domingo, 29 de agosto de 2021

TERCEIRA VIA

Caminhos próprios e impróprios, retos e curvos, centrais e laterais, verdadeiros e falsos, legais e ilegaís, às vezes seguem a mesma direção. A via escolhida poderá ser chamada de terceira conforme o propósito e o ponto de observação do sujeito. Se, de dois caminhos, nenhum satisfaz, abre-se um terceiro. Se não há caminho algum, inventa-se. No século XX, descobriu-se que a via crucis em Jerusalém era falsa. Os frades inventaram-na. Um deles, lá residente, entrevistado por repórter de TV, explicou que a simbologia e a fé eram mais importantes. A trapaça enseja dúvidas. [1] Existiu uma via crucis original? [2] O profeta foi realmente crucificado nas condições relatadas? [3] O sofrimento descrito nos evangelhos foi real? [4] Os redatores e os revisores do Novo Testamento, no propósito de comover e convencer as pessoas pelo sentimento – e não pela razão – exageraram ao descrever o sofrimento? Os casos de Verônica (inverídico), do santo sudário (falso), das relíquias (fabricadas), do loteamento do céu (negócio), incluem-se nos procedimentos enganosos do clero.   
Depois das invasões na Hungria (1956) e na Tchecoslováquia (1968) a atmosfera no Leste Europeu era de descontentamento com a supremacia tirânica da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O movimento rebelde na Tchecoslováquia conhecido como Primavera de Praga (janeiro-agosto/1968) pretendia uma terceira via para ampliar as liberdades. O tcheco Ota Sik (1919-2004), professor, economista, político, no livro por ele escrito em 1972, expõe as ideias que alicerçaram aquele movimento do qual ele foi o líder intelectual: economia de mercado humanizada ou socializada sob um regime político social democrático. Na época, essas ideias eram apresentadas como um modelo alternativo, intermediário entre os dois polos da guerra fria: comunismo soviético versus liberalismo americano. Antes disto, o russo Vladimir Ilitch Uliánov, cognome Lênin (1870-1924), um dos líderes da revolução de 1917, escorado em Marx & Engels, radicalmente contra a pretendida terceira via entre capitalismo e comunismo, pregava a revolução violenta para derrubar a burguesia, entronizar o proletariado, substituir o estado burguês pelo estado proletário. Ele qualificava de traidores e oportunistas os teóricos da democracia social e do anarquismo. 
Os representantes do povo, na mais longa assembleia constituinte da história do Brasil (1987/1988), depois de quase dois anos de incontáveis debates sobre centenas de propostas, acabaram por adotar a terceira via. Instituíram a democracia social. Conciliaram no plano jurídico positivo o inconciliável no plano doutrinário: capitalismo + socialismo. Organizaram juridicamente os fatores político, econômico e social. Colocaram o pluralismo político e os valores sociais do trabalho e do capital entre os princípios fundamentais da república. Portanto, oferecer ao povo hoje o que o povo já tem há mais de 30 anos (terceira via) é inventar a roda. O sistema constitucional brasileiro admite: (i) a legitimidade da direita e da esquerda no processo eleitoral (ii) a existência e a atividade de vários partidos, cada qual com suas cores, ideias, símbolos e programas. O pluralismo político, todavia, não isenta os partidos do dever de respeitar os princípios fundamentais da república: forma federativa de estado, forma democrática de governo, separação dos poderes, soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, direitos e garantias individuais, voto direto, secreto, universal e periódico, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
O código eleitoral contém regras isonômicas validas para todos os partidos e candidatos cujos programas estejam afinados com os artigos 3º e 4º, da Constituição da República. A campanha à reeleição e a polarização ora em andamento são precoces, sem amparo na legislação eleitoral. O presidente estará impedido de concorrer (i) se condenado em processo judicial e/ou em processo parlamentar (ii) por complicação da sua saúde física e mental. No segundo turno, a polarização é inevitável independente de quem sejam os dois candidatos; no primeiro, pode haver três ou mais candidaturas, três, quatro, cinco ou seis "vias". A urna eletrônica foi notável e pioneiro avanço tecnológico; a urna do voto impresso adquiriu feição jurássica. Lição da experiência: o voto eletrônico mostrou-se confiável; o voto impresso gerou fraudes, suspeitas e conflitos. 
São incompatíveis com o sistema constitucional vigente no Brasil: I – A extrema direita e a extrema esquerda, por seus objetivos contrários ao estado democrático de direito; II – A ditadura da direita (nazifascista) e a ditadura da esquerda (comunista), por seus objetivos contrários às liberdades públicas. Abrir espaço a esses extremos do espectro político é atitude inconstitucional, suicídio institucional e afronta à nação brasileira representada na assembleia constituinte de 1987/1988. 

Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.
Engels, Friedrich – Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. SP. Global. 1980. 
Laski, Harold J. – O Manifesto Comunista de Marx e Engels. Rio. Zahar. 1978. 
Lênin, Vladimir Ilitch Uliánov – O Estado e a Revolução. SP. Boitempo. 2017.
Marx & Engels – Manifesto do Partido Comunista. SP. Martin Claret. 2004.  
Marx & Engels – Ideologia Alemã. SP. Ciências Humanas. 1979.
Sik, Ota – Argumentos para uma Terceira Via. Coimbra. Livraria Almedina. 1978.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

BIBLIOGRAFIA

 

Série: “Mistério Cósmico” - agosto/2021

 

Amthor, Frank – Neurociência para Leigos. Rio. Alta Books. 2017.

Bachelard, Gaston – O Novo Espírito Científico. Lisboa, Edições 70, s/d.

Bauman, Zygmunt – Retrotopia. Rio. Zahar. 2017.

Beauvoir, Simone de – O Segundo Sexo. Rio. Nova Fronteira. 1980.

Burns, E. McNall - História da Civilização Ocidental. Porto Alegre. Globo. 1955.

Campbell, Joseph – O Poder do Mito. SP. Palas Athena. 1990.

Cassirer, Ernst – O Mito do Estado. Rio. Zahar. 1976.

Chardin, P. Teilhard de – O Fenômeno Humano. Porto. Tavares Martins. 1970.

Coulanges, Fustel de – A Cidade Antiga. Lisboa, Livraria Clássica. 1971.

Durkheim, Emile - As Regras do Método Sociológico. SP. Nacional. 1977.

Engels, Friedrich – Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Rio. Civilização Brasileira, 1980.

Finkelstein, Norman G. – A Industria do Holocausto. Rio. Record. 2001.

Greene, Brian - O Universo Elegante. SP. Companhia das Letras. 2001.

Hawking, Stephen W. – Uma Breve História do Tempo. Rio. Rocco.  1988.

Henry, John – A Revolução Científica. Rio. Zahar. 1998.

Hesse, Johannes - Teoria do conhecimento. Coimbra. Armênio Amado. 1978.

Hobbes, Thomas – Leviathan. Madri. Editora Nacional. 1979. 

Hume, David – Investigações Sobre o Entendimento Humano e Sobre os Princípios da Moral. SP. Unesp. 2004.

Josefo, Flávio – Antigüedades Judias. Madri. J.V. Donado. 2013.

Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos. SP. Pensamento. 1997.

Kempis, Tomás de – Imitação de Cristo. Petrópolis/RJ. Vozes. 2015.

Latil, Pierre de – O Pensamento Artificial. SP. Ibrasa. 1968.

Lewis, H. Spencer – La Vida Mística de Jesús. Califórnia. Amorc. 1967.  

Luxemburgo, Rosa – O Socialismo e as Igrejas: O Comunismo dos Primeiros Cristãos. Rio. Achiamé. 1980.

Mahfuz, Naguib - Akhenaton o Rei Herege. Rio. Record. 2005.

Rodriguez, Pepe – Mentiras Fundamentales de la Iglesia Católica. Barcelona. Ediciones B. 2011.

Rohden, Huberto – O Cristo Cósmico e os Essênios. SP. Martin Claret. 1991.

Ross, Alf – “Tû – Tû”. Buenos Aires. Abeledo-Perrot. 1961.

Russell, Bertrand – Lógica e Misticismo. Rio. Zahar. 1947.

Serres, Michel – O Nascimento da Física no Texto de Lucrécio. São Carlos/SP. Unesp. 2003.

Stewart, Ian - Será que Deus Joga Dados? Rio. Zahar. 1991. 

Voltaire, François-Marie Arouet – Tratado Sobre a Tolerância. SP. Martins Fontes. 2000.

Velasco, Francisco Diez de – Breve Historia de las Religiones. Madri. Alianza Editorial. 2008. 

Wiener, Norbert – Cibernética e Sociedade. SP. Cultrix. 1968.

 

Bíblia Sagrada.  Centro Bíblico Católico. SP. Ave Maria. 1987

Bíblia Sagrada. Rio. Edição Barsa. 1967.

Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Caldas Aulete/Santos Valente. Rio. Delta. 1958.

Dicionário de Filosofia. Walter Brugger. SP. Pedagógica e Universitária. 1977.

Enciclopédia Wikipédia. Internet. Empresa de Serviços Google. Califórnia. 1998.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO VI

O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) inovou no estudo da natureza ao adotar o método indutivo segundo o qual a busca do conhecimento deve começar objetivamente pelos fatos e seguir passos logicamente ordenados: observação, questionamento, formulação de hipótese, realização de experimentos, análise racional e conclusão. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) com o seu artificioso ceticismo metódico ensejou o racionalismo: o sujeito deve duvidar de tudo ao iniciar a pesquisa e o estudo, prevenir-se contra o emocional e se apoiar firmemente na razão. Isaac Newton (1643-1727) eleva a matemática, no método científico, de elemento descritivo para elemento explicativo do funcionamento do mundo físico.   
Adquire-se a certeza do conhecimento, ainda que provisória, após o resultado de experimentos relacionados com o objeto da pesquisa e do estudo; aquisição a posteriori e não a priori. Os maiores filósofos do Reino Unido, como os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), o irlandês George Berkeley (1685-1753), o escocês David Hume (1711-1776) e o galês Bertrand Russell (1872-1970), são caudatários do pensamento de Bacon e Descartes. Filósofos europeus como Karl Marx (1818-1883), Emile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920), considerados fundadores da Sociologia, aplicaram o método científico na pesquisa e no estudo dos fatos sociais. 
A essência do conhecimento científico reside: (i) no método, aspecto formal, caminho para se chegar à explicação e à compreensão dos fenômenos naturais e culturais (ii) no sistema, aspecto material, conjunto ordenado dos conteúdos do objeto. O conhecimento resulta das apreensões sensorial, intelectual e intuitiva. Os tipos de raciocínio (dedução, indução, analogia) são empregados na pesquisa e no estudo. No método científico há procedimentos especiais conforme a natureza do objeto e o propósito do sujeito; ora prepondera a quantificação (número), ora a qualificação (palavra). O método adequado ao objeto natural pode não ser para o cultural. A aplicação do método das ciências naturais às ciências sociais gera equívocos e provoca disputas ideológicas com pretensões hegemônicas. O fato cultural pode ser examinado sob ângulos distintos e método próprio. Exemplos: [1] O direito, sob perspectivas sociológica, normativa, axiológica [2] O estado, sob perspectivas histórica, sociológica, econômica. 
Rigoroso empirista, David Hume não admitia incursões metafísicas na busca do conhecimento. Considerava a Metafísica reino da fantasia criado pela imaginação humana. Três séculos depois de Bacon e Descartes e dois séculos depois de Isaac Newton, advém a teoria da relatividade de Einstein sobre a força gravitacional e a estrutura do universo. Partindo da observação do astrônomo estadunidense Edwin Hubble (1889-1953) de que as galáxias estão se afastando da Via Láctea, o cientista inglês Stephen Hawking (1942-2018) externou a opinião de que o universo tem forma esférica e limite máximo. Adeptos dessa teoria afirmam que, atingido tal limite, o movimento regredirá até a máxima concentração quando, então, explodirá e abrirá espaço a um novo universo. No hinduísmo, há crença semelhante: expansão x contração do universo = a grande respiração de Brahma (deus da trindade hindu).
A Astrofísica calcula a existência de 100 bilhões de galáxias. Nesse imenso número certamente haverá lugar para planetas cujas condições atmosféricas propiciam vida vegetal e animal e a existência de seres inteligentes, dotados de razão, sentimento e vontade. 
A Neurociência calcula em 100 bilhões a quantidade de neurônios do cérebro, coordenadores da visão, audição, olfato, paladar, tato e de outros eventuais sentidos humanos. Assemelham-se a um computador que usa fluxo de corrente elétrica para realizar associações e comunicações entre si e equilibrar excitação x inibição. Esse estudo científico da estrutura e do funcionamento do cérebro ajuda a desvendar mistérios e afastar superstições. 
Por sedutora analogia com esses 100 bilhões de células do cérebro humano podemos aventar a hipótese de os 100 bilhões de galáxias serem as células de um magno e vivo organismo em perpétuo movimento no tempo/espaço, dotado de cérebro cósmico com funções semelhantes às do cérebro humano (controle, associação, informação, comunicação). Esse possível e hipotético cérebro cósmico seria a fonte das leis fundamentais do mundo físico e mental. Considerando que o método científico tem sido aplicado não só no estudo do mundo da natureza como também no estudo do mundo da cultura, afigura-se válido aplicar na investigação do mistério cósmico a experiência própria e alheia, a pesquisa histórica, analogia, intuição, reflexão e análise crítica. 

sábado, 21 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO V

Na base do mito situa-se a crença: (i) na existência de um cosmos espiritual separado do cosmos material ou (ii) na bidimensionalidade cósmica (espírito + matéria = cosmos). A crença subjaz à mensagem simbólica sobre a vida e a morre dos humanos nos dois sentidos: individual e coletivo. Na definição de Joseph Campbell (1904-1987), mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, ditados pelo sentimento. Portanto, no mito, prevalece o irracional. Dele, a linguagem é inseparável. Consiste em narrativas cobertas pelo mistério, as quais podem ser falaciosas, incongruentes, ambíguas, despreocupadas com a coerência e a clareza. Aborda temas como nascimento virginal, casamento, sacrifício, imortalidade, divindade, heroísmo, etnia, origem do homem e da sociedade. 
O casamento exibe veste mitológica. No estado religioso é visto como sacramento. No estado laico é visto como contrato. A união natural entre mulher e homem torna-se cultural (i) ao ser revestida de cerimônia e de juridicidade (ii) ao supor, além da atração física, afinidade espiritual entre duas pessoas. Estímulo no cérebro, pulsar acelerado do coração, insistência dos olhos em desobedecer à educada discrição, sinalizam afinidade plena sem a qual não há união duradoura. Amor líquido será insuficiente para a solidez do matrimônio. A chama física apaixonada diminui com o tempo e faz da fidelidade conjugal um suplício. Reacende-se em novo par, ou, sublima-se em nova direção. Entretanto, se houver aquela afinidade espiritual, o dever de fidelidade imposto por dogma religioso ou por lei civil, pesará menos.
As narrativas sobre origem e fundamento do estado configuram mitos. Diz, o filósofo alemão Ernst Cassirer (1874-1945): As culturas antiga e moderna estão impregnadas de mitos; sem a ingenuidade humana, sem essa estupidez primeva, o mito não existe; o mito é a sombra escura projetada pela linguagem sobre o mundo do pensamento humano. A mitologia do estado moderno compreende as suas origens natural e cultural, os seus fundamentos profano e religioso, as suas formas autocrática e democrática, as suas ideologias liberal e social, as suas expressões capitalista e socialista. 
Na esfera política, após a primeira guerra mundial (1914-1918), o pensamento mítico se sobrepôs ao pensamento racional. Predominaram os cultos do herói e da raça. Nas autocracias e nas democracias do século XX, verificou-se a supremacia do poder do pensamento mítico em relação ao poder do pensamento racional. No homem primitivo, o pensamento mítico é dominante. Trata-se de pensamento pré-lógico e de visão de mundo mística. Esse tipo humano primitivo sobrevive no mundo atual. Amostras individuais mais salientes de tal sobrevivência são encontradas no comando de estados africanos, americanos, asiáticos e europeus. Marrocos, Brasil, Israel, Afeganistão, Irlanda, entre outros, exemplificam a mencionada sobrevivência na idade contemporânea.   
O mistério se esfuma quando a luz penetra a escuridão. Antes do conhecimento científico da idade contemporânea, os filósofos naturais [denominação decorrente da introjeção das ciências naturais na filosofia] elaboravam suas teorias servindo-se do caminho dedutivo. Da teoria dos elementos essenciais da matéria (ar, água, terra, fogo) transitaram para a teoria atômica dos gregos Leucipo e Demócrito. Depois que Aristóteles notou a sombra circular da Terra projetada na Lua durante os eclipses, a então vigente ideia de uma Terra plana foi substituída pela nova ideia de uma Terra esférica semelhante aos demais planetas do sistema solar. As navegações marítimas, aéreas e espaciais confirmaram a teoria aristotélica. A Terra é esférica e azul, como notou o emocionado cosmonauta russo Yuri Gagarin, primeiro a circundar o nosso planeta pilotando nave espacial. Apesar da comprovação técnica e científica da forma esférica, se alguém disser que a Terra é plana e verde, haverá quem acredite, pois, a credulidade e a estupidez dos humanos são infinitas. A infantil ingenuidade faz pessoas adultas, inclusive de escolaridade superior, acreditarem que um sociopata e/ou genocida: (i) respeitará os bens, a integridade física, a saúde e a vida das pessoas (ii) será compassivo, benevolente e humanitário.  
A teoria geocêntrica de Ptolomeu foi substituída pela teoria heliocêntrica de Copérnico. A teoria do universo estável e infinito transitou para a teoria do universo em expansão e finito. Da alquimia transitou-se para a química. A teoria atômica e da certeza em nível macrocósmico transitou para a teoria quântica e da incerteza em nível microcósmico. A noção de espaço e tempo separados cedeu lugar à teoria da união espaço/tempo. O que era tridimensional transitou para quadrimensional (comprimento + largura + altura + tempo). Paulatinamente, retiram-se as travas dos olhos humanos. Rasgam-se os véus do mistério.    

Bibliografia será apresentada após o sexto artigo desta serie. 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO IV

A existência de reino espiritual é o grande mistério que desafia a inteligência humana. Se, pelo conhecimento, não receberdes o reino dos céus que está dentro de vós, não conseguireis encontra-lo jamais. [Palavras ouvidas por Tiago saídas da boca de Jesus]. 
Ao não conseguirem compreender e explicar racionalmente certos fenômenos, os humanos, movidos por essa ignorância, pelo medo e pela esperança de uma vida melhor após a morte, criaram o mundo espiritual e as divindades. Povoaram-no com almas dos mortos, santos, anjos, arcanjos, querubins, serafins. Estabeleceram hierarquia celestial em cujo ápice colocaram o deus mais poderoso. Acreditam na comunicação com a divindade à qual fazem oferendas, prestam culto, suplicam proteção e da qual esperam receber benefícios. Parcela da humanidade acredita na reencarnação como processo de aprendizagem e de purificação da personalidade anímica.  
O filósofo espiritualista francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), cognome Allan Kardec, interessou-se pelas reuniões conhecidas como mesas girantes, ou dança das mesas. Aprofundou a investigação dos fenômenos paranormais aplicando o método científico, em voga na Europa, utilizado nos estudos e pesquisas do mundo natural. Ao cabo da sua investigação, Kardec elaborou a doutrina espírita. [I] Admitiu a existência de deus, do princípio vital e do mundo espiritual separado do mundo material [II] Conceituou a alma como um ser individual, imaterial e imortal incorporado ao humano e que, ao se desligar do corpo na ocasião da morte física, conserva a sua individualidade no mundo espiritual [III] Afirmou que o invisível mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente, que a tudo sobrevive, povoado por seres inteligentes denominados espíritos criados por deus [IV] Tratou (i) da encarnação e reencarnação das almas (ii) da formação do mundo e dos seres vivos (iii) da origem e natureza dos espíritos (iv) da intervenção dos espíritos no mundo material (v) da comunicação dos vivos com os mortos através de pessoas apelidadas de médiuns (vi) das leis morais individuais e sociais (vii) do amor, da justiça e da caridade (viii) das penas e recompensas na vida presente e na vida futura. 
Esse movimento, denominado espiritismo por Kardec, expandiu-se e adquiriu extensão planetária. No Brasil, o espiritismo é visto e praticado como religião por milhões de pessoas, entre as quais, alguns médiuns famosos, como o mineiro Francisco Cândido Xavier (1910-2002). O conhecimento científico deste século XXI permite visão diferente. As descobertas da neurociência estão a exigir revisão das doutrinas espiritualistas. Em virtude do seu potencial, das suas funções e da eletricidade que o ativa, o cérebro humano pode ser visto como órgão pelo qual a alma se expressa. Tal como as ondas de luz, som e imagem que vagam pelo espaço e são captadas por aparelhos celulares, as ondas elétricas do cérebro também permanecem no espaço e podem ser captadas em qualquer época sob condições receptivas. Isto explica (i) a transmissão de pensamento sem aparelho (ii) o contacto com a mente de pessoas já falecidas (iii) a mediunidade. Desde priscas eras, substancias psicoativas que estimulam áreas do cérebro foram usadas em rituais para esse tipo de comunicação. 
No século XX, o cientista francês, filósofo e teólogo católico Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) foi proibido pela Santa Sé de lecionar e de publicar suas obras teológicas. Ele foi quase excomungado por ter feito a síntese fé + razão (religião + ciência), considerada ofensiva à doutrina católica. Removido para a China, seu trabalho paleontológico foi recebido com ceticismo. Na sua visão de mundo, há compatibilidade entre a teoria da evolução e a teoria da criação. O universo evoluíu do caos primordial ao estágio atual em que os humanos adquiriram a plena consciência de si mesmos e do seu meio ambiente na Terra. A expansão dessa consciência engendrará uma só rede inteligente por ele chamada  Noosfera, que cobrirá toda a Biosfera. 
A rede de computadores atual conforma-se à previsão de Chardin. O espaço está repleto de invisíveis partículas eletromagnéticas que transportam sons e imagens em torno do globo terrestre e podem ser captadas por aparelhos receptores. O cérebro humano é capaz de captar vibrações emanadas do campo de forças magnéticas do universo. Se treinado, o corpo humano pode funcionar como receptor à semelhança dos médiuns espíritas e dos pacientes da hipnose. A intuição e a meditação também funcionam como receptoras. 

Bibliografia. Será apresentada depois do sexto artigo desta série. 

domingo, 15 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO III

Doutrinas, dogmas, liturgia, ritos de passagem (nascimento, casamento, morte), atividades pastorais e administrativas, hábitos, estruturam a instituição religiosa e o seu funcionamento. Algumas religiões são ortodoxas, outras, heterodoxas. Monoteístas algumas, politeístas outras. As religiões cristã, islâmica e judia participam do grupo monoteísta. A cristã se divide em católica e protestante, cada qual com subdivisões. Entre as religiões politeístas ainda vivas destaca-se o hinduísmo com sua divina trindade formada por Brahma, deus criador, Vishnu, deus conservador e Shiva, deus destruidor. 
O sonho de uma só religião para a humanidade está longe de se concretizar. A extinção das religiões prevista pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) talvez jamais aconteça. A vida moderna indica a probabilidade do progressivo descrédito da religião institucionalizada. O espírito religioso, entretanto, permanecerá vivo enquanto a maioria da humanidade for medrosa, ignorante, crédula, volúvel e nutrir esperança de vida melhor em outra misteriosa dimensão.     
O poder propiciado pela religião institucionalizada submete povos civilizados por meios: [1] pacíficos (doutrina, catequese, seminário, propaganda, cultos públicos e privados) [2] violentos (guerra santa, terrorismo, lutas internas). Esse poder influi na política qualquer que seja o nível cultural da sociedade como, por exemplo, nas autocracias antigas (Egito, Babilônia, Pérsia) e medievais (França, Inglaterra, Itália) e nas democracias modernas (EUA, Brasil, México). 
Bençãos sacerdotais nas cerimônias oficiais em tempo de paz também precedem batalhas em tempo de guerra. Soldados recebem assistência religiosa. O ateísmo ideológico nos países comunistas como Rússia, China, Albânia, apesar da propaganda e educação oficiais, não erradicou o sentimento religioso do povo. No Tibet, o exército chinês não venceu o budismo tibetano. O fuzil não mata o espírito. 
Livres pensadores discordam do clericalismo e do conteúdo enganoso das escrituras “sagradas”. Presas a interesses econômicos e políticos, as instituições religiosas em nada contribuem para a evolução espiritual da humanidade. Prestam assistência social, porém, coniventes com o status quo, simulam combate à injustiça social. 
Do ponto de vista espiritual, cerca de 7 bilhões de pessoas ainda estão na Idade da Pedra, mentes e corações aprisionados nas cavernas do cristianismo, islamismo, hinduísmo, budismo, taoísmo, xintoísmo, mazdeísmo, judaísmo, espiritismo. A massa de prisioneiros é composta de pessoas de ambos os sexos, escolaridade básica e superior, ricas, remediadas e pobres, parlamentares, chefes de governo, magistrados, sacerdotes, pastores, missionários, rabinos, gurus, pais-de-santo, empresários, economistas, médicos, engenheiros, advogados, artistas, professores, cientistas, filósofos. Essa realidade indica que a evolução espiritual neste planeta tem sido lenta e que serão necessários mais alguns milênios para a humanidade alcançar luz maior, inobstante o formidável progresso científico e tecnológico. 
Nascido na Palestina, então sob domínio romano, o profeta Jesus, concorrendo com profetas daquela mesma época e no mesmo espaço geográfico, criou a sua própria seita ao divergir das outras seitas lá existentes. “Identificar o profeta com deus é idolatria”. [Isaac Newton, 1643-1727]. Jesus tinha afinidade com a seita dos essênios, mas antipatizava com as seitas dos fariseus e dos saduceus e com a classe dos escribas composta de judeus que sabiam ler, escrever, contar e que eram doutores e intérpretes da lei judaica (professores, advogados, juízes). O profeta discordava da rigidez dogmática (o homem não nasceu para o sábado e sim o sábado para o homem), da circuncisão, do ódio ao estrangeiro, do sacrifício, do apedrejamento, do comércio no templo, do espírito mercantil e hipócrita dos sacerdotes e escribas. Ele escolheu e doutrinou 12 judeus pobres e analfabetos. Instruiu-os a converter judeus e pagãos à nova doutrina. Ensinou-lhes a curar enfermidades. Eles deviam amar a deus e ao próximo, obter da caridade alheia o necessário para sustento próprio e da família, viver em comunhão, distribuir internamente os bens arrecadados, dedicar o seu tempo à missão evangelizadora e às tarefas domésticas.
Indagado sobre quem chefiaria a seita depois da sua morte, Jesus indicou seu irmão Tiago. Crucificado o líder, a seita se desvinculou da religião judaica, organizou-se, prosperou e se universalizou com o status de religião autônoma. Paulo, judeu fariseu, foi um dos fundadores da nova religião junto com os israelitas Pedro e dois irmãos de Jesus: Tiago e Judas Tadeu. Desertor das fileiras da milícia do templo judeu, Paulo seria preso se ficasse na Palestina. A catequese em terras estrangeiras coube a ele e a outros companheiros. 
Bibliografia: Após o sexto e último artigo desta serie. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO II

A luz da Física contrasta com a treva da Metafísica. Ciência e religião ocupam hemisférios opostos no entendimento humano. O cientista alemão Albert Einstein (1875-1965) dizia: “Há duas coisas infinitas no mundo: o universo e a estupidez humana”. Depois, com senso de humor e pitada de ironia, aduzia a ressalva: “Da primeira, eu não tenho certeza”. 
Ícone da Física moderna, embora acreditasse na existência de uma inteligência ordenadora do universo e fizesse distinção entre o mundo dos fatos e o mundo dos valores, Einstein ridicularizava as narrativas da Bíblia. Apelidara-as “contos da carochinha”. Antes dele, na mesma descrença e no mesmo diapasão, os filósofos François-Marie Arouet (Voltaire, 1694-1778) e David Hume (1711-1776) referiam-se aos hebreus (judeus + israelitas) como um povo bárbaro e ignorante. 
Segundo Tomás de Kempis (1380-1471), sacerdote agostiniano, as escrituras sagradas devem ser lidas com o mesmo espírito de quem as escreveu. Isto retira do leitor a liberdade de interpretação. A referência ao poder draconiano do deus Javé (ou Jeová) na escritura sagrada dos hebreus, destinava-se a domesticar esse povo de cabeça dura (Moisés dixit). Baruch Espinoza (1632-1677), filósofo holandês, foi expulso da sinagoga por analisar as escrituras sagradas de forma racional, livre e honesta e por defender ideias contrárias ao judaísmo. Baseado na anacrônica linguagem do texto, ele afirmou que a autoria dos cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) não era de Moisés. 
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, na terceira parte do livro Leviatã, transcreve trecho da Bíblia no qual Esdras, sacerdote judeu, confessa ter escrito o Pentateuco sob inspiração divina durante o exílio na Babilônia (século V a.C.). Disse que assim agiu porque os originais tinham sido queimados na primeira destruição do templo de Jerusalém. Portanto, incluindo os dias atuais, o Pentateuco teria 2.500 anos (500 antes de Cristo e 2.000 depois de Cristo), aquém dos 6.000 anos (4.000 a.C. + 2.000 d.C.) atribuídos pelo clero. Considerando a malícia que impregna a Bíblia, cabe a dúvida: os originais mencionados por Esdras alguma vez existiram? A religião liga a estupidez dos crentes à arte inteligente e esperta dos sacerdotes e dos políticos. 
O cérebro humano é predisposto a estimular o júbilo por ideias e imagens reais e irreais que se lhe apresentam de modo agradável. Daí, essas ideias e imagens serem aceitas sem análise crítica. A conduta humana oscila de acordo com a economia hormonal controlada pelo cérebro. Este é considerado  órgão do pensamento, da consciência e do controle do corpo. Assim, por exemplo, à tendência inata para desafiar lei (natural ou cultural) e autoridade (pública ou privada) contrapõe-se a reflexão sobre a conveniência ou inconveniência de obedecê-las. As células do cérebro (neurônios) com suas funções informativa, comunicativa, associativa e controladora, processam e comunicam dados e sinais. Agrupados em módulos nas diferentes áreas do cérebro, os neurônios respondem pela consciência: [1] física (ser, realidade e virtualidade, juízos de fato) [2] intelectual (verdade e falsidade, juízos lógicos) [3] moral (dever ser, bem e mal, justiça e injustiça, juízos de valor) [4] cósmica (percepção ampla das dimensões material e espiritual do mundo). 
Conceitos e ações de caráter religioso e moral passam pelo crivo da consciência que aprova ou reprova. Os neurotransmissores conectam a vida interior com a vida exterior. O trabalho neurocientífico implica enlace dos elementos psíquico e somático da natureza humana e cogita sobre a existência de acervo na memória que, embora acessível, não é usado. Se tal acervo vier à superfície, o sujeito deparar-se-á, talvez, com algo até então misterioso ou inimaginável. “Quem procura não cesse de procurar até achar; quando achar será estupefato e quando estupefato ficará maravilhado e, então, terá domínio sobre o universo”. [Tomé]. “Buscai e achareis. Batei e vos será aberto”. [Jesus]. 
Há vestígios do sentimento religioso desde o homo sapiens, pelo menos, provocado pelo instinto gregário e relacional. A percepção do infinito e das potências telúricas pressiona o entendimento humano e gera crença mística (vida interior) e crença religiosa (vida exterior). A religião resulta da síntese, produzida no cérebro, da vida interior com a vida exterior. A crença em sobrenaturais poderes de coisas, lugares, pessoas e divindades pavimenta a senda religiosa. Culto dos antepassados e outros ritos, tabus, animismo, totemismo, xamanismo, conformam a religião nas sociedades primitivas. Quando a cultura humana atinge o grau de civilização, a religião se institucionaliza. Da organizada e permanente exploração do sentimento religioso nasce a instituição religiosa. Esta se diversifica  impulsionada [1] pela cósmica lei do movimento, multiplicação e adaptação [2] pelas humanas divergências sobre divindade, alma, sentido da vida, pecado, culpa, liturgia, interpretação de textos, direitos, obrigações, finanças, modus operandi.

Bibliografia será publicada após o sexto e último artigo desta serie. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

MISTÉRIO CÓSMICO

“O mistério nunca passa de uma miragem, dissipa-se quando se tenta apreendê-lo”. [Simone de Beauvoir (1908-1986)]. 
Rompido o limite da certeza humana, abre-se espaço ao mistério. O que for impenetrável à razão pertence ao mistério e serve de insumo à imaginação, usina cerebral produtora de ideias e imagens que tanto podem ser reais como irreais. A superstição e a fantasia são produtos dessa faculdade humana. O que está fora da explicação e da compreensão humanas ingressa no terreno do mistério. A ignorância favorece o mistério e alicerça a fé. Em maior ou menor extensão, todos os humanos são ignorantes. Ninguém é onisciente. Quanto maior o saber, mais perceptível o tamanho da ignorância. 
Os humanos criam, conservam e derrubam tabus. O tabu integra a cultura humana, tanto a bárbara como a civilizada e consiste na irracional sacralidade e mandamental inviolabilidade de certas coisas, pessoas, costumes, regras, princípios, pensamentos e instituições. O tabu oculta significados quando há conteúdo nas palavras que o expressam. Palavras vazias não têm significado explícito ou implícito. Da linguagem do tabu constam proibições desprovidas de justificação racional, censuras fincadas na superstição e em falsas crenças mantidas por tradição no seio da tribo, da cidade, da nação. 
No tabu, o sentimento se sobrepõe à razão e enseja o fanatismo. Para a parcela anglo-saxônica do povo estadunidense, por exemplo, a Constituição jurídica e política do estado é tabu, produto não só da necessidade e do contributo da razão como também (i) da consciência do valor histórico da independência política e (ii) do fervoroso sentimento de amor pela pátria e sua lei magna. A Constituição estadunidense está envolta numa aura de sacralidade. A violação intencional dos seus preceitos compara-se a um ato sacrílego, à blasfêmia, ao pecado mortal, além de tipificar crime grave. Para o povo francês, a tríade Liberdade + Igualdade + Fraternidade também é tabu, pois refere-se a valores considerados perenes e sagrados.
Certa vez, durante a ditadura militar, conversando com um jornalista estadunidense trabalhando no Brasil, eu perguntei se os EUA poderiam adotar regime político como o nosso. Ele empalideceu como se tivesse recebido uma bofetada. Depois de breve pausa, com a fisionomia grave, ele respondeu de forma lacônica e terminante: “Impossível”. 
O mistério está na base das doutrinas religiosas. Os preceitos e dogmas religiosos são tabus. A religião católica, por exemplo, inclui no seu mistério: [I] A existência de um deus providencial, poderoso, criador do céu e da terra, inclusive do primeiro casal gerador da humanidade [II] A santíssima trindade [III] A divinização de um ser humano [IV] O nascimento humano sem o sêmen do homem [V] A ressurreição sem aparelhos e sem procedimentos médicos [VI] A ascensão do corpo físico ao céu sem aeronave [VII] O caminhar sobre as águas de um lago sem afundar os pés [VIII] A virgindade de mulher casada mãe de 5 filhos [IX] A santificação de seres humanos. Essa religião tem como alicerces: [I] Os milagres, narrativas de coisas contrárias às leis da natureza, ao bom senso e à razão [II] As falsidades contidas nas escrituras “sagradas” e as resultantes da manipulação do clero [III] A exaltação da fé cega [IV] O desprezo pela boa razão. 
Para se manter na comunhão da igreja, o fiel deve obedecer, entre outros deveres, o de se abster do uso da razão em assuntos religiosos e o de acreditar que Moises conversava pessoalmente com deus sem lhe ver o rosto, mas, tão só as costas, que ele recebeu de deus os 10 mandamentos e poderes sobrenaturais e que, no uso desses poderes, cobriu o Egito de pragas e separou as águas do mar. O monoteísmo dos hebreus (judeus + israelitas) foi copiado do monoteísmo esotérico da elite do antigo Egito e do monoteísmo exotérico do faraó Aquenaton. Politeísta em sua origem, tal como os demais povos da antiguidade, o povo hebreu teve dificuldade de se adaptar ao monoteísmo que lhe foi imposto de cima para baixo, a fio de espada, por Moisés e seu grupo. Inúmeras vezes, esse povo recaiu no politeísmo. O seu deus Javé (ou Jeová) tinha atributos de deuses estrangeiros, assemelhava-se à poderosa entidade que Jesus, ao ser tentado, chamou de Satanás. Genocida, cruel, vingativo, belicista, Javé (ou Jeová) é o oposto do Pai Celestial, deus do amor, da paz e da misericórdia, que o profeta Jesus adorava. Os cristãos mantiveram o tabu monoteísta, porém, com um deus diferente do egípcio e do hebraico. Quanto ao politeísmo, prossegue na cultura oriental até os nossos dias.    

Bibliografia: será publicada após o sexto e último artigo desta serie.