quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

código da vinci III

CONSPIRAÇÃO RELIGIOSA

O livro “O Código Da Vinci” foi criticado como sendo mais uma teoria da conspiração. Conspirar significa arquitetar sigilosamente uma ação contrária ao interesse de indivíduos, da sociedade ou do Estado. Conspiração significa conluio secreto para lograr um fim almejado. Teoria da conspiração significa o conjunto de argumentos para explicar um fato como produto de conluio secreto. Essa expressão pode ser usada pejorativamente para ridicularizar e desvalorizar explicações contrárias às versões convencionais. Por trás dessa intenção de ridicularizar e desvalorizar está o receio de que as versões oficiais sejam colocadas a pique por um novo conhecimento. Esse receio é ainda maior quando as versões oficiais sustentam um poder secular e espiritual cujo patrimônio é obtido e mantido mediante a exploração da credulidade e da ignorância do povo.

Sempre houve conspirações no mundo. Algumas visavam a morte do governante, como nos exemplos históricos de César, Lincoln e Allende. Outras visavam a mudança de regime, de que são exemplos, no Brasil, a queda do império e a instauração da república, o golpe no governo constitucional de João Goulart e a ditadura militar. Conspira-se para matar o Papa, impedir a posse de quem venceu as eleições, arruinar um concorrente, boicotar uma atividade cívica, e assim por diante. A conspiração da classe sacerdotal para manter o seu domínio sobre os fiéis está presente em todas as religiões. Estas se multiplicam constantemente através do tempo, graças às conspirações e às divergências internas. O cristianismo resultou de uma conspiração da fraternidade da qual Jesus era membro, cujo propósito era o de modificar os costumes e desacreditar os fariseus e os saduceus. Congregava essênios e nazarenos. Defendia uma filosofia perene, cujas fontes remotas estavam no Egito, na Caldéia e na Grécia. Coube ao essênio João Batista, a partir da Judéia (Sul da Palestina) e ao nazareno Jesus, a partir da Galiléia (Norte da Palestina), a batalha campal pela mudança. Desde a Antiguidade até a Idade Média, inclusive, política e religião misturavam-se. Embora Jesus afirmasse que o seu reino não era deste mundo, a sua pregação implicava mudanças na vida política, social e econômica dos povos. Os hábitos da sua fraternidade incluíam a comunhão de todos os bens, o trabalho e a produção econômica em benefício da comunidade, a responsabilidade de todos os adultos pela criação e educação das crianças, refeições coletivas, higiene pessoal e ascese. Alguns membros da fraternidade faziam votos de celibato e/ou de castidade durante certo tempo e/ou até cumprirem determinada missão.

Quando fatos de interesse geral são ocultados do povo, a hipótese de conspiração pode ser aventada com muita propriedade, porque fundada na experiência e na natureza humana. As lideranças podem se valer de mensagens pelos meios de comunicação social, expedidas pelas instituições públicas ou privadas, para desacreditar a hipótese de conspiração. Desse modo, afastam obstáculos à execução dos seus desígnios. Ao contestarem, em seus respectivos livros, a afirmativa contida em “O Código Da Vinci”, de que havia mais de 80 evangelhos, os professores Amy e Bock reconheceram a existência de 87 textos. Ressalvam que desses textos, apenas 5 são evangelhos: Tomás, Felipe, Maria, Verdade, Egípcios. Os professores deram crédito ao discurso de Teabing, personagem do romance de Brown. Foram rigorosos na censura. O personagem incluiu na categoria de evangelho, os textos que os professores não qualificam como tal. O fato é que os números coincidem. Brown faz seu personagem afirmar que havia mais de 80 “evangelhos”. Os professores dizem que havia 87 “textos”. Questão de semântica. Os cristãos católicos, de um modo geral, não são leitores da bíblia; são ouvidores. Os 4 evangelhos foram selecionados pelos sacerdotes católicos no Concílio de Nicéia, sob pressão de Constantino. Os demais textos foram rejeitados e quem deles tomasse conhecimento ou neles acreditasse, entrava para o rol dos hereges. A Igreja arvorou-se em juiz do que os indivíduos deviam saber e não saber, como se os católicos fossem uns mentecaptos. A condenação dos textos gnósticos veda, aos fiéis, o acesso à verdade. A proibição entra na conduta obscurantista das instituições religiosas. Do Antigo Testamento, também, foram excluídos alguns livros que, na opinião dos doutores da lei, não combinavam com a religião autêntica. Esses livros chegam ao conhecimento de poucos e não são divulgados porque isso não interessa à religião oficial. Com os manuscritos do Mar Morto aconteceu a mesma coisa. Encontrados em 1947, ficaram sob os cuidados de religiosos católicos, que os mantiveram longe dos olhos do povo. Os judeus e a comunidade acadêmica internacional protestaram. Admitidos ao restrito grupo de zeladores, os judeus deixaram de defender a tese de que a comunidade científica devia participar. Esses manuscritos são patrimônio da humanidade, porque se referem a costumes, doutrinas e crenças que estão na base da civilização ocidental. No entanto, permanecem guardados por cristãos e judeus, indisponíveis ao conhecimento científico e vulgar, embora o tempo decorrido já tenha sido suficiente para sua tradução e divulgação. Membros desse grupo seleto escrevem sobre os manuscritos, mas não divulgam o texto, salvo uma pequena parte publicada. Certamente, não há interesse desse grupo em colocar todo o material à disposição da comunidade acadêmica e do público leigo. Esse comportamento revela o medo das conseqüências que a verdade poderá trazer às organizações religiosas.

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