terça-feira, 29 de setembro de 2020

O TEMPO

 

O passado não existe, salvo a conjugação verbal, a recordação e o registro histórico.

O futuro não existe, salvo a conjugação verbal, o cálculo, a imaginação e a esperança.  

O presente existe como conjugação verbal e realidade, porem, fugaz para os seres vivos. Cada momento vivido torna-se o imediato passado. A morte é a passagem definitiva.

 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

PLANO DO PT

O Partido dos Trabalhadores (PT) lançou na manhã de segunda-feira, 21/09/2020, o seu Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil. A cerimônia de lançamento foi presencial e virtual. Dos participantes que fizeram uso da palavra, a maioria não havia lido o plano. O desconhecimento do texto deve-se, em parte, à sua enorme extensão, o que desestimula a leitura: 210 páginas! Isto lembra o catatau que o advogado da presidente Rousseff protocolou no Supremo Tribunal Federal: 400 páginas! Mais que petição, um livro que poucos magistrados têm a disposição e a paciênca de ler. 

Centenas de pessoas participaram da elaboração do plano, segundo informou o presidente da fundação. Isso talvez explique a prolixidade e cansativas repetições. Da costura das contribuições oriundas de diferentes e numerosas pessoas resultou uma colcha de retalhos. Certamente, para não melindrar os diversos autores, os organizadores pretenderam manter fidelidade à forma e ao conteúdo das contribuições, quiçá preocupados em não ferir a vaidade e a suscetibilidade de qualquer deles. No início do texto foram citadas dezenas de pessoas que ocupam a direção do partido, da fundação, dos núcleos de acompanhamento político, das comissões executivas e das secretarias. O plano tem duas apresentações. A primeira subscrita pelos presidentes do PT e da Fundação Perseu Abramo, com 13 páginas. Segue-se o sumário, com 3 páginas. Depois, vem a segunda apresentação com 10 páginas. Seguem-se as 3 partes em que o plano foi dividido, com 156 páginas e, por fim, um anexo com 28 páginas sobre os 13 anos do PT no governo federal. [A lei orçamentária da União Federal/2020 com seus anexos tem menos de 40 páginas!].

A primeira parte do plano tem como tema “outro mundo é preciso, outro Brasil é necessário”. Aborda as crises mundial e local. Trata da falta de alimento e de apoio à agricultura familiar; da proteção à vida humana e da pandemia; das desigualdades e da justiça social. Critica o autoritarismo e o capitalismo. Exalta governos petistas. Defende a soberania nacional, América Latina integrada, democracia radical, refundação do estado de direito. Afirma necessário: (i) resgatar a dignidade dos indígenas e quilombolas (ii) maior proteção às mulheres, à juventude negra, à comunidade LGBTQI (iii) impedir a ascensão da extrema direita no cenário político brasileiro (iv) eliminar os efeitos do sistema escravocrata que até hoje perduram (v) desenvolvimento sustentável, reformas bancária, tributária, administrativa e agrária (vi) serviços públicos melhores (vii) nova concepção de cidade (viii) estado democrático forte, eficiente e transparente (ix) acesso à tecnologia da informação e da comunicação, inteligência artificial, conhecimento socializado.

A segunda parte do plano tem como tema “mudanças para o presente” e explica o “plano emergencial de proteção à vida e reconstrução do Brasil”. Estabelece medidas para: (i) proteção da vida e do bom viver (ii) defesa do trabalhador e da renda com bem-estar social (iii) garantia de acesso a bens comuns (iv) ampliação de acesso a bens públicos (v) retomada do desenvolvimento econômico (vi) defesa do estado e da democracia. 

A terceira parte do plano tem como tema “mudanças para o futuro” e explica o “plano estrutural de transformação do Brasil” que consiste nas seguintes propostas: (i) desenvolvimento social e novo período de afirmação de direitos (ii) desenvolvimento sustentável e transição ecológica para a nova sociedade do século XXI (iii) desenvolvimento econômico e novo projeto de transformação das estruturas social, produtiva e ambiental (iv) soberania nacional e nova inserção do Brasil no mundo (v) radicalização da democracia e refundação do estado.   

O plano harmoniza-se com a Constituição da República Federativa do Brasil. Exibe estilo multifacetado, um tanto realista, outro tanto idealista; um tanto modesto, outro tanto megalômano; um tanto progressista, outro tanto demagógico; um tanto moderado, outro tanto radical. Perpassam-no pensamento socialista e tom guerreiro e messiânico. Linguagem com estrangeirismos sombreando o idioma português (concessão ao colonialismo cultural) e lances rebarbativos. Plano pronto, acabado e publicado, porém, como disseram os expositores da casa, aberto aos “aperfeiçoamentos e ajustes” porventura sugeridos por progressistas, inobstante as divergências e o caráter autônomo dos partidos políticos. A hierarquização sugerida por ex-governador do Paraná mostra-se adequada à fase de execução do plano. Prioridades estabelecem-se na execução e não na elaboração do plano, porque variam nas diferentes regiões do território e nos milhares de municípios. Na esfera federal, que inclui problemas nacionais e internacionais, as prioridades nem sempre são as mesmas das esferas estadual e municipal. Daí, a necessidade de traçar só diretrizes gerais. Cada governo petista estabelecerá as prioridades específicas dentro da sua jurisdição administrativa em sintonia com as gerais. Quiçá por estarem cientes disto, os expositores da casa disseram que o plano estava inacabado e seria aperfeiçoado pela colaboração vinda de dentro e de fora do partido. 

Sem cansativas e inúteis repetições, uma síntese com 10 ou 20 páginas seria suficiente; discurso menos doutrinário e ideológico, mais prático e objetivo; menos cabeça no ar e mais pé no cháo. Os princípios e ideais socialistas estão suficientemente expostos no estatuto e no código de ética do partido. Sob este aspecto, o plano é redundante. Suficiente seria, após prévia, clara e breve exposição daquilo que se pretende reconstruir e transformar, responder às perguntas: O que fazer? Como fazer? Quais os meios disponíveis? A brevidade estaria justificada (i) por ser contrária à verborragia (ii) porque os problemas que afligem a nação brasileira no campo da política, da economia, do trabalho, da família, da moradia, do meio ambiente, da saúde, da educação, da cultura, da infraestrutura, do esporte, dos direitos humanos, das relações internacionais, são do conhecimento público e notório.

As críticas necessárias, úteis e justas aos governos da direita estão deslocadas. Os meios de comunicação social são o lugar próprio e adequado. Divulga-se o plano ao mesmo tempo em que se faz propaganda partidária e oposição ao governo. Os organizadores do plano mencionaram o comum objetivo dos partidos da esquerda de derrotar os da direita na disputa por cargos públicos eletivos. Evitaram colocar o PT como hegemônico nessa luta. A esquerda está conseguindo o que parecia impossível: acordo unificador na batalha contra a extrema direita. Tão logo atingido o alvo, cada partido voltará ao seu quadrado.  

Na campanha eleitoral em curso, mister cuidar da distribuição do fundo eleitoral aos diretórios municipais, onde os candidatos a prefeito e a vereador dispõem de poucos recursos. O acúmulo de recursos financeiros na cúpula do partido para disputa de cargos federais não se compadece com o espírito democrático e o senso de justiça. Distribuição equitativa, proporcional, fiscalizada e controlada é imperativo da honestidade e da solidariedade internas. Assim como a família é a célula da sociedade, o município é a célula do estado. 

domingo, 13 de setembro de 2020

LIBERALISMO x SOCIALISMO

A notícia de que Caetano Veloso, renomado e excelente compositor e cantor baiano, ícone da música popular brasileira, saltou do barco do liberalismo para o barco do socialismo, alvoroçou o meio artístico e intelectual. As doutrinas voltaram à baila. O artista foi convencido das consequências funestas do liberalismo narradas por teóricos da esquerda. O sufixo “ismo” indica sistema. Liberalismo = sistema  calcado na liberdade = conjunto de ideias e práticas liberais permanentes e sistemáticas no campo individual, social, político e econômico. 

As letras das músicas desse compositor revelam inteligência lúcida, sensibilidade, independência artística, reflexão sobre matéria social e política. Isto não goza da simpatia de governo autocrático. Em 1964, o estado brasileiro havia recaído no fascismo. Esse tipo de movimento político pauta-se pela intolerância, violência, ódio, censura; direitos humanos condicionados à função social; feixe de deveres cujo descumprimento acarreta prisão, tortura e morte. Caracterizam o estado fascista: [i] autoritarismo e militarismo [ii] repúdio ao liberalismo, ao socialismo e à democracia [iii] pensamento único imposto à sociedade (ausência de oposição) [iv] concentração dos poderes no Executivo (legisla por decreto-lei) [v] controle das liberdades públicas e da economia [vi] conciliação do capital e trabalho (ausência de antagonismo). A livre iniciativa fica sob tutela do estado. Interesse público e coletivo acima do interesse individual e privado. À revelia do povo, o Executivo (i) interpreta o interesse nacional (ii) estabelece a política de segurança nacional (iii) traça as diretrizes do desenvolvimento. Elite econômica conforma a elite política, atrai a elite intelectual, condiciona a elite judiciária, recruta a elite sindical e sufoca as aspirações dos trabalhadores e das minorias. 

À semelhança de outros brasileiros naquela quadra da história do Brasil, o mencionado compositor também deixou o país para escapar das teias do fascismo. Natural, pois, que amasse a liberdade. Numa dimensão cósmica, define-se liberdade como irresistível movimento no tempo e no espaço: (i) da força que está na origem do universo (ii) das forças fundamentais da matéria (iii) da força que gera, determina e conserva os seres vivos. Numa dimensão cultural, define-se liberdade como o movimento no tempo e no espaço das forças humanas em direção a fins materiais e espirituais. Desse movimento, resultam boas e más ações; algumas, criminosas. O humano tem a natural necessidade de agir, realizar sua vontade, manifestar seus pensamentos, expressar seus sentimentos. A função legisladora da razão, com fulcro no conhecimento e na vontade, regula essa necessidade, disciplina a liberdade mediante princípios e normas éticas e jurídicas que formula. A razão classifica o que entra na categoria do bem e o que entra na categoria do mal, apesar do relativismo. O indivíduo é livre para cometer todos os crimes, porém, não tem o direito de fazê-lo. 

Desonestidade, abuso, desvio, maldade, efeito ruim, acontecem sob o império da liberdade e sob o império da igualdade, tanto no estado liberal como no estado social, tanto à direita como à esquerda. Resultam mais da face demoníaca da natureza humana do que da teoria. Posso usar o copo tanto para beber água como para atirá-lo na testa do meu opositor. Não se há de culpar o copo. Olhar retrospectivo para a história dos últimos 300 anos da civilização ocidental evidencia os horrores do liberalismo, do socialismo, do fascismo e do nazismo quando tais sistemas são postos em prática por pessoas de mente doentia, egoístas, ambiciosas, desprovidas de senso moral e de espírito humanitário. Na democracia, nem tudo é bom. Na autocracia, nem tudo é mau. Nos estados nazifascistas houve boas obras, bons serviços, prosperidade e desenvolvimento (1920/1940). Esses estados tiveram larga aceitação popular como aconteceu na Itália (Mussolini), Alemanha (Hitler), Turquia (Kemal), Polônia (Pilsudski), Portugal (Salazar), Brasil (Vargas), Argentina (Perón). 

A liberdade política consiste na possibilidade efetiva de o povo exercer a soberania, organizar o estado, escolher os legisladores, administradores e magistrados. No estado de direito democrático, liberdade consiste no real poder dos cidadãos de: (i) converter em ato suas potencialidades físicas, intelectuais e morais (ii) pensar, querer e agir sem subordinação às ideias, à vontade e às crenças de outrem (iii) escolher o que lhes parece necessário, útil e agradável, sem intervenção compulsória do governo ou de terceiros (iv) fiscalizar e controlar a autoridade pública (v) decidir diretamente mediante plebiscito, referendo ou iniciativa de lei, questão relevante para a sociedade e para o estado. Da liberdade política, aproveitam-se os estelionatários, os corruptos, para iludir o povo, encastelar-se no governo e, sem pudor algum, usufruir do erário, das negociatas e das mordomias, embriagando-se com os eflúvios magnéticos do poder. 

O liberalismo supõe (i) a liberdade anterior e superior à autoridade (ii) a igualdade perante a lei. Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem, respeitados os limites que a lei determina. Essa doutrina está na raiz de um movimento revolucionário na França do século XVIII (1701-1800). O povo assumiu o governo depois de se insurgir contra o poder absoluto do governante e os privilégios da realeza e da nobreza. [Na luta: povo = burgueses + proprietários de terras + filósofos + trabalhadores urbanos + camponeses. No posterior e institucional domínio: povo = burguesia]. No século seguinte, com o advento da industrialização na Europa e na América, a liberdade econômica descambou para o individualismo possessivo; mostrou-se amoral, injusta, propiciando fortuna ao dono do capital e miséria ao operário. A igualdade perante a lei revelou-se insuficiente à massa popular. No livre direito de contratar, a parte frágil fica em desvantagem, o empregado fica à mercê do empregador, o consumidor fica inferiorizado ante o senhor dos preços. 

As ideias socialistas se robustecem diante da cruel realidade. Justiça social, igualdade material, salários dignos, limite às horas de trabalho, assistência social, acesso aos bens da civilização, foram as bandeiras erguidas pelo movimento de humanização apoiado pelo Papa Leão XIII (encíclica Rerum Novarum). O movimento socialista inspirado principalmente na obra de Carlos Marx, desemboca nas revoluções russa (1917), chinesa (1948), cubana (1959), portuguesa (1974), venezuelana (1999). A revolução mexicana teve nuance socialista ante as reivindicações dos campônios e dos trabalhadores urbanos (1910). 

O liberalismo, para sobreviver, abre espaço à massa popular, mas, sem abrir mão do sofisticado, incolor, inodoro e insidioso método de dominação e exploração mediante ficções ideológicas e imagens utópicas. 


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

INDEPENDÊNCIA

Em diferentes datas, os estados americanos comemoram o rompimento dos seus vínculos de subordinação às metrópoles europeias. Todos têm o seu “dia da independência”. No Brasil, esse dia é 7 de setembro (1822); na Argentina, 9 de julho (1816); nos EUA, 4 de julho (1776). Nesse dia, os meios de comunicação social publicam artigos, reportagens, divulgam imagens, tudo sobre o episódio da independência. Alguns ajuntam considerações sobre os dias atuais.  

Trata-se fundamentalmente da independência política que consiste no poder de cada estado tomar decisões sobre a sua forma de governo, a defesa e a exploração do seu território, o bem do seu povo, a sua segurança, o seu desenvolvimento social e econômico, sem subordinar-se aos interesses, propósitos e diretrizes de outros estados. Isto não significa óbice à paz, à amizade, ao intercâmbio cultural, às relações diplomáticas e econômicas entre as nações. A cada estado cabe decidir de modo soberano com quem e como se relacionar na esfera internacional. Essa decisão, quando vigora a democracia, deve sintonizar com a vontade, as aspirações, os princípios e objetivos fundamentais da nação. 

A força da independência política, à semelhança das forças nucleares, pode ser: [I] fraca, quando a soberania decai, o governo presta vassalagem, submete-se às diretrizes de governo estrangeiro, ou sucumbe ante os interesses de corporações (Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai = autodeterminção fraca) [II] forte, quando a soberania se mantém estável, o governo não tolera intromissão estrangeira nos seus assuntos internos (França, Argentina, Cuba, Venezuela = autodeterminação forte). 

A dependência é um tipo de relação que ocorre no mundo da natureza e no mundo da cultura. A vida no planeta depende do Sol. Os seres vivos dependem do ar, da água, do alimento, do abrigo. Os filhos dependem dos pais. Os doentes e os viciados dependem das drogas. Os indecisos e os ignorantes dependem da opinião e do conhecimento de outrem. O ensino depende do aluno. A aprendizagem depende do professor. O trabalhador depende do capital. O capital depende do trabalhador. O fornecedor depende do consumidor. O consumidor depende do fornecedor. Há estados (vassalos, protetorados) que dependem de outros estados. Ideias dependem do entendimento.    

Atualmente, os estados são interdependentes no que concerne a recursos naturais, econômicos e estratégicos. Tais recursos estão distribuídos desigualmente por todo o planeta, o que gera imperial disputa entre os poderosos. A produção industrial, tecnológica e cientifica está concentrada em alguns estados enquanto o comércio se amplia por todo o orbe. Há estados de maior potencial (Alemanha, China, EUA, França, Inglaterra, Rússia) e estados de menor potencial (África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Índia, Japão) representados na Organização das Nações Unidas (ONU). Os propósitos da ONU são: [I] manter a paz e a segurança internacionais [II] desenvolver relações amistosas entre as nações baseadas no princípio da igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos [III] conseguir cooperação internacional para: (i) resolver problemas de caráter econômico, social, cultural ou humanitário (ii) promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião [IV] ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos.     

As circunstâncias que precederam a independência política do reino brasileiro podem ser sintetizadas da seguinte maneira. Fugindo do exército napoleônico, aportaram na colônia da América do Sul conhecida como Brasil: a rainha de Portugal, seu filho com esposa e dois filhos, familiares, cortesãos, burocratas, serviçais e soldados (1808). Por debilidade mental, a rainha foi considerada incapaz de reinar. O seu filho assumiu o governo como regente e abriu os portos brasileiros ao comércio internacional. Houve notável progresso na colônia. Cresceram importações e exportações. A metrópole ficou em patamar inferior. Separado do perigo pelo Oceano Atlântico, o príncipe regente, apoiado pela Inglaterra, declarou guerra à França e invadiu a Guiana Francesa. Em troca desse apoio, o governo inglês formulou algumas condições, todas atendidas, tais como: renovação dos direitos sobre a Ilha da Madeira, porto em Santa Catarina, esquadra no litoral, juízes para aplicar a jurisprudência inglesa aos ingleses residentes no Brasil, reexportação de gêneros tropicais, tarifas alfandegárias preferenciais, abolição gradual da escravatura. 

Mediante carta régia, o príncipe lusitano, quiçá por sentir-se humilhado governando uma colônia (rei reina em reino) elevou o status dela para reino, embora unido ao reino de Portugal (1815). Após a morte da rainha, o príncipe herdeiro assume a coroa real com o título de Dom João VI e permanece no Brasil (1816). Houve razões ideológicas além do fator psicológico para a expedição da carta régia. Os defensores do absolutismo monárquico reagiam ao movimento liberal constitucionalista na Europa. Temiam seus efeitos na América. No Congresso de Viena, o representante do governo francês sugeriu a elevação do Brasil de colônia a reino a fim de contentar os súditos brasileiros e desestimular a expansão do liberalismo (1814/1815). No entanto, na cidade do Porto, a revolução liberal é deflagrada e toma conta de Portugal (1820). Os revolucionários organizam uma junta governativa que convoca as Cortes Gerais Constituintes. Os deputados brasileiros atuando nas Cortes reunidas em Lisboa discordam das propostas prejudiciais ao reino do Brasil. Foram hostilizados pelos deputados portugueses conforme narrou Pedro I na fala do trono. 

A Constituição do Reino Unido (Portugal + Brasil) foi elaborada e promulgada nos moldes propostos pelos deputados portugueses (1822). Com o retorno da realeza a Portugal, as Cortes tentaram rebaixar o Brasil de reino a colônia. Enviaram ordens e tropas. Incentivado por seus amores e por seus assessores (inclusive maçons), muito irritado com a obrigação que lhe foi imposta de deixar o Brasil e voltar a Portugal (de onde saíra ainda criança), o príncipe manda as ordens e a carta régia às favas e rompe o vínculo com o reino de Portugal (1822). 

Naquela época, havia aristocratas, governadores e tropas leais a Portugal, o que ensejou combates de norte a sul do Brasil. As tropas brasileiras integradas por combatentes estrangeiros contratados (mercenários) conseguiram derrotar as tropas lusas. Apadrinhados pela Inglaterra, os governos do Brasil e de Portugal celebraram tratado de paz e amizade (agosto/1825). O governo do pai reconheceu a independência do governo do filho, com a benção do espírito santo inglês, por dois milhões de libras esterlinas. Amém


domingo, 6 de setembro de 2020

O GENERAL E A TPM

O Partido Verde protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) questionando a constitucionalidade da Operação Verde Brasil 2. O requerente alega que o emprego das forças armadas nos estados da Amazônia Legal significa a militarização da política ambiental brasileira e invasão da competência dos órgãos civis de proteção ambiental. 

No cumprimento do seu dever ante o constitucional direito de petição do requerente, a ministra relatora despachou solicitando informações ao Presidente da República e ao Ministro da Defesa. 

O general chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República postou mensagem na rede de computadores manifestando contrariedade com o despacho da ministra, criticando-a por desconhecer a região amazônica e sugerindo que a ministra formulasse a seguinte pergunta: “O que seria da Amazônia sem as forças armadas?”. 

Parece que o atormentado general desejava que o despacho da relatora fosse de liminar indeferimento da petição inicial. A mensagem encoraja questionamentos desrespeitosos e insinua deficiência cultural e despreparo da relatora. No entanto, o juízo de admissibilidade da petição inicial (deferir ou indeferir o pedido de processamento) é prerrogativa do magistrado, não dos generais e terceiros. O magistrado admite o processamento se verificar que a petição preenche as formalidades legais. Do despacho deferindo ou indeferindo o processamento da petição inicial cabe recurso.   

As lições da ciência e da experiência revelam que  [i] algumas mulheres que ainda não passaram pela menopausa sofrem periodicamente de  tensão pré-menstrual (TPM) [ii] o descontrole nervoso gerado pela TPM pode interferir no trabalho dessas mulheres [iii] no caso de juízas, a TPM pode comprometer a lógica do julgamento e o bom desempenho dos deveres de serenidade, urbanidade, respeito, decoro, imparcialidade, caso não estejam prevenidas e treinadas. Durante as audiências, sob essa tensão, as juízas podem se destemperar, perder a paciência, ficar agressivas com os advogados, partes, testemunhas, serventuários. 

[As Juízas e a Tensão Pré-menstrual. http://minha_tribuna.tripod.com/1.Menu/direito.htm + Tutela Jurisdicional. Revista da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ). Vol. 10. Nº 37, 2007].

As atitudes do general, trazidas ao conhecimento do povo pelos meios de comunicação social, assemelham-se a esse distúrbio nervoso próprio do gênero feminino. Como funcionário do alto escalão da administração pública, o general tem o dever de respeitar os parlamentares, os magistrados e todos que com ele tratam no serviço público. Volta e meia ele dá murro em mesa e se comporta de modo grosseiro. A sua conduta é incompatível com o decoro, a cordialidade, a impessoalidade, a urbanidade, exigidos de quem exerce funções públicas.  

O general devia perguntar a si mesmo: o que seria do Brasil sem uma suprema corte guardiã da lei fundamental do estado

A ordem jurídica é estrutural do estado, seja de um estado de direito democrático, seja de um estado de direito autocrático (leis fundamentais + leis ordinárias + normas contratuais + normas consuetudinárias + jurisprudência). O Poder Judiciário existe para: [i] zelar pela vigência e eficácia dessa ordem [ii] resolver, no devido processo jurídico, as questões de fato e de direito submetidas à sua apreciação.  

No episódio em tela (ADPF) não há decisão de mérito. Houve apenas o juízo de admissibilidade de uma petição que deu início ao processo judicial. A solicitação de informações integra os procedimentos legais, atende aos princípios do contraditório e da ampla defesa e foi endereçada às autoridades competentes (Presidente da República e Ministro da Defesa) que, uma vez notificadas, procederão conforme lhes convier. Decorrido o prazo legal, com ou sem as informações, o caso passará pelo crivo da Procuradoria Geral da República. Depois, em sessão plenária, o STF decidirá o mérito da questão. 

Cuida-se, portanto – ó nazifascistas estúpidos – da constitucional garantia do devido processo legal aplicada ao caso concreto. OK? 


Post scriptum. A estupidez é uma das notas da definição do nazifascista. Peço às leitoras e aos leitores que desculpem a redundância e a interpretem como ênfase proposital do escritor. 


Post scriptum 2. A interjeição inglesa no final do texto é consequência da força atrativa da imbecilidade dos nazifascistas e suas mentes colonizadas. Às leitoras e aos leitores peço desculpas se a expressão lhes causou algum desconforto.     


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

POST SCRIPTUM

 

No artigo publicado segunda-feira (31/08/2020) neste blog, ao fazer referência à doutrina da alma universal, escrevi: “Alhures, defendi a tese de que a alma não está no interior da pessoa; a pessoa é que está no interior da alma”. Ontem acrescentei o local do “alhures” a fim de evitar a falsa impressão de inexistência ou de ocultamento intencional da fonte. A tese encontra-se à página 59, do livro “O Evangelho da Irmandade”, de Antonio Sebastião de Lima, editado em 2006 pela editora RTN de Resende/RJ. Escrito por diletantismo e sem fim lucrativo, o livro, de 263 páginas, não foi posto no circuito comercial. Dos 500 exemplares, 400 já foram distribuídos gratuitamente nas cidades de Resende, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, a parentes, amigos e pessoas interessadas no tema. Para a Biblioteca Pública do Paraná foram doados 2 exemplares.