quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

código da vinci VII

CASAMENTO DE JESUS

Entre os motivos da preservação das invencionices contidas nos livros sagrados estão os interesses econômicos das organizações religiosas. A batalha pela verdade sobre Jesus inclui a batalha pela riqueza dessas organizações. A controvérsia gerada pelo livro “O Código Da Vinci”, em torno do evangelho, reflete essa batalha. Segundo esse romance, Jesus era de sangue real. Descendia do rei Davi. Teve esposa, filha e manteve a linhagem nobre.

Há pouca chance de casamento para Jesus. A sua missão e os seus votos de nazareno impediam casamento e família própria. Só após cumpri-los Jesus estaria livre para casar. Destarte, em face do normal período de gestação, a ida de uma esposa e filha para a Gália só poderia ocorrer cerca de um ano após a crucifixão e não imediatamente, como consta do romance. Jesus teria retribuído o amor de Maria Madalena. Antes mesmo da crucifixão, na presença dos discípulos, Jesus e Maria Madalena beijavam-se na boca, narra Brown. Contestando, em “Quebrando o Código Da Vinci”, Bock diz que o evangelho de Felipe está rasurado nessa parte: “Jesus beijava Maria Madalena na...” Portanto, os beijos podiam ter sido na bochecha ou na testa. Certo. Conforme as letras cabíveis no espaço da rasura, os beijos podiam ter sido, também, na mão, na perna ou na coxa. Se a troca de beijos era costume entre os membros da confraria, como símbolo da oral transmissão da sabedoria, não havia razão para Felipe mencionar apenas os beijos entre Jesus e Maria Madalena, nem motivo para Pedro ficar enciumado. Episódio intrigante: no segundo dia após a crucifixão, Maria Madalena não reconheceu Jesus, o seu amado. Explicação plausível: Jesus estava com visual novo, rosto liso, cabelos curtos ou raspados, roupas comuns, aparência mais jovem.

A fuga para a Gália, de Maria Madalena e filha, é de fraca probabilidade. Os judeus, que tudo fizeram para crucificar Jesus, não iriam hospedá-las nas suas casas, ainda mais no calor dos acontecimentos, salvo se fossem aqueles poucos judeus como José de Arimatéia, seguidores de Jesus ou simpáticos à sua causa. A comunidade referida por Brown poderia, na verdade, não ser judaica e sim israelita, remanescente do Reino de Israel. Os judeus, remanescentes do Reino de Judá, residiam na Judéia, Sul da Palestina. Não admitiam Jesus como o Messias. Estavam certos. Jesus apenas desempenhou o papel de Messias. A impostura tinha uma finalidade nobre: acabar com o mito hebraico e mostrar ao mundo que não havia povo eleito. Todos eram filhos de Deus, sem distinção. Após cumprir a sua missão e os seus votos, Jesus retirou-se da vida pública. Tanto pode ter se casado, como permanecido solteiro e recluso no Monte Carmelo, no seio da comunidade nazarena da Galiléia, até o fim dos seus dias. A vida monástica de Jesus explicaria melhor a reprodução, 60 anos após a crucifixão, das suas palavras em textos religiosos, numa época em que não havia gravador nem filmadora. Jesus teria escrito ou ditado essas palavras aos escribas da fraternidade. Por outro lado, dos 4 evangelistas, apenas Mateus e João pertenciam ao colégio dos apóstolos. Ambos eram letrados. Podem ter anotado palavras, atitudes e acontecimentos.

O autor de “O Código Da Vinci” aproveitou a aura de mistério em torno das sociedades secretas para incluir na trama o Priorado de Sião e os Cavaleiros Templários. Ao contestar, em “Decodificando Da Vinci”, Amy Welborn admite a existência dessa sociedade secreta no final do século XIX, em França. Conta que um espertalhão chamado Plantard, registrou naquele País, em 1956, outra sociedade com esse mesmo nome, para defender a sua descendência dos reis merovíngios e o seu direito ao trono da França, cuja linha sucessória tem sua origem em Jesus e Maria Madalena. Em “Quebrando o Código Da Vinci”, Bock sustenta a pouca probabilidade da existência do Priorado. Admite a existência, na Idade Média, da Ordem de Sião, sediada em uma abadia. A data da fundação de uma sociedade secreta sempre é imprecisa. Os seus membros sustentam sua antiguidade, tradição e a existência de um círculo interno de superior hierarquia. Arrolam ilustres personagens históricos como sócios. Nessa linha, a teoria de Brown pode estar certa. O Priorado de Sião, ou Monastério do Sinai, segundo Michael Baigent em “O Santo Graal e a Linhagem Sagrada” seria, realmente, o círculo interno da ordem monástica dos Cavaleiros Templários. Os exercícios físicos e espirituais mencionados no livro de Brown eram comuns nas ordens monásticas.

Provavelmente, neste III Milênio, as baboseiras contidas nas escrituras sagradas de muçulmanos, cristãos, judeus, budistas e hinduistas, perderão fôlego. O avanço científico, a diversidade dos meios de comunicação, a liberdade de informação e de consciência, permitirão uma interação cada vez maior nesse terreno. Elevando-se o nível geral de compreensão, as fantasias cairão no descrédito. A humanidade está caminhando para uma era de iluminação espiritual em escala planetária, do que a expansão da consciência ecológica já é um indicador. A beligerância de alguns povos não impedirá a evolução espiritual cosmopolita. Os maçons e os rosacruzes ficaram na clandestinidade por alguns séculos, em virtude da perseguição religiosa. Entre os motivos da perseguição estava a liberdade de crença, de pensamento e de consciência pela qual lutavam tais sociedades secretas. Estas deixam de ser secretas na medida em que a intolerância e a ignorância cedem o passo à liberdade e à razão. Hoje, no Ocidente, essas sociedades funcionam à luz do dia. A intolerância retardou, mas não conseguiu impedir o avanço do conhecimento racional e o recuo da servidão humana.

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