quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CREDULIDADE II

O judaísmo cristão, apelidado de cristianismo para acentuar a parcial divergência com o hebraico, teve início no Oriente (Palestina) mas brilhou no Ocidente (Europa). No século III (201-300) o clero romano desprezou alguns evangelhos e selecionou quatro (Mateus, Marcos, Lucas e João). No século IV (301-400), o judaísmo cristão tornou-se religião oficial do império romano por decreto de Constantino. Após a queda do império romano no século V (401-500), o poder secular (Rei + Estado) ficou subordinado ao poder espiritual (Papa + Igreja). No século XVI (1501-1600) a rebeldia do alemão Martinho Lutero, monge agostiniano, rompe a unidade católica e dá origem ao protestantismo (igrejas luterana, presbiteriana e outras). A leitura e a interpretação da Bíblia foram permitidas a todos. As mulheres podiam exercer o sacerdócio. A Bíblia foi considerada “palavra de deus” acessível a todos. Fanatismo, ignorância e superstição marcam presença nos dois lados. A discórdia gera confrontos violentos e a morte de milhares de fiéis (católicos versus protestantes).
Graças às ameaças infernais contra os pecadores, às promessas de salvação das almas e à ilusão do paraíso, a sociedade clerical (padres + pastores + missionários + rabinos + aiatolás) aumenta o seu tesouro e mantém o domínio espiritual sobre a sociedade civil com reflexos nas leis, nos costumes, nos modos de pensar e agir das pessoas, nos negócios de família e de estado.
O medo gera a divindade. A mente primitiva vê pedras, plantas, animais, sol, lua, fenômenos da natureza, como coisas sagradas. Deuses povoam o amedrontado espírito dos humanos, tais como: Amon, Apolo, Brahma, Diana, Javé, Juno, Júpiter, Shiva, Themis, Vênus. O vulgo acredita na realidade metafísica dessas deidades enquanto poucos iniciados nelas percebem a representação de princípios cósmicos. Faraós e reis eram considerados de origem divina. Do amor e da gratidão o vulgo também cria deuses. Depois de mortos, o povo endeusou: Hermes Trismegisto, sábio egípcio; Krishna, profeta indiano; Rômulo, fundador de Roma; Jesus, fundador do cristianismo. As religiões não nasceram da impostura alheia mas da credulidade (Vico, obra citada, p. 128). A impostura veio de dentro para fora e seus efeitos mais terríveis foram as guerras “santas” e a inquisição. O estelionato da fé completou o ciclo.
As genealogias mencionadas no Gênesis (Adão, Noé, Abrão) começam há seis mil anos (houve quem calculasse até a hora, o dia, o mês e o ano do nascimento do primeiro homem). O escritor bíblico toma por base e referência o povo hebreu e a Mesopotâmia. Assim, Adão e Eva eram semitas. No entanto, a humanidade surgiu há mais de um milhão de anos em diferentes regiões do globo com diferentes tipos humanos e línguas que, na sucessão dos milênios, formaram famílias, gentes, povos e reinos bem mais antigos do que os hebreus. Nenhum dilúvio afogou a humanidade. O excesso de chuva talvez tenha ocorrido em algum ponto mas não sobre toda a superfície do planeta. O escritor bíblico “inspirado por deus” ouviu o galo cantar sem saber onde. Estudos científicos indicam a colisão de meteoro gigante contra a Terra há 60 milhões de anos do que resultou o extermínio de espécies vegetais e animais (inclusive dinossauros). 50 milhões de anos depois dessa catástrofe cósmica nasceram os humanos. Ilhas e continentes também desaparecem e novos surgem em consequência dos movimentos da crosta terrestre e das placas tectônicas. Tudo sem intervenção divina. 
Dentre os fantasiosos prodígios do judaísmo hebraico e cristão [separar águas do mar com o cajado (Moisés), subir ao céu com o corpo físico sem aparelho (Elias + Jesus), caminhar sobre águas profundas (Jesus), ressurgir dos mortos (Lázaro + Jesus)] consta aquele da "presença real" de Jesus na hóstia. A palavra vem do latim hostiae que significa vítima. Na comunhão, os católicos comem a vítima (hóstia), o “cordeiro" de deus que tira os pecados do mundo. Doutrina sacerdotal extraída da narrativa bíblica sobre a última ceia e o sacrifício de Jesus (morte na cruz).
Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque este é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós. [Bíblia. Novo Testamento. Mateus 26: 26/28 + Marcos 14: 22/24 + Lucas 22: 17/19].      
Os sacerdotes repetem esse ritual como se o corpo e o sangue de Jesus estivessem realmente na hóstia, o que ofende a inteligência e o bom senso de pessoas mentalmente hígidas. Os ingredientes da hóstia são farinha e água e não a carne de Jesus. Se comessem o corpo de Jesus, os crentes equiparar-se-iam aos canibais. O vinho é produto da uva e não se confunde com o sangue de Jesus. Se bebessem o sangue de Jesus, os crentes equiparar-se-iam aos vampiros. O cálice (santo graal) simboliza a aliança entre o Pai Celestial (deus de Jesus) e o povo cristão (apóstolos e seguidores).
Aquelas palavras devem ser vistas como simbólicas, dirigidas a discípulos crédulos, ignorantes e analfabetos. O propósito era manter vivos os ensinamentos e as práticas. Ensinai, dizia o mestre, a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. [Mateus, 28: 20 + 18: 20].
Quando amigos reunidos falam do amigo ausente com intensidade, carinho e saudade, sentem a sua presença virtual no meio deles. Acredita-se que a presença virtual do ausente real acontece em reuniões fraternais (místicas, espíritas, eclesiásticas). A organização cristã desempenha funções: [1] sacerdotal (ministério da fé); [2] assistencial (doentes e necessitados); [3] pacificadora (reprime o polo demoníaco da natureza humana e estimula o polo angelical); [4] ideológica (submete o povo à doutrina e aos objetivos políticos e econômicos da instituição religiosa).

sábado, 25 de novembro de 2017

CREDULIDADE

Filósofos e cientistas das idades média e moderna ajustam os seus estudos, as suas pesquisas e as suas ideias às escrituras “sagradas” ao invés de prosseguirem fielmente no caminho racional e honesto. Não só o vulgo, mas a elite intelectual também é composta de pessoas crédulas. Em todas as camadas sociais prevalece a credulidade. Poucos atendem à razão.
“O sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se pelo espaço de quase um dia inteiro”. (Bíblia. Antigo Testamento. Josué 10:13). Cientistas do século XXI dizem que se tratava de um eclipse do sol ao tempo do faraó que sucedeu Ramsés, no antigo Egito. Só não explicam: [1] o eclipse durar o dia inteiro [2] o sol estar num lugar (cidade de Gabaon) e a lua em outro (vale de Ajalon) [3] o planeta continuar girando.   
“Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes”. (Gênesis 3:20). Quem deu ao primeiro homem o nome de Adão? O criador? A criatura? O escritor? A Bíblia é omissa a respeito. Conforme o relato, o casal habitava um jardim no Éden (= estepe) situado na Ásia morena (Gênesis 2: 8/14). Adão e Eva eram morenos. Cientistas do século XX dizem que a África foi o berço do homem. Adão e Eva eram negros. Portanto, a humanidade é coisa de preto
Religião e ciência equivocam-se. Adão e Eva jamais existiram. Houve muitos casais distribuídos pelo orbe. A vida vegetal e animal (portanto a humana inclusive) surgiu em diversos pontos do planeta tão logo reunidas as condições ambientais, físicas e químicas para o seu nascimento.
Admita-se a linha religiosa: Deus (ideia metafísica) proveu de sentidos os animais (realidade física) e acrescentou razão ao animal humano. Qual a finalidade do acréscimo? Para o animal humano: (i) fazer uso da razão a fim de conhecer a si próprio e ao mundo que o cerca e assim melhor atender às suas necessidades e utilidades (ii) sair das trevas da ignorância para a luz do conhecimento (iii) perceber a realidade e afastar a ilusão.
Os primeiros homens inventaram espantosas religiões nas quais passaram a acreditar fantasiando deuses criando uma teogonia natural. A fantasia é tanto mais robusta quanto mais débil for o raciocínio. [Giambattista Vico (1668-1774). Ciência Nova. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 2005, p. 10 + 126].
O primitivismo poético (criatividade condutora das vicissitudes humanas ao imaginário mundo dos deuses e heróis, início fabuloso da história humana) é uma característica atávica da humanidade que se encontra na base das civilizações antigas e clássicas (Egito, Mesopotâmia, Pérsia, Índia, China, Grécia, Roma).
A razão e a sensatez rejeitam as narrativas da Bíblia sobre a gênese do mundo, os milagres e prodígios contrários às leis da natureza, saídos da imaginação dos escritores bíblicos para impressionar a massa ignara. Entretanto, a emoção que essas narrativas despertam contribui para a crença de que os seus conteúdos são verdadeiros. O fantástico, o extraordinário e o maravilhoso, assombram e seduzem os humanos. A crença afasta a evidência, a metafísica supera a física. Tudo o que é ignorado é considerado magnífico. Tácito (55-120 d.C.).
Os textos do judaísmo hebraico [gênesis + êxodo + levítico + números + deuteronômio = pentateuco e outros livros da Bíblia considerados históricos, sapienciais, proféticos] próprios da comunidade dos hebreus, referiam-se: [1] a um povo bárbaro, ignorante, iletrado e supersticioso [2] a episódios supostamente ocorridos muitos séculos antes da época em que foram escritos, sem qualquer prova fidedigna. Os textos do judaísmo cristão (evangelhos + atos dos apóstolos + epístolas + apocalipse) seguem essa tradição mistificadora do povo hebreu ao qual pertenciam os membros da primitiva seita cristã. Esses textos alicerçaram – não pela via racional e sim pela via fiduciária – a cultura de uma Europa ainda povoada por bárbaros, ignorantes, iletrados e supersticiosos (reis + nobres + soldados + plebeus + escravos). O dogma religioso sufocou a tese científica e ofuscou a luz da razão (obscurantismo).

terça-feira, 21 de novembro de 2017

DRÁGEAS

RIQUEZA.
“Onde a riqueza é o principal ídolo, a corrupção, venalidade e rapina predominam, e florescem as técnicas, a manufatura, o comércio e a agricultura". [David Hume (1711-1776). Investigações Sobre o Entendimento Humano e Sobre os Princípios da Moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo. Editora Unesp, 2004, p. 322].
Moral da história: Os ricos são insensíveis aos princípios morais e os que almejam ser ricos abdicam dos freios morais.  
“O capitalismo é um bruxo incapaz de controlar as forças que desata (Max + Engels in Manifesto Comunista)”. [Eduardo Galeano. Espelhos. Trad. Eric Nepomuceno. Porto Alegre. L & PM Editores. 2015, p. 238].
Moral da história: Bruxos são os capitalistas. Bruxaria é o sistema capitalista. As forças desatadas beneficiam-nos, daí a falta de interesse em submete-las a controle.

JUSTIÇA.
Justiça ao tempo de Franco na Espanha. No tribunal, um novo julgamento vai se iniciar. O presidente ordena ao meirinho: faça o condenado entrar. [Eduardo Galeano. Obra acima citada, p. 293].
Justiça ao tempo de Temer no Brasil. Processo criminal de inspiração política sendo réu um ex-presidente da república. No tribunal federal, o julgamento vai se iniciar. O magistrado presidente ordena ao meirinho: “faça o condenado entrar”.
Moral da história: Em tempo de ódio, violência, arbitrariedade e perseguição política, seja na Europa ou seja na América, o réu entra no tribunal já condenado antes de ser julgado.   

EFEITO MANUELA.
A entrada em cena da jovem senhora gaúcha agitou os bastidores da política. Ante o anúncio de que Manuela D´Avila concorrerá ao cargo de presidente da república pelo Partido Comunista do Brasil, a jornalista do status quo, Eliane Castanhede, apressou-se em elogiar Huck, aspirante a candidato ao citado cargo. Ela sentiu a urgente necessidade de elevar o tutelado seu e da emissora de televisão à qual ambos estão vinculados, ao mesmo nível da nova candidata.
Não é à Manuela que Huck deve ser comparado e sim a Silvio Santos: ambos judeus, espertos, ricos, oportunistas, sem vocação política, culturalmente medíocres. Ter diploma universitário não significa ter cultura geral. Frequentemente, pelo menos no Brasil, o diplomado não tem suficiente cultura sequer da área específica em que se formou bacharel. Há pessoas cultas, inclusive artistas, sem curso universitário. Algumas que dele dispõem, não aplicaram o conteúdo curricular na vida profissional. O diploma também não significa que o portador é honesto. Há corruptos portadores de diplomas em todos os setores da sociedade (ensino, esporte, imprensa, televisão, agricultura, comércio, indústria, política, religião). Alguns deles chefiam os poderes legislativos e executivos nas esferas municipal, estadual e federal. Outros dirigem empresas privadas. Há os que são lobistas.
Manuela é farinha de outro saco: cristã (comunista tal como Jesus, o Cristo), inteligente, bonita, autêntica, classe média, politicamente experiente e vocacionada, nível cultural acima do nível daqueles dois espertalhões. A boa qualificação da gaúcha assustou o aspirante e os seus tutores. 

sábado, 18 de novembro de 2017

DRÁGEAS

FUTEBOL.
O desempenho da atual seleção brasileira de futebol masculino combina arte e eficiência, plasticidade e objetividade, individualismo e coletivismo. O número de vitórias é expressivo. Dribles, passes rápidos, velocidade, entusiasmo, visão de jogo, sem medo de ser feliz. Os jogadores também sofrem desarmes, erram passes e finalizações (inclusive pênaltis), mas sem desespero, embora eventualmente algum mostre nervosismo além da conta (Daniel, Neymar). Bom nível técnico dos jogadores (por isto foram selecionados), porém nenhum craque, ou seja, nenhum jogador do nível das boas fases de Ronaldinho Gaúcho, Romário e Zico. Citar Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé, Djalma Santos, Nilton Santos, Gerson, Júnior, aí já seria demasia. O desempenho das seleções brasileiras, quanto à qualidade, pode ser assim dividido: [1] fase de ouro: 1938/1970 (apesar do fraco apoio logístico e financeiro); [2] fase de prata: 1970/1994 (apoio logístico e financeiro remediado); [3] fase de bronze: 1994/2014 (forte e sofisticado apoio logístico e financeiro).  
Caso não percam a habilidade de andar de bicicleta durante a copa do mundo, nem se desequilibrem emocionalmente ante os reveses, os jogadores brasileiros merecerão aplausos e apoio do povo, ainda que a seleção não vença a copa de 2018. O importante é a equipe jogar bem e honrar a camisa da seleção. Do destino, sabem os deuses. Lembrai-vos de 1950, 1966, 1982 e 2006! A seleção atual mostra entrosamento e bom rendimento, a revelar correta orientação da comissão técnica quando a todos valoriza igualmente, sem prestigiar vedetismo e sem concessões particulares. Ao ser valorizado e se ver tratado com igual respeito, o jogador sente-se integrado à equipe e estimulado a render o máximo e superar a si próprio. Compreensível a cautelar atitude de qualquer jogador ao se lhe deferir papel de trampolim para a fama do outro, mormente quando a fama traz benefícios financeiros.         
A seleção da Alemanha, atual campeã do mundo, empatou sem gols com a seleção da Inglaterra. Portanto, nenhum desprimor da seleção brasileira por também empatar sem gols (14/11/2017). Nos jogos contra os alemães e contra os brasileiros, a retranca inglesa dificultou as finalizações dos adversários. Em jogos passados, os brasileiros já tiveram dificuldade diante de equipes adversárias que se fechavam na defesa. As comissões técnicas das seleções dos outros países percebem esse ponto fraco. Durante os jogos da copa do mundo, a seleção brasileira enfrentará retrancas e poderá ser vítima dos contra-ataques. Se a chave sorteada não for muito pesada, a seleção poderá classificar-se na fase de grupos. Nas quartas-de-final, o caldo engrossa. Otimismo ajuda, sem euforia antecipada. Os suecos e os dinamarqueses demonstraram grande alegria ao se classificarem para disputar os jogos da copa do mundo/2018. Italianos e irlandeses entristecidos por não conseguirem se classificar. Esta é a sina das disputas esportivas: a alegria dos vencedores e a tristeza dos derrotados.   

POLÍTICA.
Manuela D´Avila, brasileira, gaúcha, jornalista, casada, 36 anos de idade, indicada neste ano como candidata ao cargo de presidente da república pelo Partido Comunista do Brasil, eleições de 2018. Experiente na política, desde a estudantil até a partidária, foi vereadora e deputada federal. Atualmente, é deputada estadual. Sempre bem votada, sinal de boa receptividade junto aos exigentes eleitores gaúchos. Reúne em sua pessoa: juventude, saúde, beleza, inteligência, cultura e espírito público. A vocação para a política parece não interferir na sua dedicação ao lar. Como parlamentar, dá especial atenção à educação. Novidade na disputa eleitoral pela presidência, Manuela pode surpreender, ainda mais se tiver bom programa de governo, bons marqueteiros e seu partido fizer boas alianças. Ela será a pedra no sapato do Bolsonaro e do Luiz Inácio. Provocará o segundo turno, no qual poderá estar. A versão Davi x Golias acontecerá. Difícil? Sim. Impossível? Não. Certeza? Só depois da contagem dos votos. O fato de, na corrida eleitoral, Luiz Inácio largar na frente não significa que na frente chegará. Se o improvável acontecer, só em 2026 Luiz Inácio terá nova chance. Nesse campo, não há lógica, nem precisão matemática, nem estatística e pesquisa confiáveis.   

terça-feira, 14 de novembro de 2017

BRASILIDADE

ORIGEM. 
Portugueses e espanhóis colonizaram a América do Sul habitada por silvícolas. Trouxeram europeus brancos como colonos e africanos negros como escravos. A colônia portuguesa prosperou com a chegada da rainha e família (1808). A colônia foi promovida a reino, porém unido ao de Portugal e Algarve (1815). Ao romper-se a união, nasce o Brasil como estado soberano e monárquico (1822). O território dividia-se em províncias, sendo que ao Norte, as do Grão-Pará e Bahia eram leais ao rei lusitano e ao Sul, as de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo eram leais ao jovem e impetuoso príncipe lusitano. A nação foi se formando, pouco a pouco, no compasso das experiências sociais e políticas. A forte presença lusitana durante o primeiro império (1822/1831) retardou o desabrochar do espírito nacional. Aos nascidos no Brasil faltavam o sentimento de nacionalidade e a noção de unidade territorial própria. Com a integração do território estatal (Norte + Sul) a unidade física começa a ser percebida como união espiritual (valores e aspirações comuns), apesar das desigualdades sociais e econômicas quer entre pessoas, quer entre regiões. As rebeliões internas e as guerras do período da regência (1831/1840) e do segundo império (1840/1889) contribuíram para despertar o espírito nacional e provocar a noção de pátria, fortalecidos a partir da primeira república (1889/1930).

MISCIGENAÇÃO.
As culturas dos silvícolas e dos africanos suportaram o peso da dominante cultura dos colonizadores. Houve influência recíproca. Sem discriminar, os brancos transavam sexualmente com as índias e as negras. Nasciam os mestiços (caboclos e mulatos). Os índios e os negros não transavam com as brancas. Nos puteiros do período republicano, as brancas aceitavam transar com mulatos e negros desde que pagassem. Os índios não frequentavam o meretrício. Durante o segundo império e a primeira república, levas de imigrantes ajudaram a povoar o país (italianos, alemães, ucraínos, poloneses, holandeses, russos). Os imigrantes achavam os brasileiros preguiçosos e malandros. Eles trouxeram para cá os seus costumes, idiomas, conceitos, preconceitos e a sua força de trabalho. No início, mantiveram-se fechados nas respectivas colônias, mas paulatinamente foram se relacionando com os nativos, inclusive sexualmente. Seus descendentes integram a nação brasileira, prestam serviço militar, frequentam escola pública, exercem funções públicas e privadas. Muitos deles integraram a força expedicionária brasileira na segunda guerra mundial e lutaram na Itália contra italianos e alemães. Negros e mulatos lutaram não só nesta como também nas guerras anteriores contra a Argentina, o Uruguai e o Paraguai   

PERFIL.
Brasileiro: quem nasce no Brasil ou se naturaliza. Por sua condição humana, todo brasileiro necessita de ar, água, alimento, abrigo e amor. Tipo único de brasileiro não existe. Há diversidade: [1] física: estatura alta, média e baixa, robusto e raquítico, cabelos lisos, crespos, ondulados, castanhos, loiros e ruivos, olhos castanhos, azuis e verdes, pele escura e clara, feio e bonito; [2] cultural: artista, cientista, bacharel, literato, alfabetizado sem curso superior e analfabeto; [3] racial: descendente de indígenas, africanos, europeus e asiáticos; [4] religiosa: cristão, judeu, muçulmano, budista; [5] social: patriota (tipo militar), filho da puta (tipo numeroso no governo), nacionalista, entreguista, autodeterminado, colonizado, legalista, rebelde, trabalhador, vagabundo, justo, criminoso, honesto, pilantra, bondoso, cruel, veraz, mentiroso, leal, traidor, corajoso, covarde, brioso, vira-lata. Dessa diversidade e miscelânea não se extrai padrão típico de brasileiro, salvo para enfeitar, louvar ou criticar.  

RACISMO.
Com a miscigenação apareceram os mestiços, mas não desapareceram os brancos, negros e índios, nem tampouco o preconceito. “Negro quando não caga na entrada, caga na saída”. “Serviço de negro”. “Preto de alma branca”. “Coisa de preto”. “Programa de índio”. “Vá procurar a sua tribo”. Expressões bem conhecidas no Brasil, reveladoras das ideias e dos sentimentos discriminatórios que pulsam na alma brasileira e se manifestam em diversas ocasiões por todo o território nacional. Ideias e sentimentos que também habitam corações e mentes de outros povos. Todos negam ser preconceituosos. Herdeiros da cultura europeia, os brancos brasileiros continuaram a discriminar os negros e os índios, considerando-os seres inferiores, ignorantes, incultos, de baixa ou nenhuma inteligência, desprovidos de dignidade. Essa forma de pensar caracteriza o racismo, cuja tese central é a existência de raças superiores puras e de raças inferiores impuras.
Discriminar é operação própria da razão. Graças a essa capacidade os humanos classificam as coisas para melhor conhece-las, estuda-las e explicá-las. A ciência classifica os seres da natureza em três reinos: mineral, vegetal e animal. Os seres do reino animal são classificados em dois grupos: racional e irracional. Em cada grupo há diversidade de tipos chamados raças. O grupo racional integrado pelos humanos compreende essa pluralidade de raças. Não existe, pois, a raça humana, salvo no sentido figurado. Existem raças humanas, ou seja, a espécie humana e seus tipos. A existência dessa pluralidade, entretanto, não justifica o preconceito. O fenômeno natural não autoriza o fato cultural. A raça é fato natural (criado pela natureza). O racismo é fato cultural (criado pelo homem). Da desvirtuada transposição do fenômeno da natureza para o mundo da cultura resultou a teoria do racismo (de funestas consequências quando social e politicamente aplicada).
Sob efeito de duas guerras mundiais (1914 e 1939) a consciência dos povos civilizados reconheceu a humanidade dos negros e dos índios. O preconceito explícito sofreu o anátema do estado. Na vigente ordem jurídica brasileira, o racismo figura como crime grave e o preconceito racial é vedado. No entanto, o preconceito implícito permanece latente na sociedade e no espírito dos brasileiros. Basta surgir a ocasião e ele se manifesta. Na escolha de empregados, os brancos têm preferência. Os mestiços ficam com as sobras. Os negros, nem com as sobras. Os fatos são notórios, constatados por ouvidos e olhos atentos nas lojas, repartições públicas, escolas, fábricas, empresas comerciais e nos mais elevados postos da república.
Negros e mulatos normalmente exibem temperamento alegre, dançante e musical. Eles se destacam nos esportes. O maior jogador de futebol do mundo é um brasileiro negro. O segundo, um brasileiro caboclo. Há heróis índios, negros e mulatos. O patrono das letras brasileiras era mulato.       

sábado, 11 de novembro de 2017

OBSCURANTISMO

A teóloga e professora da PUC/RJ, Maria Clara Bingemer, escreveu excelente artigo publicado no Jornal do Brasil eletrônico, edição de 09/11/2017, sob o título “Quem Tem Medo do Pensamento?”.
De início, ela cita Melanie Klein, psicanalista austríaca: “Quem come do fruto proibido do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso”. Na visão da psicanalista, pensamento é algo fundamental, complexo, totalizante, vital, que mobiliza afetos e emoções e não só a mente e o raciocínio.
A professora brasileira também cita a experiência de Simone Weil, filósofa e mística francesa, que trabalhou como operária e constatou que após o duro trabalho semanal nos fornos da indústria metalúrgica francesa, sua capacidade de pensar se atrofiava. Fundada nessa experiência, a filósofa francesa concluiu que toda pessoa submetida a tal ritmo, sem interrupção que lhe permitisse restaurar-se, acabaria despojada da sua humanidade e transformada em uma besta de carga.
A professora diz que foi motivada a escrever o artigo pela chuva de protestos sobre a visita ao Brasil de Judith Butler, filósofa estadunidense, autora do livro “Caminhos Divergentes. Judaicidade e Crítica do Sionismo”, cujo tema, o mesmo da palestra, era “O Conflito Israel - Palestina e o Sionismo”. A professora atribui ao obscurantismo dos contestadores a inusitada ofensiva contra a filósofa.       
Cumpre assinalar o costumeiro patrulhamento e o notório fanatismo dos judeus em tudo que lhes toca. Tanto no Brasil como em outros países da América e da Europa, a presença dos judeus é constante na imprensa, na televisão, no cinema, tanto para defender sua cultura como para fazer propaganda da sua posição como eterna vítima da maldade do mundo. Os cristãos e os muçulmanos são os carrascos. O título do livro e o artigo ora em comento indicam que a filósofa estadunidense mexeu no vespeiro. Daí, a injuriosa e feroz resistência da comunidade judia à sua presença no Brasil. Como a filósofa palestrante é estudiosa das questões de gênero, este também pode ter sido o outro ingrediente da ação obscurantista. O alarido produziu efeito contrário. Como informa a teóloga brasileira, a palestra foi um sucesso, casa lotada e muita gente do lado de fora na esperança de ingressar no recinto.
O mesmo obscurantismo experimentei no sul do Estado do Rio de Janeiro em 2010, quando concedi entrevista ao jornal impresso da região sobre o livro “O Evangelho da Irmandade”, de minha autoria. Houve azeda e injuriosa contestação por inúmeras pessoas. Detalhe: o livro não estava disponível ao público e nem o coloquei no circuito comercial. O livro foi escrito por diletantismo para ser distribuído gratuitamente a pessoas da minha família, do meu círculo de amizade e mais a quem se interessasse pelo assunto. Dos 500 exemplares editados restam menos de 100.
No que tange ao pensamento, ora manifesta a frieza do cálculo matemático, ora o calor das emoções, dos sentimentos e dos instintos. Nós somos o resultado da combinação de elementos e forças estruturais da matéria, dizem os químicos e os físicos. Nós somos o que comemos, dizem os biólogos. Nós somos o que pensamos, dizem os filósofos. Nota-se conexão entre o soma e a psique. Não somos inteiramente físicos, nem inteiramente racionais, morais ou espirituais. Somos a mistura.
O pensamento pode gerar reação desagradável (até violenta) quando, dotado de força persuasiva, contrariar crenças, dogmas e ideologias no campo da religião, do misticismo e da política. O pensamento maldito ameaça o status quo, o conservadorismo, a estabilidade das ideias, das crenças e dos costumes vigentes na sociedade, no grupo ou na classe. O pensador maldito tem que ser demonizado, enclausurado e assassinado, conforme se depreende das atitudes e ideias dos obscurantistas medievais e modernos.       
No que concerne ao trabalho, contraponho à experiência da filósofa francesa, a experiência do meu pai. O trabalho, ainda que duro e exaustivo, não despoja o trabalhador da sua humanidade e nem o transforma, necessariamente, em besta de carga. De 1927 a 1962, meu pai trabalhou como operário ferroviário na Rede Viação Paraná-Santa Catarina. Dez horas por dia (8 normais + 2 extras) durante a semana e metade no sábado. Repouso aos domingos. Férias anuais de 20 dias. Saía de casa de madrugada e regressava à noite. Por isto mesmo, algumas vezes, ficava sem ver os filhos nos dias de semana. Apesar da dureza e do ritmo do seu trabalho, meu pai não perdeu a humanidade, mostrava carinho por minha mãe, por mim e por meus irmãos, era bem humorado e espirituoso (olhava mais a face cômica do que a face trágica da comunidade humana). Formou uma banda musical e animava bailes aos sábados à noite ou matinês dançantes aos domingos à tarde. O circo chegou na cidade. Banda contratada. Momento culminante do trapézio. Papai faz rufar a caixa da bateria. Suspense sob a lona. O trapezista salta com sucesso. A banda toca. Papai joga as baquetas para o alto e as apanha sem atravessar o ritmo. Não lhe bastava tocar, tinha de fazer malabarismo. Os olhos do público estavam no trapézio e no picadeiro. Os meus olhos estavam no meu pai. Ele ouvia a BBC de Londres (programas irradiados em português) e os discursos de Getúlio Vargas. Além disto, quando podia, frequentava: (1) reuniões dos seus companheiros, fora do horário de trabalho, para discutir assuntos da categoria; (2) sessões da loja maçônica. Meu pai viveu e morreu pobre, sem queixumes, sem considerar-se besta de carga (1908/1962).
Infelizmente, há crianças e adultos, no Brasil e em outros países, submetidos a um regime de trabalho análogo ao de escravo. 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

LUX & FUX

A entrevista concedida a um jornal paulista pelo ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu censuras da esquerda e louvores da direita. A opinião do ministro não favoreceu a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da república nas eleições previstas para 2018.  
O ministro tinha o dever ético e jurídico de se abster de opinar sobre assunto político eleitoral partidário que poderá ser objeto de ação judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do qual ele é juiz e futuro presidente. 
A expressão de Fux necessita Lux. Há obscuridade que ele mesmo admite quando diz falar abstratamente. Todo discurso é concreto (oral ou escrito) pois se manifesta aos sentidos humanos (audição, visão) embora possa versar ideias abstratas ou especulativas (deus, paraíso, justiça). O discurso do ministro nada tinha de idealmente abstrato, pois versava situação concreta, embora futura, posta pela pergunta de quem o entrevistava: se a provável candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da república, [caso impugnada], seria deferida pelo STF.
A questão era hipotética, mas não abstrata. A resposta dada pelo ministro, ainda que artificiosa ou camuflada, indica sua posição sobre a matéria. Se o caso em tela chegar ao TSE ou ao STF, o ministro, por ter manifestado a sua opinião fora dos autos do processo judicial, certamente terá a dignidade de, na forma da lei e da ética judiciária, se declarar impedido ou suspeito para participar do respectivo julgamento.  
Parte da resposta veio em forma de perguntas: (i) se à luz dos valores republicanos um candidato denunciado criminalmente pode concorrer (ii) se for eleito, ele assumirá o cargo para em seguida ser afastado. Dentre os diversos valores agasalhados pela Constituição da República (CR), o ministro não esclarece qual deles estaria violado pela candidatura de Luiz Inácio. Citou o princípio da moralidade das eleições, o que é muito vago. O ministro não mencionou conduta alguma que pudesse caracterizar imoralidade, salvo o ato (juridicamente lícito) de Luiz Inácio concorrer ao cargo público tendo pendente um processo criminal em fase de recurso.
Fux assim raciocina: O presidente da república tem que ser afastado do cargo quando a denúncia [oferecida pelo ministério público] é recebida [pelo STF]. Ora, se assim é com o presidente eleito, não tem sentido concorrer ao cargo um candidato que já tem contra si denúncia recebida.
Acontece que, apesar de denunciado, o presidente da república só é afastado do cargo: (1) se a Câmara dos Deputados autorizar a instauração do processo; (2) se autorizada, o STF receber (não rejeitar) a denúncia. A situação de Luiz Inácio é diferente. Ele ainda não ocupa o cargo presidencial. Ele ainda não é candidato. Ele apenas manifestou a intenção de se candidatar. Ele tem contra si uma sentença penal condenatória que ainda não transitou em julgado. Milita em seu favor a presunção de inocência consoante garantia constitucional (CR 5º, LVII). Logo, a sua ficha se mantém limpa e nada o impede de se candidatar (CR 14, §§ 3º + 9º).
A posição do STF sobre a sentença penal condenatória produzir efeito antes de transitar em julgado poderá ser revista, pois a garantia fundamental em contrário é cláusula pétrea da Constituição e como tal não pode ser modificada nem por emenda constitucional, menos ainda por decisão de tribunal (CR 60, §4º, IV). Acrescente-se a isto, o caráter forjado da ação penal contra Luiz Inácio com precípua finalidade política, ardil arquitetado pelos perdedores das eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014, e implementado pela canalha curitibana. De igual manobra, imoral e antijurídica, foi vítima a senhora Dilma Rousseff quando presidia a república, no ardiloso processo de impeachment.   
Das caravanas pelos diversos estados federados, verifica-se que a futura e provável candidatura de Luiz Inácio tem o apoio da maioria do povo brasileiro, titular da soberania nacional. O processo eleitoral confirmará esse apoio, caso Luiz Inácio se candidate e vença as eleições. Nesta hipótese, a maioria do corpo eleitoral terá decidido implicitamente, mediante o voto popular, que os trâmites de processo criminal anterior às eleições não impedem o eleito de tomar posse e governar o país. A vontade soberana do titular do poder constituinte (povo) manifestada nas urnas, está acima das decisões dos poderes constituídos (Legislativo, Executivo e Judiciário). 

sábado, 4 de novembro de 2017

ENGANAÇÃO

FUTEBOL. Clube brasileiro (Grêmio) e clube argentino (Lanus) disputarão a partida final da taça Libertadores de América. O encontro será no estádio do clube argentino. Para chegar à final, o Lanus jogou contra o River Plate. Começou perdendo no primeiro tempo (2 x 1). Necessitava vencer por uma diferença de 2 gols. Missão quase impossível tendo em vista a qualidade e a tradição do adversário. Apesar disto, mostrou garra e determinação. No segundo tempo, graças a um desempenho heroico, o Lanus conseguiu marcar 3 gols e não permitiu que o River também marcasse. O moral do Lanus subiu às alturas. Por não determinar o resultado do jogo, a tradição pode enganar.
O Grêmio, depois de uma boa vitória no estádio do adversário, perdeu para o bravo clube equatoriano em Porto Alegre (1 x 0). Parece que o moral do clube gaúcho não está lá essas coisas. Provavelmente, os transtornos da equipe do Equador para chegar ao Rio Grande do Sul comoveram os jogadores gaúchos e influíram na psique coletiva (do time e da torcida). Os gaúchos estavam mais ocupados em não sofrer gol do que em fazer gol. Mínima é a chance de conquistar a taça. Não convém se enganar para depois se decepcionar. Vitória quase certa do clube argentino. Quase, porque em circunstâncias adversas, o clube brasileiro pode surpreender – e não seria a primeira vez.        

CIÊNCIA. Teóricos da comunicação podem ser enquadrados, mutatis mutandi, na anedota do escritor. Perguntado como se escreve um romance, ele diz: "Você deve escolher um bom começo e um bom final". O interlocutor então pergunta: "Sim, mas e o meio"? Ele responde: "Aí, entra o escritor". (Salvo engano, o escritor era Vitor Hugo). Assim como a virtude, o talento atua entre os extremos. 
Teóricos da comunicação teorizam o óbvio, o fenômeno natural e social da comunicação humana constatado intuitiva e empiricamente. Basta ter discernimento e estabelecer a meta. Ondas cerebrais, palavras, sons, imagens, são formas de comunicação natural e social manifestadas por diversos meios antigos e modernos (telepatia, tambores, sinas de fumaça, gestos, conversação, semáforos, carta, imprensa, telegrafo, telefone, rádio, teatro, cinema, televisão, rede de computadores). 
A partir do fato natural e social, os teóricos “preenchem o meio”, isto é, examinam o fato sob diversos ângulos: psicológico, sociológico, filosófico, tanto para fins acadêmicos como para fins práticos. Desse estudo, resultam diferentes doutrinas.
Desde a antiguidade clássica, a retórica tem sido uma forma de comunicação entre os humanos pelo uso criterioso e artístico da palavra, mais para persuadir e menos para explicar. Realmente, a palavra pode ser utilizada artisticamente para comunicar ou expressar sentimentos, ideias, intenções (poesia, literatura, retórica). A palavra tem sido usada para enganar e não só para informar honestamente. Livros de conteúdo irracional e narrativas absurdas, mas considerados “sagrados”. Livros científicos com proposições insuficientemente testadas. Teses que primam pela verbosidade e falta de substância. Aulas de professores despreparados para alunos desinteressados. Discursos demagógicos e mentirosos de políticos e autoridades públicas. Reportagens distorcidas, entrevistas e artigos maliciosos na imprensa e nas emissoras de rádio e televisão.
A teoria de Pavlov (reflexos condicionados) tem sido utilizada na propaganda comercial. Mensagens liminares e subliminares condicionam as escolhas dos consumidores. Estes respondem de modo reflexo ao estímulo visual do produto posto à venda. O consumidor é condicionado a comprar até coisas de que não necessita. Comporta-se como adquirente compulsivo. Se não pode comprar, furta, rouba ou se torna pessoa frustrada, psicologicamente mendicante.
A humanidade está na Era da Enganação.  

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

NOBEL

Richard H. Thaler, estadunidense, professor universitário, 72 anos de idade, recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 2017 por suas valiosas contribuições à economia comportamental, segundo opinião do comitê que administra a fundação sueca. Dos artigos publicados na rede de computadores, verifica-se que o premiado é autor da Teoria da Contabilidade Mental. De acordo com essa teoria, as escolhas e decisões do consumidor são irracionais, guiadas mais por fatores sociais e psicológicos do que por fatores lógicos. Diz ele: “Para fazer uma boa economia você deve ter em mente que as pessoas são humanas”. A frase faz sentido, apesar de pleonástica. No mundo das ideias e das crenças, além de pessoas humanas, há pessoas jurídicas, pessoas desencarnadas, pessoas da santíssima trindade.
O conselho do autor destina-se ao indivíduo e à empresa que operam na área econômica. Adverte que o consumidor não é máquina e sim pessoa com instinto, desejo, vontade, sentimento inteligência. Na atividade econômica devem ser aplicados conhecimentos psicológicos e sociológicos a fim de obter sucesso nas vendas. Da falta de atenção ao perfil psicológico e à situação social do consumidor pode resultar o insucesso do negócio. Dessa teoria, deduz-se que o consumidor não deve ser visto e tratado como um robô. No entanto, é preciso robotiza-lo, trabalhar as suas paixões mediante a propaganda liminar e subliminar para que ele assuma conduta simpática ao produto ofertado.
Ao ler a matéria, decidi concorrer ao Prêmio Nobel de 2018. Fá-lo-ei com o pseudônimo Mikael Konjinski, eis que o meu nome em português não soa convincente aos ouvidos do público nacional e estrangeiro. O momento é propício para ganhar o prêmio, pois o Brasil está à venda e há interesse dos compradores em agradar os brasileiros não só com diplomas honoris causa, mas também com euros e dólares. Para alcançar o meu objetivo, completarei dois estudos de alto valor prático e científico, sem abordagens filosóficas. Ambos estão devidamente patenteados nos registros públicos. Menciono-os a seguir, mas advirto: quem copiar ou plagiar será processado e na persecução criminal serão utilizados os métodos made in USA dos policiais, procuradores e juízes da operação lava-jato. Quem avisa, amigo é.  
Primeiro estudo. Reflexos do psiquismo humano na conduta social voltada para a aquisição de bens. A influência da propaganda subliminar no aumento do consumo nas sociedades em desenvolvimento negativo. O caso brasileiro.  
Segundo estudo. O fator psicossocial na relação venda X compra como determinante da escolha precedente ao negócio. O mecanismo orientador da psique humana nas relações mercantis e a sua repercussão na alma coletiva e no produto interno bruto (PIB). A neutralidade ideológica. O caso chinês.  
Nota-se, desde logo, que os dois estudos versam temas virgens sobre os quais ninguém pensou até hoje. Envolvem impulsos oriundos do subconsciente e do inconsciente que determinam as escolhas humanas. As variações do PIB estão em relação direta com a intensidade desses impulsos, o que explica a oscilação da hipotenusa no triangulo formado pela produção, circulação e consumo de bens. Assim, trago para o plano concreto da economia a verdade abstrata da geometria: o quadrado da hipotenusa corresponde efetivamente à soma dos quadrados dos catetos.