domingo, 28 de junho de 2015

FUTEBOL



Parece estar na moda, em todos os continentes, os jogadores se agredirem em campo. Mãos no rosto, no pescoço e nas nádegas; dedo no olho, soco na nuca e joelhada nas costas ao disputarem bola pelo alto; cotoveladas, tesouradas, rasteiras e os indefectíveis carrinhos. Os jogadores parecem se espelhar nas artes marciais. Isto é conseqüência do período das vacas magras no futebol mundial, da baixa categoria dos jogadores, da ausência de espírito esportivo, dos altos salários pagos pelos clubes à minoria que se dedica mais aos campeonatos locais do que à seleção do seu país, da corrupção dos dirigentes dos clubes e das entidades que governam o esporte em âmbito nacional e internacional, e assim por diante.    
Acontecimento inédito testemunhado nesta copa: na dinâmica do jogo, dois jogadores se chocam em campo. O boliviano fica estendido de barriga para baixo enquanto o peruano fica montado em suas costas, uma perna de cada lado, joelhos apoiados na grama. Talvez, o peruano estivesse à espera de alguém que lhe trouxesse a cuia de mate. Passados longos segundos, o boliviano, que parecia estar acostumado a ser montado, deu-se conta da situação, reagiu furioso e arremessou o cavaleiro fora da montaria. Afinal, não só gaúcho e nordestino, mas boliviano também é cabra macho. Peruanos e bolivianos só não se engalfinharam graças ao “deixa disso”. 
Em outro momento, (quase eu ia dizendo “serenados os ânimos (...)”, quando me lembrei que os ânimos continuaram acirrados) alguém passou a mão na bunda do adversário. O carinho não foi bem aceito. Carrinho sim, carinho não, pois sou muito homem, deve ter pensado o dono das nádegas. Apesar do frio, o tempo esquentou e faltou pouco para o pau quebrar. 
O boliviano Moreno tentava controlar a bola perto da linha lateral do campo quando o peruano, quiçá atraído pela beleza do adversário, veio por trás e colou o corpo. O boliviano não gostou daquela liberdade com o seu traseiro e deu uma cotovelada no abdome do atrevido. O boliviano defendeu o seu sagrado direito de escolher as suas parcerias e de não ser assediado.  
Como se viu nesta copa, a pancadaria não aboliu a confraternização entre os jogadores no final das partidas. Porém, alguns mais conservadores, ciosos da sua masculinidade, tentam evitar as entusiasmadas manifestações de afeto dos seus colegas de profissão. Troca de camisas, de abraços apertados e de beijos molhados. O amor é lindo!

26/06/2015. Argentina x Colômbia. Empate sem gol. Decisão por pênaltis. O empate prosseguia na cobrança dos pênaltis. Alternavam-se os acertos e erros dos cobradores das duas equipes até que, finalmente, lá pela oitava cobrança, o batedor colombiano errou e o argentino acertou o gol. A seleção platina saiu vencedora e se classificou para a partida semifinal. Durante o jogo, muitos contatos de corpos, mas não se notou sensualidade maliciosa. Destacou-se o goleiro Ospina, da seleção colombiana, por suas excelentes defesas. O goleiro argentino quase não foi exigido. Os colombianos demoraram excessivamente para atacar e só o fizeram depois de decorridos cerca de vinte minutos do segundo tempo. Mostraram-se bem na ofensiva e se houvessem atacado já no primeiro tempo, certamente teriam amenizado a pressão dos argentinos e marcado um gol pelo menos. A seleção argentina não conseguiu vazar a defesa colombiana. Os defensores colombianos abusaram do individualismo e também das perigosas trocas de passes em seu próprio campo. O defensor Arias foi o que mais entregou bola aos seus adversários platinos. Os argentinos pouco proveito tiraram desses descuidos. A excelente chance de Messi no primeiro tempo (cabeceio a curta distância) contou com a excelente defesa do goleiro colombiano. Além do goleiro, o jogador Cuadrado destacou-se na seleção colombiana por sua boa técnica e sua excepcional dedicação; foi o jogador mais esforçado e o que melhor serviu à sua equipe, apesar das faltas por ele cometidas. Os seus companheiros James e Falcão tiveram um desempenho sofrível, aquém do que deles se esperava. A defesa argentina só teve algum trabalho no segundo tempo. A maior parte do jogo passou servindo aos seus atacantes. Apesar dos esforços de Messi, Di Maria e Aguero, o ataque argentino não conseguiu superar a defesa colombiana, mesmo nas bolas paradas (cobrança de faltas e de escanteios). Quando a partida se aproximava do fim, Tevez recebeu um passe de longa distância, correu em direção à meta adversária e chocou-se com o zagueiro e o goleiro colombianos; a bola tocou no joelho do zagueiro e foi em direção ao gol, mas a trajetória foi interceptada tempestivamente por Murillo quase na risca sob a trave.
Houve outros momentos emocionantes durante o jogo. A arbitragem mexicana enfrentou as mesmas dificuldades da arbitragem brasileira. Confrontos ásperos. Nervos à flor da pele. Desequilíbrios emocionais dentro e fora das quatro linhas. Reclamações de todos os lados. As torcidas ora cantavam, ora gritavam palavras de ordem, com pequenos intervalos de silêncio. A emissora de televisão chilena às vezes perdia boas jogadas ao repetir lances anteriores. Em jogo movimentado e veloz como aquele, as repetições atrapalham a seqüência do espetáculo e frustram o telespectador. Faltou ao transmissor a noção adequada do tempo e do momento da repetição. O mesmo ocorria quando desviava o foco do campo para a torcida, ou para os treinadores e determinados jogadores.

27/06/2015. Brasil x Paraguai (1 x 1). Decisão por pênaltis. Das cinco cobranças para cada equipe, os brasileiros acertaram três e os paraguaios quatro. Venceu quem errou menos. Cada equipe que atuou nesta fase da copa exibiu o seu potencial. A brasileira e a paraguaia não foram exceções. O espírito de luta dos paraguaios é inconteste. Forte é a sua determinação de não perder. Contra a Argentina, na etapa anterior, e contra o Brasil nesta, a seleção paraguaia saiu perdendo no primeiro tempo da partida e obteve o empate no segundo. Quem a menosprezou, perdeu. O preconceito perdeu. As especulações falharam Os jogadores paraguaios e brasileiros se esforçaram ao máximo. Isto se refletiu no placar. Thiago Silva, um dos melhores defensores do futebol mundial na atualidade, padece de um reflexo condicionado ou de uma compulsão na disputa aérea: levanta os braços para se equilibrar e cabecear ou evitar o cabeceio do atacante e, às vezes, a bola bate em sua mão ou no seu braço e o árbitro marca pênalti, como já aconteceu em partida por seu clube francês e tornou a acontecer na partida de ontem. Não se deve garimpar culpado pela derrota e sim identificar as falhas e suas causas. Robinho novamente se destacou por sua habilidade e sua solidariedade ao grupo, marcou o gol da seleção brasileira no tempo normal e podia ter permanecido para cobrar os pênaltis. O treinador preferiu substituí-lo por Everton Ribeiro, justamente um dos jogadores que errou o tiro livre. Armadilhas do destino. O nível da seleção brasileira não está acima do nível das demais competidoras. Esse nivelamento das seleções da América do Sul ainda vai durar até a próxima copa mundial.
Arbitragem sem parcialidade, não comprometeu o espetáculo e nem influiu no resultado. O índice de violência neste jogo esteve abaixo do padrão desta copa. Faltas comuns, sem força excessiva na maioria delas, apesar do jogo viril. Percebia-se uma atmosfera de mútuo respeito, quer entre os treinadores, quer entre os jogadores das duas equipes. Pequenas e animadas torcidas de cada seleção. O público parecia mais simpático à seleção paraguaia.  

Encerrada a fase das quartas-de-final da Copa América, começa a semifinal com os jogos da seleção do Chile contra a seleção do Peru e da seleção da Argentina contra a seleção do Paraguai, nos dias 29 e 30/06/2015, respectivamente. Os vitoriosos disputarão o primeiro lugar.
A CBF, a CONMEBOL e a FIFA deviam combinar calendários diferentes para as copas levando em conta que esta época do ano é inverno no hemisfério sul. As baixas temperaturas em nada contribuem para o bom desempenho dos jogadores, para o bom espetáculo e para o conforto do público. As competições deviam ser marcadas para o verão em cada hemisfério.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

FUTEBOL



O jogo entre as seleções de futebol feminino do Brasil e da Austrália (21/06/2015) foi de poucas finalizações e de muitos desarmes; bola muito disputada e passes errados. No segundo tempo, a australiana marcou o gol da vitória, o primeiro e único sofrido pela seleção brasileira durante toda a competição. Fim da copa para as brasileiras. As australianas classificaram-se para a fase seguinte da copa (quartas-de-final). Tem sido muito mais agradável assistir às partidas do futebol feminino do que às partidas do futebol masculino.

No jogo da seleção brasileira de futebol masculino contra a seleção colombiana pela Copa América (17/06/2015), o jogador Neymar foi punido com cartão amarelo por faltas cometidas. Além disto, terminada a partida, ele foi punido com cartão vermelho. Insatisfeito, ofendeu física e moralmente o árbitro no túnel que leva aos vestiários. Recebeu da entidade esportiva responsável pelo torneio (CONMEBOL) a merecida punição na medida certa (suspensão e multa). O vergonhoso episódio repercutiu no mundo esportivo. A entidade esportiva brasileira (CBF) tomou a decisão correta ao deixar de recorrer da pena aplicada ao infrator das regras. Se a seleção brasileira classificar-se para a partida final da Copa América, a pena de suspensão de quatro partidas estará plenamente cumprida e o jogador apenado poderá participar dos jogos do próximo torneio internacional. Caso contrário, o jogador poderá ficar devendo: (i) duas partidas, se a seleção não passar para fase semifinal desta copa, hipótese em que ele não poderá atuar nos dois primeiros jogos das eliminatórias para a copa do mundo de 2018; (ii) uma partida, se a seleção não se classificar para a final, hipótese em que ele não poderá atuar no primeiro jogo das citadas eliminatórias.

O comportamento desse jogador não é o que se espera do capitão de qualquer equipe. O fato de ser bom jogador não significa aptidão para usar a braçadeira de capitão. Leônidas, Didi, Garrincha e Pelé, maiores jogadores de futebol de todos os tempos, não foram capitães das seleções brasileiras. Apesar da personalidade forte, da seriedade em campo e da excelência técnica, Gerson, Rivelino e Romário também não foram capitães das seleções em que atuaram.

A atuação de Neymar tem sido a de um moleque, tanto no significado jocoso como no sentido censurável do vocábulo. O treinador equivocou-se ao conceder a braçadeira de capitão a um moleque. Thiago Silva também se equivocou ao dedicar, a esse moleque, o gol que marcou na partida seguinte (21/06/2015). O gesto de Thiago foi visto por milhões de espectadores e ajudou a fortalecer a imagem do Brasil como paraíso da corrupção, país em que os espertos dribladores da legalidade são elogiados e admirados. Em nação que respeita a si própria, os agentes de condutas contrárias à moral e ao direito são alvos de repúdio, não merecem aplauso ou solidariedade e, tampouco, são colocados no Olimpo. O jogador homenageado por Thiago violou a ética e a lei; mostrou falta de disciplina e de espírito esportivo.

Sem Pelé, a seleção brasileira venceu a copa do mundo em 1962, graças à presença de Garrincha, Didi e Amarildo. Sem Romário, a seleção brasileira perdeu a copa do mundo de 1998, porém ganhou a de 2002, graças à presença de Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo e Ronaldos (Nazário e Gaúcho). Sem Neymar, a seleção brasileira perdeu a copa do mundo de 2014, mas venceu a seleção venezuelana na Copa América (2 x 1) classificou-se para a fase seguinte da competição (quartas-de-final) quando disputará com a seleção paraguaia um lugar na fase semifinal (27/06/2015). Para as partidas semifinais já se classificaram: a seleção do Chile, ao vencer a do Uruguai (1 x 0) e a seleção do Peru ao vencer a da Bolívia (3 x 1). Ao se encerrar a fase das quartas-de-final sobrarão, portanto, quatro seleções para disputar os três primeiros lugares da competição: Chile + Peru + Argentina ou Colômbia + Brasil ou Paraguai.

O equilíbrio de força e técnica entre as equipes participantes desta edição da Copa América vem demonstrado pela magreza dos resultados. A única goleada ocorreu na partida entre as seleções do Chile e da Bolívia (5 x 0). No decorrer da competição foram vistos empates, escores mínimos, poucas jogadas primorosas, muitos erros nos passes e nas finalizações e algumas faltas violentas de fazer inveja aos jogadores da várzea. Da pancadaria no jogo entre as seleções do Chile e do Uruguai, resultou a expulsão de dois jogadores uruguaios. No jogo entre as seleções da Bolívia e do Peru ninguém foi expulso, apesar da pancadaria. Não será surpresa, pois, se a seleção da Colômbia vencer a da Argentina e a seleção do Paraguai vencer a do Brasil; estará tudo no padrão.

Observação final. O craque Ronaldo Gaúcho não foi convocado para esta e para seleções anteriores por indisciplina fora do campo. O jogador Neymar foi excluído da seleção por indisciplina dentro do campo. A falta de disciplina tem atrapalhado a carreira de alguns jogadores no Brasil. Felizmente, temos craques sobrando. Temos?

terça-feira, 23 de junho de 2015

FRAGMENTOS



Liberdade.

Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Siro Darlan é demitido de cargo administrativo do órgão que tratava de direitos e interesses da infância e da juventude. O motivo seria divergência de idéias com a presidência do tribunal.

Humorista e jornalista Jô Soares é alvo de agressiva censura nas redes sociais por entrevistar a Presidente da República. Picharam a calçada em frente à sua casa desejando-lhe a morte. 

Estes e outros fatos que ocorreram e ocorrem no Brasil, mostram a falta de espírito democrático de parcela da população brasileira. Essa parcela é numerosa no Estado de São Paulo e nos Estados sulistas, região do país onde o nazismo se exibe com mais ousadia. Isto explica, em parte, o fato de, na mencionada região, o candidato à presidência da república, integrado à direita do espectro político, ter sido mais votado do que a adversária. Impressionante o ódio dessa gente para com aqueles que pensam diferente. Essas pessoas se dizem democratas, mas suas atitudes são de autocratas racistas e intolerantes radicais. A cordialidade e o respeito mútuo, alicerces da convivência civilizada, não fazem parte dos costumes dessas pessoas. O mandamento cristão de amar ao próximo como a si mesmo, não é por elas acolhido e respeitado.

Democracia e liberdade são conceitos que se exigem reciprocamente. O direito de escolher os governantes pouco resolve se faltar liberdade para criticá-los. A Constituição da República Federativa do Brasil assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a liberdade de manifestação do pensamento, de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. No uso dessa liberdade se faz a crítica necessária, construtiva e respeitosa. O exercício dessa liberdade, todavia, tem sido cerceado indevidamente. Vedada pela Constituição, a censura camuflou-se. Represálias, ameaças, coação moral, tornam a censura uma realidade. Por meio de subterfúgios, autoridades públicas contornam direitos fundamentais.    

Petróleo.

Segundo amplamente noticiado pelos meios de comunicação social, parlamentares brasileiros, comandados por corrupto e mentiroso senador tucano, foram impedidos de visitar presos políticos na Venezuela. O governo venezuelano, como qualquer governo soberano, tem o direito de preservar seus assuntos internos. A delinqüente e golpista direita brasileira pretendia visitar representantes da delinqüente e golpista direita venezuelana com o propósito de criar um incidente internacional entre o Brasil e a Venezuela e causar embaraço aos dois governos.

O estrangeiro não pode entrar no país a seu bel prazer e fazer o que bem entende. O brasileiro tem liberdade de ir e vir no Brasil. Todavia, pousando em outro país, o brasileiro não pode exigir do governo local a mesma liberdade. Tanto na América como na Europa, o abuso de direito é considerado ilícito civil e penal. A Constituição da República brasileira agasalha o princípio da igualdade dos Estados, da autodeterminação dos povos e da não-intervenção. A quadrilha brasileira intitulada “comitiva parlamentar” violou esse princípio ao intervir indevidamente nos assuntos internos da Venezuela. Quer a forma de governo naquele país seja democrática, quer seja autocrática, trata-se de questão política que diz respeito exclusivamente ao povo venezuelano. Autorizados por aquele governo, observadores internacionais acompanham o processo eleitoral naquele país. Ao Brasil não cabe se intrometer. Se, naquele país, há violação dos direitos humanos, a respectiva apuração cabe aos órgãos da ONU, inclusive o tribunal internacional. Nessa matéria de direitos humanos, ainda falta ao governo brasileiro autoridade moral para posar de santo ou para julgar a conduta de governo estrangeiro.    

Convém esclarecer que os mendazes senadores brasileiros, escudando-se no mandato parlamentar, não estavam a serviço do Brasil e sim a serviço das companhias petroleiras dos EUA, ansiosas por colocar as mãos no petróleo brasileiro e venezuelano. No momento em que essa direita delinqüente assumir o poder no Brasil e na Venezuela, a exploração do petróleo passará para aquelas companhias. O barril do petróleo sairá do Brasil e da Venezuela por 60 centavos e voltará custando 60 dólares. Se essa desgraça acontecer, as lideranças dos partidos de direita encherão os seus bolsos de dólares, além do numerário que já recebem para organizar e deflagar movimentos cujo objetivo imediato é o de promover a discórdia interna e externa. O senador tucano José Serra já apresentou projeto de lei para retirar da Petrobrás, a exclusividade na exploração do pré-sal. Ele defende abertamente os interesses das petroleiras estadunidenses em detrimento dos interesses do Brasil. Pretende manchar a divisa “o petróleo é nosso”.

Esses parlamentares brasileiros, malta de entreguistas que, certamente, têm seus dólares depositados em banco na Suíça ou em outro paraíso fiscal, também estão a serviço da imprensa tucana e das emissoras particulares de televisão que, na Venezuela, abusavam da liberdade para tumultuar o meio social com o propósito de colocar a direita no poder e entregar as riquezas do país aos EUA. O povo venezuelano deu um basta à colonização, lutou com denodo por sua autonomia política e econômica e por sua identidade cultural.     

Nesse episódio provocado por essa quadrilha de bandidos do colarinho branco, a atitude do governo brasileiro foi timorata. Ao invés da tibieza ao protestar de afogadilho ou de qualquer moção hostil em relação ao governo venezuelano, o Executivo Federal e o Congresso Nacional deviam se desculpar pela atitude indecorosa dessa ralé parlamentar. Ao longo de oito meses, desde as eleições de outubro de 2014 até a presente data, a conduta dessa ralé mostra-se passível de enquadramento nos crimes tipificados na lei 7.170 de 14/12/1983: “Entrar em entendimento ou negociação com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil” (art. 8º); “Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com emprego de grave ameaça” (art. 16); “Caluniar ou difamar o Presidente da República (...) imputando-lhe fato definido como crime ou fato ofensivo à sua reputação” (art. 26). A todos esses crimes é prevista a pena de reclusão. A inviolabilidade civil e penal dos senadores não alcança esse tipo de conduta criminosa. Além disto, por conduta incompatível com o decoro parlamentar, os senadores estão sujeitos a perder o mandato, nos termos do inciso II, do artigo 55, da Constituição da República.   

Perfil nacional.

Ao contrário do governo do tucano Fernando Henrique, o governo de Nicolas Maduro zela por sua soberania. Quando o Dalai Lama visitou o Brasil, Fernando Henrique recebeu-o furtivamente como líder religioso e não como chefe do estado tibetano no exílio. Medroso, o governante brasileiro sucumbiu diante das ameaças feitas pelo governo chinês. Deficientes morais, os tucanos têm dificuldade de entender e aceitar a existência de governantes de países americanos que não são covardes e que defendem com altivez e firmeza a soberania da nação.

Encerrado o ciclo autocrático militar, o Brasil passou a ser governado por gente malandra, desonesta, frouxa e covarde. Essa gente é eleita pelo povo. Então, parafraseando o Gênesis, indaga-se: o povo brasileiro é feito à imagem e semelhança dos políticos que o representam? Somos um povo malandro, desonesto, frouxo e covarde? Buscar um perfil nacional num povo heterogêneo como o brasileiro, afigura-se tarefa difícil e quiçá inadequada. Ante esse mosaico, mais provável obter-se uma caricatura do que um retrato fiel.

sábado, 20 de junho de 2015

PRAXE PERVERSA



O Supremo Tribunal Federal (STF), na sessão do dia 18/06/2015, aprovou a lista tríplice apresentada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para preenchimento de uma vaga de ministro da corte eleitoral destinada à classe dos advogados. O ministro Marco Aurélio pediu prazo para se pronunciar tendo em vista que um candidato funcionava como advogado de um dos acusados no processo criminal conhecido como Lava-Jato [que apura corrupção e outros crimes praticados na Petrobrás]. O ministro Gilmar Mendes, atual vice-presidente do TSE, protestou dizendo que não se há de confundir a pessoa do advogado com a pessoa do cliente. A ministra Carmen Lúcia, com a sua sensata e bem fundamentada argumentação, apoiou as razões do ministro Marco Aurélio. O ministro Dias Toffoli, atual presidente do TSE, posicionou-se contra o adiamento da votação. Disse que não faria outra lista e que bastava aos ministros aprovar ou reprovar qualquer dos nomes apresentados. O plenário decidiu pela votação imediata. Dois advogados obtiveram 11 votos cada um; o terceiro obteve 9 votos. A lista será enviada ao Palácio do Planalto para a Presidente da República escolher e nomear o novo ministro. O questionamento durante a votação enseja algumas reflexões.

1. Notamos que a lista dos candidatos já veio pronta do TSE quando devia ser elaborada pelo STF, consoante parte final, do inciso II, do artigo 119, da Constituição Federal. O presidente do STF justificou a violação do preceito constitucional afirmando ser praxe a elaboração da lista pelo TSE. Praxe significa costume, prática geral, habitual e antiga. No âmbito do direito, a praxe ou costume gera norma com efeitos jurídicos ainda que não seja posta por escrito pelo Estado. A praxe somente é aplicável quando a lei for omissa. Assim dispõe a lei de introdução às normas do direito brasileiro. Praxe contra legem não deve ser admitida pelos juízes e tribunais. No caso acima referido, a praxe contraria a Lei Magna, cuja guarda compete ao STF. Evidente a inconstitucionalidade da praxe de a lista ser elaborada por ministros do TSE ao invés de sê-lo por ministros do STF. No caso em tela, a impugnação de um só ministro era suficiente para recusar a lista apresentada pelo TSE e se proceder à elaboração da lista pelo próprio STF em obediência ao comando constitucional. Desse modo, a Constituição não seria violada por seu próprio guardião. Dever precípuo do guardião é o de proteger o que lhe foi confiado. Na ausência de guerra, urgência alguma justifica o abandono dos princípios e das normas constitucionais.

2. Nos termos do preceito constitucional acima citado, o STF deve indicar os nomes dos candidatos em lista sextupla. No entanto, outro tribunal, o TSE, elaborou lista tríplice. Por mais este ângulo, a decisão do STF de abonar essa espúria lista fere a Constituição. Pouco importa se o preenchimento será de uma ou de duas vagas. A operação aritmética de reduzir a indicação pela metade quando se trata de uma só vaga fere a letra e o espírito da norma constitucional que exige expressamente seis nomes. Cuida-se de uma prerrogativa do Presidente da República: o seu campo de escolha. A redução desse campo pelo STF é inconstitucional. De fato, a escolha pelo Presidente fica limitada a três nomes. Após a escolha, sobrarão dois nomes que constarão da próxima lista à qual se acrescentará mais um nome. Para preencher a próxima vaga, o Presidente só poderá escolher um dos três nomes da nova lista, e assim por diante. Em suma: nunca lhe serão apresentados os seis nomes exigidos pela Constituição. A Presidente da República tem o direito de solicitar ao STF a inclusão de mais três nomes na lista que lhe foi apresentada. 

3. Os advogados indicados devem ter notável saber jurídico e idoneidade moral, conforme norma constitucional acima citada. Houve um nome da lista que mereceu a reserva dos ministros Marco Aurélio e Carmen Lúcia. Evidente que não se confunde a pessoa do advogado com a pessoa do cliente. Nenhum dos ministros afirmou o contrário. Todavia, a atuação do advogado não se desliga da causa que defende no momento da indicação ao cargo de juiz de um tribunal superior, mormente quando esse cargo permite o exercício concomitante da advocacia. A causa repercute na sociedade sem divisão entre patrono e cliente. Para a sociedade – embora não para os profissionais do direito – até prova em contrário o advogado está defendendo um criminoso. Segundo a opinião pública, ainda que injusta, só defende corrupto quem é corrupto. Essa imagem não pode ser transportada para o juiz de um tribunal judiciário, principalmente quando a nação está sob aguda crise moral. Vem a calhar a célebre definição do filósofo espanhol Ortega y Gasset: eu sou eu e as minhas circunstâncias. O indivíduo está imerso nas múltiplas relações sociais, políticas e econômicas da sociedade em que vive e a sua imagem delas não se desagrega. Lição da experiência: o “bom” advogado, mormente quando bem remunerado, mesmo sabendo que o seu cliente é culpado, tudo faz para inocentá-lo. Realmente, esse advogado é bom para o cliente, mas não para a sociedade. Por outro lado, ao saber que o seu cliente é culpado, o “mau” advogado não insiste na inocência, mas tudo faz para: (1) evitar o excesso da pena; (2) obter os benefícios legais negados ou omitidos pela autoridade pública; (3) tornar eficazes as garantias constitucionais. Esse advogado é mau para o cliente, mas bom para a sociedade.    

4. O STF e o TSE não se mostram tão zelosos no que tange à outra praxe: a do primeiro, para eleger os seus três ministros ao TSE; a do segundo, para eleger os seus presidente e vice-presidente. Conforme essa praxe, que visa ao rodízio dos ministros, os juízes são eleitos na ordem da antiguidade decrescente: o mais antigo para presidente, o imediato para vice e o terceiro para vogal. O ministro Joaquim Barbosa, mais antigo, foi eleito presidente do TSE e o ministro Ricardo Lewandowski, mais novo, vice. No período seguinte, o ministro Ricardo Lewandowski foi eleito presidente e a ministra Carmen Lúcia, vice. Depois, a ministra Carmem Lúcia foi eleita presidente e o ministro Dias Toffoli, vice. A seguir, o ministro Dias Toffoli foi eleito presidente e o ministro Luiz Fux... Opa! Acidente de percurso. A praxe foi rompida. Fora da seqüência regular ditada pela praxe, o eleito para vice foi Gilmar Mendes! Provavelmente, ele será o presidente do TSE nas eleições de 2018, contará com os ministros por ele escolhidos, sob as bênçãos do PSDB. Luiz Fux, atualmente vogal, talvez seja eleito para cargo de direção oportunamente, depois que Gilmar cumprir a sua missão evangelizadora.

5. Das manobras aqui mencionadas exala um fedor que nos faz cismar se esses tribunais são a cúpula ou a cópula do Judiciário.   

quinta-feira, 18 de junho de 2015

FIM DO MUNDO



Nos meios de comunicação social circulou notícia de que neste mês de junho de 2015 haverá colisão de enorme asteróide contra o nosso planeta e que a conseqüência disto será a extinção de todas as formas de vida. Segundo o grupo de religiosos que anunciou a catástrofe, trata-se de castigo de deus. Já vimos este filme. No passado, individualmente ou em conjunto, pessoas se suicidaram por causa desses falsos alarmes. Se fossem verdadeiras essas previsões apocalípticas, o fim do mundo já teria ocorrido há séculos.

Advirta-se no que concerne ao fim do “mundo”: modus in rebus. De que mundo se trata? Certamente, do mundo físico e não do mundo espiritual. O mundo físico é o universo, que compreende desde a menor partícula da matéria até as maiores galáxias. A desintegração de um planeta ou de uma estrela não significa o fim do universo. Assim também, a extinção da vida em um planeta não significa a morte desse planeta, nem do sistema ou da galáxia a que pertence. O reino mineral precede o reino vegetal e o reino animal e a esses dois sobrevive. O mundo físico acaba para quem morre e continua para quem permanece vivo. Ainda que o ser humano não existisse, o mundo físico existiria. Até o momento, não há certeza alguma sobre o fim imediato do universo. De um modo geral, os cientistas concordam que o mundo físico se formou e se expandiu a partir de uma grande explosão de energia concentrada. Os cientistas divergem quanto ao fim. Alguns defendem a tese da expansão infinita do universo. Outros defendem a tese de que haverá um limite nessa expansão a partir do qual o universo se contrairá até o ponto de uma nova explosão que dará início à formação de um outro universo. Terceira hipótese: atingido o limite de expansão, o universo se manterá fixo indefinidamente. A teoria de Isaac Newton, cientista inglês, de um universo sem começo e sem fim, sempre igual a si mesmo, ainda vigora, principalmente como doutrina religiosa. Nessa linha, Lavoisier, cientista francês, afirmava: “Em a natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

A profecia atribuída a Jesus sobre o fim do mundo é bem conhecida. Consta dos evangelhos, que ele afirmou a iminência do juízo final e a chegada do reino de deus para aqueles dias, quando muitos daquela geração ainda estariam vivos. Nesta certeza da proximidade do fim do mundo talvez esteja a explicação do fato de Jesus nada ter deixado por escrito.   

Em verdade vos digo que muitos dos que aqui se encontram não passarão pela morte sem que tenham visto o filho do homem voltar na majestade do seu reino (Mateus, 16: 26). Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não experimentarão a morte enquanto não virem chegar o reino de deus com poder (Marcos, 9: 1). Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não morrerão até que vejam o reino de deus (Lucas, 9: 27). Nas suas cartas, os apóstolos Pedro e Paulo advertiam os crentes sobre essa profecia de Jesus. O fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, prudentes e vigiai na oração (I Pedro, 4: 7). Todas estas coisas lhes aconteceram para nosso exemplo; foram escritas para advertência nossa, para nós que tocamos o final dos tempos (Paulo, I Corintios, 10: 11).

Os crentes impacientaram-se com a demora do retorno de Jesus, do julgamento final e da chegada do reino de deus. Eles cobraram do apóstolo uma explicação. Pedro saiu pela tangente: diante de deus um só dia é como mil anos e mil anos são como um só dia; o senhor não retarda o cumprimento da sua promessa como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco; não quer que alguém pereça, ao contrário, quer que todos se arrependam. Entretanto, virá o dia do senhor como ladrão. Naquele dia, os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão e será consumida a terra e todas as obras que ela contém (II Pedro, 3: 8/10).

Pesa sobre essa carta, a suspeição de não ser Pedro o seu autor. A expressão diante de deus um só dia é como mil anos e mil anos são como um só dia revela o sentimento místico da eternidade, dimensão espiritual em que não há tempo e nem espaço. Entretanto, na profecia atribuída a Jesus há tempo e espaço bem definidos: a geração daquela época (“muitos dos que aqui se acham”). O fato é que tal profecia – se realmente existiu – até hoje não se realizou, decorridos 1.970 anos.          

Dessa técnica persuasiva usada por Jesus e seus apóstolos, que consiste em infundir terror para obter a submissão das pessoas, já se valera o escriba Esdras, quatro séculos antes, ao redigir o Pentateuco. Com o propósito de domesticar os arrelientos judeus da Babilônia e da Palestina, Esdras escreveu e organizou os cinco primeiros livros da Bíblia, considerados em conjunto como “a lei”, criou um deus diabólico e o batizou de Javé ou Jeová. Esse deus terrificante castigaria severamente os judeus, individual ou coletivamente, sempre que eles transgredissem a “lei”. Espertamente, esse escriba apostou no que há de comum nos humanos: medo e ignorância.

Esse mecanismo de inibição moral e espiritual foi aplicado – e continua a ser – também pelas autoridades civis. Desde a Idade Antiga, chefes políticos com o poder de legislar (faraós, imperadores, reis, ditadores) estabeleciam penas severas e cruéis a quem desobedecesse aos seus mandamentos. Os súditos ficavam sujeitos ao confisco de bens, à tortura e à privação da liberdade e da vida, caso violassem as leis escritas ou consuetudinárias vigentes.

A recente notícia sobre a catástrofe astronômica é mais uma das manobras das instituições religiosas para unir os crentes em época que a ciência, a tecnologia, o pensamento e a obra de filósofos e outros intelectuais desvelam os “mistérios” da religião e mostram as mentiras e os expedientes enganosos utilizados pelas autoridades religiosas para arrecadar dinheiro e acumular bens materiais. Infundindo medo na população, aterrorizando-a com boatos e histórias de horror e sofrimento, as lideranças religiosas tentam atrair para suas igrejas maior número de adeptos “antes do fim do mundo”. Vítimas da paranóia artificiosamente provocada, os seguidores temem o “castigo de deus”. Esse fato notório mostra que, em matéria espiritual, os humanos ainda estão na infância, acreditando ingenuamente em contos de fada, papai noel e bicho papão.  

Colisões de corpos celestes são comuns no universo. O planeta Terra não é exceção. Neste e em outros planetas, dentro ou fora do sistema solar, sempre houve colisões com asteróides. Esse fenômeno macrocósmico de certa regularidade não significa que deus esteja castigando todo o universo ou alguma das suas regiões. No que tange ao planeta Terra, os astrônomos negam essa ocorrência de imediato, porém, não afastam a possibilidade em futuro remoto.

Do ponto de vista astrofísico, a extinção da vida na Terra ocorrerá: (1) Com certeza, quando o Sol esgotar seu combustível daqui a um bilhão de anos. Na medida em que o calor do Sol for enfraquecendo, as formas de vida irão desaparecendo paulatinamente. (2) Provavelmente, em momento incerto, em consequência da colisão com asteróides. Dentro dessa hipótese provável, a extinção poderá ser: (I) total, se o efeito do choque se expandir por toda a superfície do planeta ou fragmentá-lo; (II) parcial, se o planeta se mantiver íntegro e o efeito do choque for regional, cujo exemplo mais conhecido é o desaparecimento dos dinossauros e de espécies vegetais.  

A vida no planeta Terra também poderá ser extinta: (1) se ocorrer algum tipo irremediável de epidemia mortal cobrindo todo o globo; (2) se as agressões ao meio ambiente prosseguirem sem qualquer controle e num ritmo que impossibilite a recuperação natural; (3) se as nações guerreiras provocarem uma hecatombe nuclear.

Sofrer desengano ou derrota não é o fim do mundo. Compreender a fonte do engano ou reconhecer o mérito do vitorioso é um modo virtuoso de ser e de estar no mundo.  

segunda-feira, 15 de junho de 2015

FUTEBOL



As competições esportivas contribuem para a paz e a confraternização dos povos. Há lesões físicas em conseqüência da dinâmica dos jogos coletivos, algumas intencionais causadas pela maldade e falta de espírito esportivo do adversário e nem sempre punidas com rigor pelo árbitro e pelo tribunal esportivo. Ocorre, também, morte em campo por problema cardíaco do jogador. Nada que se compare a um confronto bélico. Neste mês de junho de 2015, estão sendo disputadas a copa do mundo de futebol feminino e copas regionais de futebol masculino.

Copa mundial de futebol feminino.
Realizada de quatro em quatro anos, desde 1991. Começou com 16 países participantes. Hoje, são 24, sendo 2 da Oceania (Austrália e Nova Zelândia); 3 da África (Camarões, Costa do Marfim e Nigéria); 4 da Ásia (China, Coréia do Sul, Japão e Tailândia); 7 da América (Brasil, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos e México); e 8 da Europa (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra, Noruega, Países Baixos, Suécia e Suíça). A copa foi vencida duas vezes pelas seleções dos EUA (1991 e 1999) e da Alemanha (2003 e 2007) e uma vez pelas seleções da Noruega (1995) e do Japão (2011). A seleção do Brasil foi vice-campeã em 2007.   
A copa está sendo realizada em 6 cidades do Canadá: Ottawa, Montreal, Vancouver, Winnipeg, Edmonton e Moncton. Os desempenhos coletivos e individuais variam de nível. A familiaridade com os fundamentos do esporte não afasta a vaidade das jogadoras. Os esforços durante as partidas não retiram a graciosidade dos atléticos e modelados corpos em movimento. As arbitragens são satisfatórias. O público nos estádios é numeroso e festivo. 
No jogo da seleção dos EUA contra a seleção da Suécia, houve empate sem gol. Futebol veloz e bem jogado, sem violência, sem cotoveladas, sem deslealdade, com poucas faltas e muito empenho, defendendo e atacando, sem retranca e com ótimo preparo físico e técnico das jogadoras. Poucos dribles, muitos passes, alguns de longa distância, chutes fortes. Na cobrança de escanteio, as suecas se enfileiravam na área adversária, ora ao lado uma da outra, ora atrás uma da outra para, em seguida, se dispersarem e tentarem o gol. A treinadora sueca e sua assistente estavam de bom humor, conversavam entre si e riam descontraídas durante o jogo. Bem humorados também a treinadora e o assistente estadunidense. Todos aparentavam equilíbrio emocional, sem gestos nervosos e escandalosos, sem gritaria e palavras agressivas. Pareciam felizes pela oportunidade de participar do certame. As torcidas alegres e festivas, pintadas e enfeitadas. A americana mais numerosa e barulhenta do que a sueca. Canadá e EUA são vizinhos enquanto a Suécia fica ao norte da Europa, na longínqua e fria Escandinávia. 
A seleção brasileira venceu a coreana (2 x 0). As brasileiras demonstravam preocupação excessiva, talvez por ser a sua partida de estréia nesta edição da copa do mundo. Estrela de primeira grandeza, a jogadora Marta estava tensa. As coreanas mostraram esforço, bom preparo físico, bom entrosamento e obediência ao esquema tático do treinador; elas mais se defenderam do que atacaram. A seleção brasileira também venceu a espanhola (1 x 0). O desempenho das duas equipes foi mediano. Faltas pesadas e ansiedade. As espanholas impuseram um jogo duro às brasileiras. O treinador brasileiro muito nervoso gesticulava e reclamava. As brasileiras também nervosas promoveram um festival de erros nos passes e sofreram muitos desarmes. Resta apurar se foi o treinador que influiu no estado de espírito das jogadoras ou se foram elas que influíram no estado de espírito do treinador. Marta e Andressa aparentavam estar mais tensas do que as companheiras. Assistência psicológica talvez lhes fizesse bem. Andressa, que abusou do individualismo no primeiro tempo da partida, mostrou oportunismo e inteligência no gol que marcou. Depois de ser disputada pela brasileira, pela goleira e pela zagueira, a bola saiu em direção ao gol livre. Andressa notou que a bola seria interceptada antes de entrar no gol. Então, correu na direção provável que a bola tomaria se tocada pela defensora. Deu certo. Ela chutou enquanto a zagueira ainda estava deitada sob o arco. Gol de placa pela beleza do lance, desde o seu início até o seu final. Formiga e Cristiane estiveram aquém das habilidades que costumavam exibir em campo. Cristiane parecia desmotivada ou indisposta, conseqüência, talvez, da menstruação ou de outra razão de ordem somática, psicológica ou familiar. Marta nervosa, mas aguerrida, foi duramente marcada pelas adversárias, rendeu pouco, mas deu um passe açucarado para Raquel que, sozinha diante da goleira, perdeu o gol porque a bola lhe fugiu dos pés. Emoção de estreante, quem sabe? Da equipe brasileira, Tamires foi a jogadora que melhor e mais regular desempenho apresentou durante o jogo.

Copa de futebol masculino da América.
Realizada em 8 cidades do Chile (Antofagasta, Concepción, La Serena, Rancágua, Santiago, Temuco, Valparaíso, Viña del Mar). No jogo inaugural, a seleção chilena venceu a seleção equatoriana (2 x 0). O desempenho das duas equipes foi sofrível. Na seqüência, a seleção mexicana empatou com a boliviana, sem gol. Fraco desempenho das duas equipes, sem destaques individuais que merecessem especial menção. A seleção uruguaia venceu a jamaicana pelo escore mínimo (1 x 0). Os uruguaios venceram os caribenhos com dificuldade. A seleção da Jamaica mostrou não ser o filé que a crítica noticiava. As duas equipes apresentaram um futebol tecnicamente razoável, sem jogador que merecesse especial destaque por sua atuação.
A seleção argentina empatou com a paraguaia (2 x 2). Os platinos venceram no primeiro tempo da partida graças a dois erros: um do defensor paraguaio e outro do árbitro. No primeiro gol, o defensor paraguaio deu um passe incrível ao atacante argentino Aguero, que não perdeu a chance e finalizou eficazmente. No segundo gol, o mesmo defensor paraguaio trombou com o argentino Di Maria dentro da área. Choque normal, porém o árbitro marcou pênalti. Messi cobrou mal e o goleiro paraguaio quase defendeu. Posteriormente, Messi foi atropelado dentro da área. Choque faltoso. O árbitro não marcou o pênalti. Este segundo erro compensou o primeiro. No segundo tempo, a seleção paraguaia voltou determinada a mudar o panorama do jogo. Marcou dois belos gols. Os paraguaios mostraram garra e espírito coletivo, superando a boa qualidade individual dos craques argentinos. Terminado o jogo, os paraguaios, ainda em campo, procuraram se confraternizar com os argentinos, mas foram recebidos com frieza e arrogância.   
A seleção venezuelana tão depreciada por comentários brasileiros com pitada política, venceu a enaltecida seleção colombiana (1 x 0). Em campo, não se confirmou o favoritismo da poderosa esquadra de James, Cuadrado, Falcão e Armero. O sistema defensivo da seleção da Venezuela neutralizou o ataque dos craques colombianos. No segundo tempo, o treinador da seleção da Colômbia substituiu defensores por atacantes, mas nem assim a sua equipe conseguiu marcar um gol sequer. Não houve retranca. Sempre que se oferecia oportunidade, os venezuelanos atacavam perigosamente a defesa colombiana. Oportuno e esperto cabeceio de Cuevas próximo à linha de fundo em direção ao centro da área adversária é aproveitado por Rondon que também de cabeça envia a bola para dentro do gol. Plasticidade artística. Os colombianos batiam mais forte do que os venezuelanos. Houve muitas faltas e cartões amarelos. Nenhum jogador teve desempenho extraordinário. No final da partida, ninguém estava disposto a confraternizar.
A seleção brasileira venceu a peruana (2 x 1). Nos primeiros cinco minutos da partida, dois gols foram marcados, um para cada lado, graças a clamorosas falhas das duas defesas. Sofreguidão brasileira durante o jogo. O gol da vitória foi marcado na bacia das almas. Faltavam dois minutos para terminar a partida quando, após um cochilo da defesa peruana, Douglas Costa, livre de marcação dentro da área, recebeu um passe açucarado de Neymar e finalizou com eficiência. Espetáculo razoável, faltas violentas e cartões amarelos. Fernandinho é como o escorpião: a sua natureza é ferir. Ainda conseguirá uma expulsão. Nas duas equipes havia bons jogadores, mas nenhum com atuação extraordinária. Guerrero, peruano incensado pela torcida corintiana e pela imprensa, marcado pelos defensores brasileiros, nada rendeu. Neymar, incensado pela torcida brasileira e pela imprensa, também rendeu pouco, além de cair muito e reclamar outro tanto. No final da partida, peruanos e brasileiros confraternizaram e trocaram camisas.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

FRAUDES ECLESIÁSTICAS



Fraudar é enganar alguém em proveito próprio ou alheio, mediante ardil. Abusa-se da necessidade, da ignorância, da debilidade mental, da credulidade, da inexperiência, da simplicidade, da ambição e dos sonhos de adultos, adolescentes e crianças. Os enganadores alteram peso, medida, quantidade e qualidade das coisas; falsificam marcas, moedas, documentos e objetos de arte entre outros; simulam paixões, virgindade, gravidez e doenças; alienam, desviam, destroem ou danificam seus bens para não pagar os credores.  
“Conhecerás a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8: 32). Conhecerás a fraude e a fraude vos escravizará. Grande parcela da humanidade é vítima de fraudes milenares no campo religioso. Os crentes aceitam, sem discutir, a autenticidade de “escrituras sagradas” e a interpretação que lhes é dada pela classe sacerdotal. A fé prevalece sobre a crítica racional. A autoridade eclesiástica sobrepõe-se à liberdade dos fiéis reunindo-os em um rebanho. Isto facilita a manipulação dos textos considerados sagrados e assegura ao clero o duplo poder: espiritual e secular, tal como ocorreu na Europa medieval e ainda ocorre em países islâmicos. Autoridades religiosas fizeram supressões, substituições e adições na Bíblia, segundo os seus interesses doutrinários, teocráticos e financeiros. Ao perceber o caráter mistificador da “escritura sagrada”, Albert Einstein definiu-a como coleção de contos da carochinha.
Thomas Hobbes, filósofo inglês, ao tratar do Estado Cristão, na terceira parte do seu livro Leviatã, publicado em 1651, reproduz os versículos 21 e 45, do capítulo 14, do livro I, de Esdras, contido no Antigo Testamento: “Tua lei foi queimada, portanto, ninguém conhece as coisas que fizeste, nem as obras que estão para acontecer. Mas, se encontro graça perante ti, envia o Espírito Santo até mim e escreverei tudo que foi feito no mundo desde o inicio, todas as coisas que foram escritas na lei, para que os homens possam encontrar teu caminho (...)”. Dito isto, Esdras prossegue: (...) “e veio a acontecer que depois de cumpridos 40 dias, o Altíssimo falou e disse: o primeiro que escreveste publica-o abertamente para que os dignos e indignos possam lê-lo, mas guarda os últimos 70 para que possas entregá-los apenas àqueles de entre o povo que sejam sábios”.
Referindo-se à autoridade dos textos sagrados e com esteio nos citados versículos, Hobbes afirma que os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (Pentateuco) receberam a forma atual pelas mãos do escriba e sacerdote Esdras, no quarto século antes de Cristo, durante o exílio dos judeus na Babilônia. O capítulo 14 por ele reproduzido não consta das edições em português das bíblias católica e protestante que tenho em mãos. Os papiros originais da lei judaica conhecida como Tora e Pentateuco – se é que existiram – converteram-se em cinzas quando o templo de Jerusalém foi destruído e queimado pelo exército de Nabucodonosor, episódio que antecedeu a remoção dos judeus da Palestina para a Babilônia. Durante o exílio coletivo, Esdras se propôs a elaborar novamente a “lei” queimada invocando o auxílio do espírito santo, ajudado na hercúlea tarefa por sacerdotes judeus e fundado em provável tradição oral. O propósito era domesticar o povo judeu por ele criticado como de cabeça dura, desobediente, pérfido, cruel, sensual, mentiroso, belicoso. Para atemorizar os judeus, afastá-los do politeísmo e da miscigenação e colocá-los no trilho monoteísta, Esdras criou um deus diabólico, belicoso, vingativo, colérico, cruel, genocida, à semelhança dos judeus criticados. Batizou-o de Javé. Na escritura que elaborou, Esdras incluiu um pacto de vassalagem entre Javé e lideranças do povo hebreu. A confissão de Esdras revela que o Pentateuco, tal como conhecemos hoje, não é o texto original – se é que houve um texto original anterior. As igrejas cristãs passam aos crentes a falsa idéia de que a Bíblia existe há quatro mil anos e foi ditada por deus ou elaborada sob inspiração divina.
Ante a impostura de Esdras – ainda que rodeada de boas intenções – a existência real de Moisés é incerta. Esse personagem não consta das fontes históricas da época, mas tão somente da fantasiosa narrativa de Esdras: bebê hebreu colocado pela mãe numa cesta lançada ao rio, encontrado e criado por uma princesa egípcia. Bom enredo para um filme. O padrão fantasioso é comum aos dois “testamentos”: o antigo e o novo. A existência real de Jesus também é duvidosa. A mãe virgem engravidada por obra do espírito santo é mera reprodução de lenda pagã. Fora dos evangelhos, a única referência a Jesus é feita por Flavio Josefo (37 a 101 d.C.), historiador apologista, judeu erudito que mudou de lado e adotou o nome latino e a cidadania romana. Josefo menciona Jesus sem descrever a aparência física; em poucas linhas, diz que Jesus era mais do que homem porque autor de feitos extraordinários, mestre de pessoas que buscavam a verdade, o Cristo denunciado por autoridades judias, condenado por Pilatos e que morreu na cruz, mas ressuscitou no terceiro dia. (Antigüedades Judias. Madri. Akal/clássica, 1997, tomo II, livro XVIII, página 1089, parágrafo 63).       
No torvelinho do primeiro século da era cristã, na Palestina e na Roma pagã, um judeu ou um romano jamais trataria de “cristo” um gentio (estrangeiro de inferior categoria) como Jesus; nunca admitiria verdade alguma provinda de um homem pobre, oriundo da Galiléia; não lhe reconheceria maestria e nem afirmaria que ele ressuscitara depois de morto na cruz. Josefo era ainda jovem quando Paulo começou a escrever as epístolas por volta dos anos 60. Os apóstolos começaram a ditar os evangelhos por volta dos anos 80. Provavelmente, a referência a Jesus foi interpolada pela igreja visando a reforçar a crença na historicidade e no poder divino do profeta. Firma-se ainda mais essa probabilidade diante da evidente coloração cristã do texto de Josefo, bem ajustado ao Credo, prece fundamental da igreja cristã elaborada nos anos 325 e 381, durante os concílios de Nicea e Constantinopla, respectivamente. O Credo é a profissão de fé do cristianismo contrária à profissão de fé judaica.
Assim como Sócrates, filósofo grego, Jesus também nada deixou por escrito. Supondo-se alguma verdade histórica nos evangelhos, é possível admitir que os apóstolos da primeira hora, ou seja, recrutados diretamente por Jesus, tenham ditado a escribas as suas versões sobre a vida e a obra do profeta. Os apóstolos eram pobres e analfabetos, salvo, talvez, Mateus (Levi) coletor de impostos. Raras pessoas sabiam ler e escrever. Havia a classe especial dos escribas e neles os iletrados deviam confiar. Lucas e Paulo eram letrados, mas não conheceram Jesus. Paulo era fariseu, instruído na escritura judaica, policial a serviço do Sinédrio (tribunal judeu). Perseguia os cristãos. Depois, juntou-se a eles e disputou a liderança do grupo com Pedro. Inteligência cultivada, esperto e feio como o capeta, Paulo levou vantagem sobre o humilde pescador. Encarregou-se de difundir a doutrina cristã fora da Palestina para não ser preso e julgado pelo Sinédrio por crime de deserção. Fundou algumas igrejas. Moldou a suposta mensagem oral de Jesus à cultura farisaica. Estabeleceu preceitos e procedimentos formais e se distanciou dos ensinamentos mais simples atribuídos ao profeta. Assim, Paulo fundou a igreja paulina, qualificada indevidamente de cristã pelos padres.
Ao verter os evangelhos do grego para o latim e organizar o chamado Novo Testamento no século IV da era cristã (301 a 400), Jerônimo, sacerdote cristão, selecionou os textos atribuídos a Mateus e João e desprezou os demais alegando autenticidade duvidosa. Os evangelhos excluídos foram considerados apócrifos e incompatíveis com os dogmas que a igreja pretendia consolidar. Essa coletânea organizada por Jerônimo compõe-se de: (1) dois textos atribuídos a Mateus e João, apóstolos da primeira hora; (2) dois textos de Marcos e Lucas; ambos não conheceram Jesus; (3) narrativa feita por Lucas sobre os atos dos apóstolos posteriores à morte do profeta; (4) cartas ditadas pelos apóstolos, algumas escritas por Paulo de próprio punho; (5) texto profético denominado Apocalipse, atribuído a João. 
Esse material foi produzido mais de 60 anos após a crucificação do profeta e organizado mais de 300 anos depois, interregno suficiente para esquecer muitos fatos e inventar outros tantos. Os mitos surgem paulatinamente na fluência do tempo, mediante repetições e acréscimos constantes.  
Quando, a partir do século XVIII, a liberdade ampliou-se na Europa e na América, os mistérios que cercavam o “sagrado” foram se desvelando. A partir do século XX, houve uma pletora de livros, filmes, artigos, documentários, sobre temas religiosos e esotéricos que colocaram em xeque as versões exotéricas tradicionais. Com o propósito de sobreviver, instituições tradicionais defendem o seu credo ao mesmo tempo em que tentam se amoldar aos tempos modernos e, desse modo, manter o rebanho de crentes.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

FUTEBOL


No jogo amistoso contra a seleção do México, na arena do Palmeiras, em São Paulo (07/06/2015), a seleção brasileira de futebol masculino se apresentou de modo satisfatório e venceu (2 x 0). Esse bom desempenho ajuda a aumentar a confiança dos jogadores no seu potencial e da torcida na sua seleção. O primeiro gol da seleção brasileira contou com a habilidade e a inteligência de Coutinho. Todos imaginavam que o atacante, junto à linha de fundo, iria cruzar a bola para o centro da área. Ao se preparar para cortar o esperado passe, o goleiro abriu pequena brecha entre ele e a trave. Coutinho se aproveitou disto e chutou diretamente para o gol. O segundo gol resultou de excelente jogada coletiva dos brasileiros e do oportunismo de Tardelli que entrou na área surpreendendo a defesa. Durante a partida, Tardelli se movimentou entre a linha intermediária do campo e a área adversária, sem se fixar em determinada posição, o que dificultou a ação defensiva dos mexicanos. O modismo de “jogador referência” na área adversária é uma tolice. O treinador corrigiu a falha anterior e orientou o ataque pelos dois lados da quadra: esquerdo e direito, além do centro. Isto força a equipe adversária a espalhar os seus defensores e facilita a penetração dos atacantes brasileiros.  

Parafraseando o mestre Didi, amistoso é amistoso, campeonato é campeonato. O amistoso entre as seleções do Peru e do México exibiu um futebol mediano. Jogando contra a seleção brasileira, a mexicana melhorou o seu desempenho. Quando jogar com todos os seus titulares, provavelmente a mexicana terá um desempenho ainda melhor. A seleção brasileira apresentou-se com a alma coletiva que lhe faltava. Os jogadores estavam unidos e dispostos a vencer sem estrelismo individual. Na quadra não havia estrelas de primeira grandeza, felizmente. Os jogadores mostraram condições de atuar sem desequilíbrio emocional e técnico na hipótese de Neymar ficar fora de alguma partida. Fernandinho moderou a violência. David Luiz deve fazer o mesmo; controlar os nervos. Jefferson deve se manter aquecido e atento. A seleção ainda poderá contar com a experiência e a habilidade técnica de Robinho e a eficiência de Thiago Silva na zaga. O desastre germânico de 2014 certamente não se repetirá.

O treinador é um dos melhores do Brasil. O sucesso da seleção dependerá dos 11 jogadores em campo e não mais de um só. Até porque, Neymar ainda está longe do nível de Pelé, Garrincha, ou Romário, salvo para a imprensa tupiniquim sensacionalista e bajuladora, para o marketing empresarial e para alguns crédulos torcedores. Trata-se de um bom jogador, acima da média, que sabe driblar e fazer gols à semelhança do argentino Messi, outro produto das tramóias da FIFA para eleger “o melhor jogador do mundo”. Já foi dito aqui neste espaço: o melhor jogador do mundo é revelado a cada quatro anos após excelente atuação durante a copa do mundo. Reconhecimento pelo público e não pela FIFA. Tal excelência em copas do mundo nunca foi exibida por Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar. Neste sentido, por exemplo, mereciam o título de melhor jogador: o holandês Sneijder e o espanhol Iniesta, na copa de 2010; o holandês Robben e o alemão Kroos, na copa de 2014.     

Quando se iniciar a disputa pela Copa da América, agora em junho de 2015, veremos, sem as lentes alheias, a real situação técnica de todas as equipes, os esquemas táticos, o real desempenho de cada seleção, as habilidades de cada jogador. As especulações e suposições darão lugar à realidade e à certeza.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

DIÁLOGO II.



- Deixemos de lado as provincianas questões sobre o frontal e o retal e retomemos a nossa discussão. Acho que respondi ao teu questionamento sobre a maturidade das nações.
- Sim, Eduardo, embora me pareça inadequada a terminologia usada por você. Mas, deixe pra lá. Você ainda me deve a explicação sobre a nação brasileira não estar madura para a democracia. Você fala como se a nação estivesse madura para outras coisas como, por exemplo, os desafios econômicos e ecológicos. Você falou também no controle da sociedade civil pelo Estado, como se Estado e Sociedade fossem coisas diferentes.
- Há divergências acadêmicas: de um lado os que defendem a unidade: Estado = Sociedade; e de outro, os que defendem a distinção: Estado # Sociedade. Ferdinand Tönnies, o sociólogo alemão que citei antes do jogo, distingue comunidade e sociedade. A nação se encaixa na primeira, onde os membros estão vinculados mutuamente de maneira organizada e por vontade própria, enquanto na segunda, os membros estão divididos. Na comunidade há bens cuja posse e gozo são comuns; na sociedade há mercado, troca de dinheiro (e de balas, acrescento). Penso que a divisão no Estado é evidente: de um lado, os governantes com o monopólio da força, como diria o sociólogo alemão Max Weber, e de outro, os governados com o dever de submissão. Pairando sobre esses dois pólos há um sentimento coletivo de unidade nacional. Segundo a visão de mundo de cada pensador, o Estado é definido ora como organização do poder político na sociedade; ora como nação politicamente organizada; ora como aparelho de dominação de uma classe sobre outra na sociedade; e assim por diante. Quanto à imaturidade da nação brasileira para a democracia, os números falam por si. Dos 193 anos como nação independente, 113 anos foram de autocracia e 80 de democracia. O período democrático mais longo foi o de 1895 a 1930, interrompido pela revolução civil; o mais curto foi o de 1946 a 1963, interrompido pelo golpe civil/militar de 1964. No período de 1988 a 2015, a direita tenta golpear. Quanto ao preparo ou despreparo da nação brasileira para enfrentar outros desafios é assunto mais amplo e complexo para ser resumido numa conversa informal.    
- Pois então, vamos nos ocupar um pouquinho mais do aspecto político. Noto que durante a república os períodos democráticos foram mais longos do que os autocráticos, a indicar que a falta de maturidade não é da nação e sim de parcela do povo que derruba governos legítimos.
- Márcio, meu estimado hóspede e amigo, a parcela do povo que você menciona não é sempre a mesma; ora é verde, ora é azul, ora é vermelha, se me permite ilustrar o pensamento com essas cores. Considerado como um só corpo social, o povo nunca tomou a iniciativa das revoluções brasileiras. Eclodida a revolução, a comunidade nacional fica dividida em revolucionários, contra-revolucionários e espectadores neutros. A monarquia caiu por um golpe desferido pelos militares em 1889, para espanto das pessoas comuns. A ruptura da primeira república em 1930 resultou do confronto entre lideranças políticas. Os vícios no processo eleitoral foram o agente catalisador. A segunda república, constituída em 1946, foi golpeada em 1964 por lideranças civis e militares posicionadas ao lado dos EUA na guerra fria em defesa do sistema econômico capitalista. A ameaça comunista foi o agente catalisador. A terceira república, constituída em 1988, está ameaçada pela relação de ódio e intolerância entre lideranças políticas opostas. Destarte, consideradas as facções, verifica-se que a imaturidade é da nação, “sim senhor”.
- Pensando bem, Eduardo, você tem razão. Veja: se o povo fosse maduro, o voto seria um direito e não uma obrigação. Só a imaturidade e a falta de consciência política do povo justificam essa obrigatoriedade. O legislador constatou que seria mínimo o comparecimento às urnas se o voto fosse facultativo. Por outro lado, a virulenta reação dos vencidos no pleito eleitoral, o ódio ao vencedor, o ímpeto de destruí-lo, o boicote ao governo por mero despeito, indicam indigência moral e espiritual e ausência de espírito democrático.
- De fato, Márcio, além da pouca idade e da prática eleitoral desvirtuada, há outros ingredientes na falta de maturidade da nação brasileira, tais como: (1) educação deficiente e negligenciada; (2) licenciosidade dos costumes; (3) corrupção, esperteza malandra, mentalidade do jeitinho, a propina ao guarda ou ao fiscal para evitar a multa, as pequenas e freqüentes estocadas na lei; (4) caráter gelatinoso, amoralidade que inspirou Mário de Andrade a criar Macunaíma; (5) consciência política frágil, tradição oligárquica, domínio privado do bem público, nepotismo; (6) condescendência com as safadezas dos poderosos, comodismo; (7) mentalidade colonizada, imprensa a serviço do estrangeiro. Esses fatores mostram a imaturidade do povo brasileiro e justificam a frase cunhada por Charles de Gaulle: “O Brasil não é um país sério”.
- Poxa, Eduardo, os dedos das mãos foram poucos para você flexionar durante a enumeração dos ingredientes! Pelo que acaba de dizer, faltam atributos culturais, éticos e espirituais que qualificariam de madura a nação brasileira. Quando, no século XX, Pelé afirmou que “brasileiro não sabe votar”, caíram de pau em cima dele. No entanto, ele disse de forma sintética o que você disse agora de forma analítica. O eleitor brasileiro sabe ir à urna depositar o voto, mas não sabe escolher bons representantes. Há eleitor que troca o voto por dinheiro, por tênis, por quinquilharias e promessas de emprego. Os candidatos postos pelos partidos são, na maioria, desonestos, monturo da sociedade. O Congresso Nacional, as assembléias legislativas e as câmaras municipais estão repletos de pilantras que lá chegaram graças ao voto popular. A recente crônica policial do nosso país evidenciou essa triste e vergonhosa realidade.
- Realmente, Márcio, os partidos políticos são usinas de corrupção. O sistema eleitoral proporcional para escolha de deputados e vereadores pode ser interessante do ponto de vista acadêmico e ideológico, mas a sua aplicação entre nós tem sido uma desgraça! Na mesma eleição, candidato com 500 votos é eleito e candidato com 50 mil votos não é eleito! Suplente de senador, sem voto algum, assume o mandato! Como essas e outras distorções foram inseridas na ordem jurídica?
- Artifício do legislador, Eduardo, sob pretexto de garantir representação à minoria, como se a democracia não fosse o governo da maioria. O artificioso sistema eleitoral referido por você dá muita força às quadrilhas de bandidos e oportunistas acoitados nos partidos políticos. O voto devia ser majoritário também para eleição de deputados e vereadores, pois o eleitor brasileiro vota em pessoas naturais e não em partidos. Assim como o país tem senadores da direita, do centro e da esquerda do espectro político eleitos pelo voto majoritário, teríamos também deputados e vereadores da direita, do centro e da esquerda eleitos pelo voto majoritário. Quem exerce o mandato político é a pessoa natural e não a pessoa jurídica. A candidatura avulsa faz-se necessária a uma nação onde pessoas de bem que pretendam representar o povo são obrigadas a ingressar nessas pocilgas que são os partidos políticos. 
- As tuas palavras Márcio, evocam a imensa roubalheira nestes 27 anos de governo civil. Apesar disto, a república brasileira controlou a inflação, pagou a dívida com o FMI, ajudou outras nações e ainda se mantém solvente. Este é o verdadeiro milagre brasileiro! A honra, valor acalentado pelo militar, é considerada coisa de otário pelo político brasileiro e coisa de pouca valia pelo eleitor. A política partidária é muito suja em nosso país. Toda essa podridão moral e espiritual evidencia a imaturidade da qual falei. 
- Sei não, Eduardo. A podridão moral me parece mais acentuada nas camadas média e alta da sociedade. Isto vem atestado pelos escândalos financeiros e pelo baixo nível das manifestações nas ruas, nas redes sociais, nas emissoras de TV. Quanto ao aspecto espiritual, prefiro falar de atraso e não de podridão. Espiritualmente, a humanidade está na Idade da Pedra. 
- Rapaziada! O jantar está servido.
- “Rapaziada”? Dois velhos como nós? A Leonora está de brincadeira!
- Ainda não somos velhos, Eduardo. O nosso caminhar está um pouco lento, sentimos dores nas juntas, enxergamos e ouvimos com alguma dificuldade, a voz enfraqueceu, a gula aumentou, o apetite sexual e a paciência diminuíram, a farmácia é nossa parceira, repetimos contos, às vezes há um hiato entre o pensamento e a palavra, mas, apesar disto, ainda não chegamos à casa dos 90 anos de idade. Portanto, somos apenas homens maduros.
- A valer essa tua otimista expectativa, meu prezado e maduro amigo, ainda dispomos de algum tempo antes de nos desprendermos da árvore da vida. Então, vamos alimentar a carcaça, pois conforme o ditado popular, saco vazio não para em pé.