domingo, 31 de julho de 2011

CONTO

VENÂNCIO, O CORNO.

A criança jazia sobre a mesa. Velas acesas. Mãe à cabeceira, blusa e saia desbotadas, sandália puída. Filhos em torno, sentadinhos, pés descalços. Os vizinhos traziam condolências. Solidariedade na dor. Nas festas juninas e paroquiais, aquelas pessoas também se reuniam e esqueciam as dores, as preocupações, a dureza da labuta diária, e se entregavam ao folguedo, à alegria. Aos domingos, na missa, rezavam, cantavam os hinos, seguiam o ritual, sentiam-se unidas pela fé como uma só e grande família. Fortaleciam-se para enfrentar as agruras da vida.

Solitário no quintal, Venâncio nutria pensamentos contraditórios e sentimentos opostos. “Após algum tempo e algumas mortes, a gente não consegue mais chorar. Secaram os olhos, o corpo, o rio e o pasto. A seca matou as poucas cabeças de gado que tanto me custou criar e acabou com a lavoura. Se tomo dinheiro emprestado, não posso pagar. Ademais, quem vai me dar crédito? O cachorro magrelo. Não há mais galinhas para sacrificar. Farinha com água turva: isso lá é comida de gente? Os filhos vão se indo embora, carcomidos pela fome. Bocas a menos, graças a Deus! Eles estão bem melhor na companhia de Jesus. A mulher não para de embarrigar. Cortar o meu trabuco é que não vou. Quanto maior a miséria, maior a filharada. Falta comida? Aumenta a procura da mulher. Parece coisa do capeta. Vou para outras plagas, mudar de vida. Depois venho buscar a mulher e os filhos que sobraram”.

Por onde anda Venâncio? Os amigos e parentes ajudavam como podiam. De pouco dispunham, compartilhavam a pobreza, mas seguidamente faziam aquela pergunta. A resposta era invariável: “sei, não”. Às velhas cruzes do cemitério, algumas novas se juntaram.

Longe dali, na periferia da cidade grande, Venâncio, agora operário da construção civil, Júlia, a nova mulher, e Luis Inácio, o pequeno filho do casal, esperavam melhorar o padrão de vida. Venâncio desistira do prometido regresso. Vez ou outra um aperto por dentro do peito e uma sombra de tristeza nos olhos vinham lembrá-lo da promessa não cumprida. Então, manejava a pá com mais vigor, lançando o cimento para cobrir o tijolo e a lembrança. Voltava ao cotidiano de homem urbano.

Lourenço do Pó, mulato tesudo, aprumado lugar-tenente da organização controladora do tráfico de entorpecentes no bairro, despertou, em Júlia, admiração e apreço. Venâncio aspira o doce perfume que dela emana. “Apesar de ganharmos pouco, ela consegue satisfazer essa pequena vaidade”, pensa e sorri com uma ponta de orgulho.

“Olha aí, gente! Acabou o banho de sol. Voltem todos para as celas”. Venâncio obedeceu ao comando do carcereiro. Entrou na fila com a pele aquecida e o coração gelado. De vez em quando, aflorava à memória o quadro que precedeu à frieza da sua alma. No ar, o choro da criança. Na parede, o “Sagrado Coração de Jesus”. Na mão, a faca e o sangue na lâmina a escorrer. No chão, a mulher exangue. Ela vestia blusa de cores vivas que a ele nenhum centavo custara. Próximo ao corpo, o frasco de perfume.

sábado, 30 de julho de 2011

FUTEBOL

No rol das sensacionais e inacreditáveis reviravoltas no placar das partidas de futebol inscreve-se a de quarta-feira (27/07/2011) na Vila Belmiro, em Santos, SP. O Flamengo perdia do clube da casa por 3 x 0 quando, ainda no primeiro tempo, empatou a partida: 3 x 3. No segundo tempo, o time da casa ampliou o marcador: 4 x 3. O time visitante empatou e virou novamente o placar: 5 x 4. Torcedores não acreditavam no que seus olhos mostravam. Veio à memória outra notável e inesquecível façanha de time carioca. O jogo foi em São Paulo. Terminou o primeiro tempo com a vitória do Palmeiras, clube paulista, sobre o Vasco, clube carioca: 3 x 0. No segundo tempo, Romário tomou os brios da sua equipe. A defesa vascaína se segurou e os atacantes vascaínos partiram para cima dos palmeirenses e viraram o placar: 4 x 3. Gols de Romário. Lembrou outra façanha inacreditável: a de Eusébio na seleção portuguesa em jogo pela copa mundial de futebol.

Há alguns anos atrás, o correto e excelente jornalista Luciano do Valle, com larga experiência como narrador esportivo, comparou ao jogo de xadrez a sensacional partida de futebol entre Corinthians e Palmeiras. Duelavam os treinadores Luxemburgo e Scolari, cada qual atento ao que o adversário providenciava naquele tabuleiro gramado. Depois disto, essa comparação foi utilizada também por outros narradores e comentaristas.

A citada partida entre Flamengo F R e Santos F C, pode ser comparada a um jogo de xadrez entre os dois treinadores: Luxemburgo e Muricy. Como em todo esporte, no futebol há lugar para a inteligência e a beleza. Tal qual aquele inolvidável jogo entre equipes paulistas, este agora entre equipe carioca de um lado e paulista de outro foi memorável. Não só os treinadores com suas táticas, mas também os jogadores com suas performances foram sensacionais. Houve incríveis perdas de gols: Deivide pelo Flamengo e Elano pelo Santos. Houve gols incríveis: Ronaldo Gaúcho pelo Flamengo, em magnífica e inteligente cobrança de falta que ele vinha treinando desde que jogava no Barcelona FC (bola rasteira por baixo dos pés dos jogadores da barreira, no momento em que eles saltam); Neymar pelo Santos, depois de magnífico drible ao entrar na área adversária.

Crianças, adolescentes e adultos que desconhecem a história do futebol podem se impressionar com o comentário do treinador Luxemburgo, de que só com bazuca Neymar é parado, além dos exageros de comentaristas e narradores de que esse jogador é genial e ninguém é capaz de segurá-lo quando ataca. A realidade os desampara. Neymar tem sido desarmado constantemente nas partidas que joga. A de quarta-feira não foi exceção: houve até jogada bisonha desse jogador. Willians, do Flamengo, deu conta do recado.

Há setores defensivos de clubes de futebol que mostram competência no desarme desse e de outros jogadores. Falhas ocorrem tanto na defesa como na armação e no ataque. O bom aproveitamento dessas falhas pela equipe adversária pode resultar em gol. Para esconder suas próprias falhas, goleiros costumam esbravejar com os companheiros de defesa pelas falhas por eles cometidas. Esse papel de algoz não lhes cabe. Ao goleiro cabe ficar atento e impedir que a bola entre por deficiência dos seus colegas e/ou perícia dos adversários.

Quando o Santos vencia por 3 x 0, o comentarista e o narrador do canal ESPN exageraram nos encômios ao clube e ao jogador Neymar, comparando-o a Pelé. Depois da reação do Flamengo, ficaram embaraçados e tentaram se justificar. O jogador colocado como referência na comparação (Pelé, Garrincha, Romário) há de ser considerado em sua fase áurea e não quando passava pela fase ascensional ou pela fase decadencial na sua carreira.
Neymar ainda está aquém de Robinho e de Zico; Ganso ainda está aquém de Geovani e de Rivaldo. Ambos são bons jogadores em fase de ascensão. Longe estão da genialidade de Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé, Romário e Ronaldo Gaúcho, estrelas máximas do futebol mundial de todos os tempos. Argentinos fanfarrões pretendem incluir neste seleto grupo seus patrícios Di Stéfano, Maradona e Messi. Bons como esses argentinos e até melhores do que eles foram os brasileiros Ademir, Jair, Reinaldo, Rivelino, Ronaldo Nazário, entre outros de grande categoria.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

POESIA

Onde estão Elmer, Herman, Bert, Tom e Charley / o irresoluto, o de braço forte, o palhaço, o ébrio, o guerreiro? / Todos, todos, estão dormindo na colina. / Um morreu de febre, um lá se foi queimado numa mina / o outro foi assassinado num motim, o quarto se extinguiu na prisão / e o derradeiro caiu de uma ponte quando trabalhava para a esposa e os filhos. / Todos, todos, estão dormindo, dormindo, dormindo na colina.
Onde estão Ella, Kate, Mag, Lizzie e Edith / a de bom coração, a de alma simples, a alegre, a orgulhosa, a feliz? / Todas, todas, estão dormindo na colina. / Ella morreu de parto vergonhoso / Kate de amor contrariado / Mag nas mãos de um bruto no bordel / Lizzie ferida em seu orgulho à procura do que quis seu coração / e Edith, depois de ter vivido nas distantes Londres e Paris / foi conduzida ao seu pequeno domínio por Ella, Kate e Mag. / Todas, todas, estão dormindo, dormindo, dormindo na colina.
Onde estão tio Isaac e tia Emily / e o velho Towny Kincaid e Sevigne Houghton / e o major Walker que conversava com os veneráveis homens da revolução? Todos, todos, estão dormindo na colina. / Trouxeram-lhes filhos mortos na guerra e filha cuja vida tendo sido desfeita, os filhos sem pai choravam. / Todos, todos, estão dormindo, dormindo, dormindo na colina.
Onde está o velho violinista Jones / que brincou com a vida durante noventa anos / desafiando as geadas a peito descoberto / bebendo, fazendo arruaças, sem pensar na esposa, nem na família, / nem em dinheiro, nem em amor, nem no céu? / Vede! Fala sobre os cardumes de peixes de antigamente / sobre as corridas de cavalo, outrora, em Clary´s Grove / sobre o que Abe Lincoln disse uma vez em Springfiel. (“A Colina” – Edgar Lee Masters).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

POESIA

Eis os cadetes da Gasconha / do comandante de Castel: / parlapatões sem ter vergonha. / Eis os cadetes da Gasconha / na fidalguia que os enfronha / falando altivos de alambel. / Eis os cadetes da Gasconha / do comandante de Castel. / Águias de pernas de cegonha / bigode mau, dente cruel! / Que a resmungar ninguém se ponha / junto das pernas de cegonha, / no seu chapéu que é de vigonha / oculta os rombos o frouxel. / Águias de pernas de cegonha, / bigode mau, dente cruel! Fura-Bandulho, Esfola-Ronha / são-lhe epítetos de mel. / Ébria – su´alma a glória sonha, / Fura-Bandulho, Esfola-Ronha. / Onde se dê luta medonha / acodem todos em tropel. / Fura-Bandulho, Esfola-Ronha / são-lhes epítetos de mel. / Eis os cadetes da Gasconha / que nunca aos zelos dão quartel. / Mulher formosa ou carantonha, / eis os cadetes de Gasconha! / Que o velho espôso a tal se oponha / sopra no corno, menestrel! Eis os cadetes da Gasconha / que nunca aos zelos dão quartel! (“Os Cadetes de Gasconha” – excerto do “Cirano de Bergerac” – Edmond Rostand).

segunda-feira, 25 de julho de 2011

POESIA

É meio-dia. Eu vejo a igreja aberta. E devo entrar. / Mãe de Nosso Senhor, eu não venho rezar. / Nada tenho a pedir e nada a oferecer. / Venho somente, ó minha mãe, para vos ver. / Ver, chorar de felicidade, não saber mais / do que isto só: que eu sou vosso filho e que aí estais. / Por um momento só quando tudo está quieto. / Meio-dia! / Estar convosco, assim sob este mesmo teto. / Nada dizer, contemplar a vossa imagem, / deixar que o coração cante a própria linguagem, / nada dizer, mas apenas cantar porque a alma está cheia demais, / como o melro que desfia a sua idéia pelo espaço em estrofes casuais. / Porque vós sois tão formosa, porque vós sois a toda imaculada, / a mulher afinal na graça restaurada. / A criatura na sua hora primeira e na sua plenitude final, tal qual saiu das mãos de Deus na manhã do seu esplendor original. / Intacta inefavelmente porque vós sois a mãe de Jesus Cristo, / que é verdade entre vossos braços e a única esperança e o único fruto. / Porque vós sois a mulher, o Éden da antiga ternura olvidada / cujo olhar encontra súbito o coração e faz jorrar as lágrimas acumuladas, / porque me quisestes salvar, porque quisestes salvar a França, porque ela também, como eu, para vós foi uma coisa na lembrança, / porque foi quando tudo ruía que vós quisestes intervir por nós, / porque quem salvou a França ainda uma vez fostes vós, / porque é meio-dia, porque estamos no dia de hoje e estamos sós. / Porque vós aí estais para sempre, simplesmente porque vós sois Maria, / simplesmente porque existis, mais nada. / Mãe de Nosso Senhor, graças vos sejam dadas! (“A Virgem ao Meio-Dia” – Paul Louis Charles Marie Claudel)

sábado, 23 de julho de 2011

POESIA

Pobres, / que vos hei de dizer? / Meus livros e meu Deus falaram-me de vós / Saí a vosso encontro para levar-vos meu amparo / mas deparei com vossos torsos curvos / vossos joelhos dobrados / vossos olhares de cães batidos / atentos às minhas mãos. / Que vos hei de dizer? / Há entre nós a vossa mão, pedindo./
Ricos, / que vos hei de dizer? Eu vos amava. / Meus poetas e meus pintores falaram-me de vós. / Saí a vosso encontro para levar-vos os meus cantos / mas vos achei de colarinho duro / duros também e arrogantes / desconfiados de minhas mãos pouco obedientes. / Que vos hei de dizer? / Há entre nós o vazio de vossos olhos. /
Mulheres, / que vos hei de dizer? / Eu vos amava. / Saí a vosso encontro carregado de amor, / mas vos achei com as vossas costureiras / e vos enchendo os lábios de batom. / Vossos olhos não viram minhas mãos, / minhas mãos trêmulas. / Que vos hei de dizer? Há rouge demais entre nós. /
Crianças, / que vos hei de dizer? / Não corri ao vosso encontro, / nenhuma de vós cansou-me os braços e os joelhos, / nenhuma de vós desviou a mão que escrevia / nem jogou tinta no meu papel. / Crianças, criancinhas, / que vos hei de dizer? / Há entre nós todos os beijos que não dei. (“Pobres” – André Spire).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

FUTEBOL

A Copa América/2011 chega ao fim. Disputar-se-ão nos próximos sábado e domingo, respectivamente, o terceiro lugar entre as seleções do Peru e da Venezuela e o primeiro lugar entre as seleções do Uruguai e do Paraguai. A partida semifinal entre Paraguai e Venezuela realizada ontem (20/07/2011) foi decidida na cobrança de pênaltis. Os paraguaios cobraram melhor e se classificaram para a partida final. Disputarão o primeiro lugar sem ter vencido, nem perdido, partida alguma no tempo regulamentar e na prorrogação. A vitória veio sempre na decisão por pênaltis. Na prorrogação do tempo regulamentar desta semifinal, a equipe paraguaia, que teve um jogador expulso, voltou ao figurino do “futebol de resultado” e atuou na retranca. A equipe venezuelana, apesar da intensidade do seu ataque e do bom futebol apresentado, não conseguiu derrubar a muralha paraguaia. Aos venezuelanos, faltou experiência, paciência e astúcia para assediar e ultrapassar aquele tipo de muralha, tal qual aconteceu com a seleção brasileira.

O jogo terminou depois da meia-noite, o que significa abuso praticado pelos organizadores em conluio com as emissoras de televisão. Essa cumplicidade já se evidenciara com a denúncia pública das relações mafiosas entre o presidente da CBF e empresas de comunicação social. As equipes são obrigadas a começar o jogo por volta das 22,00 horas, a fim de não interferir na programação das emissoras. Jogadores e público são submetidos a esse horário esdrúxulo, em período que devia ser reservado ao sono, ao descanso da jornada de trabalho. O jogo noturno devia começar às 19,00 ou 20,00 horas. Quem não pudesse ir ao estádio, ficaria em casa assistindo ao jogo em companhia dos familiares; depois, aproveitaria o período de sono considerado o melhor para a saúde.

Embora com aparelho de televisão em casa, há torcedores que preferem comparecer ao estádio. Atendem ao apelo da sua natureza social, ao prazer de vibrar em conjunto, festejar, sentir-se unido aos seus concidadãos por sentimento comum de apreço ao esporte popular. O sofrimento pessoal trazido pelo horário impróprio, algumas vezes aliado ao frio, priva pessoas dessa comunhão tão benéfica ao fortalecimento dos laços sociais.

Em busca de maior audiência para as emissoras de TV, os organizadores fizeram coincidir o início da semifinal da Copa América com o início dos jogos do campeonato brasileiro. O interesse das emissoras pelo faturamento se sobrepõe ao apreço do público pelo esporte. O mesmo corre com programa de notícias. Em sendo serviço de utilidade pública, esse tipo de serviço não pode se mesclar com a utilidade privada da empresa e dos anunciantes. Entretanto, as emissoras, com o maior desplante, recheiam de intervalos comerciais o programa noticioso. Os canais por assinatura também cometem abuso. A abertura e o funcionamento desses canais foram permitidos pelo Estado para livrar o telespectador dos anúncios comerciais. Por isso mesmo, o assinante paga pela assinatura. No entanto, as emissoras de TV, fugindo ao dito escopo, recheiam a programação de intervalos comerciais. Ganham duplamente pelo mesmo serviço: do assinante e dos anunciantes. As concessionárias não exploram apenas o serviço público; exploram também o bolso do povo; atentam contra a economia popular, além da indiferença em relação à saúde dos jogadores e do público.

A comunicação social é serviço público explorado diretamente pelo Estado ou por empresas privadas no regime de concessão. Como serviço público, deve atender à necessidade, à utilidade e ao interesse público. O serviço há de ser prestado para atender ao público, em sintonia com o bem comum. No entanto, esse desiderato sofre distorção. O serviço público tem sido prestado segundo o interesse privado das empresas de comunicação social. O bem-estar do povo tem sido desconsiderado. Na democracia real, o serviço público destina-se ao povo. Na democracia de fachada, paralelas às normas éticas e jurídicas, há normas imorais e antijurídicas. Com base nestas últimas, votadas por parlamentares comprometidos com o interesse particular deles próprios e dos grupos que representam, o povo é relegado ao segundo plano.

Desde que a economia engolfou a política, a instituição parlamentar deixou de representar o povo. No Brasil, deputados e senadores representam segmentos da sociedade, principalmente o empresarial e o religioso. No plano dos fatos, a representação é específica e atomizada. As iniciativas em prol do bem comum têm sido tomadas pelo Executivo e não pelo Legislativo.

As normas imorais e antijurídicas podem ser impugnadas, embora estejam em vigor. Ao Ministério Público, aos órgãos de defesa dos direitos e interesses da população, às associações civis, cabe promover medidas para acabar com esse abuso. Na Inglaterra, Murdoch, poderoso chefão da imprensa mundial, não escapou da interpelação pública perante o Parlamento. O Primeiro-Ministro da Inglaterra também foi obrigado a explicar, ao Parlamento, as suas relações com aquele senhor. No Brasil, paraíso da bandidagem de alto coturno, os donos das empresas de comunicação social são intocáveis, apesar da desfaçatez com que atuam contra o bem comum.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

FUTEBOL

Em partida semifinal da Copa América a seleção do Uruguai venceu a do Peru no tempo regulamentar por dois gols. Resultado lógico. O potencial uruguaio revelou-se superior ao peruano no decorrer do campeonato, o que se confirmou na partida de ontem (19/07/2011). As duas equipes abandonaram a retranca das partidas anteriores e se dedicaram também ao ataque com maior disposição. O jogo ficou mais vistoso. Forlán, “o melhor jogador da copa mundial de 2010” segundo a fraudulenta eleição da FIFA (garfaram os holandeses Sneijder e Robben) está no jejum de gols nesta copa. Talvez faça algum na partida final. Até o momento, a sua atuação foi apenas razoável. Cresceu um pouco diante da seleção do Peru, adversária mais fraca do que a argentina. Messi, “o melhor jogador do mundo”, segundo a mafiosa organização, também jejuou; nenhum gol marcou durante o tempo regulamentar e a prorrogação das partidas que disputou nesta copa. Atuação muito aquém da fama.

Provavelmente, na partida semifinal de hoje (20/07/2011), as seleções do Paraguai e da Venezuela também abandonarão a retranca das partidas anteriores, figurino do “futebol de resultado” que privilegia o sistema defensivo em detrimento do sistema ofensivo. Agora, certamente, serão mais ofensivas. Na Venezuela, o beisebol ocupa o primeiro lugar na preferência do povo. Isto pode influir na análise do futebol venezuelano. O plano secundário do futebol nesse país não significa inferior qualidade técnica.

Enquanto a análise conservadora valoriza a tradição, a análise progressista valoriza a evolução e se mostra mais adequada ao estágio atual do futebol na América Latina. A tradição congela conceitos e imagens. O futebol da Argentina e do Brasil, por exemplo, que conserva a boa qualidade técnica, vive das glórias do passado, sem atentar para o progresso das demais seleções do continente americano a cada campeonato. A América Latina exporta jogadores para a Europa. O tradicionalista conservador se nega a admitir essa realidade. Em matéria de tradição, as seleções da Argentina e do Uruguai são as mais fortes, pois em 42 edições do campeonato continental americano, cada uma venceu 14, a do Brasil venceu 8 e a da Venezuela nenhuma. No entanto, é a venezuelana que está nas semifinais desta 43ª edição (2011). O seu progresso a cada geração foi menosprezado pelos conservadores tradicionalistas.

O “futebol de resultado” seguido pelas equipes que se classificaram para as partidas semifinais tem suas raízes psicológicas no medo de perder, no receio de fracassar. Do ponto de vista semântico, aquela expressão carece de sentido, tal como se diz chuva molhada. Toda competição esportiva gera um resultado. A vitória, a derrota ou o empate é o resultado possível no jogo de futebol. Certamente, pretende-se significar com tal expressão (“futebol de resultado”) a busca de um resultado favorável, despicienda a atuação com arte, boa técnica, elegância e lealdade. O que importa é vencer, seja de modo bonito ou feio.

Na sua franqueza italiana minha avó materna dizia: “beleza não se põe na mesa”; porém, meu avô, na sua malícia cabocla, acrescentava baixinho: “mas se põe na cama”.

A retranca no futebol segue a conhecida máxima do florentino Nicolau Maquiavel na política: os fins justificam os meios. Vale tudo para o príncipe se manter no poder e realizar os seus projetos. Vale tudo para a equipe chegar à vitória. No entanto, há compatibilidade entre beleza, elegância e eficiência. Quando reunidas, fazem do futebol uma arte. Todo esporte pode ser praticado com arte e refinamento, sem prejuízo da objetividade, no contexto mais amplo do mundo da cultura.

A seleção brasileira atuou artisticamente na sua última participação desta copa. O setor defensivo da seleção brasileira não foi incomodado. Os paraguaios adotaram o figurino do “futebol de resultado” e acossaram o setor ofensivo da seleção brasileira. Eles próprios não se preocuparam em atacar e fazer gols no tempo regulamentar da partida. Escolheram como alvos principais: Maicon, jogador que melhor atuara na partida anterior e Ganso, por suas assistências perigosas (nas poucas vezes que acertava um passe). Pato e Neymar foram alvos de menor atenção. Diante desse esquema, os esforços de Robinho, jogador que melhor atuou nessa partida, resultaram infrutíferos. As finalizações não tiveram êxito. A falta de gols, nesse contexto, não significa má atuação da seleção brasileira. A defesa, a armação e o ataque se comportaram bem. Acontece que a muralha erguida pelos paraguaios estava inexpugnável. Aos brasileiros faltou experiência, paciência e astúcia para assediar esse tipo de muralha.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

FUTEBOL

O primeiro lugar da copa mundial de futebol feminino realizada na Alemanha foi conquistado pela seleção do Japão ao enfrentar a seleção dos Estados Unidos (17/07/2011). Decisão por pênaltis após o empate na prorrogação do tempo regulamentar. Aí está o resultado de muitos anos de preparo e de participações da seleção japonesa em torneios mundiais e continentais. Sawa, jogadora japonesa, recebeu os prêmios “bola de ouro” e “chuteira de ouro”. Solo, goleira estadunidense, mais por sua beleza do que por sua qualificação técnica, recebeu o prêmio “luva de ouro”, criado nesta copa.

A Copa América de futebol masculino entra na fase das partidas semifinais. Classificaram-se as seleções do Uruguai, Peru, Paraguai e Venezuela, que se enfrentam nesta semana. Nas partidas quartas-de-final, o sistema defensivo superou o sistema ofensivo. Reconhecendo a força ofensiva dos adversários, as citadas equipes jogaram na retranca e confiaram no contra-ataque. O vistoso e viçoso futebol brasileiro e chileno não conseguiu derrubar as muralhas. Os paraguaios não incomodaram a defesa brasileira e não marcaram gol. Os venezuelanos incomodaram pouco a defesa chilena e, ainda assim, marcaram dois gols. Os incensados astros sul-americanos não exibiram a grandeza propalada. Nada houve de extraordinário nas suas atuações, algumas até bem modestas. No transcorrer desse campeonato continental de seleções americanas, notou-se equilíbrio em nível técnico, esforço e dedicação, exceto as seleções da Costa Rica, do México e do Equador que mostraram deficiência técnica maior do que a das concorrentes. Todas tiveram pequeno êxito nas finalizações; apenas a seleção brasileira no jogo contra a equatoriana conseguiu marcar quatro gols (na verdade, cinco, mas o gol legítimo de Robinho foi anulado indevidamente). Em número de gols, essa copa foi frustrante. Dificilmente as partidas semifinais contribuirão para melhorar o índice da artilharia.

Sob o comando do treinador Dunga, a seleção brasileira foi campeã da Copa América/2007. Sob o comando do treinador Menezes, a seleção brasileira foi eliminada da Copa América/2011, na fase das partidas quartas-de-final. A seleção brasileira atuou bem, mas não conseguiu furar o bloqueio paraguaio. Os jogadores se entendiam em campo, organizavam boas jogadas, esforçavam-se, mas estavam sem sorte nas finalizações. Dia nefasto para os brasileiros. Vitória da tática defensiva sobre a tática ofensiva. Não há falar em justiça ou injustiça, nem tampouco em merecimento de prêmio ou de castigo. Todos, comissão técnica e jogadores, deram muito de si. As estrelas não decepcionaram. O potencial dos jogadores mais badalados é aquele mesmo apresentado em campo. Excepcionalmente, exibem arte e finalizações exitosas. Quando enfrentam equipes fortes, o brilho esmaece, naturalmente. Atuando em clubes fortes, esses jogadores se destacam em campeonatos nacionais, onde é maior o número de clubes fracos. Floresce o mercado esportivo.

Decepcionante a cobrança de pênaltis pelos brasileiros. Na decisão por pênaltis é prevista a cobrança de cinco para cada equipe; um jogador diferente para cada cobrança; os cobradores são escolhidos pelo treinador. A marca no gramado do estádio para cobrança de pênalti estava igualmente ruim para os jogadores das duas seleções. Os paraguaios erraram duas cobranças, acertaram duas e não precisaram fazer a quinta, porque os brasileiros erraram todas as cobranças. Façanha extraordinária. Em jogos da seleção brasileira já houve cobranças de pênaltis mal feitas, mas nunca nesse número: quatro seguidas!

Há notícia de que os jogadores treinaram cobrança de pênalti. Como dizia o grande mestre Didi: “treino é treino, jogo é jogo”. A disciplina, o esforço, a dedicação, sofrem o peso da responsabilidade e da pressão pelo êxito no jogo. Ninguém está obrigado a vencer, mas todos estão obrigados a jogar para vencer, a dar o máximo de sua capacidade e do seu esforço a fim de obter um bom resultado para sua equipe. Em jogo de futebol entra o imponderável. O resultado pode ser favorável ou desfavorável. Cuida-se de evidência: toda disputa tem um resultado. No entanto, independente do resultado e das circunstâncias, o máximo empenho dos jogadores é indispensável.

Apesar do empenho, argentinos, colombianos, brasileiros e chilenos voltaram derrotados para seus clubes. A copa mundial/2014vem aí. A seleção brasileira poderá vencê-la. Se perder, que não seja por falta de qualidade, de preparo e dedicação. Há tempo suficiente para escolha racional e tranqüila dos melhores jogadores em atividade, ainda que não sejam os mais badalados. A escolha há de ser livre da interferência dos patrocinadores. A seleção dos membros da comissão técnica e dos jogadores deve obedecer ao mérito real em primeiro plano. O interesse mercadológico há de ficar em segundo plano.

domingo, 17 de julho de 2011

FUTEBOL

O terceiro lugar da copa mundial de futebol feminino foi conquistado pela seleção da Suécia ao enfrentar a seleção da França. As duas equipes se nivelaram tecnicamente, ambas com jogadoras aguerridas. Nessa partida houve um belo gol da sueca Hammarstrom, semelhante ao da brasileira Érica no jogo contra a seleção da Guiné Equatorial. A japonesa Sawa também fez um belo gol no jogo da seleção do Japão contra a seleção da Suécia. Esses três gols foram os mais bonitos da copa até o momento. Falta a partida final entre Japão e EUA que ocorrerá neste domingo.

Das quatro seleções finalistas, destaca-se a beleza das goleiras Celine (França) e Solo (EUA) e da zagueira Rohlin (Suécia). No cinema, a França brindou o mundo com Brigitte Bardot e Catherine Deneuve; a Suécia com Greta Garbo e Ingrid Bergman; os Estados Unidos com Grace Kelly e Ava Gardner. Todavia, como o futebol não é concurso de beleza e sim de aptidão técnica e de habilidade demonstradas durante os jogos, o destaque é da brasileira Marta. A técnica e a habilidade exibidas em alto nível por essa jogadora em seu clube não sofrem redução alguma na seleção brasileira. Merece com justiça e com louvor a coroa de rainha do futebol mundial.

Na Copa América de futebol masculino, a seleção do Peru eliminou a seleção da Colômbia e a seleção do Uruguai eliminou a da Argentina. Como se esperava neste final de campeonato, os jogadores se empenharam muito, elevando ao máximo o potencial das equipes. O desempenho geral das estrelas como Messi, Forlán, Falcão Garcia, foi comum e ordinário, com acertos e erros, sem qualquer brilho extraordinário. A nenhum jogador cabem os louros da vitória ou as reprimendas pela derrota. Todos jogaram no limite das suas capacidades. Se decepção houve, foi porque os torcedores exigiam muito mais do que os seus ídolos podiam dar; exigiam atuação brilhante, acima das possibilidades de cada jogador. Os torcedores se iludem com os títulos e qualificativos atribuídos aos jogadores e que não condizem com a realidade mostrada nos jogos. Essa ilusão é criada, mantida e fortalecida por mafiosas organizações esportivas como a FIFA, por patrocinadores e pelos meios de comunicação social. Essas instituições valorizam artificial e exageradamente alguns jogadores; nomes, títulos e adjetivos são repetidos ad nauseam no intuito de mantê-los presentes na mente do público, o que atende a interesses econômicos exclusivamente.

A seleção do Peru enfrentará a seleção do Uruguai em uma das partidas semifinais. Essas duas equipes, mais as seleções do Brasil, Chile e Paraguai ainda têm combustível para queimar. Quanto à seleção da Venezuela, parece que já queimou todo o seu estoque, embora ainda sem acusar enfraquecimento.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

FUTEBOL

A inteligência tem uma função lúdica que opera com os instintos humanos básicos. Estudos etnográficos noticiam competições no seio da vida tribal primitiva, tanto em lutas individuais como em jogos coletivos. As modalidades de lutas e de jogos multiplicaram-se até a imensa variedade constatada na vida cosmopolita contemporânea. Nessas atividades lúdicas empregam-se táticas guerreiras e táticas sedutoras. Combinam-se força e astúcia. O outro competidor é visto como inimigo a ser aniquilado ou objeto a ser conquistado. A defesa do outro há de ser derrubada como as muralhas e as portas de um castelo. Contra a porta fechada e resistente arremete-se o fálico aríete. O processo sedutor da difícil dama começa na faixa central, com a dança envolvente e sensual; prossegue nos flancos, a artimanha para abrir a defesa; então, penetra-se na área e ejacula a pelota, balançando aquele útero. O ejaculador vibra no orgástico prazer da penetração bem sucedida.

O “tico-tico” de que fala o bem articulado comentarista de futebol do canal ESPN, nem sempre significa falta de objetividade. Na maior parte dos casos, a insistente troca de passes na faixa central do gramado é tática para abrir a defesa adversária. O insucesso da tática é que faz pensar em ausência de objetividade. No jogo da seleção brasileira contra a equatoriana, o emprego dessa tática foi bem sucedido porque incluiu trabalho correlato pelos flancos. Os atacantes brasileiros penetraram na área e finalizaram com êxito.

Encerrada a fase das disputas entre as seleções do mesmo grupo, inicia-se a fase final. Ao contrário do que foi dito algures, não é agora que o torneio tem início, mas é agora que o bicho pega. Salvo as seleções da Colômbia e da Venezuela, cujas atuações permitem deduzir que já atingiram o seu potencial máximo, as demais seleções ainda estão na trilha ascensional e podem crescer muito nas próximas partidas.

As seleções da Colômbia e do Peru (16,00 horas) e as da Argentina e do Uruguai (19,00 horas) se enfrentam no sábado, dia 16/07/2011. As seleções do Brasil e do Paraguai (16,00 horas) e as do Chile e da Venezuela (19,00 horas) se enfrentam no domingo, dia 17/07/2011. Nessas partidas quartas-de-final o enfrentamento é único: quem perder estará fora da copa. As seleções vencedoras disputarão os quatro primeiros lugares da copa em partidas semifinais. As vencedoras das semifinais disputarão os dois primeiros lugares na partida final.

Mantida a formação da partida contra a seleção do Equador, a seleção brasileira terá maior chance de sucesso, não só pelo crescimento da produção individual, como também pela probabilidade de maior entrosamento da equipe. O treinador revela pensamento incensurável que dignifica os jogadores: na seleção não há jogadores-reservas no plano individual e sim reserva de jogadores para fins coletivos; todos são titulares e de alto nível no plano individual. Entram em campo aqueles que melhor se ajustam ao esquema tático, uma vez que os adversários são desiguais em valores individuais e postura coletiva. Na hipótese de contusão de jogador brasileiro que estiver jogando, há substitutos à altura no banco de reserva. Mesmo sem contusão, mas por razões psicológicas, tendo em vista as falhas apresentadas, Júlio Cézar devia ficar fora do gol nas próximas partidas, sem menosprezo algum, mas unicamente por medida de cautela. No mais, que Nossa Senhora Aparecida nos ajude!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

FUTEBOL

A seleção da Argentina, com seu elenco principal (menos Tevez) venceu a da Costa Rica (3 x 0) no jogo do dia 11.07.2011. O argentino Messi “melhor do mundo” segundo a fraudulenta eleição da FIFA, atuou de modo ordinário. Eficiente nos passes, Messi armou lances que tiveram finalizações exitosas. Ineficiente nos dribles, desarmado várias vezes, Messi ainda não marcou gol nesta copa. A vitória aliviou a pressão sobre os jogadores e a comissão técnica e ensejou pacificação interna. O fato de a adversária ser uma equipe fraca não arrefeceu o entusiasmo dos argentinos. A hora da verdade chegará quando os argentinos enfrentarem os uruguaios na próxima fase da copa.

Percebe-se que a seleção costarriquenha e a mexicana participaram da copa para que seus jovens atletas adquirissem experiência internacional, quiçá, com olhos voltados para a copa mundial de 2014. Todos se aplicaram muito nas partidas.

No dia 12/07/2011, jogaram as seleções do México e do Uruguai e as do Chile e do Peru. A mexicana perdeu para a seleção uruguaia pelo placar mínimo. A uruguaia jogou com todo o seu potencial. Diego Forlán, “melhor jogador da copa do mundo de 2010” segundo a fraudulenta eleição da FIFA, mostrou-se um jogador de nível mediano, perde gols, fraco nos dribles e nos passes, sem qualquer finalização exitosa até o momento. No outro jogo, placar mínimo em favor do Chile. Gol contra do defensor peruano, no minuto final da partida, depois do escanteio cobrado pelo jogador chileno. O astro incensado, Aléxis Sanchez, pérola do clube Udinese, não mostrou até agora o brilho anunciado. Repetiu-se o fenômeno estelar. Da atuação real, verifica-se que as estrelas não têm a grandeza que lhes atribui o marketing esportivo. Messi, Forlán, Sanchez, Neymar, Ganso, todos estrelas de terceira grandeza, vendidos como se fossem de primeira. Parecem estrelas de cinema: boas no filme, ruins na vida real.

No dia 13/07/2011, o público viu bons jogos. Na copa mundial do futebol feminino enfrentaram-se as equipes dos EUA e França e as do Japão e Suécia; na Copa América de futebol masculino, as equipes do Paraguai e Venezuela e as do Brasil e Equador. A seleção dos EUA venceu a seleção da França por três gols a um. Resultado lógico. Após vencer, a duras penas, a seleção brasileira, as jogadoras estadunidenses se descontraíram. No jogo com a seleção francesa mostraram confiança que não exibiam no jogo com a seleção brasileira, bem ao contrário, havia até certo nervosismo das gringas, mas elas tiveram o mérito de bem canalizá-lo em agressividade até o apito final. Certamente, no jogo final, a lógica prevalecerá novamente. O Japão venceu a Suécia por três gols a um. A seleção japonesa mostrou entrosamento tático, agilidade e objetividade. As japonesas são velozes, dedicadas, esforçadas e determinadas, embora irregulares nos dribles e nos passes. Elas não se intimidaram diante da mais experiente e invicta seleção sueca, nem do placar inicial adverso. Revelaram virtudes marciais. Apesar da baixa estatura, as japonesas superaram as suecas altas, louras e fortes (algumas bonitas). Considerando que nenhuma das semifinalistas é superior à seleção brasileira em valores individuais, a vitória da seleção estadunidense sobre a seleção japonesa na disputa final será o resultado lógico. Esta copa mundial não será a última em que a melhor seleção sai derrotada. No esporte, a lógica tem seus lapsos.

No futebol masculino, houve empate no jogo entre as seleções do Paraguai e da Venezuela (3 x 3). Depois de estarem perdendo por uma diferença de dois gols, os venezuelanos obtiveram o empate em apenas dois minutos já no final da partida. Reação dramática e valorosa. Jogadores brasileiros, colombianos, paraguaios, peruanos, têm mania de relaxar nos últimos minutos do jogo e às vezes levam essas invertidas. Ambas as equipes estão classificadas para a fase seguinte do campeonato, assim como a do Brasil. A vitória brasileira sobre a seleção do Equador (4 x 2) serviu para levantar o moral dos jogadores e da comissão técnica. O time utilizou as laterais do campo. Isto repercutiu na eficiência do ataque. O técnico acertou na tática e na escalação. Maicon foi o melhor jogador da seleção em campo. Neymar e Pato voltaram a atuar bem na área adversária. Receberam boas assistências e tiveram êxito nas finalizações. Robinho, como sempre, dedicado, esforçado e com senso coletivo, jogou para a equipe. Bem que podia recuperar a alegria e pedalar novamente. Falta-lhe sorte nas finalizações: ora é um adversário que cai, desliza na área e intercepta a trajetória da bola; ora é a trave; ora é o árbitro que anula gol legítimo. O moço tem que se benzer, porque talento há de sobra. Ganso dá mostras de que ainda não se recuperou, pelo menos psicologicamente, da contusão que o deixou seis meses fora dos gramados; mais erra do que acerta. Dois gols resultaram de seus passes e da sua boa visão de jogo. Júlio César engoliu dois gols espantosos. Para um goleiro ordinário, aqueles frangos seriam compreensíveis, mas para um goleiro extraordinário como ele, os gols foram um espanto. Dia nefasto. Considerando que a disputa ocorre entre selecionados, o nível técnico dos equatorianos ainda é sofrível. Em termos comuns, o futebol equatoriano é respeitável. Aliás, neste século, as copas da América indicam que moleza no futebol sul-americano é coisa do passado; não há mais seleções fracas, salvo ocasionalmente. A seleção chilena, próxima adversária da seleção brasileira, está formada por bons e aplicados jogadores, como Valdívia e Sanchez, por exemplo. Até agora, nesta copa, os chilenos mostraram razoável desempenho.

Descabida a declaração de alguns argentinos e brasileiros, de que somente agora o torneio terá início. Trata-se de retórica sem compromisso com a verdade dos fatos, empregada para justificar o fraco desempenho das equipes. A rigor, a copa tem início na fase de classificação das seleções nacionais. A seguir, vem disputa entre as seleções classificadas, reunidas em grupos de quatro. Depois e sucessivamente, disputas quartas-de-final, semifinais e terceira colocação. Por último, a disputa pelo primeiro lugar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

FUTEBOL

No desenrolar da Copa América, a seleção da Venezuela repetiu fraude ao jogar contra a seleção do Equador (09/07/2011). No segundo tempo, quando vencia por 1 x 0, um dos seus jogadores leva bolada no peito e vai ao chão. Os equatorianos continuaram a jogar. Os venezuelanos cercaram-nos em protesto, invocando a norma ditada pelo costume de paralisar o jogo quando um atleta está caído aguardando atendimento médico. O jogador que estava caído levantou a cabeça e quando viu a confusão, tornou a enfiá-la no gramado. O fingimento ficou evidente. O jogador foi tirado de campo e logo retornou com todo o fôlego do mundo. Merecia censura com cartão amarelo pela fraude cometida. A equipe venezuelana parece instruída para assim proceder: provocar tumulto, ganhar tempo e esfriar a reação da equipe adversária. A tática foi eficaz, embora contrária à regra que sanciona o antijogo. A seleção da Venezuela garantiu o placar favorável e se classificou em primeiro lugar no grupo.

A seleção do Brasil atuou de modo ordinário e costumeiro no jogo contra a seleção do Paraguai. Nada de criativo ou excepcional no plano coletivo: passes mal executados, poucas finalizações, entrosamento sofrível, tática elementar, ação desordenada. No que tange ao plano individual, não se vê no elenco da seleção craque ou jogador extraordinário, nem líder autêntico, apesar da propaganda em torno de alguns nomes. O que se viu até agora, foram bons jogadores, esforçados e dedicados, nos moldes de Robinho, como Lúcio, Lucas Leiva, Daniel e Jadson, e jogadores de apático perfil, como Pato, Ganso, Fred e Neymar. Os dois gols da seleção brasileira, no referido jogo, foram inesperados: partiram de fora da área. Os brasileiros preferem entrar na área e finalizar com pouca chance para o goleiro defender. Isto não tem sido fácil nesta copa. A seleção do Paraguai, cujo segundo gol resultou do acaso, podia sacramentar a vitória por 3 x 1, mas desperdiçou excelente chance de gol no segundo tempo, no momento em que estava senhora da situação na área brasileira. Vingou a máxima do futebol: “quem não faz, leva”. A seleção brasileira, no minuto final, marca o segundo gol e empata a partida. Castigo para os paraguaios.

A seleção equatoriana, mordida pela derrota diante dos venezuelanos, enfrentará a seleção brasileira na quarta-feira (13/07/2011). Não será surpresa se a seleção brasileira empatar ou perder. Que nos valha Nossa Senhora Aparecida! O jogador de seleção brasileira ou de seleção argentina fica submetido a terrível pressão dos torcedores fanáticos e da imprensa esportiva sensacionalista e irracional. Isto pesa em campo (a opinião contrária, seja dos jogadores, seja dos técnicos ou de qualquer outra fonte, não se sustenta diante da evidência dos fatos e da psicologia comum). Daí a fraca atuação de bons jogadores. Apesar da boa forma na época, mas para se livrarem da pressão exagerada, alguns brasileiros manifestaram vontade de não mais integrar a seleção, entre eles: Mauro Silva, Dida, Juninho Pernambucano, Zé Roberto (melhor jogador da seleção/2006). Sem dúvida alguma, foram perdas significativas para o elenco brasileiro. Culpa não se há de lançar sobre os jogadores. O motivo é compreensível.

Os argentinos envolveram-se na guerra de nervos e podem perder para a seleção da Costa Rica, caso não se entendam. O povo exige de Messi atuação superior à sua capacidade. Messi não é o melhor jogador do mundo. Esse título lhe foi outorgado indevidamente por uma organização mafiosa chamada FIFA. Se afastada a impostura e encarada a realidade exposta em campo, testemunhada por nossos próprios olhos, o melhor jogador do mundo revela-se na copa mundial, de quatro em quatro anos. Esse jogador, na copa de 2010, foi o holandês Sneijder. O argentino/espanhol Messi é apenas um bom jogador, nada mais do que isto; a atuação contra seleções de outros países mostra as suas limitações. Maradona diz não compreender as críticas ásperas voltadas contra Messi. O motivo é simples: a parte moderada dos torcedores ficou decepcionada ao constatar com seus próprios olhos que Messi não é o melhor jogador do mundo; a parte fanática dos torcedores ficou revoltada, mas se recusa a admitir ter sido vítima do engodo. Ambas criticam o jogador. A massa precisa de heróis, ainda que fabricados espertamente pela imprensa aliada a grupos mafiosos como a FIFA. O povo se decepciona ao descobrir que o herói é carunchento.

Japão, Suécia, França e Estados Unidos disputarão as partidas semifinais da copa mundial de futebol feminino (13/07/2011). Notável a evolução do futebol japonês, como se viu na copa mundial de 2010, realizada na África (masculino) e como se viu nesta copa de 2011, realizada na Europa (feminino). As suecas, que já foram vice-campeãs em 2003, mostram bom entrosamento e objetividade: estão coesas e podem conquistar o título. A equipe francesa disputou a copa de 2003, apenas, quando não passou para as quartas-de-final. Agora, chega às semifinais após derrotar a seleção inglesa. Dificilmente vencerá a aguerrida equipe dos EUA, duas vezes campeã dessa copa mundial (1991 e 1999).

No domingo (10/07/2011) a seleção brasileira de futebol feminino perdeu para a estadunidense. Fato incomum: jogadora brasileira recebeu cartão amarelo por simular contusão e paralisar indevidamente a partida. Arbitragem correta. Fato comum: esse tipo de fraude ficar impune. No tempo regular, as gringas não fizeram gol; a sua vantagem inicial deveu-se ao gol de uma defensora brasileira; elas só fizeram gol no minuto final da prorrogação. Apesar disto, elas exibiram bom entrosamento, acerto nos passes, agilidade e determinação. As brasileiras fizeram três gols: dois a favor (Marta) e um contra (Daiana). O empate na prorrogação levou a disputa para os pênaltis. As gringas acertaram todas as cobranças; as brasileiras erraram uma (Daiana, outra vez, certamente com urucubaca nesse dia nefasto). A seleção brasileira perdeu a chance de passar para as semifinais. Longe de censura e de cáusticos ditirambos, a seleção feminina merece aplauso e incentivo por ter chegado às quartas-de-final nesta copa de 2011 e conquistado o título de vice-campeã na copa de 2007. As jogadoras mostraram talento, esforço e dedicação. Falta melhor controle dos nervos. Algumas enfrentam desemprego e insegurança social e econômica. Merecem apoio psicológico e financeiro. A CBF, o COI e o Ministério dos Esportes deviam prestar maior atenção e apoio ao futebol feminino, inclusive pelo fato de o Brasil disputar torneios internacionais.

sábado, 9 de julho de 2011

FUTEBOL

Nesta Copa América/2011 de futebol masculino, nota-se um nivelamento das equipes no plano coletivo, até o momento (08/07/2011): Argentina, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela só empataram; Chile e Peru venceram uma partida e empataram em outra; Colômbia ganhou uma partida e empatou outra; Costa Rica perdeu uma partida e venceu outra; Bolívia empatou uma partida e perdeu outra; México perdeu todas.

As finalizações bem sucedidas são poucas. Provavelmente, esta será a copa com menor número de gols. O sistema defensivo das equipes tem se mostrado eficiente. O sistema ofensivo encontra dificuldade para romper os bloqueios. As jogadas ofensivas pelas laterais do campo são pouco utilizadas. Contrariando, às vezes, a orientação do técnico, os jogadores preferem atacar pelo meio, o que facilita a defesa adversária e dificulta as finalizações. O número de gols perdidos nesta copa é incrível. Faltam armadores inteligentes, líderes, com ampla visão de jogo, acerto nos passes longos ou curtos, precisos nos pés do companheiro ou no espaço vazio para proveito oportuno do jogador que vem de trás.

Felizmente para o espetáculo e para o moral dos jogadores, escasseiam as “furadas”. Nota-se geral deficiência na cobrança de faltas, de escanteio e de tiro de meta. Na reposição da bola em jogo pelas laterais do campo, apesar de efetuada com as mãos, os lançadores conseguem cumprir a missão quase impossível de entregá-la ao adversário. O que se vê de passes errados faz duvidar que estejam em campo jogadores profissionais. Há jogadores saindo com a bola dominada do seu campo para o campo do adversário, em bela jogada, para então perdê-la de modo bisonho, por falta de habilidade no passe ou graças à destreza do defensor. Bons e bonitos dribles, mas a maioria sem eficácia; a bola escapa do driblador, para decepção da torcida, principalmente quando se trata de alguma estrela. A caça ao driblador continua. Ao invés de reclamar e espernear, o driblador deve usar inteligência, a exemplo de Marta (jogadora da seleção feminina de futebol): conduzir o caçador para dentro da área e obter o pênalti sem fingimento.

A atuação das seleções da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai, certamente foi decepcionante apenas para torcidas fanáticas e analistas que se guiam pela paixão. Em ocasiões como esta da Copa América, percebe-se com nitidez a diferença entre o futebol nominal e o futebol real. Os fanáticos e irracionais guiam-se pelo nominal; os moderados e racionais guiam-se pelo real. O futebol nominal é das estrelas incensadas, produto mais da propaganda do que do talento. Nesse âmbito, paixão prevalece sobre razão; análise prende-se mais à tradição e menos à evolução; torcedores e analistas buscam ver no campo o futebol que pulsa nos seus corações e cristalizado na imaginação. No futebol real acontece o contrário: a análise é fria, há mais ponderação do que precipitação; mais verdade do que suposição; mais realidade do que imaginação. Os moderados e racionais assistem aos jogos sem o véu da ilusão e sem as algemas do desejo; torcem pela vitória da sua equipe, mas não se deixam contagiar com a louca ansiedade dos fanáticos.

O realista vê o futebol com seus próprios olhos; o nominalista o vê com olhos alheios. Percebe-se isto nitidamente na escolha do melhor jogador. Os realistas selecionam o melhor jogador pelo efetivo desempenho em campo e não pelo que dita a FIFA ou terceiros interessados; enxergam e consideram os interesses financeiros da instituição e dos seus dirigentes no que tange à compra de votos e ao ingresso de capital oriundo dos patrocinadores. Já os nominalistas navegam nas águas da propaganda e da política da instituição. Exemplo: a copa do mundo revela o melhor jogador do mundo. Na copa de 2010, um holandês revelou-se o melhor com extraordinária atuação. No entanto, a FIFA elegeu um argentino como o melhor do mundo e um uruguaio como o melhor daquela competição, ambos com atuação medíocre. Politicagem fifense. A escolha anual do melhor jogador é uma excrescência fruto dessa politicagem. O melhor do mundo teria de ser escolhido na disputa mundial de seleções, a cada quatro anos. Ver-se-ia a probabilidade de a escolha realista sobrepor-se à nominalista.

O fair-play virou hipocrisia e malandragem. Os jogadores fingem lesão grave para interromper a partida, principalmente quando a sua equipe está vencendo. Ganham tempo e esfriam a reação da equipe adversária. A gentileza de colocar a bola para fora do campo a fim de atender o atleta caído brotou de atitude vista no século passado e convertida em costume. Cuida-se de convenção e não de regra escrita. Durante um jogo no continente europeu, a bola entrou no gol ao ser devolvida em cumprimento a essa convenção. Constrangimento geral. O jogo se reinicia. A equipe beneficiada fica inerte enquanto a equipe prejudicada se movimenta e faz o gol. Restabeleceu-se a vigência da norma consuetudinária. Isto supõe um grau de ética esportiva incomum.

Diante de um quadro de malandragem como se vê atualmente no futebol da América Latina, quem adota conduta ética a esse grau assume o papel de otário. Exemplo: jogadores e técnico da seleção da Venezuela agrediram jogadores da seleção do Brasil alegando descumprimento desse costume. No entanto, quando os brasileiros continuavam o jogo, o venezuelano que estava caído levantou-se fagueiro. Este é um fato recorrente, pelo menos neste rincão do planeta, a exigir nova reflexão sobre a obrigatoriedade de interromper a partida quando um jogador estiver caído. Em se tratando de prática esportiva, o livre arbítrio há de preponderar em face do determinismo. Quem está com a bola é livre para decidir se a coloca fora do campo em atenção ao jogador que está caído, ou se prossegue a jogada. Ninguém está obrigado a ser gentil. Diante da notória malandragem, a gentileza vira burrice. Os jogadores devem prosseguir na jogada e deixar o árbitro decidir sobre a conveniência de interrompê-la. Os técnicos das equipes em confronto devem combinar entre si, antes do início das partidas, que essa questão ficará a cargo do árbitro, caso a caso, sem iniciativa ou interferência dos jogadores. Esse prévio entendimento evitará o deprimente espetáculo das brigas no estádio.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

FUTEBOL

As seleções brasileiras de futebol feminino e masculino continuam em ascensão. Talvez alcancem potencial máximo ao término da copa mundial e da copa América, respectivamente, o que é ótimo. As duas seleções brasileiras mostram bom desempenho. Grande é a probabilidade de se tornarem campeãs. Todavia, há adversários que também não esgotaram as suas potencialidades e se encontram em fase ascensional, como a Alemanha e os EUA, no feminino e quase todas as equipes do masculino.

Na atuação individual, até o momento, as jogadoras brasileiras são as melhores da copa no que tange à artilharia, aos dribles e ao controle da bola e dos nervos. Erika fez belíssimo gol no jogo contra a seleção da Guiné Equatorial: aplicou um chapéu na adversária e chutou sem deixar a bola cair ao chão. Dificilmente haverá gol mais bonito nesta copa. Gol de placa de ouro. Cristiane fez dois gols, sendo um de pênalti. Marta foi assediada por Bruna durante a partida; a africana não desgrudou nem quando a brasileira foi conversar com o técnico à beira do gramado. Marta mostrou maturidade. Com sua atuação de escol, solidária e experiente, contribuiu para a vitória. Ela usou inteligência ao conduzir sua implacável marcadora para dentro da área. Em tais situações, a atacante não precisa preocupar-se em fazer o gol. Basta não perder o domínio da bola. O assédio da marcadora acaba em falta. Dentro da área, falta é pênalti. Bem cobrado, pênalti é certeza de gol. Foi o que aconteceu no jogo Brasil x Guiné.

Na atuação coletiva, a seleção brasileira de futebol feminino equipara-se às seleções estrangeiras: deficiência nos passes, correria, táticas regulares, entrosamento razoável. Algumas tendem a melhorar (Brasil, Alemanha, EUA). Nas finalizações, a brasileira mostra-se mais eficiente do que as concorrentes.

terça-feira, 5 de julho de 2011

FUTEBOL

Copa Mundial de futebol feminino/2011. A seleção brasileira (Marta, Cristiane, Rosana, Formiga, Érica e outras abnegadas) venceu as partidas iniciais contra a Austrália e a Noruega. Está bem cotada como uma das fortes candidatas ao título. Nota-se que as atletas estão com mais resistência e força se comparadas às atuações de anos passados. Chutam de fora da área; na cobrança dos escanteios a bola alta chega à área e é disputada no cabeceio pelas jogadoras. Há individualismo moderado, bons dribles e passes. O senso coletivo predomina. Espera-se que as brasileiras tenham adquirido personalidade e controle emocional para disputar partida final de copa do mundo. Os requisitos de natureza psicológica faltaram em decisão anterior, quando a seleção brasileira dominava a seleção alemã do ponto de vista técnico. Embora Marta seja a rainha do futebol feminino de todos os tempos, a responsabilidade pelo sucesso não deve ser jogada por inteiro sobre os seus ombros. A responsabilidade é da equipe. Todos devem cooperar e dar o melhor de si. As jogadoras não devem abrir mão da sua criatividade, da capacidade de improvisar, para ficar aferradas ao esquema do treinador. O talento individual é muito importante. Jogadoras e jogadores talentosos muitas vezes são cerceados por técnicos medrosos, que preferem a retranca e prejudicam o rendimento da equipe.

Copa América de futebol masculino/2011. Desde a primeira disputa entre seleções sul-americanas em 1916 até esta última em 2011, decorreram 95 anos. Com a entrada de seleções da América do Norte e da América Central, o campeonato passou a chamar-se Copa América (1975). A seleção brasileira venceu oito dessas copas continentais: 1919, 1922, 1949, 1989, 1997, 1999, 2004, 2007. As seleções da Argentina e do Uruguai venceram 14 copas, cada uma. As seleções do Paraguai e do Peru venceram duas copas cada uma; as da Bolívia e da Colômbia, uma cada.

Arthur Friendereich, no campeonato sul-americano de1919, Heleno de Freitas no de 1945 e Jair da Rosa Pinto no de 1949, atacantes da seleção brasileira, entraram para a memória dos brasileiros da primeira metade do século XX, como grandes artilheiros. Jair marcou 9 gols e jamais foi superado até a presente data nesta competição continental. Essa marca foi igualada uma única vez, no campeonato de 1957, quando um argentino e um uruguaio também marcaram 9 gols. Em 1959, Pelé marcou 8 gols; em 2004, Adriano marcou 7 gols. Bebeto em 1989 e Robinho em 2007, marcaram 6 gols cada um. Esse quadro mostra queda de eficiência da seleção brasileira nas copas da América.

Nos jogos da copa do mundo, a seleção brasileira mais eficiente de todos os tempos foi a de 1950. Até os dias atuais, nenhuma seleção brasileira a superou na média de gols resultante do número de partidas disputadas em cada copa. Antes mesmo da guerra mundial (1939/1945), a seleção brasileira mostrava eficiência ao obter o terceiro lugar na copa de 1938: das 4 partidas disputadas pelo Brasil, Leônidas participou de 3. Na semifinal contra a Itália ele estava machucado. Assim mesmo, com 7 gols, foi o artilheiro e o melhor jogador daquela copa e do futebol mundial. Recebeu o apelido de “Diamante Negro”, que virou marca de chocolate. O reinado de Leônidas terminou com a chegada do novo rei do futebol: Pelé (que virou marca de café). Caso surja um novo rei, o nome ou apelido poderá virar marca de leite. O panorama atual indica fraca probabilidade de surgir um novo rei do futebol neste século XXI. Os jogadores estão sendo robotizados e os técnicos pasteurizados.

Na primeira rodada da Copa América/2011, notou-se equilíbrio entre as seleções no que tange à eficiência. Com algumas nuances, todas apresentam o mesmo nível técnico. O brilho das estrelas foi pequeno. Uma coisa é disputar jogos em campeonatos internos, no clube de maior potencial técnico e financeiro; outra coisa é disputá-los entre seleções nacionais, onde cada país apresenta os seus melhores jogadores. Nas disputas internacionais surgem mais estrelas no firmamento do esporte. Isto enseja mensuração adequada e permite ver o brilho real de cada uma no interior da constelação. Afastam-se as nuvens enganosas da propaganda e da artificial valorização para fins mercantis.

A equipe brasileira apresentou boa defesa com Júlio Cesar, Lúcio e Lucas. Quanto a Thiago, Santos, Daniel, Ramires, Ganso e Neymar atuaram de modo sofrível. Além de Lúcio, os melhores jogadores em campo foram Pato e Robinho, que se empenharam e ameaçaram o gol adversário. A entrada de Elano, de Lucas paulista e de Fred não melhorou a eficiência da equipe. As chances de gol seriam maiores se Pato e Robinho permanecessem em campo. Faltou ousadia ao técnico para colocar Lucas paulista junto com esses jogadores. De um modo geral, a seleção brasileira se apresentou bem, ao nível das demais seleções. Só se decepcionou quem costuma exagerar as qualidades do técnico, dos jogadores e da seleção; quem avalia superficial e levianamente as demais seleções. Arrisca-se a sofrer desilusão aquele que se deixa iludir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

POESIA

Existe um país encantado / no qual as horas são tão belas / que o tempo decorre calado / sobre diamantes, sob estrelas./ Odes, cantares ou querelas / se derramam pelo ar sutil / em glória do perpétuo abril / pois ali a flor preferida / para mim é Ana Margarida / linda menina do Brasil. / Doce, dourada e primorosa / infanta de lírico rei / é uma princesa cor de rosa / que amara a Katy Grenaway. / Buscará pela eterna lei / o pássaro azul de Tiltil / quando entre cantos de anafil / e harpa a aurora a viver convida / a essa rara Ana Margarida / linda menina do Brasil. / Princesa em flor, nada na vida / por mais gracioso ou senhoril / iguala esta jóia querida / a pequena Ana Margarida / linda menina do Brasil. / Existe um mágico eldorado / (e amor como seu rei lá está) / onde há Tijuca e Corcovado / e onde gorjeia o sabiá. / O tesouro divino dá / ali mil feitiços e mil / sonhos: mas nada tão gentil / como a luz de aurora incendida / que brilha em Ana Margarida / a flor mais linda do Brasil. (“Balada da Linda Menina do Brasil” – Ruben Dario).