sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 25



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Otto Wagner (1841 a 1918), arquiteto alemão, reagiu aos estilos então vigentes e inaugurou o movimento arquitetônico denominado funcionalismo, que também influiu na teoria social. Segundo o novo princípio, a aparência externa deve refletir o uso e a finalidade do edifício construído. A beleza está na sinceridade, na honesta relação entre o construído e o seu objetivo. A arquitetura deve refletir direta ou simbolicamente a cultura contemporânea. A face decorativa deve refletir o estágio da ciência e da tecnologia. Na opinião de Otto, o homem moderno não acredita nos ideais gregos de harmonia e equilíbrio; tampouco se comove com a piedade e o cavalheirismo medievais. Poder, eficiência, velocidade e conforto, são as metas do homem moderno. A arte deve encampar essas metas. O estilo funcional preponderou no século XX. Edifícios públicos e particulares, hotéis, lojas, casas, foram construídos no estilo funcional com as suas características de simplicidade angular e linhas cubistas na Europa e na América.

Charles Édouard Jeanneret (1887 a 1965), conhecido pelo apelido “Le Corbusier”, arquiteto e urbanista suiço, trabalhou na França, Alemanha, Argélia, Índia e Brasil. Foi um dos subscritores do Manifesto Purista (1919). Expôs a relação entre as formas mecânicas modernas e as técnicas arquitetônicas. Projetou edifícios que se sustentavam sobre pilotis. Divulgou o planejamento urbano. Exerceu influência mundial com seus traços e seus escritos, inclusive sobre arquitetos brasileiros como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.   

Oscar Niemeyer (1907 a 2008), arquiteto brasileiro, com o seu traço curvo, revolucionou a arquitetura. O seu estilo correu o mundo contemporâneo. Sua obra arquitetônica é vasta e se distribui pela África, América, Ásia e Europa. Arquitetura arrojada também se faz hodiernamente em alguns países dos diversos continentes na construção de casas, edifícios, aeroportos, autódromos e estádios desportivos.

A música popular era de domínio público desde os trovadores medievais. Havia composições vulgares, de roda e folclóricas, cantadas e dançadas em família, nas festas populares e nas tavernas. A música popular teve notável impulso no século XX: valsa, rumba, tango, bolero, samba, rock´n roll e os ritmos deles derivados. A diversificação das vias transmissoras contribuiu para a difusão da música popular: rádio, televisão, gravadores, computadores, suportes de reprodução (discos, fitas). Espetáculos com público numeroso em recintos fechados ou em locais abertos são transmitidos pelos canais de televisão para vasta região do planeta. Vários instrumentos de corda, sopro e percussão foram inventados. A força mercadológica da musica popular relegou a música erudita a um público diminuto. Na América dos anos 1950, a banda de Bill Halley e o cantor Elvis Presley lançam o rock´n roll para o mundo, febre daquela geração e das gerações seguintes, cantantes e dançantes. As bandas se multiplicaram. De Liverpool para o mundo, na Europa dos anos 1960, a banda dos Beatles difundiu o yé-yé-yé, modalidade roqueira; executou suas composições musicais e ajudou a propagar o idioma inglês e a cultura inglesa entre a juventude dos outros países. Os seus integrantes foram condecorados pela rainha da Inglaterra. A indústria fonográfica teve enorme crescimento. O público jovem se tornou o principal consumidor dos produtos dessa indústria e das drogas que os acompanham.

Quando uma forma de expressão artística chega ao ápice, os artistas da geração seguinte buscam novas formas, como aconteceu na pintura, na escultura, na arquitetura, na literatura e na música. Na filosofia ocorre o mesmo. Após atingir o auge na Grécia clássica, a filosofia se ramificou e se tornou temática, com ênfase ora na religião, ora na ciência, ora na ética, ora na estética, ora na lógica. Na Idade Contemporânea, as análises lógica, lingüística, psicológica, antropológica, sociológica, ilustram essa fragmentação. Sirvam de exemplos: Alain Touraine e Claude Lèvi-Strauss. O primeiro (Alain) professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais escreveu numerosos livros, desde “Production de la Société” (1973) até “La Recherche de Soi” (2000). Em que pese ter se dedicado à Sociologia, Alain se inclui entre os inúmeros pensadores que expuseram suas reflexões filosóficas. O segundo (Claude), lecionou Filosofia em liceus franceses (1930), Sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (1935) e, depois da guerra, Antropologia no Collège de France. Ingressou na Academia Francesa.

Do ponto de vista etnológico, Claude concebe a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos cujo primeiro nível é ocupado pela linguagem e por regras matrimoniais, relações econômicas, arte, ciência e religião. Todos esses sistemas expressam aspectos da realidade física e social, sobretudo as relações que esses dois tipos de realidade mantêm entre si e que os sistemas simbólicos mantêm entre eles. Claude foi um dos líderes do estruturalismo nas ciências sociais. No livro “Antropologia Estrutural” da sua lavra, lê-se: “o objetivo do mito é fornecer um modelo lógico para resolver uma contradição”. No livro “O Pensamento Selvagem” ele expõe a sua visão de mundo ao tomar por tema o pensamento em estado natural e comum a todo o ser humano. Claude traça o paralelo entre o pensamento selvagem e o pensamento cultivado. Razão dialética e razão analítica se implicam. A dialética é a analítica em marcha, passarela que a razão analítica lança sobre um abismo do qual não enxerga a outra borda, mas sabe que ela existe e que se afasta constantemente. O pensamento selvagem é totalizante, lógico e intemporal. A finalidade última das ciências humanas não é a de constituir o homem e sim a de dissolvê-lo. Considerando que natureza e cultura estão integradas de fato, a oposição entre ambas deve-se ao método aplicado no estudo. A explicação científica consiste na substituição da complexidade menos por outra mais inteligível. Superestruturas são atos falhos que tiveram êxito socialmente.

Em “Tristes Trópicos”, estilo literário agradável, Claude narra suas viagens marítimas, a ameaçadora sombra do nazismo até chegar a América, dificuldade de sair da Europa por ser judeu, a sua transição da filosofia para a etnografia, as visitas a diversas regiões do Brasil, às tribos indígenas e à Índia. Ele descreve e confronta paisagens urbanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, o perfil dos habitantes, os costumes, tal como faz com Calcutá e outras cidades indianas. Claude externa opinião pouco lisonjeira sobre a conduta dos alunos paulistas. À sua narrativa não faltam reflexões filosóficas infusas nas observações de cunho científico como esta: “A liberdade não é nem uma invenção jurídica nem um tesouro filosófico, ou propriedade acarinhada de civilizações mais dignas do que outras por terem sabido produzi-la e preserva-la. Resulta, sim, de uma relação objetiva entre o indivíduo e o espaço que ocupa, entre o consumidor e os recursos de que dispõe”. Na opinião dele – de nítida coloração marxista – não são os sistemas políticos que determinam a forma da existência social e sim as formas de existência é que dão um sentido à ideologia que as exprime. Claude advertia sobre o perigo da confusão entre o progresso do conhecimento e a crescente complexidade das construções do espírito. A Filosofia é vista como espécie de contemplação estética da consciência por si própria e não como a serva da Ciência. O marxismo é ciência humana com perspectiva social; a psicanálise, ciência humana com perspectiva individual. Cita o discurso em que o embaixador Luiz de Souza Dantas, em Paris (1934), afirmava não existir índio no Brasil; os portugueses haviam eliminado todos no século XVI. [O embaixador pretendia passar a imagem de um Brasil branco e civilizado]. Claude menciona o compromisso entre os sábios Victor Marguerite, Keyserling, Ladislas Raymond, Romain Rolland e Einstein: quando um deles publicasse um livro, os outros o louvariam como uma das mais altas manifestações do gênio humano.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 24



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Albert Camus (1913 a 1960), escritor e filósofo francês que esteve na moda nos anos 1960. Na opinião dele, a dignidade e a liberdade serão possíveis apenas quando o homem se conscientizar do absurdo do universo em que vive. Entre as obras de Albert contam-se: “O Mito de Sísifo” (ensaio), “Calígula” (peça de teatro), “A Peste” e “A Queda” (romances), publicadas entre 1942 e 1956. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. 

Umberto Eco, escritor italiano nascido em 1932, na cidade de Alessandria, professor da Universidade de Bolonha, no âmbito acadêmico dedicou-se à filosofia da linguagem e à semiótica. Esta última palavra ele extraiu da parte final do livro de John Locke “Ensaio Sobre o Entendimento Humano”. Entre as dezenas de textos que ele escreveu sobre essa matéria podem ser citados: “Obra Aberta”, “Apocalípticos e Integrados”, “Tratado Geral Sobre Semiótica”, “Lector in Fabula”, “Os Limites da Interpretação”, publicados entre os anos 1962 e 1990. No seu pensamento, a obra de arte amplia o universo semântico mediante jogos semióticos que repercutem no intérprete. Ele se opõe às posturas: (1) apocalíptica, segundo a qual a cultura de massa é a ruína dos altos valores artísticos; (2) integrada, segundo a qual a cultura de massa resulta da integração das massas na sociedade democrática.

Na literatura, favorecido por sua cultura e atividade acadêmica, Umberto estréia em 1980 com o romance “O Nome da Rosa”, de sucesso internacional e que virou filme. O roteiro é policial: investigação sobre uma série de crimes praticados no interior de um mosteiro no ano de 1327. A história inclui a vida religiosa daquela época e movimentos heréticos. Na biblioteca do mosteiro estão arquivados códigos e livros antigos da cultura grega e latina. O monge investigador soluciona o caso. Descobre a técnica e a astuciosa tática empregadas na consecução dos crimes. Os outros livros, como “O Pêndulo de Foucault”, “Baudolino”, “O Cemitério de Praga”, embora possam agradar, carecem da mesma força emotiva daquela primeira obra.         

Salman Rushdie, indiano radicado na Inglaterra, nasceu em Bombaim no ano de 1947, no seio de família muçulmana liberal e abastada. Formou-se em história no King´s College (Cambridge). Dedicou-se à literatura e seus livros foram publicados a partir de 1971, tais como: “Oriente Ocidente” e “O Último Suspiro do Mouro”. O seu livro intitulado “Os Versos Satânicos”, publicado em 1988, causou celeuma internacional. Considerado blasfemo pelos muçulmanos, Salman tornou-se destinatário da fatwa, a sentença de morte do islamismo. Quem matá-lo terá as bênçãos divinas, merecerá o paraíso e ganhará recompensa em dinheiro. Questionar a validade do sagrado Islã é pecado imperdoável. A liberdade individual, declarada valor supremo no mundo ocidental, não se ajusta ao dever de submissão que caracteriza a religião islâmica. O espírito crítico de Salman também questiona valores do mundo ocidental. Na conciliação dos opostos (oriente x ocidente) ele busca uma resposta para a existência terrena. Questões que os filósofos gregos da Idade Clássica já tratavam, estão implícitas no enredo do livro censurado.

Segundo a narrativa do livro maldito (“Versos Satânicos”), dois atores indianos, Saladin e Gibreel, caem no solo depois de o avião em que viajavam ter sido derrubado por terroristas. Saladin empresta sua voz aos comerciais de televisão. Gibreel é astro do cinema. Um deles se metamorfoseia em diabo e o outro em anjo; um é apolíneo e o outro dionisíaco; um é fiel à sua pátria e o outro quer adquirir a nova nacionalidade. Ambos caíram em solo inglês quando o governo era chefiado pela senhora Thatcher, “a dama de ferro”. A narrativa entrelaça história e fantasia, o ordinário e o fantástico, o profano e o sagrado, o bem e o mal.      

Na pintura, Wassily Kandinski (1866 a 1944), russo naturalizado alemão e francês, sucessivamente, foi pioneiro da arte abstrata. Wassily dispensou os elementos representativos ao pintar os seus quadros. Usou a cor e o traço como expressividade vigorosa. Na série de pinturas intitulada “Composições, Improvisações e Impressões”, Wassily chegou à pura abstração.  

Pablo Picasso, nascido em 1881, na Catalunha, Espanha, radicado em Paris, criou o cubismo, técnica que reduz o objeto da pintura à forma geométrica. Além disto, o pintor ainda desmembra o objeto, separa as várias partes e as arranja de modo distinto do original. Com isto, ele simboliza o caos da vida moderna ao mesmo tempo em que se afasta da tradição e da concepção da arte como expressão do belo. Os cubistas vão ao extremo de recusar cores em seus quadros.

Outro movimento na arte pictórica veio de um poeta italiano: F.T. Marinetti. Ele é o autor do manifesto publicado em 1910, em que declarava guerra sem tréguas aos ideais estéticos do passado. A veneração pelos mestres e pela natureza, a glorificação das idades clássica e medieval, a obsessão pelo erótico e sentimental, tudo deve ser substituído pela devoção à ciência e à tecnologia. Esta corrente foi denominada futurismo. Inspirados na teoria científica da energia, os futuristas adotaram como tema central o movimento. A ilusão do tremido e do vibrátil passou a figurar nos quadros desses pintores (animal correndo, automóvel em velocidade, fábrica em funcionamento). A decoração futurista se faz presente em edifícios públicos e privados e nas estações das estradas de ferro.

Houve outras correntes extremadas, como o expressionismo e o surrealismo, que grassaram entre os pintores do século XX. O expoente do expressionismo foi o pintor alemão George Grosz. A característica desse movimento artístico é colocar na pintura o sentimento do próprio artista. Isto implicou no desprezo da forma e no uso da deformação para representar o estado da alma. Outro movimento contrário aos consagrados padrões da arte e da vida social ficou conhecido como surrealismo, fruto dos efeitos da guerra e do modismo psicanalítico. Os surrealistas, entre eles o desvairado Salvador Dali, têm o propósito de representar principalmente o ser humano e não a natureza. Sondam o subconsciente, os sonhos, as mágicas impressões dos momentos de devaneio. Os padrões convencionais de beleza e forma não preocupam os surrealistas. Para eles, a arte deve ter algum valor como expressão do pensamento.   

O impressionismo também marca presença na escultura, deformada e mais abstrata. Os materiais utilizados pelos escultores se diversificaram (rocha, metal, vidro, madeira, gesso, excremento).

A fotografia entra definitivamente para o mundo da arte ao lado da pintura e demais expressões artísticas. Escolas, museus e salões recebem-na. Criatividade e expressividade de fotógrafos futuristas, expressionistas e surrealistas ao fotografarem pessoas, objetos, paisagens. 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 23



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Simone de Beauvoir (1908 a 1986), francesa, escritora de romances e ensaios, era adepta da filosofia existencialista. Embora não se considerasse feminista, Simone foi ícone do movimento feminista, principalmente por seus livros “O Segundo Sexo”, “Os Mandarins” e “Memórias de uma Moça Bem-Comportada”, publicados em 1949, 1954 e 1958, respectivamente. No primeiro, ela defende os direitos da mulher; no segundo, descreve o círculo existencialista em Paris após a segunda guerra mundial; no terceiro, narra fases da sua vida. Em “A Força da Idade”, publicado em 1960, Simone conta fatos da sua vida ocorridos entre 1929 e 1944, tais como: (1) o seu curso de filosofia; (2) o seu encontro e convívio com Jean-Paul Sartre e a primeira separação; (3) o tempo da sua formação literária, filosófica e política; (4) o seu magistério e o apogeu do existencialismo; (5) as viagens, amizades, ocupação da França pelos alemães e a libertação.

No pórtico do “Segundo Sexo”, Simone faz duas citações a indicar parâmetros: Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher (Pitágoras). Tudo o que os homens escreveram sobre as mulheres deve ser suspeito, pois eles são, a um só tempo, juiz e parte (Poulain de la Barre, século XVII).

Simone busca alicerces na historia, no mito e na ciência. Critica a posição subalterna da mulher na historia da humanidade. O homem é o sujeito, o absoluto, enquanto a mulher é o “outro”. Na Biologia, ela busca o amparo para demonstrar a injustificada desigualdade social entre o homem e a mulher. Examina a questão também do ponto de vista psicanalítico. Na mulher, o homem projeta todas as fêmeas do reino animal que se deitam servilmente para a posse do macho. Os fenômenos da multiplicação assexuada e da partenogênese não se mostram nem mais e nem menos fundamentais do que os da reprodução sexuada. Na maioria das espécies, há cooperação mútua entre os organismos masculino e feminino para reprodução. A mulher conhece uma alienação mais profunda quando o ovo fecundado desce ao útero e aí se desenvolve. A atividade ovariana, que desaparece com a menopausa após os 45 anos de idade, traz efeitos psicossomáticos. Os dados biológicos desempenham papel relevante na história da mulher. A eventual fraqueza muscular da mulher comparada à força do homem não significa fraqueza moral e intelectual. A mulher tem que ser vista e avaliada dentro de um contexto biológico, psicológico, econômico e social. Não é a natureza que define a mulher e sim a mulher que se define retomando a natureza em sua afetividade. Freud não se preocupou muito com o destino da mulher. Embora admita que em termos evolutivos a sexualidade da mulher está no mesmo nível da sexualidade do homem, Freud sustenta que a essência da libido é masculina, surja ela no homem ou na mulher. Uma vida é uma relação com o mundo. Escolhendo-se através do mundo é que o indivíduo se define; é para o mundo que nos devemos voltar a fim de responder questões que nos preocupam. A mulher se define como ser humano em busca de valores no seio de um mundo de valores, mundo cuja estrutura econômica e social é indispensável conhecer. A mulher deve se precaver contra o gosto pelo poder e evitar os defeitos dos homens. A teoria do materialismo histórico evidenciou verdades importantes. A humanidade não é uma espécie animal e sim uma realidade histórica. A sociedade humana não sofre passivamente a presença da natureza; ela a retoma em suas mãos. O destino da mulher e o destino do socialismo estão intimamente ligados. A mulher e o proletário são oprimidos. Ética verdadeiramente socialista que procure a justiça sem suprimir a liberdade, que imponha encargos aos indivíduos sem abolir a individualidade, ver-se-á embaraçada com os problemas postos pela condição da mulher. O monismo sexual de Freud e o monismo econômico de Engels são inadequados para explicar e compreender a mulher. A tendência da humanidade é a de superar-se. A mulher há de superar a sua posição subalterna na sociedade libertando-se dos grilhões que lhe foram postos.

Marguerite Duras (1914 a 1996), nascida Marguerita Donnadieu, na colônia francesa de Saigon, Indochina, onde passou a infância e a adolescência. Mudou-se para Paris, cursou Direito e Ciência Política na Sorbonne. Formou-se em 1935. Filiou-se ao partido comunista, participou ativamente da resistência francesa durante a segunda guerra mundial quando a França foi invadida pelas tropas alemãs. A partir de 1943, começa a publicar seus livros, dos quais “O Amante” se destacou por seu valor literário e rendeu a Marguerite o Prêmio Goncourt em 1984. O livro cobre o período de 1932 a 1949. Trata da experiência de vida da autora, sua mãe e irmãos na Indochina, do seu primeiro caso de amor com o filho de um milionário chinês aos quinze anos de idade, de quem ela se torna amante. Descreve a navegação no Rio Saigon, braço do Rio Mekong, a insuficiência ou ausência de rodovias e ferrovias na região, os navios que ligavam a Indochina à França em demoradas viagens de 24 dias até que fossem criadas as primeiras linhas aéreas. A narrativa alcança a vida adulta da autora em Paris, a morte da mãe e do irmão mais novo. Refere-se ao péssimo caráter do irmão remanescente, larápio, gigolô, viciado, que vendeu os bens da família, ficou na miséria, primeiro emprego como vigia de fábrica aos 50 anos de idade. No seu livro “A Dor”, lê-se: Essa nova face da morte organizada, racionalizada, descoberta na Alemanha, antes da indignação, desperta perplexidade. Fica-se assombrado. Como continuar a ser alemão? Buscam-se equivalências em outras partes, em outros tempos. Não existe nada. Uma das maiores nações civilizadas do mundo, a capital da música de todos os tempos, acaba de assassinar 11 milhões de seres humanos de maneira metódica, perfeita de uma indústria de Estado. Além de dezenas de livros, Marguerite produziu peças de teatro e filmes como diretora e roteirista. Entre estes, destaca-se “Hiroshima meu Amor”. 

José Saramago, romancista, poeta, dramaturgo, nascido em 1922 na província do Ribatejo, em Portugal, granjeou fama internacional com seus livros. Da sua produção intelectual constam: “Levantado do Chão”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “O Homem Duplicado”, publicados entre 1980 e 2002. Em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, José dá vestes próprias aos eventos narrados no evangelho. Ele se vale da imaginação e da licença artística como ao narrar a visita do anjo a Maria disfarçado de mendigo, a gruta em que ela estava com o filho recém nascido, o terror provocado pelo decreto de Herodes, a fuga, os diálogos com deus, a ovelha que Jesus titubeava em sacrificar e que deus insistia fosse morta, o debate entre deus e o diabo, e assim por diante. Nada de pieguice. Nada de milagre. Palavras aos borbotões. Costumes e fatos históricos citados como pano de fundo. O ostensivo a ocultar o recôndito. A terra mais saliente do que o céu. Recebeu o Premio Nobel.

Milan Kundera, escritor nascido em 1929, na cidade de Praga, Tchecoslováquia, testemunha a sujeição do seu país ao regime comunista. Trabalhou como operário, foi músico de jazz e se dedicou à literatura. Seu primeiro livro intitulado “A Brincadeira”, publicado em 1967, inscreve-se no movimento de libertação que culminou com a invasão do país pelas tropas soviéticas em 1968 (Primavera de Praga). A partir daí, os seus livros foram proibidos. Milan mudou-se para a França (1975). Tal qual o seu conterrâneo Kafka, para Milan também a vida é um absurdo, destituída de qualquer significado, ora sonho, ora pesadelo. A sua experiência de vida ajudou-o a escrever “A Insustentável Leveza do Ser”, notável romance de amor e erotismo que tem como personagens dois casais que nas suas mútuas relações acabam se atraindo para fins libidinosos. Há separações e trocas. O romance expõe problemas do relacionamento humano num cenário político opressivo (1983).   

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 22



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Aldous Leonard Huxley (1894 a 1963), escritor inglês, faz o seu primeiro poema aos 13 anos de idade: “Cavalos do Mar”. Forma-se em letras pela Universidade de Oxford (1915). Publica versos em revistas inglesas a partir de 1916. Mudou de paradeiro por duas vezes: Suíça e EUA (Los Angeles). Extensa foi a sua produção literária na qual se incluem: “Limbo”, “Essas Folhas Mortas”, “Contraponto”, “Sem Olhos em Gaza”, “As Portas da Percepção”, “A Ilha”, livros publicados no período de 1920 a 1962. Criou também a utopia “Admirável Mundo Novo”, futura sociedade humanamente padronizada que soluciona o problema do excesso de população pela esterilização metódica. Sociedade totalitária organizada em castas. Ridiculariza a fé no progresso científico e materialista. Projetou a dimensão mística e filosófica da sua personalidade em “A Filosofia Perene”, onde salienta a raiz comum de todas as crenças conhecidas. Busca amparo nas escrituras de santos e profetas, nos pensadores chineses (taoísmo), nos ensinamentos de Sidarta e Maomé (budismo e islamismo), nos textos hindus (bramanismo), no antigo testamento (judaísmo) e novo testamento (cristianismo), comentando esse patrimônio místico e religioso da humanidade. A exposição de Aldous favorece a reflexão e o debate sobre os temas religiosos do passado e do presente e possibilita a avaliação da conduta dos indivíduos e comunidades através dos séculos, panorama de comportamentos individuais e coletivos contraditórios reveladores da distância entre a crua realidade dos fatos, de um lado e as doutrinas e teorias, de outro.         

Antoine de Saint-Exupéry (1900 a 1944), escritor francês, ilustrador, participou da segunda guerra mundial como piloto de avião das Forças Francesas Livres, no Mediterrâneo. O seu avião foi abatido por fogo inimigo (alemão). O mar foi a sua sepultura. Antoine escrevia artigos para revistas e jornais franceses e alguns romances como “O Aviador”, “Correio do Sul”, “Terra dos Homens”, “Piloto de Guerra”, no período de 1926 a 1942. No entanto, o livro que o consagrou foi “O Pequeno Príncipe”, fábula para despertar a criança que mora no coração do adulto e questionar a hierarquia dos valores da humanidade. O autor se faz personagem nos seus diálogos com o pequeno visitante oriundo de um pequeno planeta. O príncipe visitante queria um pequeno carneiro para comer arbusto em seu planeta e impedir que crescessem árvores grandes como o baobá, mas que fossem preservadas as flores. O príncipe viaja por asteróides vizinhos ao seu planeta nos quais encontra determinados tipos de pessoa. No primeiro asteróide, o rei que não tinha súdito e ficou alegre com a sua chegada para poder exibir autoridade sobre alguém. No segundo asteróide, o vaidoso que via no visitante um seu admirador. No terceiro, o bêbado que bebia para esquecer que tinha vergonha de beber. No quarto, o homem de negócios que contava as estrelas das quais se julgava proprietário e não tinha tempo para mais nada, nem para cuidar da saúde. No quinto, o menor dos asteróides, o zelador do lampião cuja tarefa era acendê-lo e em seguida apaga-lo e tornar a acender e apagar, sucessivamente, sem parar porque este era o regulamento e o planeta girava cada vez mais depressa, quase sem intervalo entre o dia e a noite. No sexto asteróide, dez vezes maior do que o anterior, o geógrafo que escrevia livros enormes, mas que não sabia se havia oceano, cidade, rio e deserto em seu planeta porque não era explorador e não podia se afastar da sua escrivaninha, mas sabia que há coisas efêmeras e coisas que não mudam. A última visita do príncipe foi no planeta Terra. Ele pousou no deserto da África e o primeiro ser que encontrou foi uma serpente que o informou sobre a sua localização e o motivo de ali não haver humanos. Depois, ele encontra uma flor que lhe diz existirem na Terra seis ou sete homens que ela viu certa vez em caravana; que eles não gostam de fincar raízes e o vento os leva. O príncipe escalou uma montanha, ouviu o eco da sua voz e pensou tratar-se da voz dos homens e os julgou sem imaginação por repetirem o que ele dizia. Na sua caminhada, ele se deparou com um jardim cheio de rosas. Conversou com elas. Chorou desolado porque pensava que a rosa do seu planeta era a única do universo. Ele escuta um cumprimento. A raposa se identifica e se nega a brincar com ele porque ainda não foi cativada. Diz que, se for cativada, ela será necessária a ele e ele a ela. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas, disse a raposa. O príncipe entendeu que a rosa do seu planeta era a única no universo porque ela o cativara. Prosseguiu sua caminhada e finalmente encontrou alguns homens: o guarda-chaves que despacha os trens em direções opostas; o vendedor que vendia pílulas para aplacar a sede; o piloto a consertar o avião, com quem ele travou diálogos sobre a sua experiência e os valores humanos. Encerrada a visita, o pequeno príncipe regressa ao seu pequeno planeta.              

André Malraux (1901 a 1976) participou da resistência francesa na segunda guerra mundial, escritor festejado como um dos expoentes da literatura mundial. Escreveu várias obras de caráter político, social e filosófico. A sua última “L´Homme Precaire et la Literature” foi publicada após a sua morte. Destacam-se ainda: “La Condition Humaine”, inspirada no levante comunista chinês, “Esperança”, inspirada na guerra civil espanhola e “La Métamorphose des Dieux”.

Haldór Laxness, romancista nascido em 1902 na Islândia, sofreu influência de crenças e idéias católicas, socialistas e comunistas. Critica a instalação de bases estadunidenses na Islândia, país pacífico e cenário das suas obras. Ataca a moderna política de poder. Descreve pessoas lutando contra um mundo hostil em busca de independência. Escreveu: “Salka Valka”, “Luz do Mundo”, “A Base Atômica” e “Guerreiros Felizes”. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Marguerite Yourcenar (1903 a 1987) escritora belga, nascida Marguerite Cleenewerck de Crayencour, em Bruxelas, recebeu educação doméstica e ainda na infância aprendeu latim e grego. Após a morte do seu pai em 1929, levou uma vida boêmia viajando pela Europa. Em decorrência da proximidade da segunda guerra mundial, Marguerite muda-se para os EUA em 1939, onde se radica. Posteriormente, adquire cidadania americana. Isto não impediu sua admissão na Academia Francesa em 1980. Marguerite escreveu quase duas dezenas de livros em língua francesa. No primeiro (1929), intitulado “Aléxis”, o personagem central, músico famoso, envia carta à esposa confessando a sua homossexualidade e declarando o propósito de romper o casamento. “Memórias de Adriano” foi a sua obra-prima. Ficou conhecida internacionalmente. Na pessoa desse imperador romano a autora exemplifica os elevados atributos do humanismo da Idade Clássica. Apesar do cenário geográfico, social e político, o livro não é biográfico e sim ficcional, um romance extraordinário inspirado na História.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 21



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Na literatura do século XX, os realistas se extremam na linguagem picante dos marinheiros e vagabundos, na maneira bronca e indelicada dos trabalhadores se expressarem. Os temas mais freqüentes são: civilização burguesa degenerada, crueldade do sistema fundado no lucro, estupidez da guerra, corrupção, ignorância e intolerância.

Anatole France (1844 a 1924) satirizou a loucura humana. Escreveu ensaios, historietas maliciosas, sátiras religiosas e políticas. Em “O Jardim de Epicuro”, ele valorizou a ironia gentil e bondosa “que nos ensina a rir dos maldosos e dos tolos que poderíamos, sem ela, ter a fraqueza de odiar”. Anatole fez parceria com Emile Zola no vigoroso ataque contra os perseguidores de Dreyfus. Aliou-se também aos socialistas ao se convencer da injustiça reinante na sociedade moderna. Foi contemplado com o Prêmio Nobel de Literatura.

Arthur Conan Doyle (1859 a 1930), médico escocês, prestou seus serviços em duas guerras (Afeganistão + Transvaal), fixou residência em Londres e se dedicou à literatura. Criou dois personagens amigos e narrou suas aventuras que ganharam o mundo e ainda fazem sucesso: o detetive Sherlock Holmes e o médico Dr. Watson.  

Maurice Maeterlinck (1862 a 1949), poeta, ensaísta, dramaturgo, nasceu na Bélgica, viveu parte da sua vida em Paris, onde aderiu ao simbolismo. A sua peça teatral mais famosa intitula-se “Pélleas et Melisande”, animada pela música de Debussy. Simplicidade e poder de persuasão caracterizam a coletânea poética “As Estufas Quentes”. Escreveu, entre outros, os ensaios “A Vida das Abelhas” e “A Morte”. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Maurice Leblanc (1864 a 1941) francês, nascido no seio de rica família da Normandia, jornalista, mestre da ficção policial, criou o tipo de gatuno elegante, inteligente, espirituoso, charmoso, mais esperto do que os detetives mais célebres: Arsène Lupin. No livro “Arsène Lupin contra Sherlock Holmes”, o autor contrapõe o inglês defensor da lei ao heróico francês violador da lei. Entre os seus contos de maior sucesso consta o “Arsène Lupin na Prisão”, engenhoso e magistral. Entre as suas obras mais lidas estão “Ladrão de Casaca” e “A Agulha Oca”. Filmes modernos para o cinema e a televisão seguem o modelo Leblanc: a delinqüência bem sucedida de personagens inteligentes e encantadores.

Luigi Pirandello (1867 a 1936) italiano, poeta, romancista, contista, novelista, dramaturgo, renovador do teatro, originalidade e senso de humor, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, cuja medalha de ouro doou ao governo italiano na campanha “coleta de ouro” iniciada por Mussolini como resposta às sanções econômicas impostas à Itália pela Liga das Nações. Sua obra é extensa: peças de teatro e livros. Delas saíram os filmes: “A Viagem Proibida”, “Enrico IV” e “Lê Due Vite di Mattia Pascal”. Afirmava que o cômico nasce de uma percepção do contrário. Distinguia o cômico do humorístico. Entre os seus escritos contam-se principalmente: “Assim é, se lhe parece”, “Seis Personagens à Procura de um Autor”, “Cada um a seu modo”, “Um, Nenhum, Cem, Mil”, “O Falecido Matias Pascal”.   

Marcel Proust (1871 a 1922), um dos maiores escritores da escola realista francesa, filho de um médico e de uma judia rica, sofria de asma, prestou serviço militar e morreu em decorrência de pneumonia. Ele escreveu diversos artigos e ensaios. Na série “Em Busca do Tempo Perdido”, sua mais famosa obra, composta de sete livros, o personagem central é sempre o mesmo, de saúde precária, pessoa rica que freqüenta a alta sociedade parisiense, cuja vida é narrada desde a infância até a velhice, com os amores da adolescência e da maturidade e seus desenganos. A narrativa mostra a relação do personagem com o pai, com a mãe, com a avó, com a empregada (vida doméstica), com o pederasta Charlus e com o oficial militar Saint-Loup, ambos nobres, com a duquesa de Guermantes, com Odete, Gilberte, Albertine e outras mulheres (vida social). Conta viagens a cidades francesas de nome fictício e a Veneza. Em prosa atraente com frases interpoladas em períodos longos, Marcel descreve a moda e os costumes do século XIX. Menciona o caso Dreyfus. De modo ousado para a época, inclui a prostituição, a pederastia e o lesbianismo na obra. [Marcel era homossexual]. Faz cuidadosa análise psicológica e registra as mudanças na aparência e na conduta dos personagens operadas na passagem do tempo. Aqui, certamente, inspira-se no pensamento de Pascal: “Mudamos com a passagem do tempo. Os amigos do passado distante não são os mesmos. Assim também os amores. Olhamos as coisas com outros olhos. Todos os prazeres não passam de vaidades”. Marcel retrata a realidade social e econômica da nobreza decadente e da burguesia ascendente. Relata com detalhes as reuniões sociais nos salões e a competição entre as madames para ver quem reunia no seu salão as pessoas mais ilustres. O convite para a reunião media o prestígio de quem o recebia. Marcel mostra conhecer o estágio científico e as nuances filosóficas e políticas da sua época.

William Somerset Maugham (1874 a 1965), nasceu em Paris quando o pai servia na embaixada inglêsa, ainda criança voltou para a Inglaterra. Romancista, contista e dramaturgo inglês, viveu entre os pobres enquanto estudava medicina. Esta experiência inspirou o seu romance de estréia: Liza of Lambeth. Em “Servidão Humana” narra, com base na sua própria vida, uma adolescência solitária e o doloroso caminho em direção à maturidade. Inspirado na vida do pintor Paul Gauguin, escreveu “Um Gosto e Seis Vinténs”. Com base na sua experiência de viajante escreveu: “Histórias dos Mares do Sul”, “Um Drama na Malásia”, “A Carta”, “Chuva”.    

Thomas Mann (1875 a 1955), alemão, filho de um senador e rico comerciante da cidade de Lübeck, romancista, contista, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Seus primeiros contos foram reunidos em um volume intitulado “O Pequeno Senhor Friedman”. Depois publicou “O Buddenbrook”, livro que o tornou célebre. Outras obras de menor vulto lhe seguiram como “A Morte em Veneza”, adaptada para o cinema, “Tristão”, “Tobias Mindernickel”, pequeno conto em que o personagem que o intitula, solitário e esquisito, adquire um cão e dele cuida com carinho, mas, de modo inexplicável e infame, em certo dia, no seu apartamento, mata o animal com uma facada. Thomas ainda publicou o livro considerado um dos maiores do século: “A Montanha Mágica”. Mudou-se para os EUA, para fugir do nazismo e depois para a Suiça. Prosseguiu na sua produção literária: “Cabeças Trocadas”, “Doutor Fausto”, “Os Famintos”.

James Augustine Aloysius Joyce (1882 a 1941), romancista e poeta irlandês, colocado no Olimpo literário ao lado de Proust e Kafka, educado em regime de internato na cidade de Dublin, ele sai da sua terra natal por discordar da intolerância do catolicismo romano ali reinante. Erra por Trieste, Zurique e Paris. Revolucionou a estrutura do romance. Contribuiu para a chamada corrente da consciência. Influenciado pela psicanálise, James busca retratar em suas obras o que se passa na mente humana. As palavras adquirem inúmeros significados de modo a sugerir uma fragmentação do pensamento comum. Em “Ulysses”, sua obra-prima, paródia da “Odisséia” de Homero, ele navega do realismo à fantasia ao relatar um dia na vida de Leopold Bloom, um personagem comum (1922). Em “Finnegans Wake”, ele conta a história de Chimpden Earwicker, taberneiro de Dublin (1939).         

Franz Kafka (1883 a 1924), romancista, contista, nasceu em família rica, na cidade de Praga, na Boêmia (Tchecoslováquia), sob o império austro-húngaro. Formou-se em direito e exerceu a advocacia. Apesar do namoro com quatro mulheres e o noivado com uma delas, preferiu o celibato. O pai não o reconheceu como escritor. Na obra de Franz, marcam presença: o fantástico, o humor grotesco, a culpa, a dúvida, a autoridade e a liberdade. A sua morte ocorreu no sanatório de Kierling, próximo a Viena, em conseqüência da doença nos pulmões. No idioma alemão, escreveu romance, conto, novela, tais como: “Carta ao Pai”, “O Veredicto”, “Na Colônia Penal”, “O Castelo”. Franz narra a submissão de um filho à sentença de morte proferida pelo pai durante conversa doméstica. Em “Metamorfose”, a sua imaginação trabalhou mais na esfera do fantástico. Enquanto escrevia, leu o primeiro capítulo aos amigos em um bar e todos riram às gargalhadas, inclusive ele. O personagem central, Gregor Samsa, solteiro, morava com seus pais e sua irmã. Certa manhã, ao acordar, ele percebe que se transformou em um inseto monstruoso. Durante meses causa problemas à família. Finalmente, morre, para alívio de todos. Com uma vassoura, a criada o retira do quarto. Em “O Processo”, considerado o seu melhor romance, fica evidente a formação jurídica de Franz. O personagem Josef K, procurador de um banco, que morava em cômodo alugado na casa da senhora Grubach, esperava pelo café da manhã que lhe traria Anna, a criada, quando vê o seu quarto invadido por um homem enquanto outro aguardava na sala. Sem lhe dar explicações, o homem comunicou-lhe que estava detido. Assim, tem início o processo que Josef respondeu em liberdade, autorizado a continuar seu trabalho no banco e seguir a sua vida habitual, que incluía freqüência a uma cervejaria após o trabalho e visitas esporádicas a Elsa, sua amiga e amante. O processo tinha seus trâmites perante tribunal de exceção, onde Josef prestava depoimento e dialogava com diversas pessoas desconhecidas. No final, Josef é executado por dois indivíduos supostamente oficiais de justiça que cumpriam ordens. O motivo da acusação e da condenação não foi revelado.

Nikos Kazantzakis (1883 a 1957), grego, poeta, romancista, nasceu na ilha de Creta, da qual faz tema recorrente em sua obra. Os seus romances foram adaptados para o cinema: “Zorba”, “Cristo Recrucificado” e “A Última Tentação de Cristo”. 

Andrés Maurois (Emile Salomon Wilhelm Herzog, 1885 a 1967), francês, nascido no seio de rica família de industriais de Elbeuf, romancista, contista, membro da Academia Francesa. Seus primeiros livros foram: “O Silêncio do Coronel Branbles” e “Os Discursos do Dr. O´Grady”. As obras que o tornaram célebre foram biografias de Byron, Sheley e Disraeli, que se tornaram clássicas neste gênero de literatura. No comovente conto “O Mal-entendido”, narra a história de Neuville, jovem e sedutor diplomata e Beatriz, jovem e bela francesa, governanta de outra família nobre na Áustria. Os dois se amavam, mas não se tornaram amantes e nem cônjuges porque ela não acreditava na sinceridade do amor daquele Don Juan. Ela se casou com outro. Ele nunca se casou, sempre fiel à lembrança de Beatriz. No final da vida, depois de quarenta anos de separação, ela soube notícia dele e do verdadeiro e sincero amor que ele lhe devotara certo de que ela não o amava. Ao amigo mensageiro ela confessa que sempre o amara, mas se recusou a visitá-lo para não apagar a imagem da sua juventude. Na semana seguinte dessa troca de informações, Neuville morre com mais de oitenta anos de idade, sem rever aquela mulher que ele amara por toda a vida e da qual fora separado por um mal-entendido.      

François Mauriac (1885 a 1970), romancista francês, a sua obra provém de uma visão religiosa e pessimista da vida. Seus personagens se debatem na luta entre o corpo e o espírito. O cenário de sua predileção é o sudoeste da França, onde o calor e a floresta contribuíram para o clima emocional dos seus romances. Nesse clima, desenrola-se a história de “Thérèse Desqueyroux”, seu romance mais conhecido. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Agatha Christie (1891 a 1976), inglesa, romancista, contista, dramaturga, poetisa, escreveu livros, peças de teatro e ficção policial. Seus livros tiveram grande aceitação pelo público. Escritora mais publicada no mundo, depois de Shakespeare e da Bíblia. Entre os personagens que criou, presentes em muitas das aventuras narradas, estão Hercule Poirot, detetive belga que morava em Londres, e seu amigo Arthur Hasting. O detetive de meia idade, vaidoso, inteligente, tem excepcional faro para seguir a pista certa. O amigo relata as aventuras do detetive e se coloca sempre como menos perspicaz, sempre vencido pelo raciocínio do outro. Algumas das obras de Agatha foram adaptadas para o cinema, como “A Testemunha do Processo” e “Assassinato no Expresso do Oriente”. Outra obra de grande sucesso foi “O Caso dos Dez Negrinhos”. Ela primava por esconder a identidade do assassino e por finais inesperados. 
 

Vladimir Mayakovsky (1894 a 1930), russo, poeta, dramaturgo, preso diversas vezes pelo governo soviético por subversão. Vladimir liderou o movimento futurista. Os mitos da revolução lhe serviram de matéria para longos poemas. Dirigiu peças teatrais criticando o provincianismo que se seguiu à revolução russa. O governo soviético impediu-o de viajar para o exterior. Ele se suicidou. Poemas mais conhecidos: “Okay”, “Do Alto da Minha Voz” e “Sobre Isto”.  

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 20



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

A conquista do espaço sideral, os problemas comuns em escala planetária e as comunicações sem fronteiras geram consciência cosmopolita, ou seja: as pessoas expandem sua consciência individual para além de si mesmas, do seu lar, da sua cidade, do seu país e do seu planeta. A Física especula sobre: (1) o limite espacial do universo; (2) a matéria escura; (3) o plasma universal; (4) as múltiplas dimensões em nível subatômico. Introduz o acaso e o caos na especulação científica. Diversifica-se a aplicação do raio laser, das fibras óticas e do silício (chip eletrônico, semicondutores em transistores, cristais para relógios de precisão, aplicação no aço, bronze, vidro). Aperfeiçoam-se aparelhos de sondagem interna do corpo humano e técnicas cirúrgicas. A humanidade percebe que mananciais podem secar, a poluição afeta o clima e a saúde, o aquecimento global provoca degelo no pólo e elevação do nível do mar.

O código genético é decifrado. A engenharia genética se desenvolve. Há clonagem de animais a partir da experiência com a ovelha Dolly, na cidade de Edimburgo, primeiro animal mamífero gerado de uma célula extraída de animal adulto (1996). Empresas passam a produzir animais clonados que entram no comércio pecuário. Debates sobre pesquisa genética ensejam nova disciplina: Bioética. A UNESCO promulga a “Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos” (11.11.1997). Órgãos são transplantados de pessoa para pessoa. Christian Neethling Barnard (1922 a 2001), médico cirurgião sul-africano, revolucionou a cardiologia ao realizar o primeiro transplante de coração conhecido no mundo (1967). Causou polêmica ao defender e praticar a eutanásia em doentes terminais (inclusive sua mãe). A igreja cristã opõe-se à pesquisa científica com célula tronco-embrionária, ao aborto, a métodos anticoncepcionais e a uniões homossexuais. Aids, câncer, diabetes e epidemias multiplicam o número de vítimas no mundo e exigem pesquisas de controle e erradicação. Drogas com efeitos colaterais danosos são lançadas no mercado pelos laboratórios (o mundo se alarmou com as vítimas da talidomida). Fora da Europa, há países carentes de remédios, assistência médica, alimentos, moradia, saneamento básico e escolas. Países europeus prestam assistência aos consumidores de bebidas alcoólicas, tabaco, maconha e outras drogas, independente de persecução criminal.

A robotização aumenta a produtividade e reduz o número de trabalhadores nas fábricas, o que contribui para agravar o problema do desemprego. Cresce o consumo de energia e a demanda por automóveis, computadores, telefones celulares e outros produtos tecnológicos. Os meios de comunicação social padronizam condutas e opiniões, fazendo do planeta uma aldeia global, como dito por MacLuhan. A sensibilidade moral se atrofia com a passividade do sujeito diante do aparelho de televisão ligado. Gente feia, faminta, desnutrida, maltrapilha, doente, sem teto, filmados nos países da África; gente bonita, bem nutrida, bem vestida e agasalhada, saudável, em lugares paradisíacos com casas, automóveis, jatinhos e barcos luxuosos, filmados na América e na Europa; cenas que desfilam pelos olhos indiferentes do telespectador.    

A literatura no século XX ganhou reforço com a instituição, na Suécia, do Prêmio Nobel (1901). A premiação é realizada todos os anos sob a direção da academia sueca. A fama do escritor e a extensão territorial em que a obra é conhecida pesam pouco na avaliação. Possivelmente, 99,9% da população mundial nunca ouviram falar dos escritores premiados. Certamente, o público maior desses escritores é composto de professores e alunos do curso de Literatura nas diferentes universidades da Europa e da América. Fatores políticos, econômicos e sociais entram no processo de escolha. O prêmio pode ser outorgado a um escritor em dificuldade financeira; a outro, pela defesa da liberdade em país totalitário; a outro, por se relacionar bem com a comunidade de escritores e editores, e assim por diante. Inúmeros escritores que mereciam o prêmio não foram escolhidos. Entre eles estão: Tolstoi, Proust, Joyce, Kafka, Ibsen, Zola, Valery, Amado, Borges, Galeano. Houve duas recusas: a de Boris Pasternak, impedido de receber o prêmio pelo governo soviético (1958) e a de Jean-Paul Sartre, que se negou a recebê-lo por se considerar filósofo e não literato (1964).

Do total de 111 (cento e onze) escritores premiados até 2014, 10 (dez) são mulheres e 1 (um) é negro. A maioria é da Europa. Até a segunda guerra mundial, foram abertas duas exceções: uma para a Índia, em 1913 e outra para os EUA, em 1930, 1936 e 1938 (era importante o apoio americano na guerra que estava prestes a eclodir). Depois da guerra, novas exceções: 6 (seis) prêmios para os EUA entre 1948 e 1998; 2 (dois) prêmios para: o Chile em 1945 e 1971, o Japão em 1968 e 1994, a África do Sul em 1991 e 2003, a China em 2000 e 2012; 1 (um) prêmio para: Israel em 1966, Guatemala em 1967, Austrália em 1973, Colômbia em 1982, Nigéria em 1986, Egito em 1988, México em 1990, Peru em 2010 e Canadá em 2013. Por ordem cronológica de premiação em cada continente, a partir de 1901 até 2014 inclusive, foram agraciados:

EUROPA: Sully Prudhomme, França; Theodor Mommsen, Alemanha; Bjornstjerne Bjornson, Noruega; José Echegaray, Espanha; Frédéric Mistral, França; Henrik Sienkiewicz, Polônia; Giosué Carducci, Itália; Rudyard Kipling, Reino Unido; Rudolf Eucken, Alemanha; Selma Lagerlöf, Suécia; Paul J.L. von Heyse, Alemanha; Maurice Maeterlinck, Bélgica; Gerhart Hauptmann, Alemanha; Romain Rolland, França; Verner von Heidenstam, Suécia; Karl Adolph Gjellerup e Henrik Pontoppidan, Dinamarca; Carl Spittele, Suíça; Knut Hamsun, Noruega; Anatole France, França; Jacinto Benavente, Espanha; William Butler Yeats, Irlanda; Wladyslaw Reymont, Polônia; George Bernard Shaw, Irlanda; Grazia Deledda, Itália; Henri Bérgson, França; Sigrid Undset, Noruega; Thomas Mann, Alemanha; Erik Axel Kailfeldt, Suécia; John Galsworthy, Reino Unido; Ivan Bunin, URSS; Luigi Pirandello, Itália; Roger Martin du Gard, França; Frans Eemil Sillanpää, Finlândia; Johannes Vilhem Jensen, Dinamarca; Hermann Hesse, Alemanha; André Gide, França; Bertrand Russell, Reino Unido; Pär Lagerkvist, Suécia; François Mauriac, França; Winston Churchillj, Reino Unido; Halldón Laxness, Islândia; Juan Ramón Jiménez, Espanha; Albert Camus, França; Boris Pasternak, URSS; Salvatore Quasimodo, Itália; Saint-John Perse, França; Ivo Andríc, Iugoslávia; Giórgos Seféris, Grécia; Jean-Paul Sartre, França; Michail Sholokhov, URSS; Nelly Sachs, Alemanha; Samuel Beckett, Irlanda; Alexander Soljenitsin, URSS; Henrich Böll, Alemanha; Eyvind Johnson e Harry Martinson, Suécia; Eugênio Montale, Itália; Vicente Alexandre, Espanha; Isaac Bashevis Singer, Polônia; Odysséas Elytis, Grécia; Czeslaw Mitosz, Polônia; Elias Canetti, Turquia; William Golding, Reino Unido; Jaroslav Seifert, República Checa; Claude Simon, França; Joseph Brodsky, URSS; Camilo José Cela, Espanha; Derek Walcott, Santa Lúcia; Seamus Heaney, Irlanda; Wistawa Szymborska, Polônia; Dario Fo, Itália; José Saramago, Portugal; Günter Grass, Alemanha; Vidiadhar Naipaul, Reino Unido; Imre Kertész, Hungria; Elfriede Jelinek, Áustria; Harold Pinter, Reino Unido; Orhan Pamuk, Turquia; Doris Lessing, Reino Unido; Jean-Marie G. Lê Clésio, França; Herda Muller, Alemanha; Thomas Tranströmer, Suécia; Patrick Modiano, França. AMÉRICA: Sinclair Lewis, Eugene O´Neill e Pearl S. Buck, EUA; Gabriela Mistral, Chile; T.S. Eliot, William Faulkner, Ernest Hemingway e John Steinbeck, EUA; Miguel Angel Astúrias, Guatemala; Pablo Neruda, Chile; Saul Bellow, EUA; Gabriel Garcia Márquez, Colômbia; Octávio Paz, México; Toni Morrison, EUA; Mario Vargas Llosa, Peru; Alice Munro, Canadá. ÁFRICA: Wole Soyinka, Nigéria; Naguib Mahfouz, Egito; Nadine Gardiner e J.M. Coetzee, África do Sul. ÁSIA: Rabindranath Tagore, Índia; Shmuel Yosef Agnon, Israel; Yasunari Kawabata e Kenzeburo Oe, Japão; Gao Xingjian e Mo Yan, China. OCEANIA: Patrick White, Austrália.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 19



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Houve estímulos recíprocos entre a revolução intelectual e a revolução industrial. Elevou-se o padrão de vida na sociedade européia. A ânsia por conforto e prazer estimula a produção de utilidades cada vez mais aperfeiçoadas e diversificadas. Algumas demandas são provocadas pelos produtores. Ante a insaciável sede de conhecimento e progresso foram criadas associações de cunho científico cujo patrocínio, às vezes, molda o respectivo trabalho. Instrumental para a pesquisa científica é produzido e aperfeiçoado desde o telescópio e o microscópio até aparelhos altamente sofisticados, como os computadores e as máquinas cibernéticas (robôs).

Augusto Weismann (1834 a 1914), cientista alemão, impugnou a tese da transmissão dos caracteres adquiridos. Mostrou a distinção entre as células somáticas e as células reprodutoras e a impossibilidade de modificações nas somáticas afetarem as reprodutoras. Concluiu: as únicas qualidades transmissíveis à descendência são aquelas que sempre estiveram no plasma germinativo dos pais.

Hugo De Vries (1848 a 1935), botânico holandês, publicou seus estudos sobre as mutações. Este cientista partiu das leis da hereditariedade descobertas pelo monge austríaco Gregório Mendel e do princípio darwiniano da seleção natural.  Segundo o cientista holandês, a evolução se processa por saltos repentinos, mediante mutações ou modificações radicais de uma geração a outra e não por pequenas variações como supunha Darwin. Os descendentes herdam as qualidades decorrentes das mutações sofridas pelos ascendentes. De tempos e em tempos, surgem novos mutantes melhor adaptados ao meio. Depois de um determinado número de gerações, nova espécie pode surgir. 

Takamine, cientista japonês, isola a adrenalina segregada pelas glândulas supra-renais e mostrou a sua utilidade no funcionamento do coração (1901). Descobriu-se, depois, que a glândula pituitária produz substância essencial ao crescimento do corpo (1912). Intensificou-se o estudo do sistema glandular para fins terapêuticos que inclui a administração de hormônios no paciente. Práticas místicas orientais incidem sobre as glândulas. Ao tratarem da técnica terapêutica, as monografias da Antiga e Mística Ordem Rosacruz – AMORC consideram as glândulas centros psíquicos. Descobriu-se que amido, gordura, açúcar e proteína não eram as únicas substâncias necessárias à boa alimentação, mas também elementos acessórios encontrados exclusivamente em certos alimentos. Tais elementos receberam o nome genérico de vitamina. Em 1915, foram identificados dois tipos de vitaminas: A e B; posteriormente, dezenas de tipos foram descobertos. O médico canadense Frederik Banting desenvolve a insulina para combater diabetes. Esse produto também se mostrou eficaz na cura de certos tipos de loucura. Os vírus causadores da varíola, raiva, paralisia infantil, febre amarela e resfriado comum foram identificados; buscam-se meios de neutralizá-los ou exterminá-los.

Novas drogas foram produzidas. A sulfa destina-se ao tratamento das infecções provocadas por estafilococos. Penicilina e Estreptomicina utilizadas na cura de numerosas moléstias e infecções. Hormônios sintéticos aplicados para restabelecer o equilíbrio hormonal nos pacientes. A pílula anticoncepcional recebeu boa acolhida pelas mulheres e enriqueceu ainda mais a indústria farmacológica. Na ânsia de lucro, os laboratórios também produzem drogas nocivas, como a talidomida, responsável pelos defeitos congênitos em crianças cujas mães ingeriram aquele remédio. Foram criados métodos para tratamento do câncer, inclusive mediante radiação, e técnicas para o armazenamento de sangue, de plasma e de genes.

Ernest Rutherford e Niels Bohr descrevem o átomo (invisível) como miniatura do sistema solar (visível): um núcleo (próton + nêutron) de carga positiva em torno do qual giram unidades elétricas de carga negativa (elétrons). Concluíram que a eletricidade é o elemento fundamental da matéria. No período compreendido entre 1905 e 1915, Albert Einstein publica suas teorias divergindo das teorias vigentes que consideravam absolutos o espaço e o movimento. Na escala astronômica, o espírito relativista (Einstein) transcende o espírito clássico (Newton). A tese de Einstein é a de que há relação entre movimento e espaço e que há quatro dimensões: comprimento, largura, altura e tempo. Agrupou as quatro na síntese: espaço-tempo continuum. A massa depende do movimento. Tamanho e peso dos corpos em movimento variam segundo a velocidade e diferem quando em repouso. Velocidade e movimento são conceitos distintos. “O fluxo de eletricidade negativa livre possui duas velocidades diferentes: uma quando o consideramos como um conjunto de partículas; outra quando aí vemos um curso de ondas” (Karl Darrow). Ambígua, neste caso, é a realidade e não a formulação do cientista. No entender de Einstein, a matéria na sua originária manifestação é energia e o universo é finito no que concerne ao espaço. {O espaço é finito e depende do tempo}. Há uma região além do espaço onde não existe matéria. O espaço curva-se sobre si mesmo e faz do universo uma gigantesca esfera dentro da qual estão as galáxias com as suas estrelas, os seus planetas, cometas e asteróides. No século XXI, servindo-se de poderosos e modernos telescópios, os astrônomos verificaram a conexão por filamentos entre galáxias que, assim, formam um conjunto galático.    

Werner Heinsenberg (1901 a 1976), físico alemão, ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1932. Ele desenvolveu a mecânica quântica e descobriu que os elétrons não seguem qualquer lei definida de causa e efeito. A esta dinâmica que ocorre no mundo subatômico foi dado o nome de princípio da indeterminação ou princípio da incerteza. Destarte, pelo menos, neste nível da matéria, o princípio mecanicista da causalidade universal perdeu a sua plenitude, assim como, a geometria do sólido perdeu a sua plena aplicação. Do mundo subatômico, o cientista não extrai certezas e sim probabilidades tão somente. A perturbação, a incerteza, o erro, passam a ser considerados no estudo dos fenômenos físicos. O determinado sofre a concorrência do indeterminado. O determinismo provoca o – ou provém do – sentimento de ordem, repouso, certeza, simetria, segurança; o indeterminismo provoca o – ou provém do – sentimento de desordem, agitação, incerteza, assimetria, insegurança. As idéias de perturbação e deformação passam a freqüentar o vocabulário científico. No século XXI, os físicos se defrontam com o bóson de Higgs, possivelmente responsável pela massa de todas as partículas atômicas.

As teorias de Rutherford, Bohr, Einstein e Heisenberg mudaram a antiga concepção do universo. Os físicos também engendraram técnicas para liberar a energia contida no átomo. Descobrem que além dos prótons de carga positiva, o núcleo também se compõe de nêutrons de carga elétrica neutra. Ao bombardear os átomos do urânio com nêutrons, os cientistas conseguiram dividi-lo. Desprendeu-se enorme quantidade de energia. Sob a direção e o patrocínio do governo dos EUA, os cientistas produziram as primeiras bombas atômicas (1945). Esse governo brindou o final da guerra com duas bombas atômicas, uma para Nagasaki e outra para Hiroshima. Grato pelo brinde, o Japão celebrou a paz.    

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 18



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

O espírito científico não se libertou inteiramente do espírito religioso. Esta indevida conexão responde por equívocos cobertos pela etiqueta da ciência. “No piolho podemos ver o dedo de deus”, dizia um anatomista do século XVII. Einstein incorreu no mesmo erro no século XX, ao pretender amoldar a ciência à teologia, porém se penitenciou quando o corrigiu. O espírito mágico também permanece. O mago opera com aquilo que está oculto na natureza e o faz visando o bem (magia branca) ou o mal (magia negra). O cientista traz para a claridade aquilo que está oculto na natureza. A microfísica implica nova epistemologia: o objeto elementar da ciência nesta região não é sólido, nem líquido, nem gasoso. A geometria dos sólidos tem mínima aplicação neste campo. Constatou-se que a matéria é formada de partículas elétricas que se deformam no movimento. Ao perder ou ganhar energia, o átomo assume nova forma. Verificou-se a passagem do ter para o ser: a matéria não tem energia; a matéria é energia. Tal passagem também se verifica no misticismo: deus não tem luz, vida e amor; deus é luz, vida e amor.

Os historiadores referem-se à revolução tecnológica ocorrida no século XX: cibernética, telemática, rapidez do transporte humano e de carga (trem bala, trem de levitação magnética, avião supersônico). O título “revolução” justifica-se pela repercussão desses avanços nos costumes, nas artes, nas relações de consumo e por salientar a indiferença da técnica em relação aos valores morais e religiosos. Por outro ângulo, verifica-se o contínuo desenvolvimento da técnica na história da humanidade, desde a invenção da roda até a nave espacial. No mundo moderno, o laboratório distancia-se do atelier e do escritório. O artista e o filósofo trabalham de modo individual. O trabalho científico diversifica-se, especializa-se e conta com equipes e não apenas com a dedicação individual. A especialização ocorre também na indústria, no comércio, na agricultura, na pecuária e nos serviços em geral.

A desilusão pode motivar a busca de alternativas. Divorciada da ética, a utilização da ciência e da tecnologia pode produzir frutos amargos. A filosofia mecânica rompe com o passado e sela a revolução científica. Segundo essa filosofia, as categorias que explicam os fenômenos são: a forma, o tamanho, a quantidade, o movimento e o repouso; os corpos são constituídos de átomos ou corpúsculos invisíveis. Os filósofos mecanicistas também se debruçaram sobre os processos vitais: os seres vivos atuam segundo as leis da mecânica. Descartes e Hobbes, por exemplo, centraram atenção nos fenômenos vitais e no comportamento do animal (racional e irracional). O sistema cartesiano foi a mais influente e admirável versão da filosofia mecânica. Os otimistas estavam convictos de que o paraíso chegara ao nosso mundo. Simultânea à formação do sistema capitalista, a revolução científica e tecnológica foi sem paralelo no mundo. Isto desafiou a capacidade do homem de se ajustar ao novo ambiente. A instabilidade gerada pela velocidade das mudanças tornou-se dramática, influiu nas relações humanas e aguçou contradições. O sentimento de urgência assedia as novas gerações: a vida é curta; viver intensamente o presente; felicidade já; o futuro a deus pertence. Casamento de curta duração, instabilidade no emprego, exigência de resultados imediatos, são efeitos da nova dinâmica social.  

A eletricidade e os derivados do petróleo tornam-se as principais fontes de energia, deixando em segundo plano o vapor e as energias nuclear, solar e eólica.  Cresce o automatismo das máquinas. O trabalho se especializa. Surgem novas profissões. O trabalho científico serve à técnica e ao capital. A maquinaria automática aumentou a produção de bens e suscitou a idéia de dividir tarefas em unidades diminutas do processo de fabricação. Inventaram a célula fotoelétrica. A ciência a serviço da indústria química possibilitou a produção de artigos sintéticos e farmacológicos. O dispositivo denominado diafragma, ao evitar a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, previne a gravidez. A mesma finalidade preventiva tem o invólucro de plástico (Camisa de Vênus) e a vasectomia. A família se beneficiou com máquinas elétricas, aparelhos eletrônicos e utensílios de plástico. O conforto em casa e no trabalho externo, a maior diversidade de remédios, técnicas cirúrgicas aperfeiçoadas e dietas balanceadas, contribuíram para melhorar a saúde das pessoas e aumentar a expectativa de vida que, nos dias atuais, está em torno de 80 anos. Os octogenários são 15% da população européia (2014).

O conceito de família transforma-se pela prática social. Lar homossexual com filhos adotivos registrados em nome do casal e do pai biológico. Convívio de famílias constituídas e providas pela mesma pessoa (poligamia). Sucessão de bens e direitos contemplando a esposa e a outra companheira do marido. Filho registrado em nome do pai biológico e do pai adotivo. Nomes da mãe e da madrasta lançados no registro de nascimento do filho e enteado. Essas mudanças operam-se no plano dos fatos e acabam protegidas pelo legislador ou pelo juiz, ainda que desaprovadas pela religião. Os avanços na biologia, principalmente no campo da genética, exigiram novas leis e um novo direito. Drogas e plantas alucinógenas circulam pelos continentes e são consumidas pelos jovens. Entre os países da Europa hodierna, os nórdicos apresentam a melhor distribuição de renda, bom padrão de vida, menor índice de corrupção e baixa criminalidade (Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Islândia, Noruega, Suécia).   

Em setores da ciência e da tecnologia há invenções paralelas por diferentes pessoas sem comunicação entre elas. Isto aconteceu com o avião. A idéia de voar vem de longe. Conta-se que, na Idade Antiga, Ícaro se equipou com asas coladas ao corpo com cera e se atirou do alto de um rochedo. O sol derreteu a cera, as asas se despregaram e o homem voador despencou. O Ícaro da Idade Contemporânea voa de asa delta, para-pente, wingsuit (macacão com asa) e base jump (building antena spam earth) atirando-se de altos edifícios, antenas, pontes e montanhas. Na Idade Média, Leonardo da Vinci planejou a máquina voadora. Na Idade Moderna, há notícia de experimentos com máquinas voadoras mais pesadas do que o ar dos quais não há prova. O brasileiro Alberto Santos Dumont (1873 a 1932), vivendo na França, sem preocupação financeira, membro de família rica, idealizou objetos voadores dirigíveis pelo homem. Perante uma comissão do aeroclube da França, demonstrou a dirigibilidade dos balões ao contornar a Torre Eiffel, em Paris. A seguir, naquela mesma cidade, Alberto construiu máquina voadora com motor a explosão denominada 14-Bis e empreendeu o primeiro vôo em público e documentado da história da aviação (1906). Recebeu o Deutsch-Archdeacon Prize como reconhecimento pelo primeiro vôo motorizado da Europa. Alberto criou o monoplano que pesava 100 kg., com velocidade máxima de 90 km/h. Batizou-o de Demoiselle (1907). Alberto suicidou-se quando estava no Brasil, na praia paulista do Guarujá. O motivo seria o desgosto de ver a sua invenção utilizada para fins bélicos.

O rádio, como instrumento de comunicação, expandiu-se a partir de 1920. Na segunda guerra mundial, os ingleses inventaram o radar (dio detection and rage). Este aparelho permitia à defesa britânica detectar a presença dos aviões inimigos quando ainda se encontravam a uma distância de 100 milhas. Com auxílio desta invenção, os britânicos destruíram mais de uma centena de aeronaves alemãs. A navegação aérea civil e militar se desenvolveu. Sofisticados, potentes e velozes aviões transportam passageiros e carga por todos os continentes. Avançada tecnologia dos aviões de combate e espionagem protege-os do radar (invisibilidade). Naves espaciais viajam pelo sistema solar. Satélites artificiais foram criados e lançados ao espaço para monitorar a Terra e auxiliar na meteorologia, na pesquisa astronômica e nas comunicações.