sábado, 27 de abril de 2024

DEUS - II

 DEUS não é o começo o meio nem o fim 

DEUS não é o átomo a molécula nem a célula 

DEUS não é o planeta a galáxia nem o universo

DEUS não é o sol a lua nem a constelação

DEUS não é o mar o rio o lago nem a cachoeira

DEUS não é o seixo a rocha nem a montanha

DEUS não é o ar o vento a brisa nem a nuvem

DEUS não é o raio o trovão nem a tempestade

DEUS não é o fogo a brasa nem o vulcão

DEUS não é a semente a flor nem a árvore

DEUS não é o boi a baleia nem a águia

DEUS não é a criança a mulher nem o homem

DEUS não é a matéria nem a forma

DEUS é alma cósmica.


sábado, 20 de abril de 2024

DEUS - I

DEUS não nasceu nem morreu

DEUS não tem cérebro, coração e sexo  

DEUS não tem fé, razão, opinião e dúvida

DEUS não legisla para a sociedade e o estado 

DEUS não celebra pactos com humanos 

DEUS não conversa com humanos

DEUS não é verdadeiro nem falso

DEUS não é justo nem arbitrário

DEUS não absolve nem condena

DEUS não premia nem castiga 

DEUS não sente amor nem ódio

DEUS não sente felicidade nem dor

DEUS não sente alegria nem tristeza

DEUS é inteligência cósmica.   


sábado, 13 de abril de 2024

FUTEBOL III

09/04/2024. Madri. Estádio Santiago Bernabéu. Champions League. Real Madri x Manchester City (3x3). Encontro de dois treinadores de prestígio internacional: Carlo Ancelotti e José (Pepe) Guardiola. O empate indica a paridade de forças entre as equipes por eles comandadas. Da equipe inglesa, Erling Haaland, considerado gênio lá na Europa, no jogo retromencionado não se mostrou à altura da fama. Aqui na América do Sul, temos dúzias de Haalandes. A fama desse jogador decorre da sua função e do seu posicionamento dentro do campo: finalizador parasita posicionado na área adversária para ser municiado pelos companheiros. Isto lhe possibilita fazer gols com alguma facilidade. Se, de um lado, a ele rendeu fama, de outro, o episódio evidenciou, mais uma vez, o fato de nem todo goleador ser necessariamente craque ou gênio, conforme se constata dos jogos de clubes e seleções de 1930 a 2024.  
A esse tipo de jogador finalizador parasita faltam, geralmente, outros fundamentos da arte de jogar futebol, tais como: o drible, o passe, o controle de bola, a visão de jogo. Sem excelência na prática desses fundamentos, jogador algum se qualifica como craque. No Brasil, por exemplo, o parasitário finalizador do Flamengo, em decorrência da sua função e do seu posicionamento na área adversária, faz mais gols do que os companheiros. A imprensa esportiva o incensa por isso, apesar de ele ser um jogador de nível médio.   
A falta de notar, na qualificação técnica dos jogadores, a distinção entre os níveis excelente, bom, médio e sofrível, já causou encrenca entre um treinador da seleção brasileira e um presidente da república. O general Garrastazu Médici, chefe de governo em 1970, apreciador do futebol, torcedor do Grêmio de Porto Alegre, queria ver, na seleção brasileira, o atacante finalizador Dadá Maravilha. O então treinador da seleção, João Saldanha, que preferia atacante genérico, mandou o recado: “O presidente que cuide do governo. Da seleção, cuido eu”. Foi demitido. Mário Zagalo, ponta-esquerda da seleção de 1958, substituiu Saldanha, convocou Dadá, contentou o general. Entretanto, naquela seleção, considerada a melhor do mundo de todos os tempos, Zagalo escalou como titulares no ataque os jogadores: Jairzinho, Rivelino, Tostão, Pelé e Caju (Paulo César Lima). Quanto ao Dadá, ficou maravilhado.  
Como se vê deste caso de 1970, o finalizador parasita nem sempre se encaixa na organização tática do treinador. O atual da seleção brasileira talvez se depare com situação semelhante, caso tenha de escolher entre um atacante finalizador parasitário e um atacante genérico de nível excelente, ao convocar e escalar jogadores. Hoje, não há general na presidência da república com a espada sobre a cabeça do treinador e dos dirigentes do futebol. Há um civil da paz e do amor, nordestino apaulistado, mais esperto do que inteligente, apreciador do futebol, torcedor do Corinthians. Há profissionais da imprensa esportiva, diretores de clubes e da confederação, despreocupados com os aspectos artístico, didático e moral do esporte. Pouco lhes importa se os convocados são honestos ou desonestos, fraudadores ou estupradores. O que lhes importa é a qualificação técnica. Da vida dos jogadores fora de campo não cogitam. No lado oposto, colocam-se os moderados e éticos. Preocupam-se com a imagem do país, com o aspecto artístico e eficiente da seleção, com a honestidade, a  boa forma e o nível excelente dos jogadores. 
Outro problema para o atual treinador da seleção brasileira consiste na situação de Vini Jr., atacante de bom nível. Depois do episódio de racismo na Espanha, o desempenho de Vini, quer no seu clube (Real Madri), quer na seleção brasileira, ficou distante da sua performance anterior. Foi muito significativo e comovente o que, com amargor, tristeza e lágrimas, ele disse na entrevista transmitida pela televisão: “Eu só queria jogar futebol”. Sugere não querer mais. No esporte, ou em outra atividade humana, nem todos têm o mesmo grau de resistência às pressões, aos desafios e às ofensas. Alguns nem reagem. Dos que reagem, nem todos fazem-no do mesmo modo, com a mesma eficácia e com as mesmas cautelas. Há resistências fortes, medianas e fracas, geradoras de múltiplos efeitos no corpo, na alma e no comportamento. Focado pelas câmeras de televisão nos jogos mais recentes, Vini exibe o semblante de jovem amadurecido na estufa, marcas no rosto de quem envelheceu precocemente. Parece que ele perdeu a alegria de jogar e de viver. Talvez, sinais de súplica silenciosa por ajuda da família, dos amigos e de psicólogos. Talvez, alguém deva orientá-lo para que [1] ignore as manifestações dos nazifascistas nos estádios [2] responda mostrando o seu talento em campo e fazendo gols na equipe adversária [3] não revide com palavras e gestos (continência difícil para temperamentos fortes) [4] deixe para o seu clube tomar as providências legais em sua defesa [5] na omissão do clube, procure o apoio de entidades de defesa dos direitos humanos.

sábado, 6 de abril de 2024

FUTEBOL II

No início deste mês de abril começou a fase de grupos da Taça Libertadores da América e da Taça Sul-Americana, duas importantes competições regionais. Delas participam 14 clubes brasileiros: 1. Atlético de Minas, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Grêmio de Porto Alegre, Palmeiras e São Paulo, nos respectivos grupos da Libertadores. 2. Atlético do Paraná, Bragantino, Corinthians, Cruzeiro, Cuiabá, Internacional e Fortaleza, nos respectivos grupos da Sul-Americana. Na 1ª rodada das duas competições, encerrada nesta semana. os clubes brasileiros jogaram contra clubes estrangeiros. 
Na Sul-Americana, Atlético do Paraná, Fortaleza e Bragantino, venceram. Corinthians, Cruzeiro, Cuiabá e Internacional, empataram. Individual e coletivamente, o Atlético, fora de casa, jogou bem contra o brioso clube paraguaio. Venceu por 4x1. Caso tivesse se descuidado e menosprezado os paraguaios, certamente teria sofrido mais de um gol.
Na Libertadores, Atlético Mineiro venceu. Flamengo, Fluminense e Palmeiras, empataram. Grêmio, Botafogo e São Paulo, perderam. Em Caracas, o Atlético Mineiro venceu o time da casa por 4x1. Veloz e bem entrosado, o visitante mostrava-se disposto a golear o clube venezuelano. Todavia, no segundo tempo, o visitante não veio com o mesmo ímpeto e acrescentou apenas 1 gol aos 3 feitos no primeiro tempo. O clube anfitrião fez o seu gol de honra sem mostrar condições técnicas suficientes para vencer o visitante. Em Bogotá, o Flamengo jogou contra o Millonario e não foi além do empate (1x1). No segundo tempo, o time carioca atuou com um jogador a mais sem tirar proveito dessa vantagem. O gol foi marcado de pênalti, portanto, sem a criatividade e o encanto dos passes e dribles, ou, sem a maestria de cobrança de falta fora da área. O Botafogo, jogando em casa, enfrentou o Junior Barranquilla. No primeiro tempo, o clube carioca foi mais agressivo e persistente no ataque. O clube colombiano fechou-se na defesa, optou pelo contra-ataque e teve êxito: marcou 3 merecidos gols pela habilidade e velocidade dos seus jogadores e pela incapacidade da defesa botafoguense de neutralizar a tática adversária. O clube carioca marcou o gol de honra. No segundo tempo não houve gols. O jogo terminou com o placar do primeiro tempo (3x1). O Palmeiras, jogando fora de casa, empatou com o San Lorenzo (1x1). No primeiro tempo, o clube argentino exibiu futebol de alto nível, dominou o brasileiro e marcou o seu gol. No segundo tempo, o clube brasileiro exibiu alto nível, dominou o argentino e marcou o seu gol. Nos minutos finais, os argentinos sufocaram os brasileiros, porém, não conseguiram alterar o resultado. Fora de casa, o São Paulo, com todo o seu notável elenco, perdeu para o Talleres (1x2). O time da casa – de faca, garfo e colher nas mãos e queijo na mesa – foi superior ao visitante e teria ampliado o placar se não tivesse perdido algumas chances de gol.   
Os jogos da Libertadores caracterizaram-se pela garra dos jogadores e equilíbrio entre os clubes. Da amostragem desta 1ª rodada verifica-se que barbada será exceção. Jogo duro será regra. Quem vacilar, dança. A arbitragem despendeu maior esforço para manter a disciplina e fazer respeitar as regras do futebol, dada a constância das agressões. Nas próximas rodadas, passado o entusiasmo das estreias, talvez os ânimos se acalmem, ainda que entre latino-americanos a calmaria seja difícil. Os clubes brasileiros estarão escaldados e provavelmente acautelar-se-ão contra o vigor dos clubes estrangeiros. As partidas da última rodada da fase de grupos serão realizadas em 30/05/2024. Conforme os resultados, classificar-se-ão 16 clubes para a disputa das oitavas-de-final segundo as diretrizes da Confederação Sul-Americana de Futebol – Conmebol. 
Os clubes andinos, em virtude da altitude dos seus países, levam alguma vantagem sobre os clubes costeiros. Os visitantes estranham o clima e sentem falta das suas torcidas maciças. Quando as equipes sofrem empates e derrotas, treinadores e jogadores apresentam justificativas. Algumas valem para todas as equipes em disputa no mesmo campeonato: mau estado dos gramados, chuva, calor excessivo, jogadores no departamento médico, calendário extenuante, violência em campo, arbitragem frouxa. As mais frequentes atribuem culpa à modalidade esportiva e à arbitragem: “coisas do futebol, isto acontece, o futebol é assim mesmo, futebol não tem lógica, futebol tem etapas, jogamos com os reservas, estávamos sem o apoio da torcida, o árbitro nos prejudicou, o árbitro foi parcial, fomos roubados”. Enfim, treinadores e jogadores terceirizam as causas do empate e da derrota e afastam de si a culpa pelo sucedido. Interessante introdução do complexo de culpa na atividade esportiva. 
A lógica do futebol atém-se a fatores relacionados à vitória e à derrota. O seu objeto é dinâmico. Trata-se de jogo. Sobre o resultado não há certeza alguma: (i) antes do jogo começar (ii) antes do jogo terminar, salvo quando a diferença no placar for muito grande e a partida aproximar-se do fim sem tempo hábil para gols de empate. A probabilidade reina em torno da vitória, do empate e da derrota. A maior probabilidade de vitória é do time que (i) tem o maior número de jogadores talentosos (ii) arma bem o sistema defensivo (iii) atua com inteligência na intermediária do campo e eficiência no desarme e na armação (iv) erra poucos passes (v) melhor aproveita as falhas do adversário (vi) perde poucas chances de gol. O empate e a diferença mínima nos resultados indicam paridade de forças. 
O treinador tanto pode ajudar como atrapalhar a equipe que está em campo. Se tiver a habilidade de um maestro, transmitirá confiança e firmeza, inclusive com oportunas e adequadas substituições. As mudanças de humor do treinador e do jogador influem no conjunto e constituem variáveis comuns aos praticantes do esporte. Os motivos dessas mudanças podem ser: (i) dores do corpo e da alma (ii) desilusões e descontentamentos (iii) insegurança e antecipado sentimento de derrota (iv) simpatias, antipatias, diálogos infrutíferos, inamistosos ou ausentes no interior do clube (v) dificuldades econômicas, expectativas contratuais, relações de família. Cabe lembrar: 1) Treinador e jogador não são robôs. 2) Na América do Sul está o melhor e mais bonito futebol do planeta.