Jesus profere o famoso sermão da montanha, que contém a sua doutrina (bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus; vós sois o sal da terra e a luz do mundo; não vim para abolir a lei, mas para aperfeiçoa-la). Jesus se pronuncia sobre os mandamentos e ensina a orar (pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu, o pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal). Aconselha os fiéis se despreocuparem com o dia de amanhã (a cada dia basta o seu cuidado, olhai como crescem os lírios do campo, não trabalham nem fiam, entretanto vos digo que o próprio Salomão no auge da sua glória não se vestiu como um deles; buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo). Mateus conta atividades ordinárias e extraordinárias de Jesus, como o episódio da barca em que ele acalma a tempestade pelo vigor da sua voz; a discussão com fariseus e com discípulos de João Batista que praticavam o jejum e censuravam Jesus por compartilhar a mesa de publicanos e pecadores; as instruções e outorga de poderes aos 12 apóstolos; as discussões com escribas e fariseus; as parábolas, a mensagem e a morte de João Batista; a multiplicação dos pães; a transfiguração na presença de 3 apóstolos; os anúncios da paixão; a formação de igrejas (onde 2 ou 3 estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles). Mateus narra o ministério de Jesus na Judéia, a sua entrada em Jerusalém montado em um jumento, a expulsão dos cambistas e negociantes do templo, o tributo a César, as novas discussões com escribas e fariseus, o resumo da lei nos 2 maiores mandamentos (amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito; amarás teu próximo como a ti mesmo), a profecia sobre a destruição de Jerusalém e o juízo final. Na sexta parte do seu evangelho, Mateus relata a conspiração dos sacerdotes, o episódio em que uma mulher (sem qualquer identificação) derrama perfume caro sobre a cabeça de Jesus sob os protestos dos discípulos, a traição de Judas, a última ceia, a angústia no Getsêmani, a prisão, os 3 julgamentos (perante o Sinédrio, Herodes e Pilatos), o suicídio de Judas, a ajuda prestada a Jesus por Simão de Cirene ao carregar a cruz, a crucifixão, sepultura, ressurreição e aparição de Jesus a Maria Madalena e a outra Maria, a aparição aos 11 apóstolos, na Galiléia e a despedida de Jesus, quando confere aos apóstolos a missão de ensinar a doutrina a todas as nações e batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

O evangelho segundo Marcos

Marcos era discípulo de Pedro e acompanhou o apóstolo Paulo em sua viagem missionária. O livro que escreveu parece resultar dos ensinamentos de Pedro em Roma (63 DC). Marcos salta os episódios anteriores e posteriores ao nascimento de Jesus. Começa a narrativa com a pregação de João Batista, quando Jesus já era adulto. Na segunda parte do seu evangelho, Marcos trata do ministério de Jesus na Galiléia. Escreve sobre o batismo de Jesus, o recrutamento dos apóstolos, a questão do jejum, a escolha dos 12 apóstolos para formarem o círculo interno (colégio apostólico), as curas, as parábolas e a família de Jesus (mãe e irmãos). Narra, ainda, os milagres de Jesus, o prodígio sobre a tempestade (Jesus ordenou ao mar e ao vento que se calassem). Cita pelos nomes os irmãos de Jesus (Tiago, José, Judas e Simão), menciona as irmãs de Jesus sem citar nomes, fala do descrédito de Jesus junto aos habitantes da sua cidade que o faz dizer: um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa (Jesus se qualifica como profeta e não como filho de Deus). Marcos conta a missão dos apóstolos, a execução de João Batista, a multiplicação dos pães, a caminhada de Jesus sobre as águas, as discussões com os fariseus, a transfiguração diante dos apóstolos Pedro, Tiago e João. Na terceira parte do livro, Marcos trata do ministério de Jesus na Judéia. Começa falando do matrimônio, das crianças abençoadas, dos entraves da riqueza para quem pretende entrar no reino dos céus (é mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no reino de Deus), a profecia do seu julgamento e da sua morte (anúncio da paixão), a entrada em Jerusalém (narrada um pouco diferente de Mateus), o tributo a César, o debate sobre ressurreição com os saduceus que a negavam, os 2 maiores mandamentos, a descendência de Davi (aqui Jesus fala do Cristo como se não fosse ele, Jesus; diz que Davi chamou o Cristo de Senhor, que senta à direita de Deus; o Cristo, pois, não pode ser filho de Davi). Marcos refere-se à profecia de Jesus sobre a destruição do templo. Na quarta parte do seu evangelho, Marcos trata da paixão e ressurreição de Jesus, onde repete a narrativa de Mateus. Quanto à primeira aparição de Jesus, após a crucifixão, Marcos menciona Maria Madalena exclusivamente. Posteriormente e sob outra forma (?) Jesus aparece a dois discípulos. Finalmente aparece aos 11 apóstolos, quando se refere à futura descida do Espírito Santo sobre eles no dia do Pentecostes, ao dizer: estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.

Observação: Cristo significa ungido e pode ser qualquer pessoa de qualquer tribo, nação ou raça. O misticismo revela a existência de alguns cristos (Aquenaton, Sidarta, Jesus, Maomé, Francisco de Assis, Gandhi).

O evangelho segundo Lucas

Lucas, companheiro das missões de Paulo, escreveu esse livro por volta de 68 DC, quando teria redigido, também, a coletânea dos atos dos apóstolos. Refere-se a um tal de Teófilo, no prólogo do livro, que lhe dera ordem de pesquisar e registrar os acontecimentos sobre a passagem de Jesus na Palestina. Na primeira parte do livro, Lucas narra o nascimento milagroso de João e de Jesus e da visita de Maria (grávida de Jesus) a Isabel (grávida de João); o episódio da apresentação de Jesus no templo, em cumprimento à lei de Moisés; a consagração de Jesus ao Senhor (Jesus passa a integrar a família ou a seita dos nazarenos); a presença de Jesus, aos 12 anos de idade, no templo de Jerusalém, durante a Páscoa, onde fora esquecido pelos pais e que ao retornarem para busca-lo o encontraram depois de 3 dias, sentado entre os doutores do templo, ouvindo-os e os interrogando. Na segunda parte do livro, Lucas trata da preparação para a vida pública de Jesus. Escreve sobre a pregação de João Batista, o batismo e a genealogia de Jesus e a tentação no deserto. Na terceira parte, escreve sobre o ministério de Jesus na Galiléia: a rejeição que sofreu na sua cidade; as diversas curas; a pesca milagrosa; a escolha dos 12 apóstolos dentre os demais que com ele se reuniram; o sermão da montanha; a troca de mensagens entre João Batista e Jesus; a mulher que, com lágrimas, lavou os pés de Jesus, os ungiu com perfume caro e os secou com os próprios cabelos; as mulheres que acompanham Jesus pelas aldeias e cidades (Maria Madalena, Joana, Suzana) e outros tópicos abordados pelos evangelistas anteriores. Na quarta parte do livro, Lucas narra os eventos no curso da viagem de Jesus a Jerusalém: a seleção de 72 discípulos para precederem Jesus em todos os lugares por onde ele teria de passar e anunciarem a vinda do reino de Deus e curarem os enfermos (não leveis bolsa, nem mochila, nem calçado); a parada na aldeia de Betania, na casa das irmãs Marta e Maria (enquanto Marta cuidava dos afazeres domésticos, Maria colocou-se aos pés de Jesus, para ouvi-lo); o ensino da oração (pai nosso, um pouco diferente de Mateus); a censura aos fariseus durante o jantar em casa de um fariseu. Jesus instrui os discípulos, faz novos milagres e novas curas, diz novas parábolas. Lucas menciona, entre outros tópicos, a insistência de Jesus em prosseguir viagem apesar da ameaça de Herodes Antipas; a lição sobre humildade; o reino de Deus (não virá de um modo ostensivo, nem se dirá ei-lo aqui ou ei-lo ali, pois o reino de Deus já está no meio de vós); hospedagem de Jesus na casa de Zaqueu, em Jericó. Na quinta parte do livro, Lucas narra o ministério de Jesus em Jerusalém: a entrada na cidade, a expulsão dos mercadores do templo e demais assuntos tratados por Mateus e Marcos. A sexta parte refere-se à paixão de Jesus e demais lances narrados também pelos citados evangelistas, com diferenças acidentais e semelhança no essencial. No episódio da aparição aos 11 apóstolos, por exemplo, Mateus diz que ante a presença de Jesus ressuscitado, alguns apóstolos hesitavam; Marcos diz que eles mostraram incredulidade; Lucas, mais explícito, diz que os apóstolos ficaram espantados e perturbados, pensando ver um espírito e que Jesus os censura, mostrando estar ali de carne e osso, solicitando algo para comer e afirmando que ficaria na cidade até que eles fossem revestidos da força do alto (Espírito Santo). Outro exemplo: no episódio da ascensão, Lucas diz que Jesus levou os apóstolos para Betânia (encontravam-se em Jerusalém) e enquanto os abençoava, deles se separou e foi arrebatado ao céu. Marcos não menciona lugar algum e diz simplesmente: depois que Senhor Jesus lhes falou, foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus. Mateus não fala em ascensão, diz que a reunião foi na Galiléia e não na Judéia (Jerusalém e a aldeia de Betânia ficavam na Judéia) e quando os 11 apóstolos o viram, adoraram-no, embora alguns hesitassem. João, também, no seu evangelho, não fala de ascensão alguma, não menciona lugar algum; diz que no mesmo dia da ressurreição os discípulos estavam reunidos, Jesus veio e se pôs no meio deles, saudou-os e soprou sobre eles dizendo: recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoares os pecados, ser-lhes-ão perdoados, aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. Tomé estava ausente e quando informado do acontecido disse que só acreditaria se o visse e o tocasse, o que aconteceu 8 dias depois, em uma segunda aparição, no mesmo lugar (?). Depois disso, segundo João, houve uma terceira aparição na Galiléia, junto ao lago de Tiberíades.

Observação: a forma antropomórfica de Deus é uma constante na idéia dos apóstolos; daí se referirem à direita de Deus, supondo uma esquerda; Deus sentar e tomar posições e atitudes próprias dos seres humanos.

Atos dos apóstolos

Lucas se dirige, novamente, à pessoa cujo nome é Teófilo. Diz que a primeira narração referia-se às ações e aos ensinamentos de Jesus. Agora, faz uma segunda narrativa, sobre os acontecimentos posteriores à ascensão de Jesus ao céu. A narrativa se divide em duas partes. Na primeira, Lucas relata o comportamento dos apóstolos durante a depois da ascensão de Jesus: os 11 apóstolos escolhem Matias para ser o 12º e ocupar o lugar de Judas Iscariotes. O Espírito Santo desce sobre a assembléia que contava 120 pessoas no dia de Pentecostes (50º dia depois da páscoa) e os membros da assembléia passam a conversar em diferentes idiomas e dialetos; Pedro profere um discurso em que declara Jesus o Senhor e o Cristo. Pedro consegue as primeiras conversões; a união dos fiéis em uma comunidade, um só coração, uma só alma, um só patrimônio (eram considerados nazarenos, porque consagravam sua vida a Deus; eram vistos como nova seita religiosa; os que tinham terras e casas as vendiam e entregavam o produto da venda aos apóstolos; os bens eram repartidos entre os membros da comunidade, segundo a necessidade de cada um). Lucas informa que a administração dos bens da comunidade foi confiada a diáconos eleitos entre os membros da assembléia; relata os milagres dos apóstolos; a prisão de Pedro e João por ensinarem em nome de Jesus; a prisão e a morte do diácono Estevão sob acusação de blasfêmia contra a lei de Moisés e o lugar santo (templo); a dispersão dos membros da comunidade cristã de Jerusalém pelas regiões da Judéia e da Samária, a fim de escaparem à perseguição dos judeus; a conversão de Saulo no caminho de Damasco e o seu batismo por Ananias; as pregações de Saulo em Damasco e o seu apostolado em Jerusalém, quando foi recebido na assembléia; a fuga de Saulo para a cidade de Tarso a fim de não ser morto pelos judeus de fala grega; a visão de Pedro, os seus milagres e a sua atividade como apóstolo. Lucas conta o episódio em Cesaréia, na casa de Cornélio, quando Pedro declara a universalidade do Deus cristão que não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável quem o temer e fizer o que é justo. Em Jerusalém, Pedro é repreendido pelos fiéis circuncisos, porque comungara com pessoas incircuncisas; Pedro os convence de que fizera a vontade de Deus e que a mensagem de Jesus não se destinava apenas aos judeus, mas incluía os pagãos. Lucas se refere à fundação da igreja na Antioquia pelo apóstolo Barnabé com a conversão de muitos pagãos; à morte de Tiago e à prisão de Pedro por ordem de Herodes Antipas (neto de Herodes Magno); à milagrosa libertação de Pedro por um anjo e a morte de Herodes. A segunda parte da narrativa é dedicada à difusão dos ensinamentos cristãos fora da Palestina, pela Ásia Menor e Europa. Lucas relata as atividades missionárias de Barnabé e de Saulo, que passa a se chamar Paulo; a controvérsia sobre o valor da circuncisão no concílio dos apóstolos em Jerusalém, quando ficou decidido que a única coisa que se devia exigir daqueles que aderissem à igreja cristã era que se abstivessem de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e de impureza. Lucas menciona a delegação dada a Paulo, Barnabé, Judas e Silas, para que levassem tal mensagem às igrejas da Antioquia, Síria e Cilícia; a discussão e separação entre Paulo e Barnabé, por causa de Marcos (Barnabé queria leva-lo na viagem e Paulo se opunha); o convite que Paulo faz a Timóteo (Lucas se refere a esse discípulo como pessoa de ótima reputação junto à comunidade cristã de Listra e Icônio). Lucas cita a prisão de Paulo e Silas sob acusação de amotinarem a cidade; o encontro de Paulo com os discípulos de João Batista em Éfeso; as viagens à Macedônia, à Grécia, a Mileto, a Tiro, a Cesaréia e o retorno a Jerusalém, quando foi preso sob acusação de blasfêmia contra o templo e a lei de Moisés. Em sua defesa pública, Paulo diz que é judeu e que se converteu ao cristianismo; o povo judeu não se deixa convencer e pede a morte de Paulo; o tribuno (autoridade pública) determina o recolhimento de Paulo e que ele fosse açoitado e torturado. Quando iam amarra-lo, Paulo diz ao centurião (soldado romano) que é romano de nascimento e que não parecia lícito açoitar um romano. Paulo é libertado. O tribuno ordena o seu comparecimento perante o Grande Conselho judaico. No julgamento, Paulo diz que é fariseu, filho de fariseus e que fora preso por causa da sua crença na ressurreição. Isto dividiu o Grande Conselho: de um lado, os fariseus que acreditavam na ressurreição dos justos; de outro, os saduceus que não acreditavam. Como os ânimos se acirraram, a autoridade romana recolheu Paulo à cidadela sem uma decisão final. Os judeus juraram matar Paulo. O tribuno resolveu mandar Paulo para Cesaréia, onde ele foi entregue ao governador e submetido a novo julgamento. Paulo foi acusado de pertencer à seita dos nazarenos, de ser uma peste que fomentava a discórdia entre os judeus no mundo inteiro. Em sua defesa, Paulo nega as acusações. O governador suspende o processo e mantém Paulo recluso, porém, com brandura e permitindo que fosse assistido por seus companheiros. Decorridos 2 anos, um outro governador submete Paulo a novo julgamento. Invocando a sua cidadania romana, Paulo apela para César. O governador o despacha para Roma. Durante a viagem o barco enfrenta forte tempestade e é levado para a ilha de Malta. Os navegantes foram bem recebidos pelos nativos e hospedados pelo líder da ilha, cujo pai estava doente e foi curado por Paulo. Após 3 meses, os navegantes partiram da ilha para Roma, onde Paulo foi recebido por membros da comunidade cristã e obteve licença para morar em casa própria, embora vigiado por um soldado. A prisão domiciliar durou 2 anos. Neste ponto termina a narrativa de Lucas sobre os atos dos apóstolos.

O evangelho segundo João

Dos 12 apóstolos, João era o mais novo. No quadro da última ceia, Leonardo da Vinci pinta João como um adolescente imberbe. João se refere a si mesmo como o discípulo que Jesus amava. Os outros discípulos também eram amados. É possível que João, por ser jovem, recebesse um carinho especial do mestre, como se fora um irmão caçula. Talvez, por isso, o seu evangelho seja um tanto diferente dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, inclusive pela forma entusiasmada como fala do mestre, a quem outorga o galardão de divino. João escreveu ou ditou o seu evangelho aos 80 anos de idade, aproximadamente (por volta do ano 100 DC). No prólogo, que constitui a primeira parte do livro, João declara que Jesus era o Verbo e que o Verbo era Deus e que ninguém jamais viu Deus, o que implica atribuir falsidade aos profetas do antigo testamento que afirmavam ter visto e conversado com o deus Javé (Jeová ou Senhor dos Exércitos). Diz, ainda, que o filho único (Jesus) que está no seio do Pai, foi quem o revelou. Na segunda parte do livro, João discorre sobre João Batista e o batismo de Jesus. Silencia sobre o nascimento, a infância e a adolescência de Jesus. Refere-se aos primeiros discípulos de Jesus, indicados por João Batista. Narra o primeiro milagre de Jesus, durante a festa de um casamento na cidade (ou aldeia) de Cana, na Galiléia (a transformação da água em vinho); a conversa com Nicodemos sobre o renascer da água e do espírito para entrar no reino de Deus; o episódio da samaritana que lhe deu água; a pregação de Jesus na Samária; as diversas curas realizadas por Jesus; o discurso em que Jesus diz aos judeus que fala e age em nome de Deus; a festa dos tabernáculos, em Jerusalém, quando Jesus ensina no templo e é questionado pelos judeus, que o ameaçam de prisão e morte; o julgamento da mulher adúltera (quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra) (ao adultério era aplicada a pena de morte por apedrejamento, segundo a lei dos judeus); o debate entre Jesus e os fariseus (eu sou a luz do mundo, aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida) e a sua fuga para não ser apedrejado; a parábola do bom pastor; a ressurreição de Lázaro; a fuga de Jesus para Efraim porque o Grande Conselho pretendia prende-lo e mata-lo; a ceia na casa de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria, na aldeia de Betânia, quando Maria derrama bálsamo de nardo puro nos pés de Jesus e os enxuga com os cabelos, sob os protestos de Judas Iscariotes; a entrada de Jesus em Jerusalém para a páscoa. Na terceira parte do livro, João conta como Jesus lavou os pés dos apóstolos durante a última ceia; deu o pão embebido (em vinho) a Iscariotes, para indicar que ele era o traidor (o que queres fazer, faze-o depressa); a fala de Jesus em tom de despedida e o novo mandamento: amai-vos uns aos outros; a parábola da videira, o amor de Cristo, o amor fraterno e o ódio do mundo; a vinda do Paráclito (Espírito Santo) e a sua recepção pelos apóstolos; as orações, a prisão, o julgamento, a crucifixão, o sepultamento e a ressurreição de Jesus; a sua aparição primeiro a Maria Madalena e depois duas vezes aos discípulos reunidos e a incredulidade de Tomé; a terceira aparição junto ao lago de Tiberíades, a pesca milagrosa, a derradeira reunião com os discípulos. João encerra o livro dando o seu testemunho sobre todas as coisas que narrou e da sua fé em Jesus, como sendo o Cristo, filho de Deus. João não menciona ascensão de Jesus ao céu. Acontecimento de tal magnitude não passaria em branco a ele e a Mateus, ambos apóstolos de primeira hora. João e Mateus encerram os seus evangelhos sem falar sobre o destino de Jesus após a última reunião.

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