EUROPA (1000 a 1600).
Este período da
civilização européia testemunhou notável avanço cultural se comparado aos
anteriores séculos da Idade Média. O humanismo adquire cores fortes. O ser
humano é visto como a criatura mais importante do universo. A ênfase da
atividade cultural cai sobre as coisas do mundo terreno. Esse rico período da
história européia caracteriza-se pelo feudalismo, vida de aventura e de
conquistas materiais e amorosas, disputa entre o poder civil e o poder da
igreja, monarquia nacional, economia rural e urbana, vigorosa produção
artística e intelectual. A sociedade européia desse período compõe-se das
seguintes camadas: realeza, nobreza civil e eclesiástica, comerciantes,
artesãos, trabalhadores rurais e urbanos. As obras filosóficas, artísticas e
literárias da Grécia e de Roma passam a ser reverenciadas e o direito romano a
ser aplicado em concomitância com o direito germano. Os cristãos europeus
buscam ambiente propício ao seu desenvolvimento social e econômico. Para esta mudança
de mentalidade influíram: a civilização bizantina, a civilização sarracena, as
invasões nórdicas, a utilização da imprensa e a educação ministrada nas
universidades.
A fundação de
universidades representa o fato educacional marcante da Idade Média. A
universidade era uma corporação organizada para preparar e licenciar
professores. Depois, funcionou como concentração de faculdades para o ensino de
ciências e artes. As universidades mais antigas são as de Salerno (século X),
Bolonha e Paris (século XII). Seguiram-se as de Oxford, Cambridge, Montpellier,
Salamanca, Roma e Nápoles. No final do século XIV, a Alemanha criou as
universidades de Praga, Viena, Heidelberg e Colônia. A universidade de Bolonha
serviu de padrão para as universidades do sul da Europa e a universidade de
Paris serviu de padrão para as universidades do norte. O grau de bacharel
obtinha-se após 4 ou 5 anos de estudos no trivium
(gramática, retórica e lógica). O grau de mestre exigia mais 3 ou 4 anos de
estudos no quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música). Obtinha-se o grau de doutor com a idade mínima
de 35 anos e após 4 ou 5 anos de estudos especializados (teologia, direito,
medicina). Os graus de mestre e doutor eram títulos da docência. Doutor em medicina era o professor e não
o médico. Tal como hoje, havia estudantes irreverentes, radicais e heréticos. O
tipo de estudante vadio e frívolo contrastava com o tipo estudioso e sincero.
Os docentes religiosos formulavam a seguinte crítica: O jovem procura a teologia em Paris, o direito em Bolonha e a medicina
em Montpellier, mas em nenhum lugar, uma vida que agrade a Deus. Ao grupo
boêmio de estudantes atribui-se a poesia dos goliardos. Diziam-se discípulos do
poeta Golias, cuja existência real é duvidosa. O mais certo é tratar-se de uma
ficção zombeteira criada pelos estudantes. Os versos brincalhões e satíricos,
paródias do credo e da missa, imitavam burlescamente os evangelhos. Na
literatura, as línguas nacionais francesa, alemã, espanhola, inglesa e italiana
substituíram o latim. Até o começo do século XII, quase toda a literatura era
do gênero épico tal como a Canção de
Rolando e o Poema do Cid e
refletia uma sociedade viril em que o heroísmo, a honra e a lealdade eram os
temas constantes.
A sociedade feudal atinge
o auge nos séculos XII e XIII. A literatura volta-se para a cavalaria, com as
suas características de glorificação da mulher amada, exaltação da bondade, da
honra, da lealdade, da bravura e do refinamento de maneiras. Trovadores da
região da Provença (sul da França) faziam os versos enaltecedores do amor e das
aventuras dos cavaleiros. Os trovadores também criavam sátiras mordazes da
rapacidade e hipocrisia do clero. Os ideais da aristocracia feudal estavam
presentes na lenda de um celta chamado Artur que lutara contra os invasores da
Britânia. A literatura alemã brindou a posteridade com a lenda de Parsifal e com a história de Tristão e Isolda. Tal qual a obra dos
trovadores, estes romances glorificavam a aventura, a honra, a bravura, a
fidelidade, as boas maneiras, a proteção do fraco, o socorro aos necessitados.
Além de outras lições, ensinavam que o seguro caminho para a sabedoria é a
experiência variada e profunda; que amar é sofrer; que o sofrimento e a morte
são capítulos do livro da vida. Para uns, a força redentora do amor unia esposo
e esposa; para outros, o verdadeiro amor unia o cavaleiro à sua amante e jamais
o esposo à esposa.
Os mercadores e artesãos
das cidades alcançaram posição de poder e influência igual ou maior do que a
dos nobres feudais. Surge, então, literatura ao gosto desses burgueses
(moradores urbanos) como o romance Aucassin
et Nicolette: jovem nobre apaixona-se por jovem escrava sarracena e luta
contra os preconceitos e obstáculos colocados entre os dois enamorados. Havia
literatura para divertir denominada fabliaux,
textos com indecências ridicularizando a cavalaria e o espírito religioso. Qualificam-se
como obras primas desse período: Romance
da Rosa e Divina Comédia. O
“Romance da Rosa” foi escrito em duas partes: a primeira por Guilherme de
Lorris, em 1230, a
espelhar o espírito romântico e místico da cavalaria; a segunda por João de
Meun, em 1265, penetrada por espírito satírico, burguês, elogio à razão e
deboche da fé cristã. A “Divina Comédia” foi escrita por um cidadão de Florença
(Itália) chamado Dante Alighieri (1265 a 1321). Narra lutas, tentações e redenção
final da alma. O livro é um repositório da cultura medieval, síntese da
filosofia, da ciência, da religião e dos ideais da época. A salvação da
humanidade pela razão e pela graça divina é o tema dominante. Concebe o
universo como finito tendo como centro a Terra onde tudo existe para servir ao
homem. Tudo se explica em razão do esquema divino de paz, justiça e salvação. O
homem possui livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal. A traição é o
pior dos pecados. No citado livro, Dante coloca pagãos e papas no inferno. Ele
usou a língua nacional (italiana) que se torna instrumento literário
concorrendo com o latim (língua franca da época). Na França, Alemanha e
Inglaterra os escritores também passam a utilizar a língua vulgar (nacional) em
paralelo com a língua dos eruditos (latim).
Havia uma geral preocupação com a unidade: (1) o
universo é concebido como um só e tudo que nele existe destina-se ao bem do
homem; (2) o conhecimento é uma totalidade dominada pela lógica, chave da
sabedoria; (3) a filosofia, a religião e a política formam um só conjunto; (4)
as atividades humanas especializadas estão ligadas ao gênero comum; (5) a escultura
e a pintura estão subordinadas à arquitetura. O românico e o gótico eram os estilos
arquitetônicos da época. Cidades e arquitetos competem na construção das
catedrais que, além de templo, eram escolas, bibliotecas e locais de reunião da
comunidade. A evolução da música medieval começa com o cantochão cuja criação atribui-se ao Papa Gregório; melodia
simples, sem acompanhamento, cantada por um solista ou um coro em uníssono. Havia
cantigas das tavernas, cantos populares e cantos dos trovadores.