quarta-feira, 29 de maio de 2013

PILULAS



LOUVOR A DILMA.

A presidente da república merece louvores pela nomeação de Fux, Teori e agora Barroso para o cargo de juiz do Supremo Tribunal Federal (STF). Todos excelentes juristas e profissionais do direito. Os dois primeiros oriundos da magistratura de carreira e o terceiro da procuradoria do Estado do Rio de Janeiro mostraram ciência e competência no exercício das suas funções. Jurista, professor e juiz são atividades distintas que exigem talento próprio. Nem todo jurista é bom professor ou juiz; nem todo professor é bom jurista ou juiz; nem todo juiz é bom professor ou jurista. Os títulos têm valor acadêmico, porém não são garantia de que o titular será bom juiz ou bom professor. Para alguém ser juiz da corte suprema é necessário que tenha sido um bom juiz de carreira, operoso, independente, corajoso, culto e conhecedor dos problemas sociais, políticos e econômicos do seu país. O mesmo se diga do advogado e do membro do ministério público chamados a preencher vagas no STF. Mais importante do que os títulos acadêmicos e obras jurídicas são a militância desses profissionais, a qualidade dos seus trabalhos, o seu grau de inteligência, a sua honestidade e o seu espírito público.        

Diabetes não é doença só de ricos. A insulina e os remédios são caros. Os pobres que sofrem dessa doença carecem de recursos para atenuar seus efeitos. Andou bem a presidente da república ao determinar a produção de insulina pelo Estado brasileiro a fim de atender às necessidades dessa parcela da população.   

sexta-feira, 24 de maio de 2013

TROVAS



Amanheci com vontade de rimar
Não sei para o que isto serve
Se para nutrir a fraca verve
Ou se para meu tempo ocupar

Noite chuvosa e sombria
Feita para embalar
Mágoas da alma fria
Que se recusa a sonhar

Trovas e trovoadas
Chegam a mim enlaçadas
Aquelas para alegrar
Estas para assustar

Saudade da minha terra
Tempos da minha infância
Felicidade que encerra
Doce afeição à distância

Lanço os dados coloridos
No nebuloso jogo da vida
Sem destino e sem guarida
Rolam todos perdidos

Humana jornada vital
Lentamente sem perceber
Aproxima-se do final
Anestesiada ao fenecer

sábado, 18 de maio de 2013

AMIZADE



Amizade, ligação afetiva entre pessoas, expressão do amor universal condicionada no tempo, cessa com a morte. Permanece a  lembrança. Em vida, a amizade pode se esvair por cortes nas artérias sociais e psicológicas. Ascensão ou declínio social pode gerar novas amizades e arrefecer as antigas. A inveja, a falsidade, o rancor, são agentes corrosivos da amizade. Entretanto, o reconhecimento de virtudes no invejoso, no hipócrita, no rancoroso, pode manter a relação amigável no limite do suportável.

A simpatia, a dedicação, o espontâneo respeito, são formas de amor que ensejam laços de amizade. O amor é a força afetiva fundamental do universo. Manifesta-se de vários modos: coesão das partículas; atração dos corpos; união dos membros da família, da tribo, da cidade, da nação; zelo pela natureza, pela sociedade, pelo bem próprio e pelo bem alheio; apreço pelos valores morais e religiosos; devoção a Deus.  

Charles de Gaulle e Harry Truman, quiçá influenciados pelo clima da segunda guerra mundial, afirmavam que entre nações não há amizade e sim interesses. O interesse econômico pode gerar tanto a amizade como a inimizade. A ganância propicia conflitos. Com a política externa de Truman (1945 a 1953) começa a guerra contra o comunismo em todo o orbe. Se tribos e nações travam guerras, também celebram acordos e coexistem pacificamente. O interesse pode aproximar os povos, inaugurar ou fortalecer amizades. Chefes de Estado apertam as mãos uns dos outros. Flores são colocadas pelo representante da nação visitante em monumento da nação visitada. As nações se confraternizam nos torneios esportivos mundiais.   

A inimizade pode resultar das diferenças que se reputam inconciliáveis nas crenças religiosas, nas ideologias políticas, nos valores morais, nas visões de mundo. A ruptura da amizade pode ocorrer por motivos diversos: crítica destrutiva, comentário desairoso, ofensa imperdoável, humilhação, atitude preconceituosa, vício adquirido e assim por diante. A amizade esmaece com a distância, com a falta de reciprocidade, com a negligência na dedicação e no respeito. As imagens da juventude cristalizadas em nossas retinas causam surpresas na maturidade. A casa de nossa infância não é tão grande como a víamos; os nossos pais e parentes não são tão altos e fortes como pareciam; os nossos amigos não são tão atenciosos e afetuosos como os sentíamos; as antigas namoradas se mostram indiferentes, irreconhecíveis, algumas curtindo os netos, outras se dedicando à arte, ao comércio, ao turismo, ao computador. Como o suave sopro reaviva a brasa encoberta pela cinza, assim também um toque delicado e atencioso desperta a amizade adormecida.

No pequeno e primoroso livro “Longe é um lugar que não existe”, o autor, Richard Bach, faz o beija-flor perguntar ao personagem narrador (não identificado no texto): “Podem os quilômetros separar-nos realmente dos amigos? Se quer estar com Rae já não está lá”? O personagem narrador viajava no coração do beija-flor a caminho da festa de aniversário da pequena Rae (personagem misteriosa, também não identificada). Bach se referia à dimensão espiritual da vida. Estamos onde estiver o nosso pensamento.

Como diz a canção de Lupicínio Rodrigues: o pensamento parece coisa à toa/mas como a gente voa/ quando começa a pensar.

domingo, 12 de maio de 2013

NÓS E O BEM



Alguns filósofos tratam o bem como paixão. Para os sofistas (sec. V a.C.) paixão do êxito; para Sócrates (séc. IV a.C.) paixão da verdade, obediência à lei, ainda que nos custe a vida; para Platão (sec. IV a.C.) paixão do justo; realidade e supremacia do mundo ideal.

O bem é objeto da Moral, conjunto de princípios e regras voltados para a arte de ser feliz. A felicidade é o bem supremo da vida e consiste no bom procedimento e êxito no agir. A idéia de bem se liberta do particularismo dos instintos e dos sentidos ao ganhar autonomia intelectual. A partir daí, a idéia de bem ilumina o espírito humano. A idéia de fim é correlata à idéia de bem, ambas vinculadas ao agir humano. O fim supremo do agir humano é a felicidade. A conduta deve ser orientada a esse fim. Nisto consiste a arte de bem viver. Se a personalidade anímica não for boa, a riqueza e a boa saúde serão insuficientes para gerar felicidade. Espírito liberto de perturbações, dedicado ao saber e à verdade, que saiba pensar e sentir, é o que torna alguém feliz. “A felicidade e a boa conduta são uma só e mesma coisa”. (Jacques Maritain. Filosofia Moral. Rio, Agir, 1973, p. 26 + 34/39).

Sistemas políticos foram construídos, doutrinas foram elaboradas, associações civis foram organizadas, tudo fundado na promessa de felicidade geral, promessa difícil de cumprir tantas são as guerras, os conflitos, as competições, as ambições, as desigualdades, a miséria e a fome no mundo. Na declaração de direitos de Virgínia (16/06/1776), na declaração de independência dos EUA (04/07/1776) e na declaração francesa dos direitos do homem e do cidadão (26/08/1789), por exemplo, a felicidade consta como direito inalienável do ser humano. Filosoficamente, o direito reflete o justo, caminho seguro para a felicidade. Historicamente, entretanto, os poderosos colocam o direito ao seu serviço. As perturbações são constantes na vida em sociedade o que torna a felicidade geral inalcançável.

No plano pessoal a felicidade é vivenciada só por alguns momentos, mas pode ser prolongada. Dedicar-se ao culto da beleza, da verdade e da justiça eleva o espírito humano. As exigências orgânicas e materiais acorrentam a pessoa. Quanto menor a dependência da pessoa em relação aos bens materiais, maior a chance de ser feliz. A posse de bens materiais é boa se encarada – não como fim – mas sim como meio de se obter boa qualidade de vida sem ganância. Bons pensamentos, bons sentimentos e boa conduta são os passos para a felicidade pessoal.

Virtude é conhecer bem e pensar bem (Sócrates). Praticamos o mal porque desconhecemos o bem. Caímos no erro porque não pensamos corretamente. No sentido amplo, virtude é a excelência própria ou característica de uma coisa ou de uma pessoa na sua manifestação essencial. Exemplos: virtude do imã, virtude da música, virtude do professor, do cientista, do filósofo, do santo. 

O conhecimento pode ser especulativo quando paira no plano das idéias, ou prático quando se refere ao agir. O conhecimento tem por objeto o mundo natural, o mundo cultural e o mundo espiritual. O conteúdo desse conhecimento é a representação que o ser humano tem do seu objeto. Para permitir o discernimento daquilo que a conduta humana deve ser ou não ser na realidade concreta, a que determinação vai esse conhecimento apegar-se? Qual o critério do bom, do conveniente ou virtuoso?

A resposta a essas indagações dada por Sócrates é a de que não há outro critério a não ser o da utilidade. O cálculo da utilidade preside a conduta humana. Na vida mundana triunfa o utilitarismo. Os homens não esperaram pelos moralistas para estabelecer regras morais. As normas e os valores da vida moral integram uma moralidade tradicional prevalecente historicamente no meio social. Na vida comum, o feirante pode ter uma conduta moral mais firme do que a doutrina dos educadores e dos reformadores.

Platão fala da morte mística da inteligência extasiada no bem pelo eros supremo. A felicidade consiste na contemplação direta das idéias, das formas separadas. A alma libertada do corpo contempla o bem supremo (para tanto, a pessoa não precisa morrer fisicamente; basta calar os instintos e a mente e deixar a personalidade anímica fluir em profundo estado de meditação). A partir da moral superior os homens elaboram a sua moral, arte de se preparar para a felicidade que mora no outro mundo. O fim da vida humana está no outro mundo (das idéias, das formas). Platão enumera as virtudes cardeais: 1) sabedoria prática ou prudência; 2) força ou coragem; 3) justiça; 4) temperança.

Na opinião de Aristóteles, a felicidade deve ser usufruída aqui na Terra ao final da vida de cada um após longa experiência e reflexão. Felicidade e bem são conceitos diferentes. A vida política absorve a vida individual. Vida política é a dinâmica das coisas de interesse geral e comum na cidade e no país. Busca-se o bem de todos, porém são as pessoas ricas, contemplativas, livres de perturbação e preocupação de ordem material e emocional que usufruem da felicidade. Segundo Epicuro, o prazer é o bem maior. As necessidades devem ser reduzidas ao mínimo. A ausência de desejos e o desfrutar do prazer intelectual e espiritual contribuem para a felicidade que há de ser do homem concreto e não do homem abstrato.  

Ao contemplar o sol espiritual a personalidade anímica se ilumina. O bem vale por si mesmo. O bom sentimento vale porque é bom e não porque está referido a qualquer outro bem. A boa conduta vale porque é boa e não porque é útil para este ou aquele fim. Pensar no bem de todos e assistir aos necessitados se puder, dizer a verdade, ser honesto, justo, franco e leal, são condutas valiosas por si mesmas.

sábado, 4 de maio de 2013

BRASILEIROS x ESTRANGEIROS



A decisão do torneio de futebol da liga dos campeões da Europa será entre clubes alemães no final de maio em Londres. Nas partidas semifinais Borússia Dortmund venceu o Real Madri na primeira (4x1) e perdeu na segunda (0x2), mas se classificou pelo placar agregado (4x3); Bayern de Munique venceu o Barcelona nas duas partidas (4x0 e 3x0). As semifinais foram disputadas em 23 e 24/04/2013 na Alemanha e em 30/04 e 1º/05/2013 na Espanha. Futebol vigoroso e de bom nível. 



Paul Breitner, ex-jogador da seleção alemã, entrevistado no canal 30 (ESPN) em abril de 2013, antes das referidas semifinais, disse que na copa de 1974, vencida pela Alemanha, a melhor seleção foi a da Polônia e não a da Holanda; que os alemães têm espírito de equipe, perseguem a vitória como principal objetivo e exibem habilidades individuais somente no final da partida quando em vantagem no marcador; que para eles, futebol não é diversão; que ao se convencer de que tinha o melhor futebol do mundo, a seleção alemã começou a decair; que os brasileiros colocam a vitória em segundo ou terceiro plano, pois preferem exibir suas qualidades individuais em primeiro lugar.



Em que pese a opinião de Breitner, o fato é que na copa de 1974 o melhor desempenho foi da seleção holandesa sem desdouro algum para a seleção polonesa. Por capricho dos deuses do futebol a taça foi para a Alemanha, premiada por seu esforço e dedicação. Pelo que se viu no torneio da liga dos campeões da Europa, o futebol alemão está no ápice. Quanto aos brasileiros, jogam para vencer (às vezes, para empatar). Vê-se um futebol alegre, mas também objetivo, viril e até violento. Os árbitros toleram carrinhos e cotoveladas. Os jogadores se aproveitam da leniência arbitral, o público começa a gostar do cheiro de sangue como na luta de gladiadores e o estádio de futebol toma a feição de um coliseu romano.



Ao contrário dos alemães, os brasileiros não separam a arte de jogar futebol da estratégia que visa a vitória; não separam beleza de um lado e eficiência de outro. Os brasileiros sabem praticar o futebol solidário sem abdicar do talento individual. Abusam do individualismo quando não conseguem dosá-lo. Com o seu tradicional e admirável modo de jogar foram vice-campeões em 1950 e campeões em 1958, 1962 e 1970. Breitner deixou transparecer despeito. A criatividade, a flexibilidade e a versatilidade dos brasileiros parecem incomodá-lo. Da habilidade individual de alguns alemães saem jogadas inventadas por brasileiros. A Alemanha nunca teve jogadores com a criatividade e as performances de Petronilho, Heleno, Zizinho, Didi, Zico, Romário, Ronaldinho (para não alongar a lista, cito na ordem cronológica sem incluir outros craques notáveis). Aliás, não só a Alemanha, mas país algum apresenta uma lista tão extensa de jogadores excepcionais como o Brasil, desde a fundação da FIFA em 1904 até agora (2013). Outrora, o futebol dos brasileiros era admirado e imitado. Ainda treinador do Barcelona, clube campeão do mundo, Guardiola confessou que havia adotado o futebol brasileiro que seu pai e seu avô tanto admiravam. Certamente, pela idade, os ascendentes de Guardiola referiam-se às seleções brasileiras de 1938 a 1970 e ao Santos FC da era Pelé.



Houve retrocesso quando o futebol brasileiro fugiu das suas características para imitar os europeus. O vigoroso futebol de resultado de que são adeptos os alemães aniquilou o estilo brasileiro. O bom jogador se torna sofrível ao ficar preso na camisa-de-força imposta por treinador colonizado e retranqueiro. Algumas derrotas da seleção brasileira devem ser atribuídas a esse tipo de treinador. O craque necessita de certa liberdade a fim de render tudo o que pode e fazer tudo o que sabe em campo. Vence, perde ou empata quem joga. O treinador ora ajuda, ora atrapalha. No jogo de 24.04.2013, em Belo Horizonte, entre as seleções brasileira e chilena (2x2) as duas equipes estavam incompletas. As vaias foram imerecidas.



Imagens e pensamentos quando se cristalizam na mente impedem a clara percepção dos fatos presentes. O discurso se torna repetitivo e irrefletido. A insistência na convocação de KK serve de exemplo. Considerado o melhor do mundo pela FIFA, este jogador não estava bem na copa de 2010 (África do Sul). Submetido a cirurgia, ainda está sem a antiga habilidade. Ronaldinho não é o mesmo da época em que recebeu o título de melhor jogador do mundo, mas está em boa forma física e técnica, presta assistências incríveis e graças à sua arte surpreende o adversário com seus gols. Quem aposta todas as fichas em Neymar arrisca-se a perder. Bom jogador, ele não tem culpa se em campo não é tudo aquilo que a ala carnavalesca da imprensa esportiva criou. Outros jogadores e equipes também são colocados nos cornos da Lua por exagerados elogios insistentemente repetidos sem corresponderem à realidade. Os componentes da mencionada ala carnavalesca não têm olhos para as deficiências dos seus ídolos. Parcela do público se deixa levar pela onda. 



Desde 2002, a seleção brasileira de futebol masculino experimenta jejum em copas do mundo semelhante ao do período de l970 a 1994. Ansiedade, intranqüilidade, vontade de resolver tudo sozinho e sair consagrado, desejo de ser herói aplaudido pelo mundo, medo de errar, desânimo durante a partida, apelo à violência, são fatores que influem no desempenho de alguns jogadores. A estes faria bem o afeto dos pais, esposas, amigos, clérigos e psicólogos. A qualidade técnica do jogador e o seu valor de mercado não devem impressionar o psicólogo, pois à sua frente está um homem com virtudes e fraquezas. Tal assistência ajuda os jogadores e contribui para o bom entrosamento da equipe durante as partidas.


Algumas seleções perderam o futebol ingênuo e o espírito olímpico da primeira metade do século XX. Para elas não basta competir. Importante é conquistar o título de campeão. A partir dos anos 60 e 70, os europeus começam a apresentar um futebol eficiente e bem estudado, fruto da inteligência, da tecnologia, da importação de craques da América do Sul (brasileiros e argentinos na maioria) e de um trabalho metódico desde as categorias de base. Eles deram ênfase ao aspecto coletivo do esporte ao verificar que lhes faltava habilidade individual como a dos jogadores brasileiros e argentinos. O futebol africano e asiático trilha o mesmo caminho, inclusive com treinadores importados e consegue boas classificações a cada copa mundial. Isto complica a vida das seleções americanas e européias. O horizonte da copa de 2014 está nublado. O sucessor do exorcizado fantasma de 1950 começa a rondar. Se a taça for erguida por mãos estrangeiras não será o fim do mundo. Haverá outras copas. Sem neurose, a seleção brasileira será hexacampeã no devido tempo. Por enquanto, o essencial é competir bem. A vitória depende dos deuses.