terça-feira, 31 de agosto de 2010

POLÍTICA

PESQUISA E MÍDIA: AS DUAS PROSTITUTAS.

Com o título acima, publiquei artigo no jornal Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, no ano eleitoral de 1998. Durante vinte anos, aproximadamente, até o seu fechamento em 2008, eu enviei a esse jornal artigos sobre política, direito, misticismo, esporte, costumes, todos publicados sem cortes, porque Hélio Fernandes, dono do jornal, tinha ojeriza à censura. Como simples colaborador, eu enviava os artigos semanal, quinzenal ou mensalmente. No referido artigo abordei matéria sobre a qual pairava silêncio absoluto: a credibilidade das pesquisas. Os jornais e as emissoras de TV não a questionavam. Tabu superado, a Justiça Eleitoral regulamenta a matéria, porém a margem de manobra continuou enorme. Isto vem confirmado por recente mensagem que circula na rede de computadores. Eu acreditava na seriedade e na ética do Partido dos Trabalhadores – PT, na sinceridade e na honestidade dos seus membros e diretores. Daí a simpatia que lhe devotei no citado artigo adiante reproduzido. A partir das eleições de 2006 inclusive, deixei de votar em candidatos do PT. No período do seu governo em nível federal (2003/2006), os intestinos do PT foram expostos e verteram podridão cujo fedor espalhou-se pelo país. Luis Inácio saiu do casulo. Lula, o metalúrgico, deixou de existir. Entrou em cena Luis Inácio, o mentiroso, o corrupto, o chefe da quadrilha que atuou com a mesma ilicitude que criticava no governo Fernando Henrique. Houve rodízio de quadrilhas: saiu a do PSDB e entrou a do PT. A bandalheira prosseguiu com maior furor e impunidade. A caterva petista, sedenta de benesses, ocupou todos os espaços, estratégicos ou não, da administração pública direta e indireta. Aí vai o texto que, mutatis mutandi, mostra-se bem atual, para infelicidade da nação.

O dinheiro e o interesse econômico não prostituíram apenas os esportes, mas, também, a mídia e os institutos de pesquisa. O método científico é desvirtuado para servir aos que pagam pelas pesquisas. A indução apressada e insuficiente introduz no mercado remédios que colocam em perigo a saúde e a vida dos consumidores; ou apresenta conclusões científicas sensacionalistas para depois serem desmentidas. No processo eleitoral, o método indutivo é utilizado com essa mesma leviandade. O objeto da pesquisa (opinião dos eleitores) é inconstante, incerto e facilmente manipulável. Não se presta, pois, ao rigor científico. Os eleitores nem sempre revelam o seu voto com sinceridade. A pesquisa, inobstante seu tratamento legal, atenta contra o sigilo do voto, pilar da democracia brasileira; é um meio para a propaganda subliminar. Os agentes da pesquisa podem escolher setores que favoreçam o cliente. Na região do ABC paulista, por exemplo, a pesquisa favorecerá Luis Inácio; na região dos Jardins, Fernando Henrique. A revista Época, de 21.09.1998, Editora Globo, por exemplo, enaltece a figura de FH e exibe, à página 74, uma pesquisa que agride a inteligência do leitor. Em todos os itens, o vencedor é FH, obviamente; Lula, Ciro e Enéas são os perdedores. FH é considerado: (1) o mais leal ao partido (só se for ao PFL); (2) personalidade forte que não se sujeita a controle (exceto ao de Sérgio Mota, Antonio Carlos Magalhães, Mendonça de Barros, FMI, etc.); (3) firme nos seus pontos de vista (de hoje, porque de ontem, ele pede que esqueçam); (4) pessoalmente honesto (apenas muda de idéia de acordo com os seus interesses e propósitos pessoais, utiliza propaganda enganosa, favorece os interesses de banqueiros, usineiros, empreiteiros, mega empresários, aproveita-se do cargo para se promover politicamente mudando as normas constitucionais e legais em seu benefício, vende o patrimônio público sem ouvir o povo); (5) leal aos interesses daqueles que o apóiam (sem comentário); (6) melhor serviu no passado aos interesses do povo brasileiro (sim, baixando o porrete nos sem-terra e nos flagelados do Nordeste, criando o maior contingente de desempregados e de miseráveis e a maior dívida externa de todos os tempos e liderando o governo mais corrupto e plutocrático da história do Brasil, como se vê do ranking publicado pela organização alemã citada na “Folha de São Paulo”, além da notoriedade internacional desse fato); (7) capaz de prestar no futuro bons serviços ao Brasil (com esse passado?); (8) mais agrada às massas populares brasileiras (à macarronada e à pizza, certamente); (9) mais merece o apoio dos nacionalistas (dos EUA, com certeza). A pesquisa em tela, publicada na citada revista, foi realizada provavelmente nos Jardins e no Palácio do Planalto e o agente que colheu as informações deve ser o maior bajulador do planeta. Basta ter mediana inteligência, psicologia comum (resultante da experiência de vida) e estar bem informado sobre os assuntos brasileiros, para perceber que a situação verdadeira e correta é a seguinte: (1) com exceção do item 5, nos demais Lula deixa FH na rabeira; (2) com exceção dos itens 5 e 8, nos demais Enéas bate FH de 10 a 0; (3) com exceção dos itens 5, 8 e 9, nos demais Ciro é bem superior a FH. Apesar dessa evidência, a pesquisa pode surtir efeito tendo em vista o aspecto irracional de uma eleição. Nota-se, efetivamente, que uma parcela do eleitorado brasileiro move-se pelo preconceito, pela aparência, pela simpatia, pela gratidão, pela ajuda financeira, pela promessa de benefícios pessoais ou locais e pelo volume de informação (e não pelo seu conteúdo, cuja análise dispensa). Além disso, existem eleitores que votam visando assegurar as vantagens e os privilégios de que desfrutam sob o atual governo. A mídia brasileira apóia o governo e a reeleição de forma escancarada e debochada, porque recebe muito bem para isso. A diferença de tempo nas emissoras de rádio e de televisão entre os candidatos é um acinte que se não compadece com a isonomia própria do regime democrático. O tempo há de ser distribuído de modo equitativo em razão da importância e da relevância do cargo em disputa e não proporcionalmente às cadeiras dos partidos no Congresso Nacional, como disciplinado na lei em vigor. Urge adequar a legislação eleitoral à democracia declarada na vigente Constituição.

Doze anos depois da publicação desse artigo, a legislação eleitoral mudou, mas os costumes continuam os mesmos. Os institutos de pesquisas continuam a escolher as cidades e os redutos da sua clientela e a manipular os dados obtidos junto a um público minúsculo. Depois, enviam relatório à Justiça Eleitoral para satisfazer formalidade burocrática. Na esfera federal, os partidos inverteram as posições: o PT passou para a situação; o PSDB para a oposição. Ambos com o rabo preso. Nenhum apura a roubalheira do outro. O problema da corrupção na administração pública resta intocável. Os corruptos eleitos recebem o aval do eleitorado. O voto popular os absolve e os libera para novo ciclo de ladroagem.

sábado, 28 de agosto de 2010

VIAGEM2

II
De Ubá, vieram Ângela e Kênya e de Visconde, Ione, vizinha e irmã de Roberto. Todas se reúnem com Vânia e Jussara na cozinha. Conferência culinária de muita conversa e muito riso. Roberto e eu estávamos na sala a conversar quando se aproxima Kênya, que se desculpa pela interrupção e menciona o fato de Roberto e eu sermos rosacruzes o que, na opinião dela, nos faz aptos a ver coisas. Solicita, então, que disséssemos o que víamos nela. Roberto respondeu que não via, mas sentia e foi logo dizendo: desde a primeira vez em que te vi lá (não me lembro em que lugar) senti e percebi... Depois do discurso do Roberto, ela me dirigiu olhar inquiridor tipo “e você, o que viu?”. O meu primeiro impulso foi dizer-lhe que vi mulher bonita, esbelta, na faixa dos 30 anos de idade, balzaqueana retratada no samba cantado por Miltinho, postura altiva, olhos sonhadores, cabelos negros, compridos e pele morena semelhante à “índia mescla bella de diósa y pantera” da canção paraguaia. Todavia, contive o impulso, pois as coisas que ela queria que nós víssemos eram mais profundas a exigir outro tipo de visão no exercício da arte de adivinhar. Limitei-me a observações ligeiras como aconselhava o ambiente festivo. Falei que ela tinha suave e agradável presença (como a tranqüila superfície de um lago) e se preocupava com as suas escolhas e o sentido da sua vida (como turbilhão no fundo do lago) quando isso está fora das cogitações das pessoas em geral. Por falha mnemônica deixo de reproduzir com exatidão as palavras usadas, porém as idéias são as mesmas. Ela manifestou interesse pela Ordem Rosacruz, afirmando crer em Deus e na reencarnação. Forneci breves dados históricos e esclareci que não se tratava de religião e sim de uma filosofia de vida, com exercícios físicos e espirituais, cujo propósito era o de ajudar a pessoa a conhecer a si própria, a melhor compreender o mundo em que vive e a se elevar espiritualmente. O Roberto prometeu entregar a ela material informativo sobre a Ordem R+C. Quanto à reencarnação, doutrina adotada pela Ordem R+C, pelo budismo e pelo espiritismo, eu disse que tinha opinião própria sobre tal assunto, fundada na razão – e não na fé. Expliquei brevemente o meu entendimento quanto à polaridade positiva e negativa do ser humano e da dualidade de cada pólo: o angelical construtivo, amando o mundo espiritual e elevando-se a Deus; o angelical destrutivo, desprezando o corpo e o flagelando para se purificar; o demoníaco construtivo, amando a natureza e o corpo, alertando-o dos perigos; o demoníaco destrutivo, desprezando a alma e advogando a supremacia da matéria e dos instintos. De modo sensato e compatível com o assunto, Roberto declarou sua adesão à atitude socrática: “tudo o que sei é que nada sei”. O filósofo grego cunhou essa frase no intuito pedagógico de expressar humildade na busca do conhecimento. Sócrates serviu-se de técnica semelhante à que Descartes utilizaria dois mil anos depois (dúvida metódica). Evidente que ele sabia muita coisa, como a seqüência das fases da lua e das estações do ano, os instintos animais, as tendências humanas, a conduta de governantes e governados, as leis da natureza e as leis dos homens. Ao utilizar aquela expressão, Sócrates sabia das limitações do ser humano e tinha na mente a metafísica, o mundo espiritual, cujos assuntos não permitem certeza alguma, território onde a fé reina soberana. Daí ser a fé o cadafalso da razão e o emblema da ignorância. A crença em Deus não é exclusiva da fé religiosa; a razão iluminada pode nos conduzir à sabedoria e a Deus.
Mais tarde, chegaram Stella, Gracinha e Francisco, vindos de Ubá com os componentes do prato principal. Os netos de Ione chegaram depois, trazidos pelo filho dela. O alvoroço na cozinha aumentou. Roberto, Francisco e eu, na sala, conversávamos e bebíamos cerveja e refrigerante. Quando a tarde ia ao meio, foi servida a comida que os japoneses (craques em copiar a invenção dos outros) chamam de ya-ki-soba, que em português significa “ó-que-sopa!” imitação da comida chinesa denominada chou-li-tso, cujo significado é “nada se perde, tudo se transforma”, saboroso cozido de legumes, com o indefectível pimentão verde, pedaços de frango e de presunto, macarrão “y otras cositas más”. Pequenas tigelas foram distribuídas aos convivas. Garfos de metal substituíram os pauzinhos orientais. Repeti a porção, moderadamente. Sobremesa deliciosa. Sabendo do sopor que me invade após o almoço, Vânia recomendou-me o repouso, fechou as cortinas para escurecer o quarto e a porta para que não me incomodasse o ruído das conversas e risadas. Diante de tanta gentileza, aceitei a recomendação. Quiçá pela ressaca da viagem, pelas poucas horas que dormi no hotel e pelos copos de cerveja que bebi, peguei no sono e não ouvi mais nada. Quando acordei, o pessoal já havia regressado a Ubá, o que impossibilitou despedida direta e individual daquelas pessoas agradáveis e atenciosas. Deixaram-me abraços confiados à Jussara, que gostou da companhia de Stella, Ângela, Kênya, Gracinha e Francisco. Depois daquele almoço, não tínhamos vontade de jantar. Lanchamos, apenas. Mesa farta, café capuccino. Como sempre, conversamos e rimos. Chuveirada rápida antes de se deitar. Vânia relatou o seguinte episódio de uma conferência: indagado se 5 minutos bastam à duração do banho, a fim de não prejudicar a oleosidade natural e protetora da pele, um dermatologista alemão respondeu: 3 minutos. A partir desse relato, meu banho não ultrapassa 3 minutos, o que representa economia de água e energia, além de fazer bem à saúde. Vou adotar o banho único semanal com essa duração. Esta será a minha contribuição ecológica. Jussara e eu dormimos bem. Alva roupa de cama, colchão macio, suíte aconchegante, arrumada com capricho, bem decorada e equipada.
Retorno. Visconde – Penedo. Segunda feira, 23/08/2010 – 08,00 horas.
Acordei às 06,00 horas, procedi à higiene matinal e, autorizado na véspera pela dona da casa, preparei o café tal qual faço em minha casa todos os dias. A hospitalidade e a amizade de Roberto e Vânia me permitiram essa liberdade. Roberto sentiu o cheiro do café e desceu para sorvê-lo com pão, manteiga, queijo e geléia de amora. Jussara acordou e se juntou a nós. A seguir, Vânia faz o mesmo. 07,00 horas. Os quatro reunidos em torno da mesa encerram o café matinal. Roberto e eu fomos até a casa da família tirar o carro da garagem. 07,30 horas. Bagagem arrumada, todos deixam o apartamento. Roberto e Vânia seguem à frente, mostrando o caminho até o posto de gasolina, na periferia da cidade, onde paramos para abastecer. O moço do posto limpa os vidros do automóvel e ganha gorjeta. Jussara e eu nos despedimos de Roberto e Vânia com abraços apertados, agradecidos pela boa e fraternal acolhida. 08,00 horas. Jussara e eu saímos pela estrada que leva a Ubá; Roberto e Vânia pelas ruas de Visconde que levam ao prédio onde moram. Sentimos um quê de nostalgia.
Mudei o trajeto do retorno. Ângela estranhara a nossa demora e dissera que do Rio a Ubá ela gastava quatro horas. Ora, do Rio a Penedo eu gastava duas horas. A soma dava seis horas, ou seja, 30 minutos a menos do que eu gastara no trajeto da ida. Logo, ainda que a distância fosse um pouco maior, era interessante voltar pela BR-040 (Juiz-Rio) duas pistas bem pavimentadas e bonita paisagem, sem o embaraço de entrar nas cidades. Desembocamos na Linha Vermelha, passamos por uma blitz da polícia militar e em poucos minutos estávamos na Rodovia Dutra a caminho de casa. Nesta altura da viagem, Jussara lembrou-se do queijo e da goiabada, presentes da Ângela, depositados na geladeira do apartamento de Vânia. Felizmente, eu não esqueci o presente da Stella (cocadas) e o presente da Vânia (garrafa de cachaça mineira da boa e que tomo antes do almoço como aperitivo). 12,30 horas. Passamos pela estação do pedágio, paramos no posto, no alto daquele trecho da rodovia, completamos o tanque de gasolina e lanchamos no MacDonald´s. Prosseguimos viagem, subimos a Serra das Araras e passamos ao largo de Volta Redonda, Barra Mansa e Resende. 14,00 horas. Chegamos a Penedo. Os cães estavam soltos e nos fizeram festa. Saudades mútuas. Preparei e tomei o café sem acompanhamento. A seguir, Jussara telefonou para Vânia e eu para Roberto comunicando a nossa chegada e a boa viagem que fizemos. Voltamos à rotina doméstica. Os dias continuam ensolarados e as noites enluaradas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

VIAGEM

DIÁRIO DE VIAGEM
I
Penedo/RJ – Sábado, 21/08/2010 - 08,30 horas.
Com o nosso EcoSport preto, hidramático, Jussara e eu fomos a Minas Gerais visitar nossos amigos, os irmãos Roberto Amin e Vânia Amin, que moram em Visconde do Rio Branco (creio que a cidade recebeu esse nome quando o barão ainda era visconde) e nossa amiga Stella, que mora em Ubá. Dias ensolarados, com poucas nuvens. Noites enluaradas, céu límpido e estrelado. A viagem de ida foi demorada: Resende – Volta Redonda – Juiz de Fora - Ubá. A estrada passava por dentro de algumas cidades e tínhamos de atravessá-las de ponta a ponta. Lentidão no trânsito devido aos semáforos, às lombadas, à travessia de gente e de outros bichos. Em Volta Redonda havia obras nas ruas que impediam o livre trânsito de veículos. Em município que não lembro o nome, chegamos a um entroncamento em que havia duas placas: uma indicava Juiz de Fora e outra, Três Rios, Salvador e Belo Horizonte. Enveredamos pela primeira, pista única, estreita, mal pavimentada e sem acostamento. Se fosse escolhida a segunda, possivelmente entraríamos logo na BR-040 (Rio de Janeiro-Belo Horizonte) com duas pistas e chegaríamos mais rápido a Ubá. Durante todo o percurso, a partir de Volta Redonda até a BR-040, passamos por muitos bairros pobres, casebres, gente mal alimentada, descalça e mal vestida. Creio que esse itinerário foi projetado para mostrar ao turista o lado miserável da população do interior do Brasil. Finalmente atingimos a rodovia federal, a 30 minutos de Juiz de Fora. No trajeto de Juiz a Visconde, o cenário melhorou um pouco. Na travessia de Juiz, passamos pelo centro da cidade e testemunhamos a sua modernidade e aparente riqueza, o intenso movimento de veículos e de pedestres nas ruas e lojas. Em Ubá e Visconde também notamos, em momentânea e proporcional avaliação, trânsito intenso de carros, motocicletas e pedestres. Chegamos à conclusão de que mineiro gosta não só de política, queijo e marmelada, mas também de movimento. O mineiro sossegado, picando fumo para enrolar na palha ao mesmo tempo de um dedinho de prosa com o compadre, restou no folclore. O cotidiano é outro. O fumo já vem enrolado em papel dentro de carteiras de cigarros adquiridas na banca da esquina. O cigarro não é aceso no tição retirado do fogão a lenha e sim na chama do fogão a gás ou com ajuda do isqueiro e do palito de fósforo. O dedinho de prosa é muita conversa animada em que se misturam assuntos religiosos e profanos, alegres e tristes, coisas da cozinha, da sala e do quarto, da família, da cidade e do mundo. Os produtos da mais recente tecnologia, de uso doméstico, coletivo e individual estão nas vitrines das lojas, nas mãos, nas bolsas e nas casas da classe média do interior do Estado.
Ubá/MG – Sábado, 21/08/2010 - 15,00 horas.
No posto Uirapuru, na entrada de Ubá, aguardamos Vânia que lá nos foi encontrar acompanhada de Kênya, sua amiga. Feita a apresentação e abraços trocados ali mesmo no posto de gasolina, rumamos para a casa de Stella. Todos já tinham almoçado. Eu calculara o tempo da viagem em 4 horas e gastei mais de 6 horas (trajeto ingrato!). Chegamos na hora do café da tarde. Lá se encontravam Stella, sua amiga Ângela, seus hóspedes e amigos residentes na Europa, Gracinha e Francisco (ela brasileira e ele espanhol), a cozinheira com suas filhas e netos, e o jardineiro. A todos fomos apresentados: muito prazer daqui, muito prazer dali e sorriso autêntico e simpático em todos os rostos. Havia duas cadelinhas que não estranharam a nossa presença, quiçá porque sentiram que também mimávamos Pretinho, Bóris, Brigitte e Laika, os cachorros e cachorras da nossa casa. Por volta das 10,00 horas desse dia, na lanchonete de um posto de gasolina onde paramos para abastecer o automóvel, Jussara e eu tomamos café com leite; ela comeu roscas de polvilho e eu coxinha de galinha. Quer por esse desjejum, quer pelo cansaço da viagem, estávamos sem disposição para almoçar quando chegamos a Ubá. Para não fazer desfeita à gentil anfitriã, enganamos o estômago com um bife delicioso regado com uma taça de vinho tinto. A sobremesa aprontada por Stella (cocada) e Kênya (pudim) estava divina; o estômago aceitou-a com satisfação. Passamos uma tarde agradabilíssima. Vistoriamos o bem cuidado quintal da casa de Stella. Hóspedes e anfitriã combinaram que todos almoçariam no dia seguinte em Visconde.
Visconde do Rio Branco/MG – Sábado, 21/08/2010 – 18,00 horas.
Antes do anoitecer, fomos para Visconde. Há muitos anos deixei de dirigir automóvel à noite por causa da minha vista. Apesar dos óculos com lentes de graus adequados, a minha visão ofusca-se com a luz dos faróis dos outros veículos; também sinto dificuldade em distinguir as margens da pista. Por medida de segurança, prefiro dirigir com a claridade do dia. Vânia seguiu à frente com o seu EcoSport preto. Trajeto de 17 km. Escurecia quando chegamos. Fomos direto ao hotel, na Praça 28 de Setembro, centro da cidade. A meu pedido, Roberto reservara apartamento para um pernoite. Na portaria preenchemos as fichas, vistoriamos o apartamento 210, deixamos a nossa bagagem e fomos para o prédio onde eles moram. O apartamento do Roberto fica acima ao da Vânia. Trocamos forte e saudoso abraço. Vânia aproveitou o vão de luminosidade e ventilação do prédio para ali colocar mesa de tampo circular de vidro, com quatro cadeiras, como permite o térreo apartamento. Disse-me que aquele ambiente era próprio para tomar cerveja e conversar, pois ficava ao lado da cozinha e os petiscos podiam ser passados pela janela interna. Manifestei a vontade de experimentá-lo. Ali tomei cerveja e degustei pedacinhos de queijo. O Roberto me acompanhou. Por causa da sua dieta, tomou refrigerante. Conversamos muito e múltiplas piadas foram contadas. Lembramos muito da alegria e da vivacidade do Mauro, irmão deles já falecido. Eles sugeriram que ficássemos mais um dia em Visconde e ocupássemos o aposento preparado pela Vânia. Aceitamos a sugestão. No telefonema do dia anterior, entendi que Vânia hospedava um casal que veio da Europa. Destarte, incomodaríamos menos se nos hospedássemos no hotel. No entanto, o casal hospedara-se em Ubá, na casa da Stella. Constatado o equívoco, mudamos então, no dia seguinte, de mala e cuia para o apartamento da Vânia.
Visconde do Rio Branco/MG – Domingo, 22/08/2010.
Na manhã de domingo, tomamos café no hotel e saímos a passear pela cidade. Começamos pela igreja matriz e caminhamos pelas ruas do centro até a periferia e voltamos. Como a cidade é grande, gastamos bem uns 15 ou 20 minutos para conhecê-la. Depois, sentamos em um banco de madeira, na praça em frente à igreja matriz, à sombra de uma árvore e jogamos conversa fora por meia hora, aproximadamente, enquanto apreciávamos o movimento. No banco ao lado sentou-se um casal de idosos. Cumprimentamo-nos e trocamos sorrisos de simpatia. Em torno da praça, empertigada, peito estufado, nádegas empinadas, caminhava uma senhora de 78 anos e 6 meses de idade. Percorria o mesmo trajeto várias vezes a passos curtos e rápidos, de tênis e roupa esportiva colada ao corpo. Mais desfilava do que se exercitava. Pela postura, deve ter sido Miss Visconde em 1950. Fui à agência do Banco Itaú ali perto. Tentei retirar dinheiro, mas não consegui, porque a máquina teimava em informar que a minha senha estava errada, quando na verdade estava certa. Acho que banco mineiro não reconhece cartão de banco fluminense.
Quando acondicionávamos nossas coisas nas bolsas, toca o telefone do apartamento. Era o Roberto na portaria do hotel. Viera nos buscar enquanto Vânia fazia compras no supermercado localizado logo acima, na mesma rua. Como um bom menino de 59 anos de idade, amigo jovial, ele nos ajudou a descer com a bagagem e a colocá-la no automóvel estacionado na garagem do hotel. Paguei as despesas com o cartão de crédito. Na rua, em frente ao hotel, aguardamos o regresso da Vânia com as compras. Depois, seguimos em direção ao apartamento dela. Pouco antes de lá chegar, paramos em frente à casa do patriarca da família Amin, onde Roberto e Vânia nasceram e se criaram. Paredes altas, cômodos espaçosos, alguns com teto de madeira artisticamente trabalhada, bonito assoalho de boa madeira, havia na casa vibração que lembrava o encanto das antigas fazendas agropecuárias. Deixamos o carro estacionado na garagem da casa e seguimos andando até o apartamento. Ficamos inteiramente à vontade, graças aos cuidados e à fina educação de Vânia e Roberto. Jussara, eu e Roberto subimos para conhecer o apartamento dele, onde há um canário belga tratado com carinho. O passarinho imita o assobio de Roberto e passa a cantar maravilhosamente. Tanto no apartamento de Vânia como no de Roberto haviam bem cuidadas e decorativas relíquias da família.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POLÍTICA

IV
A necessidade de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, assomou à consciência das nações (admitindo-se aqui o postulado da existência de uma consciência coletiva). Essa defesa, de reconhecida importância para o futuro da humanidade, pode ser realizada de diversos modos. Algumas pessoas entendem que a vida no planeta está irremediavelmente condenada à extinção, cabendo apenas medidas paliativas; outras entendem que há salvação. Entre as esperançosas, algumas afirmam a urgência do combate à poluição, enquanto outras afirmam que medidas adequadas podem ser tomadas ao médio prazo, sem motivo para desespero. A maioria parece concordar sobre mudança de hábitos e de mentalidade dos povos no que tange à atividade humana e seus efeitos sobre o ar, a água, a fauna e a flora. A tarefa pedagógica cabe à sociedade civil e aos governos. Ainda que falte consenso quanto aos métodos a serem aplicados, importa mais a ação de elaborar e executar programas na área ambiental. A essa tarefa se dedicam com afinco alguns governos (como da Alemanha) e organizações internacionais (como a Green Peace).
No Brasil, a preservação do meio ambiente tem servido de pretexto para dar à função social da propriedade uma exagerada elasticidade. Nos termos da Constituição (artigos 182, §2º e 186 e incisos), cumpre sua função social: (i) a propriedade urbana, quando atende as exigências fundamentais da ordenação da cidade expressas no plano diretor; (ii) a propriedade rural, quando aproveitada de modo racional, utiliza adequadamente os recursos naturais, preserva o meio ambiente, cumpre as normas reguladoras das relações de trabalho e favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores. Os agentes da administração pública direta e indireta não respeitam parâmetros. Essa política agressiva e abusiva, de coloração marxista e stalinista, elaborada pelo atual governo federal (2003/2010) e aplicada em diversas regiões do país por agentes da autarquia federal Instituto Chico Mendes, foi denunciada na semana de 26 a 30 de abril de 2010, da tribuna do Senado Federal, pelos senadores Jefferson Praia e Artur Virgílio. Beligerância proposital e arbitrariedade dos agentes do governo para afastar cidadãos brasileiros das propriedades localizadas em florestas e áreas de valor paisagístico e turístico. O senador Virgílio narrou o seguinte episódio: no interior do Amazonas, um cidadão foi atacado por uma onça e a matou; o agente do governo o prendeu; todo arranhado, o cidadão disse que se não matasse a onça, ela o mataria; o agente respondeu: a onça está em extinção e não o homem. Eis o lema ambientalista: viva a onça; morra o homem.
Da observação dos fatos, verifica-se a atuação de três tipos de ambientalista: o moderado, o paranóico e o espertalhão. Constata-se, também, motivação ideológica e financeira.
Em Itatiaia, município do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Chico Mendes pretende dissolver centenária comunidade situada na parte baixa da Serra da Mantiqueira. Em 1908, nessa área, o governo federal comprou sete fazendas do herdeiro do Barão de Mauá num total de 48.000 hectares. Desse total, destinou: (i) 12.000 hectares à reserva florestal, transformada sucessivamente em estação biológica e parque nacional; (ii) 8.000 hectares à colonização, loteados e assim distribuídos: 2.000 hectares para o núcleo colonial Itatiaia e 6.000 hectares para o núcleo colonial Visconde de Mauá. Os lotes foram vendidos a europeus e brasileiros. Quanto aos 28.000 hectares restantes, ficaram sem destinação.
Em 1916, o governo federal emancipou os núcleos. Extinto o vínculo de subordinação ao governo, os donos desmembraram lotes e os venderam, iniciando a circulação econômica da terra e o turismo na região. Isto aumentou em mais de uma centena o número de casas, hotéis e pousadas. A comunidade cresceu e se urbanizou. Em 1982, o governo federal pretendeu incorporar os emancipados e urbanizados núcleos coloniais ao parque nacional mediante decreto de ampliação, mas não providenciou a desapropriação dos imóveis. Em conseqüência, a incorporação não se efetivou e o núcleo colonial continuou emancipado, sob jurisdição municipal, em área distinta da área do parque. Os proprietários contribuem para os cofres municipais mediante o pagamento de taxas e do imposto predial e territorial urbano (IPTU). Por seu turno, a prefeitura municipal presta os serviços públicos ao núcleo colonial. Sem respeitar esse fato e afrontando a autonomia municipal, a autarquia federal (Instituto Chico Mendes) indevida e abusivamente impõe restrições ao direito de propriedade e à liberdade de ir e vir no interior do núcleo colonial com o declarado propósito de dissolver a comunidade e de substituí-la por um mega projeto turístico de enorme impacto ambiental.
Em 2010, frustradas as vias amigáveis, a Associação dos Amigos do Itatiaia (fundada em 1951) propôs ação civil pública em defesa dos direitos dos associados e da comunidade, denunciando a autarquia federal (Instituto Chico Mendes) por sua negligência quanto à preservação do meio ambiente, por sua prepotência quanto ao modo de tratar proprietários e moradores, violando direitos assegurados na Constituição, e por seu escuso interesse na implantação do projeto turístico. O juiz federal de Resende alijou do processo a questão fundiária sem lhe resolver o mérito. O juiz entendeu que faltava à Associação, legitimidade para defender direitos individuais. A Associação recorreu da equivocada decisão (por semelhantes equívocos os magistrados perdem prestígio e são recriminados pela sociedade civil). Como haverá demora na apreciação do recurso pelo tribunal federal, alguns associados pretendem propor nova ação, agora em nome deles próprios. Por enquanto, a ação proposta em Resende, pela Associação, ficará adstrita à questão ambiental.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

POLÍTICA

III
Repercutiram no mundo, as mudanças no Leste europeu ocorridas nas últimas décadas do século XX. Mikhail Gorbachev iniciou a reestruturação política e econômica da URSS (perestroika, 1985) como semente da paz mundial. Encerrou a guerra fria (URSS x EUA) e ensejou a unificação da Alemanha (queda do muro de Berlim, 1989), a independência de várias nações da Europa Oriental (1989/1991) e a dissolução da federação soviética (1991). Na América Latina, a esquerda abandonou o propósito de implantar o socialismo à força e de substituir, num só golpe, o tipo capitalista pelo tipo comunista de sociedade. Decidiu implantá-lo paulatinamente, minando o modelo liberal de Estado com os mecanismos da democracia social e abusando do poder de emendar a Constituição. Pobreza e estratificação social continuam a motivar o projeto socialista fundado na igualdade e no nivelamento.
No Brasil, a esquerda afinou estratégia e discurso: ascensão dos pobres à classe média através da elaboração e execução de projetos sociais; elasticidade à função social da propriedade, organizando movimentos invasores na cidade e no campo; greve nos serviços essenciais à população como arma para o trabalhador obter melhoria salarial; pesada carga tributária como instrumento da justiça distributiva; acesso de todos à propriedade privada com crédito facilitado aos pobres e incremento da construção de casas populares providas de água encanada, energia elétrica, saneamento básico; distribuição gratuita de remédios genéricos, assistência médica domiciliar e hospitalar e acesso ao mercado e bens de consumo aos pobres e necessitados; pequenos produtores rurais organizados em cooperativas; apoio e incentivo à pequena empresa; extensa regulamentação da produção e circulação de bens e serviços; participação da sociedade civil nos órgãos da administração pública direta e indireta (simulacro de democracia onde prevalecem as decisões dos agentes do governo).
O eleitor brasileiro aguarda o período posterior à eleição: gestão da coisa pública. O candidato à presidência da república deve, então, indicar e explicar os procedimentos efetivos para evitar a corrupção e os delitos do colarinho branco, especialmente no que tange a: cartões corporativos, verbas para organizações civis, aparelhamento partidário da administração pública, funcionários fantasmas, excesso de viagens ao exterior, benefício a países devedores mediante renúncia a créditos brasileiros, licitações fraudulentas, desvio de verbas e de material, obras maquiadas, serviços mal prestados ou nem prestados apesar de pagos. Além disso, o candidato deve informar com clareza: (i) como reduzirá tarifas abusivas cobradas pelas concessionárias e autorizadas pelas agências reguladoras; (ii) as medidas preventivas e os recursos disponíveis em relação às estiagens e às inundações nas diferentes regiões do país; (iii) a percentagem da receita pública que caberá (1) à propaganda do governo, (2) à saúde, (3) à educação, (4) à ajuda a outros países e (5) à ajuda aos brasileiros flagelados.
Parcela dos eleitores espera honestidade e eficiência do gestor da coisa pública; outra parcela espera favores, indiferente à moralidade e à eficiência. Há candidato que coloca a máscara da honestidade para contentar a primeira parcela e abre a cornucópia à segunda. A hipocrisia é a alma da politicagem. Nas entrevistas com os candidatos à presidência da república realizadas pela rede Globo de TV, na semana de 09/08 a 14/08/2010, durante o Jornal Nacional, os jornalistas mostraram-se agressivos e inoportunos com Dilma e Marina. Reduziram o tempo das candidatas com interrupções impertinentes. Em elegante estilo e boa educação, sem sorrisos artificiais e enganosos, Marina expôs suas idéias com clareza, exibiu segurança e pensamento ancorado no estudo, na reflexão e na experiência de vida, inclusive como parlamentar e ministra de Estado. Serra e Dilma estavam mais preocupados com a receita dos marqueteiros. Faltou-lhes autenticidade e sinceridade, o que sobrou em Marina.

domingo, 15 de agosto de 2010

POLÍTICA

II
O eleitor deve ser informado da importância da política para a sua vida individual e social. A escola, o partido, o governo, devem esclarecer o cidadão sobre a dinâmica política que condiciona os mecanismos sociais. O cidadão deve perceber a extensão da influência do parlamentar e do chefe de governo no seu destino pessoal e coletivo. Não basta, pois, a Justiça Eleitoral informar as atribuições constitucionais dos parlamentares e dos chefes de governo, até porque a experiência mostra que o respectivo exercício deixa muito a desejar quanto à eficiência e à moralidade. Tampouco basta pedir ao eleitor para não vender o voto. A tentação é forte, as necessidades múltiplas e a miséria dramática.
Esperar do eleitor brasileiro médio, pobre e miserável, um voto racional e moralmente valioso é alimentar ilusão. Nas eleições funciona o aparelho digestivo do corpo eleitoral. O eleitor costuma escolher os piores candidatos. Basta olhar a escória humana com assento nas câmaras de vereadores, nas assembléias legislativas e no congresso nacional. Nas eleições de 2006, dos quatro mais representativos candidatos à presidência da república, havia dois excelentes (Cristovam Buarque e Heloisa Helena). O eleitorado escolheu o pior de todos, cujo mandato anterior fora inundado por um mar de ilicitudes administrativas e criminais.
Os fatos, portanto, desmentem a afirmação de que a voz do povo é a voz de Deus (“Vox populi, Vox Dei”). A sacrílega expressão serve ao propósito político de justificar a soberania popular e de retirar da Igreja o monopólio da interpretação da vontade divina. Da garganta do povo – e não da garganta de Deus – sai o grito de guerra e de ódio contra outro povo, a ordem de extermínio dos povos rivais, a determinação de explorar, pela força ou pela astúcia, as riquezas alheias, não só em solo estrangeiro como também no solo da própria comunidade nacional. O povo também tem a sua face demoníaca, tal qual a pessoa humana.
A “sabedoria popular” é um disparate. Servem-se dessa expressão os demagogos para bajular o povo. O avanço da civilização deve-se às elites formadas de técnicos, artistas, cientistas e filósofos. Contemplamos as pirâmides do Egito graças ao conhecimento técnico e matemático da elite egípcia. O faraó ordenou e a massa de operários assentou as pedras. Escutamos música graças aos compositores, à execução dos instrumentistas e à interpretação dos cantores. O trabalho dos inventores, arquitetos, engenheiros, matemáticos, físicos, químicos, biólogos, trouxe conhecimento e melhores condições de vida à humanidade. Filósofos, psicólogos, sociólogos, ajudam os seres humanos a se conhecerem e a compreenderem o mundo em que vivem. A massa beneficia-se da sabedoria das elites, segue lideranças, absorve mensagens, adota condutas padronizadas, decide intuitiva e emocionalmente, erra muito e acerta pouco. Embora a Igreja negue beatificação a certa pessoa, o povo a santifica, presta-lhe culto, faz romarias e súplicas. Exemplos dessa fé e credulidade são as venerações ao Padre Cícero, em Juazeiro/Ceará, e à milagrosa Maria Bueno, em Curitiba/Paraná.
No Brasil, os partidos contribuem para o atraso político ao apresentarem candidatos imorais e amorais, oportunistas cujo propósito é o de se apropriar do dinheiro público, fazer negociatas, construir ou aumentar o patrimônio próprio e do grupo que os apóia. Apetites, ambições, paixões, insatisfação, integram a dinâmica política. Todavia, do ponto de vista pedagógico, sempre é válido estimular a consciência e o senso de responsabilidade do eleitor pelos destinos da sua família e do seu país. O eleitor brasileiro há de perceber, algum dia, o seu papel de artífice do próprio destino e de como o seu voto é determinante.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

POLÍTICA

Pólis, palavra grega que significa cidade, está na origem da palavra política, arte de governar a cidade. Por extensão, o termo é empregado para significar a arte de governar a casa (economia). No sentido amplo, casa pode ser entendida como lar, empresa, sindicato e outras instituições civis, militares e religiosas. Daí falar-se em política da empresa, política do sindicato, política de defesa nacional, política do Vaticano, e assim por diante. Essa arte tem uma finalidade ética: a realização do bem da comunidade. Esse bem inclui a conservação da casa e a prosperidade dos seus membros. Sob o ângulo estático, a política envolve a promessa de um bem, a esperança de uma situação melhor no futuro. Sob o aspecto dinâmico, implica procedimentos adequados à realização dos objetivos da comunidade, disciplinados por princípios e regras técnicas, morais, jurídicas e religiosas.
A política governamental do Estado tem sido definida como “arte do possível”. Essa definição é demagógica, decorativa, genérica em demasia, aplicável a qualquer atividade humana. Na verdade, serve para camuflar a incompetência e a esperteza de quem governa. O fim ético do Estado tem sido esquecido muitas vezes pelos governantes no curso da história. Em monarquias e ditaduras, o Estado tem sido tratado como propriedade particular e exclusiva do governante, de uma família ou de um grupo dominante. Nas repúblicas democráticas não tem sido diferente, principalmente nos países da América Latina, onde o patrimônio público é tratado pelos governantes como coisa privada e o povo é massa passiva, gente resignada e manobrável pelos meios de comunicação e pelo discurso enganoso.
No que tange ao governo da república democrática, os procedimentos, princípios e regras fundamentais estão previstos na Constituição. Os governantes estão moral e juridicamente obrigados a defender e cumprir a Constituição e a promover o bem comum. No Brasil, isto significa que o governante deverá zelar pelos fundamentos da república: soberania popular (todo poder emana do povo), cidadania (direito de eleger e ser eleito), dignidade da pessoa humana (vida, liberdade, igualdade, propriedade, segurança), valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (justiça social e desenvolvimento), pluralismo político (democracia). Significa, ainda, que todo programa de partido, de candidato ou de governo, deverá incluir os objetivos fundamentais da república brasileira: (i) construir uma sociedade livre, justa e solidária; (ii) garantir o desenvolvimento nacional; (iii) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (iv) promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Destarte, o candidato ao cargo de presidente da república tem o dever de expor os meios e os modos pelos quais pretende cumprir esses objetivos fundamentais da república. Além disso, deve apresentar soluções para problemas concretos e específicos da atualidade. Os candidatos costumam vaguear, tergiversar, ignorar o programa básico estabelecido na Constituição, sem esclarecer devidamente o eleitor.

sábado, 7 de agosto de 2010

LAMENTO

AZARES DE UM DESCONHECIDO
Olhos castanhos sedutores / muitos foram seus amores / pousam sobre o seu rosto / com ternura e suave gosto / Mas, oh! Que amargura / Lívido, sou tomado de tontura / amigos dela de mãos dadas / a me quebrarem de pauladas.
Batatinha quando nasce / esparrama pelo chão /mãezinha quando dorme / põe a mão no coração / outra mão sob a coberta / se agita bem esperta. / Do trabalho bem cansado / papaizinho dorme ao lado / depois do meu olhar farto / me mandou sair do quarto.
Os belos versos são de autor desconhecido. O pouco que se sabe é que ele teria nascido na cidade de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, no século passado, em casa vizinha a uma padaria. Chamava-se Antonio, tinha mancha de nascença no cotovelo direito. Já moço, 1,63 de altura, pesando 63 kg., começou a escrever poesias. Gostava muito da poesia. Respirava a poesia, dormia com a poesia, comia a poesia e teve filhos.
Acusaram-no de plagiar poetas como Camões, Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Vinicius de Morais. Muito aborrecido com essas calúnias, mas sem disposição de ânimo para processar os caluniadores, o poeta saiu pelo mundo sem deixar rastro. Há noticias vagas de que estivera pelas bandas do Rio de Janeiro, no Brasil. Ninguém soube explicar se eram bandas de música, bandas largas ou bandalhas.
Comenta-se que ele andava pelas areias da praia de Ipanema, às vezes entrava no mar, ficava poucas horas sob o sol, acabrunhado, censurando a exposição de corpos daquelas moças desavergonhadas, com pedacinhos de fazenda que mal cobriam a genitália, todas muito feias, até que um dia achou uma delas bonitinha e resolveu fazer os seguintes versos:
“Olhe, que coisa mais linda / mais cheia de graça/ é ela menina / que vem e que passa / ao ritmo do amor / Moça do corpo doirado / do sol de Ipanema / o seu rebolado / é mais que um poema / é a coisa mais linda / que já vi passar”.
Dizem que o poeta paranaense não publicou esses versos. Algum cretino poderia acusá-lo de plágio e ele estava cansado de sofrer injustiças. Dizem, também, as línguas indiscretas, que ele está compondo uma “Oração de São Francisco” e um poema intitulado “Se” que ainda nem foi publicado e já o acusam de plagiar Kypling! Sofrida essa vida de poeta!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

POESIA

Meu Senhor tende piedade dos que andam de bonde / e sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos / mas tende piedade também dos que andam de automóvel / quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos na direção. / Tende piedade das pequenas famílias suburbanas / e em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos / mas tende mais piedade de dois elegantes que passam / e sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina./ (...) / Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres / que ninguém mais merece tanto amor e amizade / que ninguém mais deseja tanta poesia e sinceridade / que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade. / (...) / Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas / a vida fere mais fundo e mais fecundo / e o sexo está nelas, e o mundo está nelas / e a loucura reside nesse mundo. / Tende piedade, Senhor, das santas mulheres / dos meninos velhos, dos homens humilhados – sede enfim / piedoso com todos, que tudo merece piedade / e se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim! (“O Desespero da Piedade” – Vinicius de Moraes).
“O homem que diz sou – não é, porque quem é mesmo – não diz...” (canção popular – Vinicius de Moraes).
Ai! A lua que no céu surgiu / não é a mesma que te viu / nascer dos braços meus./ Cai a noite sobre o nosso amor / e agora só restou a dor / de uma palavra: adeus! / Oh! Mulher, estrela a refulgir / parte, mas antes de partir/ rasga o meu coração. / Crava as garras no meu peito em dor / e esvai em sangue todo o amor / toda desilusão. / Ai! Vontade de ficar / mas, tenho de ir embora. / Ai! Se amar / é ir morrendo pelo mundo afora / é ver na lágrima um momento breve / de uma estrela pura / cuja luz morreu / numa noite escura / triste como eu. (“Canção do adeus” – Vinicius de Moraes).

Tenho nesta vida um só desejo / é encontrar uma razão de ser / procuro em tudo porém em nada vejo / e não acho um motivo de viver. / Não sei se sou desiludida / não sei se sou muito exigente / sei porém que não me atrai a vida / sei e estou disso bem consciente. / Busco na música e na natureza / nas pequeninas coisas que acontece / não nego vejo da criação toda beleza / porém nada disso o coração me aquece. / Caminho indiferente pela vida afora / sentindo em meu ser um turbilhão / às vezes em desalento minh´alma chora / por não saber aplacar essa paixão. / Só uma certeza me mantém feliz / é saber que tudo passa nesta vida / são coisas que sentimos e ninguém diz / coisas que a nossa alma traz guarida. (“Desalento” – Terezinha de Jesus Fonseca).
Colhe-se hoje aqui amanhã acolá / pequenos flocos de amor / pequenos flocos de dor / com o tempo nenhum deles ficará. / Os sonhos são sempre assim / às vezes lindos e coloridos / às vezes negros e doridos / com o tempo eles terão um fim. / Sonhos coloridos flocos de amor / na roda da vida só trazem a dor / o tempo célere sempre continuará / sem fim a roda girará. / Cada volta da roda negra ou colorida / cada sonho bom ou pesadelo / é sinal de alerta é apelo / para acordarmos e sentirmos a vida. (“Flocos” – Terezinha de Jesus Fonseca).
Quanta ternura no ar / quanta ventura a sonhar / é a paz que sempre quis / hoje em mim vejo habitar. / Nas manhãs de sol eu canto / um canto para louvar / e vejo a Terra florir / e quero a tudo amar. / Neste imenso amor que sinto / comungo com todo meu ser / caminhando da Terra ao infinito / sou feliz nada mais posso querer. (“Realização” – Terezinha de Jesus Fonseca).