quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

código da vinci V

JESUS GALILEU

O autor de “O Código Da Vinci” e os professores que o contestaram referem-se a Jesus como judeu quando, na verdade, Jesus e o seu grupo eram oriundos da Galiléia e não da Judéia; portanto, eram galileus e não judeus. Cumpre lembrar que ao tempo do nascimento de Jesus, a Galiléia era habitada há 7 séculos por povos vindos do oriente, depois da expulsão das 10 tribos de Israel. O fato de alguém ser galileu não significava que fosse hebreu, ou israelita, muito menos judeu. Israelita era o hebreu do Reino de Israel (Norte da Palestina). Judeu era o hebreu do Reino de Judá (Sul da Palestina). Jerusalém localizava-se em terras da tribo Benjamin que junto à tribo de Judá formava o Reino de Judá. O apóstolo Pedro refere-se aos habitantes de Jerusalém como um povo diferente do seu povo. “Tornou-se este fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado, na língua deles, Hacéldama, isto é, Campo de Sangue” (Atos 1: 19); ou seja, na língua dos judeus e não na língua dos galileus. Por seu linguajar diferente, Pedro foi acusado de pertencer ao grupo de Jesus, quando Jesus estava detido e sendo inquirido no Sinédrio. Em outra ocasião, Pedro interroga Jesus sobre a restauração do Reino de Israel e não do Reino de Judá (Atos 1: 6). Ao tempo de Jesus, o Reino de Israel estava extinto há mais de 700 anos e as suas 10 tribos espalhadas pelo mundo. O Reino de Judá estava extinto há cerca de 600 anos, desde a remoção compulsória das suas duas tribos para a Babilônia. O exílio dos judeus na Babilônia terminou por volta de 538 AC, quando alguns judeus regressaram a Jerusalém. Foram subjugados, sucessivamente, pelos gregos a partir de 323 AC, pelos assírios a partir de 175 AC, e pelos romanos a partir de 63 AC.

Somente os apóstolos Mateus e Lucas falam do nascimento acidental de Jesus em Belém, cidade natal do rei Davi, na Judéia. Explicam o deslocamento da Galiléia para a Judéia com a realização de um censo do qual não há registro na história. Houve um esforço dos evangelistas para colocar Jesus na realeza judaica, porque o Antigo Testamento refere-se a um messias da linhagem de Davi (embora se refira, também, a um renovo da Galiléia). Acontece que não havia laço sangüíneo entre José e Jesus. Ainda que José descendesse de Davi, Jesus não descenderia. Para amenizar, tentam colocar Maria (mãe de Jesus) também na linhagem de Davi. No entanto, a sucessão judaica se dava pela linha paterna; a sociedade era patriarcal e não matriarcal. Ademais, toda genealogia que começa em Adão é falsa, tendo em vista que Adão e Eva nunca existiram. A genealogia de Jesus começa em Adão (Lucas 3:38); logo, é falsa. Para compensar o culto pagão à Deusa-Mãe (bem romanceado por Marion Z. Bradley em “As Brumas de Avalon”) a igreja católica introduziu um vigoroso culto à Maria, como “Mãe de Deus” e “Virgem Maria”. Duas impossibilidades: (i) Deus ter genitores; (ii) ser virgem a mãe de 7 filhos. Maria pode ter sido deflorada em ritual de fertilidade. Ficou grávida e pariu Jesus. Depois, teve mais 6 filhos com José, que a recebeu por esposa: Tiago, José, Judas, Simão, Ruth e Lia. O mito da concepção virginal foi tomado de empréstimo a outras culturas mais antigas. O culto à Maria reforçou a crença na divindade de Jesus. Serviu para impressionar os crentes e aumentar o rebanho com a inclusão da realeza européia, o que favoreceu o domínio da Igreja nas esferas temporal e espiritual. Conseqüentemente: (i) a mãe de Jesus passou a ser a mãe de Deus; (ii) o colégio apostólico passou a ser herdeiro de Deus; (iii) o vigário de Cristo passou a ser vigário de Deus. A versão do apóstolo Mateus sobre o morticínio de crianças é fantasiosa. Ao tempo do nascimento de Jesus, a Palestina estava dividida em 4 províncias, cada qual governada por um tetrarca subordinado ao imperador romano. Um tetrarca não podia invadir a jurisdição do outro. Ao tetrarca da Galiléia faltavam poderes para mandar matar crianças na Judéia ou nas outras tetrarquias. A Judéia estava sob a jurisdição direta de uma autoridade romana, a qual Herodes não ousaria afrontar. A jurisdição era levada a sério pelos romanos. Tanto assim, que ao verificar que Jesus era galileu, o general romano (Pilatos) declinou da competência e o enviou ao juiz natural: o tetrarca da Galiléia (Herodes Antipas). Lucas, menos fantasioso, não menciona matança de crianças, nem fuga para o Egito.

Havia mulheres “livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades” (livres da sensualidade?) que acompanhavam Jesus e lhe prestavam assistência: Maria Madalena, Joana, Susana e outras (Lucas 8: 1-3). Por 3 anos, aproximadamente, acompanharam Jesus nas suas andanças pela Galiléia, Samária e Judéia. (Marcos 15: 40). Por serem galileus, Jesus e o seu grupo de homens e mulheres eram tratados pelos judeus como gentios (estrangeiros). Os judeus odiavam os samaritanos e os galileus. Entre os objetivos de Jesus e da sua fraternidade estavam o de acabar com o mito do messias e o de introduzir um Deus universal no lugar de Javé (ou Jeová), o deus nacional dos judeus. Javé e Satanás são nomes diferentes para a mesma divindade: aquela que celebrou, com sucesso, um pacto com Abraão e que tentou celebra-lo, também, com Jesus no deserto, sem êxito. Jesus assumiu o papel de messias. Cumpriu, passo a passo, as profecias do Antigo Testamento, como se fora o roteiro de um filme. A monolatria dos judeus recomendava que a ação redentora começasse por esse povo. Depois, estender-se-ia aos demais povos. O plano desconsiderou o que estava escrito: “Tu mesmo sabes o quanto esse povo é inclinado ao mal” (Êxodo 32: 22); “somos um povo cabeça dura” (Êxodo 34: 9). O deus Javé dissera a Saul: “Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos” (I Samuel 15: 3). Tal índole não favorecia a ação redentora de Jesus. Ao contrário do que Jesus e sua fraternidade imaginavam, o cristianismo fracassou entre os judeus e floresceu entre os outros povos.

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