sábado, 30 de março de 2013

JESUS, A RESSURREIÇÃO FICTÍCIA



O significado da páscoa cristã se mostra razoável como passagem da religião de Moisés à religião de Jesus. Como celebração da ressurreição, entretanto, a páscoa não goza da mesma razoabilidade. A ressurreição supõe morte antecedente. Se não houver morte, não haverá ressurreição. Se Jesus não morreu na cruz, não ressuscitou. A morte do ser humano ocorre quando cessam as funções respiratória, cardíaca e cerebral; quando não há mais instinto, desejo, vontade, sentimento e pensamento. A personalidade transita do mundo material ao mundo espiritual em definitivo abandono do corpo. Haverá retorno apenas se a morte for aparente. Quando alguém sobrevive a uma parada cardíaca, por exemplo, fala-se em ressurreição no sentido figurado, eis que não houve morte real. A bíblia menciona pessoas ressuscitadas por Elias e Eliseu (antigo testamento) e também por Jesus e Pedro (novo testamento), na mesma atmosfera ilusionista. 

Depois do episódio da crucifixão, a páscoa cristã passou a celebrar a ressurreição de Jesus e não apenas a passagem do culto mosaico ao cristão. A crença na ressurreição facilitou a difusão da doutrina cristã e fortaleceu a igreja primitiva.

Houve artimanha. Dois príncipes judeus, pelo menos, José de Arimatéia e Nicodemus, discordaram da condenação de Jesus pelo Sinédrio (tribunal judeu). Logo após a crucifixão, Arimatéia reclamou o corpo a Pilatos. Ao manifestar estranheza pela rapidez da morte, Pilatos mostrou que se deixava enganar intencionalmente e aceitou o testemunho do centurião (Marcos 15: 44/45). Homem rico, José de Arimatéia pagou o soldado para testemunhar na forma do costume. No império romano, oferecer e receber propina era praxe observada por civis e militares desde o escalão mais alto até o mais baixo sem reprovação moral ou jurídica. Nas províncias, governadores e procuradores recebiam propinas, presentes, embolsavam parte da receita tributária e enriqueciam regularmente. (Mateus 28: 11/15; História da Vida Privada. Do Império Romano ao Ano Mil. Org. Paul Veyne. São Paulo, Companhia das Letras, vol. I, 2009, pág.94/98).

Aquela farsa encenada por Pilatos, Arimatéia e pelo centurião cunhou de legalidade a liberação do corpo e possibilitou a retirada de Jesus da cruz ainda com vida. Realmente, os três crucificados estavam vivos quando um deles (Jesus) foi retirado da cruz. Os dois remanescentes tiveram suas pernas quebradas para apressar suas mortes.

A sentença de morte ditada por qualquer tribunal que não fosse romano só podia ser executada com permissão da autoridade romana. O tribunal judeu (Sinédrio) condenara Jesus à morte e seus juízes pleiteavam junto a Pilatos a execução da sentença. Diante da acusação formulada pelas autoridades judias de que Jesus era agitador, revolucionava o povo, queria ser rei e afrontava o imperador romano, Pilatos se viu obrigado a cumprir dever militar e político. Ante a insistência e as ameaças dos judeus, ele faz o gesto simbólico de reconhecimento pessoal da inocência do prisioneiro: lava as mãos. A seguir, entrega Jesus à sanha dos algozes. Resolve, entretanto, aborrecer aquela gente: manda colocar uma placa no alto da cruz com a inscrição Jesus Nazareno Rei dos Judeus. As autoridades judias protestaram: ele dizia ser, mas não era rei. Pilatos rejeitou o protesto e manteve a placa e a inscrição acintosa (João 19: 19/22). Agora, ao liberar o corpo com vida, ele cumpria dever civil perante a sua consciência ao mesmo tempo em que se desforrava da petulância e insolência daqueles judeus.

Na quinta-feira, Jesus e seu grupo celebraram a páscoa cristã; na sexta-feira, houve a crucifixão; no sábado, a páscoa judia (celebra a saída do povo hebreu do Egito). No domingo, Maria Madalena, companheira de todas as horas, não reconhece Jesus. Pensou tratar-se do jardineiro (João 20: 14/15). Outros componentes do grupo também não o reconheceram. Esta intrigante falta de reconhecimento por gente que lhe era próxima e íntima dá margem a duas hipóteses: (i) tratava-se de outra pessoa; (ii) era a mesma pessoa com visual diferente. A segunda hipótese é a mais provável se aceitarmos como verídicos os fatos posteriores à aparição narrados pelos evangelistas.

Jesus foi colocado no sepulcro que havia no jardim de propriedade de José de Arimatéia. Ali recebeu os primeiros socorros. Os terapeutas nazarenos rasparam-lhe a cabeça, cortaram-lhe a barba e o vestiram com roupa comum (jardineiro) tudo para evitar que ele fosse reconhecido por seus perseguidores. Como propriedade particular, o jardim era de exclusiva disposição do seu dono, na forma da lei. Os limites da propriedade só eram franqueados a quem o dono autorizasse. Por isto, guardas no local, selo na pedra e descida de um anjo que rolou a pedra são fatos que só existiram na maliciosa imaginação de Mateus (27: 62/66 + 28: 2/6). Nos evangelhos de Marcos, Lucas e João essa fantasia não foi acolhida.

Os apóstolos haviam convivido por alguns anos com um rabi nazareno (cabelos longos, barba comprida, túnica branca e sandália). De repente, aparece um homem de cabeça raspada, rosto liso, roupa comum, se dizendo o rabi crucificado. O espanto deles era natural e a dúvida compreensível. Para convencê-los, Jesus exibiu as marcas dos pregos nas mãos e nos pés, alimentou-se na presença deles e falou de assuntos da irmandade (Lucas 24: 16, 36/43). Ali não estava um corpo astral e sim um corpo biológico com apetite natural, sentidos físicos e atividade mental de quem não morrera na cruz. A dieta saudável dos nazarenos, a ceia pascal da quinta-feira e a terapêutica mística deram-lhe forças suficientes para agüentar a agressão física. Essa agressão foi narrada com exagero pelos evangelistas, pela igreja e por cineastas como Mel Gibson, visando a causar impacto, provocar comiseração e conquistar simpatia. Na verdade, a agressão foi de extensão e intensidade bem menores. Porém, como se diz no mundo moderno: a propaganda (enganosa) é a alma do negócio.

Escritores judeus e cristãos ampliaram acontecimentos favoráveis aos seus povos e às suas crenças, criaram mitos e heróis, inventaram milagres e diálogos com a divindade, endeusaram reis e profetas, difamaram pessoas, manipularam números, obscureceram fatos, alteraram textos, deixaram vícios e defeitos à sombra quando lhes convinha. Entre os críticos das graves contradições e manipulações dos textos bíblicos e da figura do Jesus histórico, inclusive no que concerne à ressurreição, alinha-se o professor Pepe Rodríguez, doutor em psicologia, no livro de sua autoria Mentiras Fundamentales de la Iglesia Católica (Barcelona, Ediciones B, 2011). 

O filósofo dinamarquês Soeren Kierkegaard, ao constatar essa falta de honestidade intelectual e de transparência histórica na elaboração de textos, afirmou: A História assim se apresenta como uma ficção criada pela mente construtiva dos eruditos e professores ao arrumarem o infinito dos fatos acontecidos numa tela fantástica e irreal (apud Vicente Ferreira da Silva, in “Obras Completas”, São Paulo, Instituto Brasileiro de Filosofia, 1966, vol.II, pág. 348).

Prece cuja repetição na missa condiciona a mente dos fiéis coloca Jesus entre os mortos, o faz descer ao inferno e ressuscitar. O inferno de Jesus foi Jerusalém. Começou com as hostilidades da parcela maior da elite e do povo judeu durante a pregação da nova doutrina e continuou no Monte das Oliveiras, na assembléia do Sinédrio, no palácio de Herodes Antipas, no pretório de Pôncio Pilatos e terminou no Calvário. A morte e ressurreição era versão necessária para impactar o espírito do povo e convencê-lo de que se cumpriram profecias contidas na bíblia, antigo testamento, entre as quais as do profeta Isaías (7: 14/15; 9: 5/6; 42: 1/4; 52: 13/15; 53).

Segundo Mateus (27: 51/53) Jesus não foi o único a ressuscitar naquele dia: a terra tremeu, fenderam-se as rochas; os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram; saindo das suas sepulturas entraram na cidade santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas. Parece filme de terror produzido pela fértil imaginação de Mateus. Os demais evangelistas não se atreveram a tanto!

O professor Darrell L. Bock diz que a ressurreição é o choque entre a vida e a morte do qual a vida sai vencedora (Quebrando o Código Da Vinci. Osasco, Novo Século, 2004, pág. 176). Esta é uma visão marcial não só desse professor, mas também de outros escritores: guerra da vida contra a morte. Ter-se-á panorama diferente se a morte for vista como passagem de uma forma de vida (terrena) a outra forma de vida (espiritual). A idéia de conflito entre a vida e a morte perderá o sentido; não haverá vencedor, nem vencido. A ótica marcial mostrar-se-á inadequada. Completada a transição, não haverá retorno. E reencarnação, haverá? Se houver, exigirá um novo corpo e um novo tempo. Com boas razões, há crentes e descrentes. 

sábado, 23 de março de 2013

JESUS, OS APELIDOS.



No estágio atual do conhecimento humano, a crítica racional revela o caráter fantasioso e apologético das narrativas bíblicas, tanto as do antigo como as do novo testamento. A vida e a doutrina de Jesus narradas nos evangelhos serviram de alicerce à civilização ocidental cristã. Daí a importância de examiná-las em cotejo com a natureza humana e a realidade histórica. Essa cautela afastará mitos e espertezas que entrevaram a maioria dos cristãos e produziram uma cultura estribada na falsidade e na hipocrisia. Deformada moralmente, essa cultura beneficiou grupos religiosos, políticos e econômicos, aprofundou desigualdades sociais, trouxe miséria e sofrimento a grande parcela da humanidade, consoante testemunho da história medieval e moderna.

Alguns pontos polêmicos permanecem vivos. Jesus era o seu nome de batismo (Joshua). Se fosse o messias hebreu, o nome teria de ser Emanuel de acordo com a profecia do antigo testamento. O anjo que apareceu a José e Maria mudou o nome para Jesus (Mt 1: 21/23; Lc 31). Da narrativa de Lucas deduz-se que o anjo Gabriel deflorou Maria. Ela engravidou, pariu Jesus, consagrou-o a Deus (tornou-o nazareno) e o encaminhou ao monastério do Monte Carmelo. Isto certamente melhorou as relações entre Maria e seu marido José. Este parecia não se sentir feliz com aquele bastardo em seu lar a lembrá-lo do defloramento de Maria por outro homem que se dizia anjo.

Ao nome de Jesus foi agregado o apelido nazareno sem relação alguma com o torrão natal, pois naquele tempo não havia cidade ou aldeia com o nome de Nazaré segundo constatou Harvey Spencer Lewis (La Vida Mística de Jesús. San José, Califórnia, Gran Logia Suprema de Amorc, 1967, pág. 48, 114, 132). Posteriormente à época de Jesus, batizaram uma aldeia com o nome Nazaré para encobrir o fato de ele ter pertencido a uma seita mística. Interessava passar aos fiéis a idéia de que todo o conhecimento de Jesus vinha diretamente de Deus e não dos homens. Jesus freqüentava as seitas nazarita e essênia cuja doutrina adotara. Daí o apelido nazareno. Além disto, entre os hebreus esse apelido era dado ao filho primogênito quando a família o colocava ao serviço de Deus, como aconteceu com Samuel e Sansão, juízes hebreus, ambos nazarenos, nenhum deles nascido em aldeia ou cidade denominada Nazaré. Subordinada às leis da Palestina (romanas e judias) Maria seguiu o costume e colocou Jesus no monastério.

Outro apelido agregado ao nome de Jesus foi o de cristo (= ungido). Tal era o apelido de místicos ungidos com óleos, sagrados, purificados, que alcançavam iluminação espiritual. O nascimento de Jesus bipartiu o tempo histórico em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). Os seus seguidores foram denominados cristãos, espalharam-se pelo mundo, organizaram igrejas e se distribuíram em ortodoxos e heterodoxos, católicos, protestantes e espíritas. De acordo com o pensamento de Cristo, a quem padecesse pobreza, fome e tristeza na Terra, haveria riqueza, fartura e alegria no Céu; haveria juízo final: os bons entram na morada divina e os maus queimam no inferno; cada qual será medido pela mesma medida com que mede os outros.
Cristo recomendava as seguintes condutas: (i) amar ao inimigo, fazer bem a quem nos odiar, abençoar aos que nos maldizem, orar aos que nos injuriam; (ii) a quem nos ferir numa face, oferecer a outra; a quem nos tirar a capa, deixar que também leve a túnica; dar ou emprestar a quem nos pedir, sem almejar retorno; se alguém tirar o que é nosso, não reclamar; (iii) fazer às pessoas o que queremos que elas nos façam; (iv) ser misericordioso; não julgar para não ser julgado; não condenar para não ser condenado; perdoar para ser perdoado.
Os seguidores dessas recomendações formariam uma comunidade de santos. Até hoje, nenhuma comunidade cristã as seguiu à risca. A doutrina é bela, mas impraticável em sua plenitude. O pólo demoníaco da natureza humana é o grande e poderoso óbice. Nem Jesus a praticou inteiramente como se vê dos episódios de violência no templo, luxúria, menosprezo à mãe e aos irmãos, destempero verbal contra opositores.

Jesus também recebia tratamento de rabi (= mestre). Assim o chamavam os discípulos e aqueles que ouviam suas preleções. Ele demonstrava conhecimento da lei mosaica, da lei romana e do mundo material e espiritual. Ensinava em lugares abertos e fechados; ao pé da montanha e à beira do lago; nas casas de discípulos e de simpatizantes; nas sinagogas e no templo de Jerusalém. Travava debates com os sacerdotes e escribas judeus. Estes perceberam que a religião judia corria o risco de perecer diante da nova doutrina. Ficaram preocupados quando aumentou a parcela do povo de Jerusalém que aderiu aos novos ensinamentos. Acusaram Jesus de blasfêmia e o condenaram à morte. Jesus estava com mais de 40 anos – e não 33 como se difundiu – quando tramaram a sua morte. Está lá, no evangelho: Os judeus lhe disseram: Não tens ainda cinqüenta anos e viste Abraão! (João 8: 57). Se Jesus estivesse na faixa dos 30 anos, eles teriam dito: não tens ainda quarenta anos e viste Abraão!  Os judeus que o questionavam e censuravam nesta ocasião eram fariseus, componentes da elite intelectual e religiosa de Jerusalém, bem informados sobre Jesus, seu grupo e seus ensinamentos (João 8: 12/59).    

O povo da Palestina considerava Jesus um profeta. Desde Elias em 875 a.C. até Malaquias em 450 a.C. quase vinte profetas se destacaram. Qualificava-se profeta a pessoa carismática a quem se dava o crédito de visões do futuro, de falar em nome de Deus e de expressar a vontade de Deus. Daí, a autoridade moral dos profetas sobre o povo hebreu e seus governantes. No sermão da montanha, Jesus referiu-se aos maus tratos de que eram vítimas os profetas. Na sinagoga da cidade em que viviam seus pais, ele reclamou da desconfiança do povo em relação à sua pessoa e disse com amargor que nenhum profeta é bem aceito em sua pátria. Quando se excediam nas admoestações, os profetas eram ameaçados e punidos pelo povo ou pelos governantes. Isto aconteceu inclusive com Jesus e João Baptista. A fim de atrair adeptos às suas doutrinas, mudar costumes e crenças, os dois se excederam na agressividade contra judeus e autoridades judias. A conseqüência foi drástica: prisão e morte.

sábado, 16 de março de 2013

JESUS, O FEIO.


Há poucas referências sobre a aparência de Jesus. Sabe-se que ele usava barba e cabelos compridos, vestia túnica branca e andava de sandálias, porque este era o figurino dos essênios. Há dúvida quanto à compleição física. Desconhece-se a fisionomia, a cor dos olhos, dos cabelos e da barba. Alguns lhe atribuem nariz adunco típico dos judeus. Acontece que Jesus e seu grupo não eram judeus e sim galileus arianos (apenas Judas era da raça judia semita). Os judeus desprezavam-nos por serem gentios (estrangeiros) e não seguirem a doutrina judia. Como lembra Harvey Spencer Lewis, os galileus eram ridicularizados pelos judeus: da Galiléia nada de bom pode sair (La Vida Mística de Jesús. San José, Califórnia, Gran Logia Suprema de Amorc, 1967, pág. 178). Os judeus perguntavam ironicamente: É acaso da Galiléia que há de vir o Cristo? Não diz a escritura: o Cristo há de vir da família de Davi e da aldeia de Belém onde vivia Davi? (Jo 7: 41/42). Contemporâneos de Jesus, aqueles judeus sabiam que ele não nascera em Belém e nem descendia de Davi. O próprio Jesus se excluiu da nação judia ao discutir com eles: Bem sei que sois a raça de Abraão, mas quereis matar-me porque a minha palavra não penetra em vós (Jo 8: 37). O local do nascimento e a linhagem dos pais eram relevantes para a legitimidade dinástica e a qualificação de Jesus como o messias referido na bíblia (antigo testamento). Em seus evangelhos, Marcos e João silenciaram sobre isto, sintonizados com o protesto dos judeus e com a conduta de Jesus.

Além da hebraica, havia outras etnias na Palestina. A variedade étnica sempre foi uma característica daquele território cujo tamanho lembra o território do estado brasileiro das Alagoas. Quando o pequeno e insignificante grupo de hebreus guiado por Abraão lá chegou havia inúmeros povos habitando a região com seus próprios costumes e crenças (como se cada município do estado das Alagoas fosse habitado por um povo diferente). As relações entre esses povos nem sempre foram amistosas. No curso dos séculos, aquele grupo cresceu, tornou-se uma nação e se constituiu reino. Depois de Salomão, o reino bipartiu-se: Judá (duas tribos do povo hebreu) ficou ao sul da Palestina (Judéia, capital Jerusalém) e Israel (dez tribos do povo hebreu) ficou ao norte (Samária e Galiléia). Após a expulsão das dez tribos, o norte foi povoado por migrantes do império assírio. No século II a.C. havia judeus naquela região, mas foram removidos para a Judéia com apoio de Judas Macabeo. Destarte, na época de Jesus, a Galiléia “dos gentios” era habitada pelos descendentes dos referidos migrantes e outras etnias.

Os evangelhos colocam os judeus em posição oposta à de Jesus e seu grupo. Deixam claras: (i) a separação entre judeus e galileus; (ii) a diferença de origem e de doutrina. Nos Atos dos Apóstolos (1: 19) lê-se: Tornou-se este fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado, na língua deles, Hacéldama, isto é, Campo de Sangue. Aqui, Pedro distingue o modo de falar dos judeus do modo de falar dos galileus. Os dois grupos estavam submetidos às mesmas leis romanas e judias do período em que a Palestina estava sob domínio estrangeiro (Roma). 

No século I d.C. (1-100) os judeus se dividiam politicamente em dois blocos: um favorável à paz com os romanos; outro favorável à guerra de libertação. Neste segundo bloco destacavam-se os zelotes (zelavam pela liberdade da pátria). Quanto à religião, dividiam-se em dois ramos: fariseus e saduceus. Na Palestina havia seitas sem fidelidade à religião hebréia, como a nazarita e a essênia. Estas duas se reuniam no monastério do Monte Carmelo, segundo H. Spencer Lewis (obra citada, pág. 107/108). Algumas seitas e parcela do povo palestino discordavam do pagamento de tributo a Roma.     



Josefo (37-101 d.C.) historiador judeu, na coleção de textos de sua autoria tece elogios a Jesus sem tocar na aparência física e insinua que ele era mais do que homem (divino) porque foi autor de feitos extraordinários (Antigüedades Judías. Madri, Akal/clásica, 1997, tomo II, livro XVIII, p. 1089, parágrafo 63). No torvelinho daquele século um judeu ou um romano jamais faria tal elogio. Os evangelhos começavam a ser escritos. É possível que algum apóstolo tenha servido de fonte a Josefo. Todavia, o mais provável é aquele encômio de evidente coloração cristã ter sido interpolado pela igreja no século IV (301-400) para reforçar a crença na historicidade e no poder divino de Jesus.
 

A conduta enganadora de Josefo enfraquece a credibilidade dos seus escritos. Na Galiléia, aos 30 anos de idade, Josefo comandou tropas judias na revolta palestina contra os romanos (anos 66/70). Na série “Guerra dos Judeus” de sua autoria, composta de sete livros (Curitiba, Juruá, 2012) ele conta que se escondeu em uma cisterna com 40 soldados (livro III, pág. 61/70). Descoberto o esconderijo, os emissários dos generais romanos Vespasiano (futuro imperador de Roma) e Tito (filho de Vespasiano) prometeram poupar a vida dos prisioneiros caso se entregassem. Os soldados preferiram morrer a se entregar. Favorável à proposta dos romanos, Josefo discorre sobre o caráter insensato e pecaminoso do suicídio. Os soldados não se convenceram, insistiram no suicídio coletivo, chamaram Josefo de traidor e covarde e avançaram para matá-lo. Josefo recuou, concordou com os soldados e determinou que a execução fosse por sorteio: o primeiro sorteado seria decapitado pelo segundo, o segundo pelo terceiro sorteado, o terceiro pelo quarto e nesta seqüência até o final. O último tiraria a própria vida. Assim fizeram. Josefo e outro ficaram por último, desistiram do suicídio e se entregaram aos romanos. Josefo caiu nas graças de Vespasiano e Tito, assessorou-os na vitória sobre os judeus e na destruição do templo (ano 70). Trocou o nome judeu (Yossef ben Matitahu ha-Cohen) por nome latino (Tito Flavius Josephus), obteve cidadania romana e serviu aos imperadores romanos.

Celso, filósofo romano, no livro “A Palavra Verdadeira”, escrito no século II d.C. (101-200) informa que Jesus era um homem feio e de baixa estatura. Este dado contraria a tese de que Jesus é uma lenda; que Jesus nunca existiu. Celso afirma que o judaísmo e o cristianismo são caudatários da filosofia grega e romana; que não há originalidade nas doutrinas judaica e cristã; que ambas são cópias de outras religiões; que a circuncisão foi copiada dos egípcios; que Jesus nasceu do adultério de Maria e atribuir-lhe natureza divina é um absurdo; que Jesus escolheu marinheiros e um coletor de impostos para divulgar idéias perversas; que Jesus os ensinou a mendigar e a roubar; que os seus seguidores o abandonaram quando Pilatos o prendeu e o condenou à morte.

Orígenes, teólogo cristão, no livro “Contra Celso”, escrito no século III (201-300) contestou as assertivas do filósofo romano, mas silenciou sobre a aparência de Jesus. Orígenes demonstrou conhecer o livro de Celso ao fazer as citações e respectivas críticas. Depois da contestação, o livro de Celso desapareceu. O sumiço é atribuído à igreja católica. Os textos eram manuscritos e tinham como suporte tabuas de madeira cobertas de cera e rolos de papiro ou pergaminho. Cópias eram raras e o acesso restrito. O grosso da população não sabia ler e escrever. Os copistas do rei, do sacerdócio ou do proprietário copiavam cartas e documentos contábeis entre outros.

A difusão de textos só aumentou a partir do século XV (1401-1500) quando Gutenberg inventou a técnica de impressão com tipos móveis (tipografia). Apesar desta invenção e do crescimento demográfico, o acesso ao livro continuou privilégio da minoria porque a maioria dos europeus era pobre e analfabeta. No século XX (1901-2000) aumentou o número de letrados na Europa e na América, os preços baixaram e maior parcela da população teve acesso a livros, jornais e revistas.

A imagem de Jesus em pinturas, esculturas, cartazes, é a de homem europeu, bonito, feições suaves e gestos afeminados. A elegância e a beleza física do pregador ajudam a tornar palatável a sua mensagem. Perfil diferente se extrai da bíblia (novo testamento): homem temperamental que destrata os seus opositores e não titubeia em usar a força física. Em Curitiba, meados do século XX, dizia-se que “todo baixinho é invocado”, para significar arreliento. Jesus (baixinho, feio e briguento) foi preso pelos soldados judeus, julgado e condenado à morte – não por Pilatos – e sim pelo Sinédrio, tribunal judaico formado por sacerdotes, escribas e anciãos. Pilatos queria soltar o prisioneiro, mas diante da ameaça dos judeus de denunciá-lo ao imperador romano por proteger um subversivo que pretendia ser rei, ele declara a inocência de Jesus e lava as mãos (Mt 16: 59/66 + 27: 20/24; Mc 14: 53/64; Lc 22: 52; Jo 18: 12).

quarta-feira, 13 de março de 2013

PAPA



Quando anunciou a intenção de renunciar ao cargo, o que se efetivou em 28/02/2013, o papa Bento XVI referiu-se a dissensões internas na igreja. Ao abdicar do trono de São Pedro, referiu-se às nuvens no céu do Vaticano. 
As dissensões na comunidade cristã sempre existiram, antes e depois da morte de Jesus, conforme se vê de passagens dos evangelhos e dos atos dos apóstolos. Havia ciumeiras, desavenças e disputas pelo poder entre eles. Ao perceber essa conduta dos apóstolos, Jesus lhes deu um mandamento especial: “amai-vos uns aos outros como eu vos amo” (Jo 15: 12).

Esquecidos do mandamento, os sucessores digladiam-se e praticam delitos; dividem-se em ortodoxos e heterodoxos, católicos e protestantes, pastores e administradores; cultivam a hipocrisia, o homossexualismo, a pedofilia, a corrupção; organizam a igreja de forma mundana com apego ao dinheiro, ao luxo e à política; disputam hegemonia e mercado.
No seio da igreja católica o pólo demoníaco da natureza humana revelou-se mais forte do que a doutrina, do que os juramentos, do que a batina dos padres e a púrpura dos cardeais.

sábado, 9 de março de 2013

FRASES IRREFLETIDAS



1) Vá chafurdar no lixo como você sempre faz.
Autor: Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal.

No início do mês de março/2013, ao sair de uma reunião do Conselho Nacional de Justiça, o ministro Joaquim Barbosa, ao ser interpelado por um jornalista, mandou-o chafurdar no lixo e o chamou de palhaço. Do que consta da lista da Associação Nacional dos Magistrados Estaduais na rede de computadores e do jornal ali mencionado, percebe-se que o ministro já tinha esse jornalista na mira, na conta de alguém que falta à verdade e distorce os fatos.

Chafurdar significa enlamear-se, sujar-se, tornar-se imundo. O verbo é empregado geralmente para indicar o revolver dos porcos na lama do quintal ou no chiqueiro. A atitude do ministro foi aprovada por alguns magistrados e censurada por outros que se pronunciaram na citada lista. Dos magistrados exige-se decoro, cuja falta enseja punição consoante lei complementar 35/1979. Segundo essa lei, aos membros dos tribunais ordinários e superiores não se aplicam penas de advertência e censura. Por faltas disciplinares, eles estão sujeitos às penas de remoção e aposentadoria compulsórias, disponibilidade e demissão.   

Lição da experiência: no jornalismo não há compromisso com a verdade; falta boa educação e respeito à privacidade alheia; sobra abuso no exercício da profissão. Considerada o quarto poder, a imprensa dele abusa e atua segundo seus próprios interesses econômicos e políticos; não há imparcialidade, isenção de ânimo, amor à verdade e espírito de justiça. A ânsia por sensacionalismo sobrepõe-se a qualquer escrúpulo. Certa vez, entrevistando o presidente Collor, o jornalista perguntou se ele era corrupto. Essa pergunta retrata bem a falta de bom caráter desse tipo de jornalista. Ele quis exibir coragem e atrevimento aos seus colegas de profissão e aos seus chefes na redação. Formulou pergunta idiota e injuriosa. Jamais o entrevistado admitiria ser corrupto ou criminoso. A intenção do jornalista não era a de informar o público e sim a de promover a si próprio.     

2) Os mortos governam os vivos.
Autor: Luiz Fux – ministro do Supremo Tribunal Federal.

Em sessão do Supremo Tribunal Federal (6-7/03/2013) ouviu-se do ministro a frase acima. Citou-a para se por contra a cristalização de princípios e regras e justificar a mudança de normas constitucionais e legais elaboradas por gerações passadas. Segundo o ministro, cada geração tem o direito de elaborar suas próprias leis. Assim também pensam os tiranos.

No Brasil, paraíso dos estelionatários públicos e privados, a frase serve aos espertalhões que pretendem mudar as normas em benefício próprio. O ex-presidente Fernando Henrique debochava das cláusulas pétreas e dos juristas que as defendiam. Ele, Luiz Inácio e Dilma seguem a vocação autocrática dos governantes brasileiros: afastam regras legítimas para atender às suas idiossincrasias, aos seus planos pessoais e aos interesses da canalha incrustada nos labirintos do poder público. Conquistam maioria no Legislativo para obter emendas à Constituição e leis que amparem os seus projetos e safadezas. Colocam na suprema corte ministros dispostos a defender cerebrinamente a juridicidade de normas espúrias.

A frase em tela é de efeito meramente retórico sem amparo na razão e nos fatos. Os vivos são governados por leis da natureza, por leis humanas e por pessoas vivas. As almas dos mortos pertencem a outro mundo. Os seus corpos se decompõem em terra ou cinzas, ou servem de alimento a antropófagos e a animais irracionais. Chávez já não governa os venezuelanos; nem Getúlio, os brasileiros.

Há idéias e crenças que permanecem válidas através dos séculos. Princípios morais, jurídicos e religiosos que emanaram da milenar experiência dos povos e que integram os valores de determinada civilização servem de balizas ao poder político atual. O Código Civil brasileiro de 2002 contém preceitos com mais de dois mil anos de existência oriundos do direito romano. A Constituição brasileira de 1988 contém alguns princípios e regras fundamentais vigentes há oitocentos anos na Inglaterra, outros gerados nas revoluções americana e francesa do século XVIII (1701-1800) e outros no pensamento socialista do século XIX (1801-1900) que se integraram aos valores da civilização ocidental e continuam válidos até hoje (2013). Por mais de duzentos anos gerações se sucedem nos EUA sob a égide da mesma Constituição. Cada nova geração a recebe, a mantém e zela por sua eficácia. Preserva a sua herança cultural e valoriza a sua identidade como nação. Mudam-se normas em face de exigências sociais e econômicas sem perder a sintonia com os princípios e as normas fundamentais.

sábado, 2 de março de 2013

ENCONTRO NA PRAÇA



Olavo, meu camarada! Como vai essa força?

Ora, ora, se não é o Arquibaldo!

Sou eu mesmo. O que faz você aqui nesta praça, em manhã de sol, todo enternado, engravatado e ensapatado? Noto que você carrega sofisticada valise de couro. Será que aquele adolescente tímido do curso colegial abraçou profissão que exige espírito de luta?

Ô Arquibaldo, você não perdeu a maneira jocosa de se expressar e aquele jeito extrovertido que a turma do colégio admirava. Pois é. Adivinhou. Sou advogado. Estou de roupa de trabalho porque meu escritório fica ali naquele prédio. Deixo meu carro no estacionamento deste outro lado da praça.

O que você me conta, Olavo, está tudo bem?

Sim, está tudo bem. Enfrento dificuldades normais no exercício profissional e na consolidação da família. Chegam os filhos e o sossego bate asas. Sou pai de dois: o rapaz formado em direito e a moça em pedagogia. Moro na Barra da Tijuca. Marieta, minha esposa, formou-se em psicologia e montou consultório na Zona Sul. Além disto, atua como assistente dos juízes em varas de família. Continuo a torcer pelo Flamengo. Mantenho-me longe dos partidos, mas acompanho o desempenho dos políticos eleitos. Da crise econômica mundial de 2008, por exemplo, acho que o governo brasileiro saiu-se bem. Já no quesito honestidade não se pode dizer o mesmo. Na democracia impera a lei elaborada pelos representantes do povo. Quando a casa dos representantes vira covil de ladrões e vagabundos, o império da lei torna-se um risco para a democracia e para a justiça. Os juizes têm de buscar escoras nas vigas mestras do Direito para escapar da involuntária cumplicidade com as safadezas dos legisladores. Creio que a postura enérgica do supremo tribunal na ação penal do “mensalão”, por exemplo, não intimidará os corruptos. O mal é congênito. Mas, Arquibaldo, fale-me de você.

Tentei engenharia, mas desisti. Prestei concurso, ingressei no serviço público, fiz carreira e me aposentei com proventos insuficientes para uma vida cômoda. Continuo a trabalhar como corretor de imóveis para reforçar a renda mensal. Por duas vezes casei e me separei. Moro sozinho no Leme. Cansei das rondas noturnas pelos bares de Copacabana, Leblon e Gávea. Para mim, a boemia perdeu a graça. À Lapa, eu só vou para acompanhar algum amigo em visita ao Rio. Quase não vou ao teatro. Meus atores preferidos morreram e restam poucas atrizes do meu agrado. Cinemas de que eu tanto gostava fecharam as portas. Não há mais glamour. Salas insossas nos shoppings. Poucos filmes de boa qualidade. Ainda resta a pipoca. Assisto a alguns programas na televisão. Durmo cedo e acordo cedo. Tomo o café da manhã na padaria ao lado do edifício onde moro. Pão quentinho que derrete a manteiga. Na xícara, fumegando, um estimulante café. Não troco esse café nem pelo sortido café do Sheraton. Há delícias que só a simplicidade propicia. Do primeiro casamento, tenho um filho que se formou em medicina; do segundo, duas filhas: uma formada em odontologia e outra em educação física. O meu time do coração continua a ser o Fluminense. Lembra da algazarra que eu fazia no pátio do colégio quando o tricolor vencia? O inspetor de alunos acabava com a festa. Ele era vascaíno. Fui militante na política partidária e tirei bom proveito disto. Para mim, obtive cargos em comissão e gratificações que engordavam a renda. Para meus filhos, consegui boas colocações enquanto eles cursavam a faculdade. Ontem eu tentava vender apartamento para um cliente da imobiliária quando ele mencionou a proximidade da data do fim do mundo. Dei a mínima para aquela bobagem. O mundo acaba para quem morre.

Pois eu, enquanto aguardava o fim do mundo participei de uma rodada de chope com os amigos na hora do almoço. À noite, em casa, a família se reuniu em jantar festivo organizado por Marieta. A crença no fim do mundo, Arquibaldo, é armadilha do intelecto. Vida e morte, começo e fim, são idéias fincadas na experiência humana. Os seres vivos nascem e morrem. Estrelas nascem e morrem. Civilizações emergem, ascendem e declinam. Fácil pensar então – ainda mais com apoio em escrituras religiosas – que o cosmos também teve começo e terá fim. No meu entender, fim terá a vida em nosso planeta quando o sol queimar todo o seu combustível, o que levará milhões de anos. 

Estou com você, Olavo. Não descarto a extinção acidental da vida em extensão planetária por cataclismo decorrente do choque com algum corpo celeste de enorme dimensão, ou por hecatombe nuclear provocada pela doidice das lideranças mundiais. As verdades científicas são sempre provisórias. A inteligência humana passa por altos e baixos. A mediocridade ocupa o espaço maior na comunidade humana. Veja alguns exemplos domésticos: Academia Brasileira de Letras, nos últimos cinqüenta anos tornou-se abrigo de mentecaptos. No ensino, a decadência é notória. Raros são os estabelecimentos em que o ensino é de boa qualidade. Profissionais de formação acadêmica cometem erros crassos com graves prejuízos aos clientes, à sociedade e ao Estado. A presidente da República deu uma paulada no vernáculo ao exigir tratamento de Presidenta, além do embaraço ao se expressar sem muletas. 

A conversa está boa, mas o tempo voa. Gostou da rima? Preciso ir ao escritório elaborar petições e me preparar para uma audiência vespertina. Vamos nos encontrar mais vezes de agenda marcada e não ao acaso. Não vamos dar chance à saudade. Dá cá um abraço.

Saudade, Olavo, é bom e nostálgico sentimento provocado pela recordação das experiências registradas em nossa memória e que deixaram marcas em nosso coração. Gosto de curtir as doces lembranças e não só o momento atual. Agora, sigo para o apartamento do meu filho no Leblon, coloco traje de banho e vou à praia porque está no meu horário. Vá lá o abraço.

Traje de banho? Horário de praia? O que é isso, Arquibaldo? Você quer me impressionar ou me provocar inveja?

Nem uma coisa, nem outra. O traje de banho compõe-se de sunga e sandália. Horário de praia é o período da manhã que eu escolhi para caminhar na areia e tomar banho de mar. Nesse horário a praia é freqüentada por mulheres bonitas e de corpos torneados em academia. Quando elas mergulham, os traseiros roliços e firmes brilham ao sol antes de sumirem na água. Colírio para os olhos. Isto me basta, pois além de senil, estou um bagaço. 

Sentindo a fofa areia da praia sob os pés, Arquibaldo pensava enquanto caminhava: será que Olavo acreditou em tudo o que eu disse? A troca de endereços e telefones foi para valer? Sabemos que não. “Apareça”, “me liga”, expressões convencionais que se esgotam em si mesmas. Passam os anos e não aparecemos, nem ligamos.