quinta-feira, 30 de julho de 2020

A ESTRUMEIRA DA REPÚBLICA

Trabalho é movimento, alicerce da arquitetura racional juntamente com o tempo e o espaço. Nas relações humanas, há trabalho físico e mental. O indivíduo trabalha para: [i] sustento próprio e da família [ii] produzir e adquirir bens, riqueza, conforto, prestígio e segurança [iii] manter e preservar a sociedade e o estado [iv] criar cultura (arte, ciência, filosofia, religião, misticismo).
Refletindo sobre o trabalho humano, Sieyès, abade e político francês do século XVIII (1701-1800), elaborou a doutrina da soberania e do poder constituinte do povo. Repercutiu no mundo civilizado. O abade viu no povo o verdadeiro construtor e mantenedor da sociedade, qualificou de iníquos os privilégios do clero e da nobreza, afirmou ser do povo o direito de elaborar a lei fundamental do estado (Constituição) e caber ao governo apenas o poder constituído (limitado pela Constituição). Essa doutrina foi um dos pilares da revolução francesa que trasladou o poder soberano do monarca para o povo (1789). Instaurou-se o império da liberdade. Saíu favorecida a parcela do povo dona do capital (“burguesia”). A elite econômica e a elite intelectual passaram a ditar as regras do jogo político através das suas obras e dos seus representantes nas assembleias constituintes, nas assembleias legislativas, nas chefias de governo e nos tribunais de justiça.
A revolução russa, seguindo a doutrina marxista e o enxerto leninista, mudou esse esquema (1917). Instaurou o império da igualdade. Saíu favorecida a parcela do povo dona da força de trabalho (“proletariado”). Ao estado russo foram agregados outros estados do Leste Europeu. Disto resultou a Constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS/1929). A elite revolucionária socialista se proclama legítima representante do proletariado e passa a ditar as regras do jogo político visando a implantar o comunismo. A URSS implodiu sem ter alcançado esse objetivo (1989 - 1991). O estado russo manteve a sua nau no oceano socialista, mas adotou algumas práticas capitalistas simpáticas aos empresários e aos jovens e antipáticas aos conservadores. O mesmo ocorreu na China: ajuste na política econômica diante das mudanças no cenário internacional. Alguns países europeus perseveram na democracia social e resistem ao liberalismo econômico renascido nos EUA (2016 - 2020).
O atual governo brasileiro aderiu ao liberalismo econômico e à política do governo dos EUA para a América Latina. Parte da nação brasileira discorda do governo. Desde 1930 até hoje, o nazismo alemão e o fascismo italiano marcam presença no governo brasileiro e em considerável parcela da população. 57 milhões de eleitores votaram no candidato da extrema direita em 2018! Aqui não se trata de xingamento, de uso pejorativo da nomenclatura, mas sim de um nazifascismo real, expresso nas ideias e nas ações dos seus adeptos, entre os quais se encontram membros do Legislativo, do Executivo e do Judiciário. 
Os parlamentares nazifascistas – a começar pelo presidente da Câmara dos Deputados com suas desculpas esfarrapadas e sua omissão intencional, ilegal e criminosa – boicotam os pedidos de impeachment apresentados contra o Presidente da República. No Congresso Nacional (Câmara + Senado) não há parlamentar pobre; a maioria é de ricos; a minoria é de remediados. Quem, por 4 ou 8 anos, recebe subsídios e penduricalhos como parlamentar não entra na classe dos pobres, ainda que dela seja originário. O mesmo se diga de quem frauda o auxílio-combustível e, quando na presidência da república, excede-se nos gastos com cartão corporativo sem controle do tribunal de contas (o que é inadmissível numa república).  
Os ministros do supremo tribunal, todos bem remunerados, impedem o líder petista de concorrer a cargo eletivo. Endossam tacitamente sentenças condenatórias abusivas, proferidas sem lastro em prova idônea, por juízes nazifascistas parciais, suspeitos e politicamente engajados, de Curitiba, Porto Alegre e Brasília. O ministro Gilmar, tucano roxo, protela, com esfarrapada desculpa da pandemia, o julgamento da ação que versa a suspeição do parcial e imoral juiz de Curitiba (tucano como o pai dele) que proferiu a infame sentença condenatória. Com essa protelação, Gilmar pretende manter o líder petista sem direitos políticos até as eleições de 2022, inclusive. Em ocasião anterior, Gilmar já havia prejudicado o petista ao invadir, mediante abusiva e inconstitucional decisão monocrática, a competência privativa do Presidente da República para nomear seus auxiliares.
O ministro Toffoli, discípulo de Gilmar, sem a inteligência e a cultura do seu mestre, escorrega na gramática e no direito. Em recente decisão monocrática, ao anular a eleição dos membros da comissão especial no processo de impeachment do governador fluminense, Toffoli não percebeu a diferença entre o modelo bicameral do legislativo federal e o modelo unicameral do legislativo estadual. Celso de Mello mantém-se na direita, antipetista empedernido, tal como Carmen Lúcia e demais ministros, salvo Lewandowski. Os ministros Fux (carioca) e Barroso (fluminense) simpatizantes da empresa jornalística Globo, manifestaram apoio ao parcial e imoral juiz Moro e à fraudulenta operação lava-jato de Curitiba. O ministro Fachin (sulista), apesar do olhar e da fisionomia nazistas, enganou os petistas até obter o cargo no supremo tribunal. Depois, mostrou o seu caráter verdadeiro. O ministro Moraes, leal aos políticos paulistanos da direita moderada, coloca o seu talento a serviço dessa grei. Marco Aurélio e Rosa Weber atuam mais como soberanos juízes togados e menos como ministros. [Minister = minis = menos do que = alguém subordinado a outrem mais qualificado ou de superior autoridade].     
Na horta aqui de casa, uso estrume para adubar a terra e plantar verduras e legumes, sem agrotóxico. Nem todo estrume serve para adubar. O melhor é o de vaca. O de galinha deixa um cheiro insuportável. O de cavalo e o de burro são imprestáveis. Enquanto cuidava da pequena horta, eu comecei a pensar no alto escalão da república. Se houver estrume adequado para adubar o plantio de ideias, sentimentos, propósitos, projetos e decisões de alto nível intelectual e moral, certamente o povo terá boas respostas dos parlamentares, dos chefes de governo, dos ministros e dos magistrados, afinadas com a Constituição, com a democracia, com o bem comum, com os bons costumes, com os interesses da nação brasileira. Se o estrume for inadequado, vai cheirar mal, as respostas serão enganosas, imorais, injustas e se refletirão nos escalões subalternos. Ter-se-á, nesta hipótese, uma república adubada com estrume de má qualidade.     

quarta-feira, 22 de julho de 2020

CLASSES EM LUTA

Na conversa durante recente almoço em família, entre outros assuntos, entrou o da luta de classes. O tema foi provocado por minha filha Gabriela (1975...) mulher inteligente, culta, laboriosa (e bonita), candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ao cargo de Prefeito Municipal de Resende/RJ. Portanto, natural que o assunto viesse à baila. Involuntariamente, escandalizei a confraria com a minha opinião negativista. Colocaram-se contra a minha opinião: Gabi e Evandro, meu filho mais velho (1972...), advogado, mestre em ciências jurídicas pela UFRJ. Minha esposa, minha nora e meu genro se mantiveram equidistantes. Inspirado nesse episódio e sem o clima polêmico que o cercou, resolvi escrever o presente artigo. 
Tanto na vida tribal como na vida civilizada sempre houve diversidade de ideias, de interesses, de sentimentos e de posições hierárquicas no meio social. Esse fato histórico recebeu tratamento ideológico através da teoria marxista lastreada na realidade social e econômica da Europa do século XIX (1801-1900). As relações econômicas entre o capital e o trabalho, realçadas pela nascente industrialização, serviram de substrato fático à teoria. Entretanto, a atual realidade social e econômica da Europa e da América está diferente. Após os estudos de Carlos Marx (1818-1883), genial filósofo prussiano, o corpo social europeu cresceu, vivenciou duas guerras mundiais (1914/1918 + 1939/1945), diversificou-se técnica e cientificamente. Hoje, falar em luta de classes soa como anacronismo. A roupa ideológica usada no corpo social de 1820 não cabe no corpo social de 2020, tal como a roupa da infância não cabe no adolescente. 
Classificar por semelhança e diferença é operação da inteligência humana tanto na observação vulgar das coisas quanto na investigação científica e filosófica. Significa reunir e arrumar racionalmente coisas da natureza, da sociedade e do estado para fins cognitivos. Carlos Lineu (1707-1778), naturalista e médico sueco, considerado pai da taxonomia, criador da classificação científica num encadeamento lógico partindo do geral ao particular, segundo semelhanças estruturais e funcionais, assim hierarquizou os seres vivos: vida, domínio, reino, filo (animais), divisão (plantas), classe, ordem, família, gênero, espécie. Quando o objeto da observação e da investigação for o organismo social, a classificação, por implicar a conduta humana, será precária ante as frequentes mudanças - no tempo, no espaço e nas causss - geradas  pela vontade, pelo sentimento, pelo interesse, pela utilidade ou pela necessidade dos humanos. Na busca de soluções para problemas existenciais misturam-se a ânsia de poder, a curiosidade de saber, a sede de justiça, o propósito de bem-estar, o desejo de paz e a esperança de felicidade.  
Classe supõe base empírica constituída de coisas, de pessoas, de ideias, reunidas por características comuns que lhes conferem certa identidade ou certo parentesco. Daí falar-se, na esfera social, de elite contraposta à massa popular. Elite econômica formada pelos grupos dos banqueiros, dos industriais, dos comerciantes, dos latifundiários. Elite intelectual composta pelos grupos dos escritores, dos professores, dos estudantes, dos jornalistas, dos artistas, dos cientistas, dos filósofos. Elite política formada por líderes partidários, parlamentares, chefes de governo, ministros, magistradosElite religiosa integrada pelos membros da superior hierarquia das igrejas e das instituições místicas. Massa popular constituída pelos grupos das pessoas pobres, das remediadas, dos pequenos comerciantes, dos trabalhadores urbanos e rurais. Os indivíduos pertencentes a esses grupos podem ser incluídos em diferentes classes, ordens ou famílias, segundo o critério classificador: [i] social (alta, média, baixa) [ii] ideal (ideias concretas, ideias abstratas) [iii] política (centro, direita, esquerda) [iv] administrativa (executivos, auxiliares, funcionários) [v] jurídica (advogados, procuradores, magistrados) [vi] econômica (empresários, comerciários, industriários). 
Consciência de classe inexiste nos seres vivos. A vida, a estrutura e o funcionamento dos vegetais e dos animais independem da taxonomia criada pela inteligência humana. No que concerne aos animais racionais, a consciência de pertencer a uma classe, a uma ordem, ou a uma família cultural, advém do trabalho dos cientistas, filósofos e líderes. Esse tipo de consciência não é natural e sim artificial, produto ideológico. Incorporada à mentalidade do indivíduo, a ideologia da classe passa a guiar os seus passos, a governar a sua vontade. A liberdade do eu individual fica submetida ao determinismo e ao nivelamento do eu coletivo. Os ditames da consciência coletiva condicionam a consciência individual. Disciplinado, o indivíduo deixa de contestar, divergir, ou de criticar os mandamentos e propósitos ditados pelas lideranças. Isto acontece quando o indivíduo “veste a camisa” do clube, da empresa, da igreja, da ordem, do partido, do grupo, da tribo ou da nação a que pertence. A pessoa pode pertencer a dois ou mais grupos e a duas ou mais classes, tanto ao mesmo tempo como sucessivamente. As diferentes condições físicas, intelectuais, morais, profissionais, patrimoniais e doutrinais determinam a classe, a ordem, a família cultural, nas quais o indivíduo pode ser enquadrado. O sentimento de pertencer a alguma clásse não é geral. Há quem zele por seu individualismo, quem não aceita ser classista, quem se nega: (i) a abdicar da sua liberdade em favor de um estatuto (ii) a sacrificar direitos em prol da coletividade. De modo ocasional, as diferenças provocam conflitos. Embora os integrantes de classes diferentes convivam pacificamente, há sempre a probabilidade do desacordo. Atualmente, nos tribunais de justiça dos estados europeus e americanos funcionam juízes de direita e de esquerda jungidos à Constituição.   
Onde vigoram a supremacia da Constituição e a primazia da Lei, cada classe defende os seus direitos e interesses nas assembleias constituintes, nos parlamentos e nos tribunais, se não houver solução consensual direta ou mediante arbitragem. No Ocidente, até o século XVIII (1701-1800), o poder de ditar regras e de julgar era reservado à realeza e à nobreza (sacerdotal e profana). Depois das revoluções francesa e norte-americana, esse poder passou para os donos do capital. Nos séculos XX e XXI (1901 a 2020), estimulados por lideranças esclarecidas, os donos da força de trabalho tomaram consciência do seu valor social e econômico. Diante da cruel exploração de que foram vítimas e do desamparo a que foram lançados na era da industrialização, os operários passaram a reivindicar direitos, inclusive de representação no parlamento, de organização em sindicato, de greve, de remuneração digna e suficiente ao sustento próprio e da família. Outras categorias profissionais seguiram a trilha aberta pelos operários. Direitos trabalhistas foram incorporados à ordem jurídica de países europeus e americanos. Mais de 180 estados filiados à Organização das Nações Unidas aderiram aos princípios e regras sobre trabalho e justiça social estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho. No século XX (1901-2000), na Rússia, México, Itália, Alemanha, China, Cuba, camponeses, operários, trabalhadores de diferentes categorias, desempregados, lideranças sociais, morais, intelectuais, religiosas, promoveram revoluções e assumiram o governo do estado.  



quarta-feira, 15 de julho de 2020

OLAVISMO

Ocasionalmente usado nos meios de comunicação, o termo “olavismo” significa o conjunto das ideias e das ações defendidas por Olavo de Carvalho, brasileiro, nascido em Campinas/SP/1947, jornalista, escritor, astrólogo, domiciliado desde 2005 no condado de Richmond, estado de Virginia/EUA. Além de alguns livros, o citado jornalista publicou artigos em jornais e revistas, a maioria deles no Diário do Comércio, o restante no Digesto Econômico, Época, Folha de Londrina, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Zero Hora. Reuniu 193 desses artigos numa coletânea organizada por seu discípulo Felipe Moura Brasil intitulada “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Idiota” (Rio de Janeiro, Record, 2014, 615 páginas). Nos artigos selecionados, o autor usa muito a palavra “idiota”, cuja origem grega menciona. O olavismo é o eixo ideológico da política do atual presidente do Brasil, inclusive em matéria de educação, saúde, ciência, direitos dos trabalhadores e das minorias. 
Nas suas gravações audiovisuais, esse jornalista também usa expressões chulas e ofensivas. Sem formação acadêmica, autodidata, ele aparece na campanha presidencial de 2018 como guru do candidato da extrema direita. Discípulos civis, militares e evangélicos desse guru passaram a integrar o novo governo de feição nazifascista aderindo, ipso facto, à nova política, inclusive à de cunho genocida adotada diante da pandemia provocada pelo coronavirus
Os textos selecionados passam a impressão de que o autor escreve com o cérebro e pensa com o fígado. No seu repertório de palavras, transparecem ressentimento e mágoa ante o não reconhecimento do seu valor pela comunidade científica, acadêmica e intelectual do Brasil. Coloca abaixo dele todos os jornalistas, escritores, professores, cientistas, filósofos e políticos do Brasil. A todos denigre e lança na vala comum dos cegos, ignorantes e incapazes. Radicalmente contra o comunismo e o socialismo, a sua crítica feroz e de baixo calão estende-se aos governos de esquerda em geral. Aborda os mais diferentes assuntos com foco na realidade brasileira: juventude, educação, cultura, linguagem, moral, religião, loucura, ciência, política, economia. Revela animosidade doentia em relação a tudo que contraria a sua doutrina conservadora. Estimula o ódio e prega a extinção física dos esquerdistas. No entanto, a crítica mordaz aos esquerdistas aplica-se, ipsis litteris, aos políticos da direita e a ele próprio. Exagera na boa qualificação da direita e na desqualificação da esquerda, bem como, nas quantificações sem base em pesquisas idôneas. Rotula de comunista quem dele diverge. Tal e qual ao jornalista italiano Benito Mussolini, também ele, jornalista brasileiro, na sua empírica formação política, partiu da extrema esquerda e aportou na extrema direita. 
Da apresentação da coletânea, consta ser, o autor, professor de filosofia nos EUA e organizador de cursos e palestras. Nos textos, o autor informa que ensina para empresários. Certamente, ele não é professor universitário. Todavia, mesmo sem título acadêmico, nada impede a pessoa de ser escritor, astrólogo, jornalista e/ou filósofo. A fim de valorizar os seus escritos, o autor da coletânea cita filósofos antigos e modernos de grande aceitação no mundo ocidental. Desanda vitupérios sobre alguns deles. Invoca a religião católica, os filósofos da patrística e o esoterismo oriental. Ataca o ensino, os professores e os alunos brasileiros. Qualifica de precária a inteligência dos brasileiros, afirma a decadência da produção literária, das teses universitárias, dos comentários de jornal, da opinião das autoridades e das discussões públicas. Acusa o vazio das ideias na seara cultural, a estupidez dos raciocínios, a miséria da linguagem e a incapacidade para distinguir entre o essencial e o acessório, o decisivo e o irrelevante. 
O autor da mencionada coletânea coloca no elenco dos problemas brasileiros (junho/2011): a destruição completa da cultura, a ausência de educação, o consumo de drogas, os assassinatos (40 a 50 mil por ano), a falta de mão de obra qualificada de nível superior, a monstruosa dívida pública, a impossibilidade de concorrência democrática tendo em vista a direita estar unida com a esquerda, a debilitação alarmante da soberania nacional. No seu entender, a causa dessa decadência reside na geração de falsos intelectuais morbidamente presunçosos que hoje dominam tudo: o sistema educacional, os partidos políticos, a burocracia estatal, “o diabo” (suponho que nesta expressão ele inclui a imprensa). A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil. Intitula-se último sobrevivente da alta cultura que poderia salvar o Brasil da favelização intelectual, missão que caberia à classe acadêmica se não fosse decadente. Diz que a ele cabe ensinar os brasileiros a verem as coisas como elas são realmente. Verifica-se da sua autoglorificação que a "autoadoração abjeta" que ele atribui à elite intelectual brasileira aplica-se a ele próprio. 
Na opinião desse jornalista, o traço característico da classe intelectual do Brasil nos últimos 30 anos (1978/2008) tem sido o espírito de solidariedade grupal mafiosa, coeso, ciumento, impenetrável. Aponta como fatores desse fenômeno: (i) fusão indissolúvel do ofício intelectual com a militância partidária esquerdista (ii) intimidade promíscua da imprensa com a universidade o que gera ascensão dos professores esquerdistas (iii) secreta consciência que a classe intelectual tem da sua própria inépcia. “A mediocridade é apenas um padrão estatístico distribuído anonimamente na multidão”. O autor da coletânea se diz salvador daqueles que não conseguem enxergar o mundo tão bem quanto ele enxerga. Lamenta que não compreendam a sua mensagem. Opõe-se à homossexualidade e nega a autonomia, no Brasil, das culturas negra e indígena. Considera legítimo o golpe militar de 1964. Longe de se caracterizar pela crueldade repressiva, a resposta militar (aos terroristas da esquerda) se destacou pela brandura de sua conduta e pela sua habilidade de contornar com o mínimo de violência uma das situações mais explosivas já verificadas na história deste continente. Cita a mortandade bem maior em Cuba, na Rússia, na China e também nos países da América Latina em que houve golpe de estado desferido pela direita. 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

VIAGEM


Andorinha voa para o Sul
Olho o seu garbo da janela
Asas no límpido céu azul
Levam o meu sonho a ela

quarta-feira, 8 de julho de 2020

O VIRUS E O PRESIDENTE


O presidente da república veio a público todo faceiro para informar o resultado positivo do seu teste relativo ao contágio do coronavirus. Podemos duvidar da seriedade do anúncio se, além da faceirice, considerarmos que (i) a mentira ocupa lugar de destaque no palácio do planalto (ii) o governo se esforça para minimizar a pandemia, enaltecer o valor terapêutico da cloroquina e desmoralizar a ciência médica.
Entra nesta cogitação, o provável objetivo do presidente de mostrar ao público nacional e internacional que (i) ele e a sua equipe estão com a verdade (ii) a cloroquina cura a moléstia provocada pelo vírus (iii) a despesa com aquisição desse produto é necessária. Na execução desse objetivo, o presidente obtém falso resultado do teste, diz estar se tratando com o dito remédio e depois de algumas semanas afirmará estar curado.
Na atual conjuntura política, essa versão é perfeitamente possível. Tal qual garoto-propaganda, o presidente aparece em vídeo dizendo que está tomando a terceira dose da hidroxicloroquina e que a sua saúde está melhorando. Os médicos afirmam que o mínimo para um resultado confiável é de 7 dias. Para o presidente bastaram 3 dias. Remédio milagroso. Será que o presidente ganha comissão na venda desse produto? Será remunerado pela propaganda?
Não se afasta a hipótese de o presidente ser hospedeiro do vírus desde que retornou da sua visita ao presidente dos EUA. De lá para cá, foi possível testemunhar a manipulação dos testes. A pandemia está sendo tratada politicamente, inclusive nos meios de comunicação. Segundo os jornalistas amestrados, torcer pela morte de Luiz Inácio era admissível, mas torcer pela morte de Jair Bolsonaro é inadmissível! Na verdade, torcer pela morte de alguém, sem piedoso e sincero intuito misericordioso, caracteriza deficiência de caráter, deplorável manifestação de ódio, ausência de espírito fraterno, seja do pessoal da esquerda, seja do pessoal da direita.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

A ÉTICA E O PT

Nesta data, 02 de julho de 1990, Luiz Inácio Lula da Silva, aos 44 anos de idade, fundava o Foro de São Paulo, entidade socialista internacional que reúne periodicamente lideranças de vários países. Dez anos antes, 10 de fevereiro de 1980, aos 34 anos de idade, Luiz Inácio havia fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), juntamente com outros companheiros que assinaram o Manifesto do Colégio Sion.
Verifica-se que, desde o nascimento, a espinha dorsal do PT são os princípios éticos sintonizados com o socialismo, a república e a democracia. Tais princípios iluminam o código de ética aprovado pelo diretório nacional em 2009 e os estatutos alterados em 2015. Nota-se, nesses atos normativos, o rigor que exigem dos filiados no cumprimento das regras éticas, inclusive aos que exercem funções no legislativo e no executivo em níveis federal, estadual e municipal. 
Com os olhos postos nessa legislação partidária interna, elaborada em consonância e simetria com a legislação eleitoral externa, compreende-se melhor o choro convulsivo de Luiz Inácio, então presidente da república, quando foi informado por Bob Filho de Jeffer, sobre a participação de petistas no escândalo conhecido como “mensalão”. O golpe foi desferido na espinha dorsal do PT e doeu profundamente no coração do fundador. A fé que Luiz Inácio depositava na idoneidade moral dos seus companheiros era muito grande. "Quanto mais alto o pinheiro, maior é o tombo" (ditado paranaense). 
O então presidente da república não teria ficado tão decepcionado se tivesse considerado a natureza bipolar dos humanos. Sendo ou não sendo políticos, religiosos, funcionários, operários, agricultores, empresários, ricos, pobres, técnicos, artistas, cientistas, filósofos, todos somos humanos, espirituais e angelicais de um lado, materiais e demoníacos de outro, sujeitos às leis da natureza, da sociedade e do estado. No cenário moral e jurídico da sociedade e do estado, nossa conduta ora é angelical, ora demoníaca.
“Tu és pó e em pó te hás de tornar”. [Gênesis 3:19]. “Em a natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. [Lavoisier]. 
Segundo essa dinâmica, no decurso do tempo, há mudanças em nosso corpo físico e também no corpo social. Do ponto de vista ético, no organismo social a que pertencemos, a nossa conduta pode variar do bem para o mal (degeneração) e do mal para o bem (regeneração). Essa conduta pode nos tornar merecedores de aprovação ou de reprovação. No PT, assim como em qualquer outro partido político, há membros que obedecem às normas e há os desobedientes. A estes, quando descobertos e apurados os ilícitos no devido processo, aplicam-se as sanções previstas nos estatutos e no código de ética. 
Geralmente, os efeitos sociais da má conduta de alguns integrantes atingem o partido político como um todo. Os adversários se aproveitam para atacar como se todos os membros do grupo fossem desonestos e mentirosos. O mau caráter de Fernando Henrique, José Serra, Aécio Neves, Aloísio Nunes e outros, por exemplo, talvez não tenha afetado tucanos decentes, porém, abalou o partido. 
A perseguição aos petistas foi implacável. Os perseguidores, derrotados nas eleições de 2014, destituíram do cargo a presidente eleita sem que ela tivesse praticado crime algum. Além disto, criaram artificialmente delitos não praticados por Luiz Inácio, atribuindo-lhe propriedade de apartamento e de sítio que nunca lhe pertenceram. Com o apoio da justiça federal (delegados + procuradores + magistrados), de suposições e convicções sem respaldo na realidade, armaram o circo, condenaram o petista e lhe roubaram o ensejo de disputar cargos eletivos. Insatisfeitos, perseguiram a sua esposa, os seus filhos e congelaram o seu patrimônio. Tudo fizeram sob orientação e com o apoio do governo dos EUA. 
Decorridos poucos anos da safadeza praticada pelos perseguidores, a cósmica lei do carma começa a exibir sua justiça. Os artifícios ilegais e imorais dos delegados, procuradores e magistrados que atuaram na operação lava-jato de Curitiba vieram à tona, tornaram-se públicos e alvos de investigação. Agora são eles, os então arautos da moralidade, da lei e da ordem, que devem prestar contas à nação brasileira e à comunidade internacional. Agora também estão sendo revelados e apurados os ilícitos praticados pela família nazifascista que ocupa a presidência da república e que tanto apedreja a esquerda. 
“O tempo é o senhor da razão”. Nada como o tempo para trazer à luz do dia as infâmias do obscuro passado.