quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

código da vinci VI

RESSURREIÇÃO ENGANOSA

No seu livro “Quebrando o Código Da Vinci”, o professor Bock diz que a ressurreição é o choque entre a vida e a morte, do qual a vida sai vencedora. Esta é uma visão marcial do fato religioso e ético: a guerra da vida contra a morte, do bem contra o mal. Outra será a visão se o conceito morte distinguir-se do conceito fim despida de juízo de valor. Desde que a morte seja vista como passagem de uma forma de vida a outra, a colocação marcial perde o sentido. Entre a vida e a morte não há choque; não há vencedores e vencidos. Trata-se da lei da mutação universal no mundo físico, enunciada por Heráclito e Lavoisier. Muito se fala no “caminho para a vida”, como se os seres humanos estivessem mortos. Essa metáfora é ridícula. A vida é palpitação, vibração, como se verifica em todos os seres vivos. A natureza é vida e a sua fonte está em Deus. Há diferentes modos de o ser humano perceber a fonte da vida, posto estar nela mergulhado. O ciclo vital do ser humano provoca o sonho da eternidade. A ressurreição acontece em poucos casos médicos. Quanto a Jesus, há indícios veementes de que não morreu na cruz por ter sido socorrido a tempo. Em não havendo morte, não há ressurreição.

A resistência de Pilatos em aplicar a pena capital quase frustrou os planos da seita de Jesus. A morte e a ressurreição tinham papel fundamental. Pilatos não prolatou sentença. Se o tetrarca da Galiléia, Herodes Antipas, autoridade competente para decidir o caso, não condenou Jesus, não seria ele, o romano Pilatos, quem condenaria. Lavou as mãos depois de pesar sobre ele a insinuação feita pelos sacerdotes judeus, de que estaria protegendo um subversivo, o que poderia desagradar o imperador romano. Deixou a decisão aos fariseus, que insistiam na aplicação do direito romano quanto à pena e sua execução (crucifixão) já que não podiam aplicar a pena do direito judaico (apedrejamento) não só por causa da Páscoa, como também por determinação legal de Roma. Convicto da inocência, Pilatos não queria a morte de Jesus. Assim, não titubeou em autorizar José de Arimatéia a retirar o corpo da cruz sem que fossem quebradas as pernas de Jesus. Os outros dois crucificados tiveram as pernas quebradas. O apóstolo Marcos refere-se ao testemunho do centurião interpelado por Pilatos, de que Jesus estava morto (Marcos 15: 44,45). Breve nos costumes: o centurião recebera propina para testemunhar (Mateus 28:12). Pilatos fingiu acreditar. Jesus foi levado à propriedade de Arimatéia, próxima ao Gólgota, depois de receber os primeiros socorros no sepulcro (que também pertencia a Arimatéia). Mudou o visual para não ser reconhecido pelos fariseus. Dois dias após a crucifixão, nem Maria Madalena reconheceu Jesus (João 20: 11,15). Os demais discípulos também não o reconheceram. Só ficaram convencidos após verem as feridas deixadas nas mãos e no corpo de Jesus e assistirem à sua refeição (Mateus 28: 17; Marcos 16: 14; Lucas 24: 16, 36, 43; João 21:4).

Cumpridos os votos e a missão, os nazarenos podiam cortar os cabelos, a barba, o bigode e usar trajes comuns. Entre os votos dos nazarenos incluíam-se o de castidade e o de celibato. O voto de castidade implicava abstinência sexual, prática adotada pelos místicos para alcançarem a iluminação espiritual. A energia sexual é canalizada para a concentração, meditação e demais exercícios físicos e mentais. A relação sexual desviaria essa energia e enfraqueceria a vontade do adepto para lograr o fim espiritual colimado. A masturbação seria um desperdício dessa energia e frustraria aquele objetivo. O voto de celibato consistia em viver no estado de solteiro por um determinado tempo. Durante esse período o adepto podia transar sexualmente se não houvesse prestado, também, o voto de castidade, porém não podia casar e nem constituir família. Os deveres do casamento interferiam na atividade religiosa do adepto. O estudo, a prática e a difusão da doutrina exigiam dedicação intensa e exclusiva. Os deveres de cônjuge, de pai ou de mãe comprometiam essa dedicação. Durante 3 anos, os apóstolos e discípulos conviveram com um homem de cabelos longos, barba comprida, bigode, vestindo túnica branca, como um nazareno ou um essênio. De repente, defrontam-se com um homem de aparência jovem, rosto liso, cabelo raspado e roupas comuns apresentando-se como o rabi crucificado. Natural a reação de estranheza e descrédito da parte dos apóstolos.

Interessava a Jesus e à sua fraternidade convencer o povo da sua morte e ressurreição, conforme profetizado. Assim, a mensagem e a catequese teriam força para, com êxito, repercutir no presente e no futuro. Cumprida a sua missão, Jesus retira-se da vida pública, encenando a simbólica ascensão diante de alguns discípulos (Marcos 16:19; Lucas 24: 50,51; Atos 1: 9,11). O interessante é que os apóstolos da primeira hora, Mateus e João, silenciam a respeito da ascensão, a indicar que o modo como Jesus se retirou não foi bem aquele descrito pelos apóstolos da segunda hora (que não conheceram nem conviveram com Jesus). O ponto-chave, segundo Bock, é que Jesus revela o que Deus fez e faz para a humanidade. Ora, para tanto, não há necessidade de taumaturgo ou profeta. Bastam os dons espirituais com os quais Deus dotou os seres humanos. A humanidade tem sofrido horrores com as forças telúricas (maremotos, terremotos, furacões, dilúvios, colisões de corpos celestes com a superfície do planeta) que ceifam a vida de milhares de pessoas e destroem patrimônios públicos e privados. As forças telúricas são forças da natureza, cegas aos valores humanos. A natureza é criação divina. Isto indica que: (i) as leis de Deus são inflexíveis, incidindo sobre culpados e inocentes, racionais e irracionais; (ii) inexiste uma preocupação divina especial com qualquer ser da natureza, inclusive, os racionais (estes é que pretendem ser especiais perante Deus). O ponto-chave é que Jesus despertou em uma parte da humanidade, além do círculo interno da sua fraternidade, a consciência da universalidade de Deus. Mostrou o modo como os seres humanos podem se aproximar de Deus. “Jesus ensinou que o reino de Deus vinha com ele e por meio dele” (Bock). Certo, mas não com ele e por meio dele exclusivamente. Jesus também disse que o reino de Deus não virá de um modo ostensivo, nem se dirá ei-lo aqui ou ei-lo ali, pois o reino de Deus já está no meio de vós. Cabe aos seres humanos procurá-lo. Se merecerem, encontrá-lo-ão. Aí, como disse Jesus, bastará bater à porta, que ela se abrirá. A casa do Pai Celestial tem muitas moradas. Há mais de um modo de se escalar a montanha.

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