EUROPA (1800
a 1900). Continuação.
James Mill (1773 a 1836), economista,
reformador inglês, integra o chamado grupo
dos filósofos radicais. Em seus “Elementos de Economia Política” ele expõe
o seu pensamento com fulcro nos seguintes princípios: (1) o crescimento muito
rápido da população deve ser evitado tendo em vista que a riqueza utilizável na
produção cresce mais lentamente; (2) o valor das utilidades depende
inteiramente do montante de trabalho necessário para produzi-las; (3) o aumento
do preço da terra que não provém do trabalho, ou o aumento do valor da terra
que resulta exclusivamente de causas sociais (como a construção de nova fábrica
nas vizinhanças) deverá ser fortemente taxado pelo Estado. Mill foi o propulsor
do movimento utilitarista na Europa. Acreditava na eficácia da educação como
essencial fator do desenvolvimento político, social e econômico.
Nassau William Sênior (1790 a 1864), advogado,
professor em Oxford, encarou a Economia como ciência dedutiva. Na opinião dele,
todas as verdades econômicas podem ser deduzidas de grandes princípios
abstratos. Apoiava o laissez-faire
dos liberais, mas admitia também a necessária intervenção do governo em
assuntos como saúde, educação e moradia. A parcimônia condiz com a riqueza. Os
instrumentos primários do valor são o trabalho e os recursos naturais. O
instrumento secundário do valor é a parcimônia. O capitalista parcimonioso que
emprega a sua poupança em novos negócios adquire direito ao lucro respectivo. O
capitalista sofre com a parcimônia o mesmo que o operário sofre com o trabalho.
Ambos merecem recompensa. A luta das uniões trabalhistas {sindicatos de
operários} por menor jornada de trabalho não merece apoio. Da última hora de
trabalho resulta o lucro líquido da empresa industrial. Se reduzir a jornada,
esse lucro será eliminado e a fábrica terá de fechar as portas.
Friedrich List (1789 a 1846), economista
alemão, após estagiar sete anos na América do Norte se deixou influenciar pelo
que lá observou e por algumas idéias americanas. A sua teoria econômica não
agasalha o laissez-faire e nem a
liberdade no comercio internacional. A riqueza da nação é determinada mais pela
força do trabalho dos cidadãos e menos pelos recursos naturais. O governo deve
incrementar a arte e a ciência e incentivar o cidadão a empregar o máximo da
sua capacidade na cooperação em prol do bem da coletividade. O desenvolvimento
nacional é de suma importância e, por isso mesmo, não deve ser travado por
eventuais efeitos positivos ou negativos sobre as fortunas particulares. Tendo
em vista a essencialidade das manufaturas para a economia nacional, o Estado
deve criar tarifas protetoras até que a indústria nacional reúna condições para
competir com a indústria estrangeira. A produção e a distribuição da riqueza
devem ser protegidas – quando não promovidas – pelo Estado. O interesse
nacional está acima do interesse individual do trabalhador. Ao Estado cabe
impor tarifas protetoras, regular e planejar o desenvolvimento econômico
visando ao equilíbrio entre a produção e o consumo. [A teoria econômica de List
e dos seus adeptos serviu, no século XX, aos propósitos do governo nazista
alemão].
A sintonia entre o liberalismo
econômico e o liberalismo político na Europa ocorreu melhor na Inglaterra do
que nos países do continente onde a tradição autocrática era forte. Entretanto,
houve nuances nesse liberalismo. O economista e filósofo inglês John Stuart
Mill (1806 a
1873) apresenta algumas dessas nuances em sua obra “Princípios de Economia
Política”. Ele rejeita a universalidade da lei natural. Há leis imutáveis que
governam a produção, todavia, a distribuição da riqueza é passível de
regulamentação pela sociedade {convenção humana} a fim de beneficiar a maioria
dos seus membros {justiça social}. O Estado pode intervir na distribuição da
riqueza mediante tributação da herança e apropriação da indevida valorização da
terra. Sob determinadas condições, ao Estado cabe reduzir a jornada de
trabalho. O sistema de salário pode ser substituído pelo sistema cooperativo em
que o operário é dono da fábrica e escolhe os diretores. O operário deve
participar dos frutos do seu trabalho.
Nessa quadra da história, o
socialismo se opõe ao liberalismo. Ambas as correntes têm a mesma fonte: o
iluminismo. Alguns pensadores privilegiaram a liberdade e outros a igualdade
nas suas respectivas teorias. Houve a terceira corrente que tentou conciliar os
dois pólos e introduzir a fraternidade
como elemento sentimental moderador. Assim como há nuances no liberalismo,
também as há no socialismo. Nas duas correntes há posições moderadas e posições
radicais. No socialismo, a idéia de justiça social prepondera. Em cooperativas,
os trabalhadores executariam tarefas que lhes fossem apropriadas e
compartilhariam dos resultados. O homem deve libertar-se dos vícios e das
estruturas sociais que o escravizam. Esta libertação o fará feliz. Comunidades
típicas devem ser organizadas para se bastarem a si mesmas, de modo que os
instrumentos da produção a todos pertençam.
Robert Owen (1771 a 1858), natural do
País de Gales, viveu o socialismo primeiro como operário aprendiz e depois como
proprietário e gerente de uma fábrica de algodão na Escócia. Construiu casas
para os operários, reduziu a jornada de trabalho de 17 para 10 horas e instalou
escola gratuita para os filhos dos trabalhadores. No seu entender, o regime de
lucro gera as perturbações que culminam em guerra. O operário fica impedido de comprar o que
produz. Owen demonstrou através do exemplo que era possível pagar um salário
decente ao trabalhador sem excessivas horas de trabalho. Ele obteve do
Parlamento algumas leis fabris embora sem a extensão pretendida. A partir daí,
os seus seguidores são tratados de socialistas.
Crises periódicas e desemprego derivam do regime de lucro por ele denunciado.
Owen sugeriu a organização da sociedade em cooperativas. Cada
membro receberia pagamento proporcional às horas efetivamente trabalhadas.
Fracassaram as comunidades criadas
com tais propósitos e características, porém, floresceram as cooperativas e os
sindicatos de operários.
Alguns pensadores viam apenas
filantropia na teoria e na prática de Owen. Os operários devem conquistar seus
direitos por si mesmos. Para tanto, devem adquirir o domínio da máquina
política e econômica. A força e arregimentação dos liberais também devem ser
utilizadas pelos socialistas. A organização socialista se faz em bases
nacionais com o Estado. Louis Blanc (1811 a 1882) revolucionário francês foi o
expoente desse socialismo proletário. Na opinião dele, o individualismo e a
livre concorrência fazem morrer de fome aquele que não nasceu afortunado. O
Estado deve se apoderar do sistema econômico a fim de garantir trabalho e
justiça para todos. Cada fábrica deve ser um estabelecimento nacional de
trabalho; o governo deve ser o proprietário; o operário deve ser o dirigente.
As pessoas devem trabalhar de acordo com a sua capacidade e devem consumir de
acordo com a sua necessidade. [Esta última proposição foi assumida pelos
revolucionários marxistas: “cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo
suas necessidades”].