EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Otto Wagner (1841 a 1918), arquiteto
alemão, reagiu aos estilos então vigentes e inaugurou o movimento arquitetônico
denominado funcionalismo, que também
influiu na teoria social. Segundo o
novo princípio, a aparência externa deve refletir o uso e a finalidade do
edifício construído. A beleza está na sinceridade, na honesta relação entre o
construído e o seu objetivo. A arquitetura deve refletir direta ou
simbolicamente a cultura contemporânea. A face decorativa deve refletir o
estágio da ciência e da tecnologia. Na opinião de Otto, o homem moderno não
acredita nos ideais gregos de harmonia e equilíbrio; tampouco se comove com a
piedade e o cavalheirismo medievais. Poder,
eficiência, velocidade e conforto, são as metas do homem moderno. A arte
deve encampar essas metas. O estilo
funcional preponderou no século XX. Edifícios públicos e particulares,
hotéis, lojas, casas, foram construídos no estilo funcional com as suas
características de simplicidade angular e linhas cubistas na Europa e na
América.
Charles Édouard Jeanneret (1887 a 1965), conhecido pelo
apelido “Le Corbusier”, arquiteto e urbanista suiço, trabalhou na França,
Alemanha, Argélia, Índia e Brasil. Foi um dos subscritores do Manifesto Purista (1919). Expôs a relação
entre as formas mecânicas modernas e as técnicas arquitetônicas. Projetou
edifícios que se sustentavam sobre pilotis. Divulgou o planejamento urbano.
Exerceu influência mundial com seus traços e seus escritos, inclusive sobre
arquitetos brasileiros como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Oscar Niemeyer (1907 a 2008), arquiteto
brasileiro, com o seu traço curvo, revolucionou a arquitetura. O seu estilo
correu o mundo contemporâneo. Sua obra arquitetônica é vasta e se distribui
pela África, América, Ásia e Europa. Arquitetura arrojada também se faz
hodiernamente em alguns países dos diversos continentes na construção de casas,
edifícios, aeroportos, autódromos e estádios desportivos.
A música popular era de domínio
público desde os trovadores medievais. Havia composições vulgares, de roda e
folclóricas, cantadas e dançadas em família, nas festas populares e nas
tavernas. A música popular teve notável impulso no século XX: valsa, rumba, tango,
bolero, samba, rock´n roll e os ritmos deles derivados. A diversificação das
vias transmissoras contribuiu para a difusão da música popular: rádio,
televisão, gravadores, computadores, suportes de reprodução (discos, fitas).
Espetáculos com público numeroso em recintos fechados ou em locais abertos são
transmitidos pelos canais de televisão para vasta região do planeta. Vários
instrumentos de corda, sopro e percussão foram inventados. A força
mercadológica da musica popular relegou a música erudita a um público diminuto.
Na América dos anos 1950, a
banda de Bill Halley e o cantor Elvis Presley lançam o rock´n roll para o
mundo, febre daquela geração e das gerações seguintes, cantantes e dançantes.
As bandas se multiplicaram. De Liverpool para o mundo, na Europa dos anos 1960, a banda dos Beatles
difundiu o yé-yé-yé, modalidade roqueira; executou suas composições musicais e
ajudou a propagar o idioma inglês e a cultura inglesa entre a juventude dos
outros países. Os seus integrantes foram condecorados pela rainha da
Inglaterra. A indústria fonográfica teve enorme crescimento. O público jovem se
tornou o principal consumidor dos produtos dessa indústria e das drogas que os
acompanham.
Quando uma forma de expressão
artística chega ao ápice, os artistas da geração seguinte buscam novas formas,
como aconteceu na pintura, na escultura, na arquitetura, na literatura e na
música. Na filosofia ocorre o mesmo. Após atingir o auge na Grécia clássica, a
filosofia se ramificou e se tornou temática, com ênfase ora na religião, ora na
ciência, ora na ética, ora na estética, ora na lógica. Na Idade Contemporânea,
as análises lógica, lingüística, psicológica, antropológica, sociológica,
ilustram essa fragmentação. Sirvam de exemplos: Alain Touraine e Claude
Lèvi-Strauss. O primeiro (Alain) professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais
escreveu numerosos livros, desde “Production de la Société” (1973) até “La Recherche de Soi”
(2000). Em que pese ter se dedicado à Sociologia, Alain se inclui entre os
inúmeros pensadores que expuseram suas reflexões filosóficas. O segundo (Claude),
lecionou Filosofia em liceus franceses (1930), Sociologia na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (1935) e, depois da guerra, Antropologia
no Collège de France. Ingressou na Academia Francesa.
Do ponto de vista etnológico,
Claude concebe a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos cujo primeiro
nível é ocupado pela linguagem e por regras matrimoniais, relações econômicas,
arte, ciência e religião. Todos esses sistemas expressam aspectos da realidade
física e social, sobretudo as relações que esses dois tipos de realidade mantêm
entre si e que os sistemas simbólicos mantêm entre eles. Claude foi um dos
líderes do estruturalismo nas
ciências sociais. No livro “Antropologia Estrutural” da sua lavra, lê-se: “o objetivo do mito é fornecer um modelo
lógico para resolver uma contradição”. No livro “O Pensamento Selvagem” ele
expõe a sua visão de mundo ao tomar por tema o pensamento em estado natural e
comum a todo o ser humano. Claude traça o paralelo entre o pensamento selvagem
e o pensamento cultivado. Razão dialética e razão analítica se implicam. A
dialética é a analítica em marcha, passarela que a razão analítica lança sobre
um abismo do qual não enxerga a outra borda, mas sabe que ela existe e que se
afasta constantemente. O pensamento
selvagem é totalizante, lógico e intemporal. A finalidade última das
ciências humanas não é a de constituir o homem e sim a de dissolvê-lo.
Considerando que natureza e cultura estão integradas de fato, a
oposição entre ambas deve-se ao método aplicado no estudo. A explicação
científica consiste na substituição da complexidade menos por outra mais
inteligível. Superestruturas são atos
falhos que tiveram êxito socialmente.
Em “Tristes Trópicos”, estilo literário agradável,
Claude narra suas viagens marítimas, a ameaçadora sombra do nazismo até chegar
a América, dificuldade de sair da Europa por ser judeu, a sua transição da
filosofia para a etnografia, as visitas a diversas regiões do Brasil, às tribos
indígenas e à Índia. Ele descreve e confronta paisagens urbanas do Rio de
Janeiro e de São Paulo, o perfil dos habitantes, os costumes, tal como faz com
Calcutá e outras cidades indianas. Claude externa opinião pouco lisonjeira sobre
a conduta dos alunos paulistas. À sua narrativa não faltam reflexões filosóficas
infusas nas observações de cunho científico como esta: “A liberdade não é nem uma invenção jurídica nem um tesouro filosófico,
ou propriedade acarinhada de civilizações mais dignas do que outras por terem
sabido produzi-la e preserva-la. Resulta, sim, de uma relação objetiva entre o
indivíduo e o espaço que ocupa, entre o consumidor e os recursos de que dispõe”.
Na opinião dele – de nítida coloração marxista – não são os sistemas políticos
que determinam a forma da existência social e sim as formas de existência é que
dão um sentido à ideologia que as exprime. Claude advertia sobre o perigo da
confusão entre o progresso do conhecimento e a crescente complexidade das
construções do espírito. A Filosofia é vista como espécie de contemplação
estética da consciência por si própria e não como a serva da Ciência. O
marxismo é ciência humana com perspectiva social; a psicanálise, ciência humana
com perspectiva individual. Cita o discurso em que o embaixador Luiz de Souza
Dantas, em Paris (1934), afirmava não existir índio no Brasil; os portugueses
haviam eliminado todos no século XVI. [O embaixador pretendia passar a imagem
de um Brasil branco e civilizado]. Claude menciona o compromisso entre os
sábios Victor Marguerite, Keyserling, Ladislas Raymond, Romain Rolland e
Einstein: quando um deles publicasse um livro, os outros o louvariam como uma
das mais altas manifestações do gênio humano.