Parece estar na moda, em todos os continentes, os
jogadores se agredirem em
campo. Mãos no rosto, no pescoço e nas nádegas; dedo no olho,
soco na nuca e joelhada nas costas ao disputarem bola pelo alto; cotoveladas,
tesouradas, rasteiras e os indefectíveis carrinhos. Os jogadores parecem se
espelhar nas artes marciais. Isto é conseqüência do período das vacas magras no
futebol mundial, da baixa categoria dos jogadores, da ausência de espírito
esportivo, dos altos salários pagos pelos clubes à minoria que se dedica mais
aos campeonatos locais do que à seleção do seu país, da corrupção dos
dirigentes dos clubes e das entidades que governam o esporte em âmbito nacional
e internacional, e assim por diante.
Acontecimento inédito testemunhado nesta copa: na dinâmica
do jogo, dois jogadores se chocam em campo. O boliviano fica estendido de barriga para
baixo enquanto o peruano fica montado em suas costas, uma perna de cada lado,
joelhos apoiados na grama. Talvez, o peruano estivesse à espera de alguém que
lhe trouxesse a cuia de mate. Passados longos segundos, o boliviano, que
parecia estar acostumado a ser montado, deu-se conta da situação, reagiu
furioso e arremessou o cavaleiro fora da montaria. Afinal, não só gaúcho e
nordestino, mas boliviano também é cabra macho. Peruanos e bolivianos só não se
engalfinharam graças ao “deixa disso”.
Em outro momento, (quase eu ia dizendo “serenados os
ânimos (...)”, quando me lembrei que os ânimos continuaram acirrados) alguém
passou a mão na bunda do adversário. O carinho não foi bem aceito. Carrinho sim, carinho não, pois sou muito
homem, deve ter pensado o dono das nádegas. Apesar do frio, o tempo
esquentou e faltou pouco para o pau quebrar.
O boliviano Moreno tentava controlar a bola perto da
linha lateral do campo quando o peruano, quiçá atraído pela beleza do
adversário, veio por trás e colou o corpo. O boliviano não gostou daquela
liberdade com o seu traseiro e deu uma cotovelada no abdome do atrevido. O
boliviano defendeu o seu sagrado direito de escolher as suas parcerias e de não
ser assediado.
Como se viu nesta copa, a pancadaria não aboliu a
confraternização entre os jogadores no final das partidas. Porém, alguns mais
conservadores, ciosos da sua masculinidade, tentam evitar as entusiasmadas
manifestações de afeto dos seus colegas de profissão. Troca de camisas, de
abraços apertados e de beijos molhados. O amor é lindo!
26/06/2015. Argentina x Colômbia. Empate
sem gol. Decisão por pênaltis. O empate prosseguia na cobrança dos pênaltis.
Alternavam-se os acertos e erros dos cobradores das duas equipes até que,
finalmente, lá pela oitava cobrança, o batedor colombiano errou e o argentino
acertou o gol. A seleção platina saiu vencedora e se classificou para a partida
semifinal. Durante o jogo, muitos contatos de corpos, mas não se notou
sensualidade maliciosa. Destacou-se o goleiro Ospina, da seleção colombiana,
por suas excelentes defesas. O goleiro argentino quase não foi exigido. Os
colombianos demoraram excessivamente para atacar e só o fizeram depois de decorridos
cerca de vinte minutos do segundo tempo. Mostraram-se bem na ofensiva e se
houvessem atacado já no primeiro tempo, certamente teriam amenizado a pressão
dos argentinos e marcado um gol pelo menos. A seleção argentina não conseguiu
vazar a defesa colombiana. Os defensores colombianos abusaram do individualismo
e também das perigosas trocas de passes em seu próprio campo. O defensor Arias
foi o que mais entregou bola aos seus adversários platinos. Os argentinos pouco
proveito tiraram desses descuidos. A excelente chance de Messi no primeiro
tempo (cabeceio a curta distância) contou com a excelente defesa do goleiro
colombiano. Além do goleiro, o jogador Cuadrado destacou-se na seleção
colombiana por sua boa técnica e sua excepcional dedicação; foi o jogador mais
esforçado e o que melhor serviu à sua equipe, apesar das faltas por ele
cometidas. Os seus companheiros James e Falcão tiveram um desempenho sofrível,
aquém do que deles se esperava. A defesa argentina só teve algum trabalho no
segundo tempo. A maior parte do jogo passou servindo aos seus atacantes. Apesar
dos esforços de Messi, Di Maria e Aguero, o ataque argentino não conseguiu
superar a defesa colombiana, mesmo nas bolas paradas (cobrança de faltas e de
escanteios). Quando a partida se aproximava do fim, Tevez recebeu um passe de
longa distância, correu em direção à meta adversária e chocou-se com o zagueiro
e o goleiro colombianos; a bola tocou no joelho do zagueiro e foi em direção ao
gol, mas a trajetória foi interceptada tempestivamente por Murillo quase na
risca sob a trave.
Houve outros momentos emocionantes durante o jogo. A
arbitragem mexicana enfrentou as mesmas dificuldades da arbitragem brasileira.
Confrontos ásperos. Nervos à flor da pele. Desequilíbrios emocionais dentro e
fora das quatro linhas. Reclamações de todos os lados. As torcidas ora
cantavam, ora gritavam palavras de ordem, com pequenos intervalos de silêncio.
A emissora de televisão chilena às vezes perdia boas jogadas ao repetir lances
anteriores. Em jogo movimentado e veloz como aquele, as repetições atrapalham a
seqüência do espetáculo e frustram o telespectador. Faltou ao transmissor a
noção adequada do tempo e do momento da repetição. O mesmo ocorria quando
desviava o foco do campo para a torcida, ou para os treinadores e determinados
jogadores.
27/06/2015. Brasil x Paraguai (1 x 1).
Decisão por pênaltis. Das cinco cobranças para cada equipe, os brasileiros
acertaram três e os paraguaios quatro. Venceu quem errou menos. Cada equipe que
atuou nesta fase da copa exibiu o seu potencial. A brasileira e a paraguaia não
foram exceções. O espírito de luta dos paraguaios é inconteste. Forte é a sua
determinação de não perder. Contra a Argentina, na etapa anterior, e contra o
Brasil nesta, a seleção paraguaia saiu perdendo no primeiro tempo da partida e
obteve o empate no segundo. Quem a menosprezou, perdeu. O preconceito perdeu.
As especulações falharam Os jogadores paraguaios e brasileiros se esforçaram ao
máximo. Isto se refletiu no placar. Thiago Silva, um dos melhores defensores do
futebol mundial na atualidade, padece de um reflexo condicionado ou de uma
compulsão na disputa aérea: levanta os braços para se equilibrar e cabecear ou
evitar o cabeceio do atacante e, às vezes, a bola bate em sua mão ou no seu
braço e o árbitro marca pênalti, como já aconteceu em partida por seu clube
francês e tornou a acontecer na partida de ontem. Não se deve garimpar culpado
pela derrota e sim identificar as falhas e suas causas. Robinho novamente se
destacou por sua habilidade e sua solidariedade ao grupo, marcou o gol da
seleção brasileira no tempo normal e podia ter permanecido para cobrar os
pênaltis. O treinador preferiu substituí-lo por Everton Ribeiro, justamente um
dos jogadores que errou o tiro livre. Armadilhas do destino. O nível da seleção
brasileira não está acima do nível das demais competidoras. Esse nivelamento
das seleções da América do Sul ainda vai durar até a próxima copa mundial.
Arbitragem sem parcialidade, não comprometeu o
espetáculo e nem influiu no resultado. O índice de violência neste jogo esteve
abaixo do padrão desta copa. Faltas comuns, sem força excessiva na maioria
delas, apesar do jogo viril. Percebia-se uma atmosfera de mútuo respeito, quer
entre os treinadores, quer entre os jogadores das duas equipes. Pequenas e
animadas torcidas de cada seleção. O público parecia mais simpático à seleção
paraguaia.
Encerrada a fase das quartas-de-final da Copa América,
começa a semifinal com os jogos da seleção do Chile contra a seleção do Peru e
da seleção da Argentina contra a seleção do Paraguai, nos dias 29 e 30/06/2015,
respectivamente. Os vitoriosos disputarão o primeiro lugar.
A CBF, a CONMEBOL e a FIFA deviam combinar calendários
diferentes para as copas levando em conta que esta época do ano é inverno no
hemisfério sul. As baixas temperaturas em nada contribuem para o bom desempenho
dos jogadores, para o bom espetáculo e para o conforto do público. As
competições deviam ser marcadas para o verão em cada hemisfério.