Em oposição ao judaísmo, Jesus
trouxe culto a um novo deus que denominou Pai Celestial, com atributos
diferentes do deus denominado Javé (ou Jeová). Essa novidade provocou a ira dos
escribas, sacerdotes e presbíteros (anciãos). O novo profeta: (i) aboliu o
sacrifício de animais; (ii) limitou a dois os mandamentos fundamentais; (iii)
mandou amar os amigos e os inimigos enquanto o mandamento judeu era para amar o
próximo (amigo) e odiar o distante (inimigo); (iv) tornou flexível o caráter
sagrado do sábado; (v) enalteceu a pobreza e criticou os ricos enquanto os
judeus consideravam a riqueza bênção divina; (vi) escandalizou a sociedade
patriarcal ao cercar-se de mulheres no seu ministério e admiti-las ao
apostolado; (vii) nivelou homens e mulheres na virtude e no pecado ao impedir
os acusadores de apedrejarem a adúltera.
Jesus abalou a supremacia
masculina inerente à cultura judaica. Os seus seguidores, entretanto,
mantiveram a supremacia masculina ao organizar a igreja cristã sob influência
de Paulo, fariseu desertor das fileiras judias, aninhado no movimento cristão.
Depois da crucifixão, Paulo inventou o encontro com Jesus, a quem nunca vira,
na estrada de Damasco e se intitulou apóstolo. A supremacia masculina na
cultura judia e cristã vem explícita nos testamentos antigo e novo. Exemplos:
(i) o mito da criação da mulher tirada de uma costela de Adão; (ii) o episódio
narrado nos evangelhos sobre irmãos e irmãs de Jesus, onde apenas os nomes dos
meninos são citados.
As instituições necessitam de
receita para cobrir despesas com pessoal, material, obras e serviços. Tributos,
tarifas, preços, contribuições, compõem a receita. Os levitas (tribo de Levi,
encarregada do culto sagrado) recebiam do povo hebreu o dízimo consagrado à
divindade e utilizado no culto. Na lei ditada por Javé (ou Jeová) a Moisés, o
dízimo correspondia à décima parte da produção agrícola e pecuária. O pagamento
podia ser em espécie e em
moeda. Os levitas encaminhavam parcela dessa receita aos
sacerdotes. Na comunidade de Jesus, a renda provinha de doações. Judas
Iscariotes administrava as finanças do grupo. As igrejas fundadas pelos
missionários enviavam parte da arrecadação à igreja de Jerusalém da qual Tiago,
irmão de Jesus, foi o primeiro bispo. Em suas epístolas às igrejas, Paulo fazia
recomendações sobre a receita e respectiva aplicação. Entre os judeus, o dízimo
era fonte de riqueza da classe sacerdotal. Com o aumento dos seguidores de
Jesus, o tesouro sacerdotal perdia parte dos seus contribuintes, o que reduzia
a arrecadação. Era preciso eliminar o causador do prejuízo. O afastamento do
líder, que se supunha morto após a crucifixão, não foi suficiente, pois os seus
seguidores se organizaram e prosseguiram na catequese. Era preciso também
eliminá-los. A perseguição foi implacável. Morticínio e crueldade ignóbeis.
O mercado da fé existe há
milênios. No século XIII antes de Cristo (1399-1300), o faraó Aquenaton
introduziu oficialmente o culto monoteísta no Egito, o que representou sério
golpe nas finanças da conservadora e politeísta classe sacerdotal. O faraó foi
morto pela astúcia dos sacerdotes, detentores de fórmulas de veneno e de
métodos insidiosos. Tutankamon, sucessor de Aquenaton, restabeleceu o
politeísmo. A igreja católica também teve suas finanças abaladas com a perda dos
contribuintes que se baldearam para a igreja protestante a partir do século XVI
(1501-1600) no movimento europeu de apostasia inaugurado na Alemanha por
Lutero. Na Inglaterra do século XVII (1601-1700) o poderoso Cromwell manteve em
vigor os dízimos civis e religiosos.
Descoberta a mina, aguçada a cobiça, os protestantes
louvaram a riqueza, justificaram o juro e o lucro nos negócios, entraram no
mercado da fé, abriram dissidência e se ramificaram: luteranos, anglicanos,
calvinistas, presbiterianos, quacres, batistas, metodistas, adventistas,
mórmons, pentecostais. A disputa entre as igrejas por maiores fatias do mercado
religioso prossegue até hoje.