sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

código da vinci IX

O SANTO GRAAL

A reportagem levada ao ar pela emissora de TV GNT, canal a cabo, no dia 12/12/2004, à noite, com o título Jesus, Maria e Da Vinci, teve como tema central, as teorias contidas no livro “O Código da Vinci”, de Dan Brown. Foram entrevistadas várias personalidades, entre as quais o referido autor, os escritores Daryl Bock (“Quebrando o Código Da Vinci”), Henry Lincoln (“O Santo Graal e a Linhagem Sagrada”), Umberto Eco (“O Pêndulo de Foucault”), um sacerdote católico, um especialista em arte, dois integrantes da família Saint-Clair (presumíveis descendentes de Jesus e Maria Madalena) e algumas senhoras acadêmicas. Entre as cenas exibidas na reportagem estão: (i) a Biblioteca Nacional da França; (ii) os documentos secretos lá depositados, que provariam a linhagem merovíngia a partir de Jesus e Maria Madalena; (iii) a cópia dos evangelhos apócrifos que narram as intimidades entre Jesus e Madalena; (iv) o imenso quadro de Leonardo da Vinci denominado “Última Ceia”, pintado na parede do refeitório de um mosteiro em Milão.

Amy Welborn (“Decodificando Da Vinci”) demonstrou a origem espúria dos “documentos secretos” plantados na Biblioteca Nacional da França por um espertalhão. O Priorado do Sião, referido nos documentos, também traduzido Monastério do Sinai, pode ter existido historicamente, porém, os vínculos pretendidos pelo estelionatário francês são forjados. Quanto à autenticidade dos evangelhos apócrifos não há dúvida alguma. A sua publicidade lançou uma nova luz sobre os primórdios do cristianismo. Deles se depreende que, das relações entre Jesus e os apóstolos, Maria Madalena se sobressai, reconhecida como apóstola dos apóstolos e não a prostituta dolosamente pintada pelos celibatários da igreja católica medieval. Margaret George, em seu bem pesquisado romance “Maria Madalena - A Mulher que amou Jesus” diz que Maria foi expulsa da família e chamada de prostituta por seu próprio pai, por ter seguido Jesus, Pedro e André, antes de retornar à casa do seu marido, de onde saíra para se curar de doença mental. Jesus a teria exorcizado com êxito, depois do insucesso do tratamento na sinagoga. Maria já era casada com Joel e tinha uma filha (Eliseba) quando conheceu Jesus. Essa teoria vale tanto quanto as diferentes teorias de Brown e de Lincoln.

O guia da repórter da emissora de TV, no mosteiro de Milão, diante da pintura de Leonardo (Ultima Ceia) nega que o primeiro apóstolo à direita de Jesus seja mulher. “Não há seios”, diz ele, apontando para a figura, afirmando tratar-se do apóstolo João. “Há outros de cabelos compridos, inclusive Jesus”, insiste o guia, apontando para cada figura. Aliás, o rosto de Jesus está parecido com o de Leonardo. Um especialista em arte, entrevistado pela repórter, afirma que aquela imagem é de mulher. Cabe lembrar, todavia, que os traços femininos são comuns em jovens de 14 a 16 anos, idade aproximada do apóstolo João no episódio da santa ceia. Quando voltou a moda dos cabelos compridos para homens, na segunda metade do século XX, notava-se, pelas feições, que rapazes imberbes se pareciam com moças. Considerando, ainda, a homossexualidade de Leonardo, mais se entende a aparência feminina do adolescente pintado no seu quadro. Os que vêem mulher naquela figura, pretendem atribuir a Leonardo, mensagem oculta sobre o feminino sagrado. Aquela figura feminina substituiria o cálice em que beberam Jesus e os apóstolos. Esta seria a explicação plausível para Leonardo ter excluído do quadro (Última Ceia) o referido cálice. Isto indicaria que o cálice sagrado, o santo graal, era aquela mulher (Maria Madalena) cujo útero recebera o sangue divino (sêmen) de Jesus, seu esposo. Daí a linhagem sagrada dos reis merovíngios gestada, no Sul da França, por Sara, filha de Jesus e Maria Madalena. O nome santo graal, portanto, seria uma corruptela de sangue real.

Nenhum entrevistado foi categórico sobre o casamento de Jesus e a sua descendência. Brown, Bock e Lincoln mantiveram as suas respectivas teorias. Quanto a Umberto Eco, afirmou que o santo graal é uma lenda, como o Chapeuzinho Vermelho e o Pinóquio, um conto da carochinha, sem qualquer substrato histórico. Do ponto de vista exotérico, a razão parece estar com Umberto Eco. Do ponto de vista esotérico, entretanto, há uma tradição oral sobre aquela relíquia (cálice da santa ceia). José de Arimatéia teria levado o cálice para a Grã-Bretanha. Posteriormente, foi atribuído um significado político ao santo graal: indicaria a nobreza da família de Jesus (a partir do rei Davi), o seu casamento com Maria Madalena, a sua filha Sara e a expansão da linhagem sagrada na Europa, com os reis merovíngios. Materialmente, o santo graal incluiria o cálice, os ossos de Maria Madalena e os documentos guardados pelos Cavaleiros Templários.

Henry Lincoln e seus colegas Michael Baigent e Richard Leigh, dizem que as bodas de Caná mencionadas no Novo Testamento são as bodas de Jesus e Maria Madalena. Somente o apóstolo João menciona essas bodas (João 2). Contudo, Jesus, sua mãe, irmãos e discípulos eram convidados, conforme a narrativa de João. A mãe de Jesus já se encontrava no local quando Jesus e seus discípulos ali chegaram. De acordo com os costumes, Maria ali se achava para ajudar as famílias dos noivos no andamento da festa. Em dado momento, ela diz: “eles já não têm vinho”. Se fosse ela a anfitriã e Jesus, o noivo, teria dito: “nós já não temos vinho” ou, “o vinho acabou”. Jesus respondeu que aquele assunto não lhes competia (porque eram convidados e não anfitriões). O problema era do dono da festa. Maria, mãe de Jesus, o convenceu e solicitou vasilhame aos serventes. Isto não quer dizer que Maria fosse a patroa dos serventes e sim amiga da família que ali estava para ajudar. O chefe dos serventes não presenciara os fatos. Ignorava, pois, a origem daquele vinho. Por isso, atribuiu ao esposo, dono da festa, e não a Maria e a Jesus, a providência de mais vinho. Depois da festa, Jesus desceu para Cafarnaum com sua mãe, irmãos e discípulos. Se Jesus fosse o noivo, teria ficado com a noiva, ou a teria levado consigo. Conclusão que se impõe: as bodas de Caná não eram de Jesus e Madalena. Ao invés de metáfora sobre tal casamento, o objetivo do evangelista foi o de revelar o primeiro milagre externo de Jesus: a transformação da água em vinho.

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