domingo, 13 de janeiro de 2008

religião/misticismo

RESUMO DOS LIVROS DA BÍBLIA – I

ANTIGO TESTAMENTO

Gênesis

Este livro trata da criação (gênese) do mundo; do paraíso em que vivia o primeiro casal (Adão e Eva) e da perda do paraíso; do descaminho da humanidade e da punição pelo dilúvio; da geração da nova raça humana a partir de Noé e seus familiares; da aliança de Deus com Noé e os filhos; da conversão de Abrão ao culto do deus Javé (ou Jeová); do nascimento do povo hebreu e da sua aliança com Javé (o deus promete felicidade ao povo e o povo promete fidelidade ao deus). O primogênito de Abraão foi Ismael, nascido de Agar, escrava egípcia de Sara, esposa do patriarca (Sara era estéril). O segundo filho de Abraão, Isaac, nasceu de Sara, cuja esterilidade foi curada por benção do deus Javé. Ismael e Agar foram afastados da tribo e abandonados no deserto por ordem do deus Javé. Abraão teve mais filhos com sua concubina Cetura. Abraão presenteou esses filhos e os despachou para o Oriente Médio. Abraão nomeou Isaac seu sucessor. Jacó, filho e sucessor de Isaac, renova a aliança com Javé. Esse deus promete a Jacó, proteção especial sobre a sua descendência e o batiza com o nome de Israel. Jacó (Israel) teve 12 filhos (6 com Lia, 2 com Raquel, 2 com Bala, escrava de Raquel, e 2 com Zelfa, escrava de Lia). A cada filho de Jacó corresponde uma tribo (as 12 tribos de Israel). José, filho de Raquel, foi vendido por alguns dos seus irmãos, pelo preço de 20 moedas de prata, a uma caravana de ismaelitas que passava no lugar onde eles apascentavam o rebanho. No Egito, José foi revendido a um eunuco da corte do faraó. Por interpretar sonhos, José caiu nas graças do faraó e se tornou ministro. Israel (Jacó) e sua gente, que passavam agruras em Canaã, partiram para o Egito e ficaram sob os cuidados de José. O povo hebreu permaneceu no Egito por 450 anos.

Observação: (i) Israel pode ser a combinação das divindades egípcias: Isis = lua + Ra = sol + El = sagrado. Convém lembrar que este livro faz referência a fatos escritos ou ditados por um egípcio (Moisés). O Gênesis e os demais livros do Pentateuco foram escritos depois da morte de Moisés, conforme a arguta observação de Thomas Hobbes (Leviatã, terceira parte, capítulo XXXIII), porém citam leis escritas ou prescritas por Moisés. (ii) Os números 3, 7, 12 e 40 se destacam no texto bíblico. Exemplo: 12 são as tribos de Israel (Jacó); 12 são os signos do Zodíaco; 12 são os apóstolos do círculo interno da comunidade de Jesus. (iii) Ismaelitas eram os descendentes de Ismael, que constituíram a nação árabe.

Êxodo

Narrativa da saída do povo hebreu do Egito. Depois da morte de José, os hebreus perdem as regalias e a especial atenção dos faraós. Moisés, príncipe egípcio, surge como libertador do povo hebreu; recebe a missão diretamente do deus Javé; mostra poderes sobrenaturais; ao conduzir os hebreus para fora do Egito, separa as águas do Mar Vermelho e atravessa o leito seco; quando os egípcios tentam fazer o mesmo, morrem afogados. No deserto, Moisés sobe o Monte Sinai, renova a aliança com Javé e recebe os 10 mandamentos gravados em tábuas de pedra. Os mandamentos representam o direito fundamental do povo hebreu. Moisés dita, ainda, normas sobre escravatura, propriedade, homicídio, lesões corporais, além de outras normas sobre moral e religião (costumes, rituais e festas). Enquanto Moisés, na montanha, se entrevistava com Javé por 40 dias e 40 noites, os hebreus, na planície, retornaram ao paganismo, fizeram um bezerro de ouro e passaram a adorá-lo. Moisés fica furioso, quebra as tábuas da lei, mata mais de 3 mil, a golpe de espada, retorna ao Monte Sinai, pede perdão a Javé, grava novamente os 10 mandamentos e restabelece o monoteísmo. Manda construir uma arca onde as tábuas da lei são guardadas e que se denominou Arca da Aliança, símbolo da presença da divindade no seio do povo.

Levítico

O nome deste livro procede da tribo de Levi, à qual foi confiado o culto de Javé. Dessa tribo saíam os sacerdotes e os servidores do templo. Nesse livro foram registrados os usos e costumes do povo hebreu. Contém o preceito do talião: fratura por fratura, olho por olho e dente por dente. Dele se extraem os sacrifícios exigidos pela religião: holocausto (queima de animal no fogo do altar); oblação (oferta de produtos da agricultura e da pecuária que acompanhavam o holocausto); sacrifício pacífico (ação de graça); sacrifício expiatório (oferecido como pagamento das faltas cometidas). O livro relata a consagração dos sacerdotes, as prescrições sobre a pureza dos animais e da mulher, sobre a lepra e as expiações. Contém normas sobre sacrifício, casamento, conduta geral, santidade sacerdotal, ritual das festas, sagração do sábado, páscoa, pentecostes, festa dos tabernáculos, resgate das propriedades, empréstimo, libertação e normas penais.

Números

O nome deste livro se deve à quantidade de números e nomes nele contido (recenseamento dos hebreus, distribuição geográfica das 12 tribos, bens ofertados pelos chefes das tribos, disposição das coisas nos locais de culto). Centra-se no período em que os hebreus estavam no deserto e mostravam descontentamento com Javé e com Moisés. Conta que uma nuvem cobria o tabernáculo construído por Moisés. Quando essa nuvem se levantava, os hebreus se punham em marcha pelo deserto e acampavam onde a nuvem parava. A falta de alimento era a principal reclamação. Passaram a se alimentar do maná que vinha com o orvalho noturno; o maná era moído em pilão, cozido e com ele se fazia bolos. As leis mencionadas nesse livro referem-se à expulsão de leprosos, à responsabilidade por danos, infidelidade e furto, aos votos de nazareno, à celebração da páscoa, aos sacrifícios e oferendas, à função sacerdotal e sua remuneração, à herança e sua transmissão. Nessa época os laços entre as tribos eram frágeis; o vínculo que os unia era a identidade de crença e a fidelidade ao decálogo e à aliança com Javé. Isto se refletia nas instituições. Não havia rei. Após Moisés, os juízes e profetas governavam. Ante o desanimador relato feito pelos espiões enviados a Canaã os hebreus temem ser derrotado pelos povos mais fortes. A assembléia do povo hebreu, revoltada contra Moisés, queria escolher um novo chefe que guiasse as tribos de volta ao Egito. Próximo a Canaã, Moisés passa a chefia da assembléia a Josué.

Observação. (i) Tabernáculo era um templo portátil construído por Moisés, em cujo interior ficava a arca da aliança e outros objetos do ritual religioso. (ii) Maná era uma substância semelhante ao grão de coentro. (iii) Nazareno: palavra derivada do hebraico nazar, que significa separar ou consagrar; nazareno era o homem consagrado ao serviço de Deus. (iv) O protesto das tribos para voltar ao Egito indica que a vida no Egito não era ruim para os hebreus como afirmado em outros escritos e no livro do Êxodo. Torna duvidosa a versão de que houvera hostilidade da parte dos egípcios na saída dos hebreus. O protesto pelo retorno indica, ainda, a certeza que as tribos tinham de ser bem recebidas no Egito.

Deuteronômio

Deuteronômio significa segunda lei. Este livro trata de normas religiosas, morais e jurídicas. Esse texto (quiçá, todo o Pentateuco que se perdera) foi descoberto por volta de 622 AC, em uma câmara (ádito) do templo de Jerusalém em reconstrução pelo sacerdote Helcias que o enviou ao rei Josias, que o submeteu à apreciação da profetiza Holda, que recomendou sua pronta obediência por ser a vontade de Javé. Esse livro contém a essência da religião hebraica. Testamento espiritual de Moisés para a posteridade. Tem conexão com a legislação anterior e os discursos atribuídos a Moisés sobre: (i) fatos passados (ii) critérios de julgamento que deviam ser utilizados pelos juízes (iii) exortações à obediência e à fidelidade à aliança com a divindade (iv) os 10 mandamentos; (v) adoração, amor e caridade. Há leis sobre o culto, administração pública e vida social, discurso de despedida de Moisés e o relato da sua morte (o que indica que o livro não foi escrito por ele).

Josué

Este livro narra as ações do sucessor de Moisés na conquista da terra de Canaã. Assim como acontecia com Moisés, o deus Javé fala diretamente com Josué e lhe passa instruções para atravessar o rio Jordão, lutar e vencer os habitantes das diversas cidades e aldeias da Palestina (Canaã). Josué envia espiões à cidade murada de Jericó; uma prostituta (Raab) abriga os espiões em sua casa e os protege da patrulha do rei da cidade; os espiões levam boas notícias a Josué, que levanta acampamento e atravessa o rio Jordão. A travessia do rio Jordão é semelhante à do Mar Vermelho: quando os sacerdotes entram no rio com a arca da aliança nos ombros, as águas se separam e o leito fica seco; todo o povo passa; as águas se fecham. Josué dispõe de um exército de 40 mil homens. Seguindo instruções de Javé, o exército e os sacerdotes carregando a arca da aliança e tocando trombetas, davam uma volta em torno da cidade, a cada dia; no 7º dia, deram 7 voltas seguidas e quando o som das trombetas ficou bem forte, todo o povo hebreu gritou num só ímpeto, ao mesmo tempo. As muralhas não suportaram aquele som e ruíram. Os hebreus invadiram e queimaram a cidade, mataram todos os seus habitantes, adultos e crianças, mataram todos os animais e ficaram com todos os objetos de ouro, prata, bronze e ferro (tesouro recolhido à Casa do Senhor). A prostituta Raab e seus familiares foram poupados. Depois de conquistar, também, a cidade de Hai (onde repetiu a destruição, a matança e o saque) Josué constrói um altar e renova a aliança com o deus Javé. O rei da cidade de Gabaon sela a paz com Josué. Em represália, os reis amorreus (de Jerusalém e mais quatro cidades) sitiaram Gabaon, cujo rei pediu socorro a Josué, que o atendeu e derrotou os exércitos sitiantes com a ajuda de Javé. Nesse dia, por ordem de Josué, o sol e a lua pararam a sua trajetória no céu até que os hebreus se vingassem dos seus inimigos. Esse prodígio estaria narrado no Livro do Justo, coleção de cânticos patrióticos. Houve divisão, por sorteio, do território de Canaã entre 8 tribos. A outras tribos (Rubem, Gad e Manasses) Moisés já havia destinado a região da Transjordânia. A tribo de Levi recebeu algumas cidades avulsas. Seis (6) cidades foram escolhidas para refúgio dos homicidas que matassem sem ódio e sem intenção. Em tais cidades, eles ficavam protegidos dos vingadores e só voltavam para casa, na sua cidade de origem, após serem julgados pela assembléia e haver morrido o sumo sacerdote que estivesse em exercício ao tempo dos fatos. Pacificada a “terra prometida”, Josué, com idade avançada, convoca as tribos (anciãos, chefes, juízes, oficiais) e se despede de todos. Em seu discurso, Josué repassa a história dos hebreus como se fosse a palavra do deus Javé e exorta o povo à gratidão, à obediência e fidelidade. Josué morre com 110 anos de idade.

Juízes

Este livro narra as batalhas dos hebreus com seus vizinhos em Canaã. Subjugadas por seus vizinhos, as tribos pediam ao deus Javé que lhes indicasse libertador. Os libertadores lideravam o povo e recebiam o título de juízes. Os hebreus recaíam no paganismo, seguidamente, adorando Baal e Astarte (nome geral que davam a deuses e deusas dos povos vizinhos). Os juízes vinham para reatar a aliança com Javé, obter o perdão da divindade e recuperar a terra perdida. Os vencidos eram tratados de modo cruel. Otoniel, Aod e Samgar foram os primeiros juízes. Depois deles veio Débora, juíza e profetiza que julgava as questões que lhe eram expostas pelos hebreus. Ela ordenou o ataque ao rei de Canaã. O general por ela indicado, Barac, venceu a batalha. Passado algum tempo, Israel cai nas mãos inimigas. Javé fala com Gedeão e o indica para libertar os hebreus. Gedeão organizou pequeno exército e venceu os inimigos. O povo pediu para ele ser rei de Israel. Gedeão recusou a oferta, dizendo que rei era o Senhor Deus. Abimelec matou os 70 filhos de Gedeão e se fez rei de Israel; seu reinado durou 3 anos. Foi morto quando tentava destruir a cidade de Tebes, cujos habitantes haviam se rebelado. Seguiram-se 3 juízes: Tola, Jair e Jefté. Durante a sua excursão contra o rei de Amon (leste do rio Jordão, tríplice fronteira com os territórios das tribos Rubem, Gad e Manasses), o juiz Jefté prometeu a Javé que se vencesse os amonitas, ele ofereceria em holocausto aquele que primeiro saísse ao seu encontro quando regressasse à sua casa. Jefté venceu a batalha. Ao regressar, a primeira que saiu ao seu encontro foi a sua única filha, jovem e virgem. A pedido dela, Jefté concedeu-lhe 2 meses de liberdade, para chorar a sua virgindade com as amigas nas colinas. Decorrido o prazo, Jefté a sacrificou no altar do Senhor Deus Javé. Seguiram-se mais 3 juízes, no período de 25 anos: Ibsã, Elon e Abdon. O mais famoso dos juízes foi Sansão. Nascido de mulher estéril, Sansão foi consagrado a Deus pelos seus pais (o fizeram nazareno). Adulto, foi juiz de Israel por 20 anos. Era dotado de força física descomunal. Com as mãos limpas, matou um leão. Incendiou o trigo, as vinhas e os olivais dos filisteus porque na sua ausência, a sua esposa, que pertencia a esse povo, foi dada em casamento a outro jovem. Os filisteus se vingaram queimando a esposa e o sogro de Sansão. Em represália, Sansão matou os assassinos. O povo filisteu reagiu e subjugou a tribo de Judá. Os judeus procuraram Sansão, prenderam-no e o entregaram aos filisteus. Enquanto estes se alegravam, Sansão rompe as amarras e com uma queixada de jumento nas mãos mata mais de mil filisteus. Depois disso, Sansão enamora-se de outra mulher estranha ao povo de Israel. Essa mulher atendia pelo nome de Dalila. Os filisteus a procuram e oferecem recompensa em dinheiro para que ela descubra a fonte da força de Sansão. Depois de 3 tentativas, em que obteve 3 informações falsas, Dalila consegue de Sansão a informação correta: a fonte da sua força estava nos seus longos cabelos de nazareno. Caso fossem raspados, ele teria a força de um homem comum. Dalila aproveita-se do sono de Sansão e lhe raspa a cabeça. Os filisteus o prendem, o cegam e dele se servem para girar a mó (pedra redonda e chata que tritura grãos no moinho). Durante festa religiosa, os filisteus colocam Sansão entre duas colunas do templo para dançar e os divertir. Ao seu condutor, Sansão pediu que o deixasse tocar e abraçar as colunas e foi atendido. Os seus cabelos já estavam crescidos. Sacudiu com toda a sua força ambas as colunas que vieram abaixo com todo o templo. Morreram cerca de 3 mil pessoas entre príncipes, populares e o próprio Sansão. Na parte final desse livro conta-se um episódio relacionado à tribo de Dã. Os membros dessa tribo furtaram um ídolo e acessórios ritualísticos de um homem chamado Micas e levaram o jovem levita que lhe servia de sacerdote. Depois, atacaram a cidade de Lais, queimaram-na, mataram os habitantes, reedificaram-na com o nome de Dã e mantiveram o ídolo em santuário. Conta-se, ainda, um episódio relacionado à tribo de Benjamin. Um levita regressava com a concubina e o servo à sua casa em Efraim. Vinha de Belém e se recusou a parar em Jerusalém, habitada pelos jebuseus. Preferiu seguir até Gabaa, cidade que ficava em território da tribo de Benjamin. Ali estaria entre hebreus. Ao chegar, ninguém lhe dava hospedagem, até que um velho se condoeu e ofereceu a sua casa. Os habitantes da cidade cercaram a casa e ameaçavam matar o levita. O velho ofereceu-lhes a filha virgem e a concubina do hóspede, sem êxito. O levita, em pessoa, apareceu-lhes à porta e lhes entregou a concubina. Eles aceitaram a oferta e dela se serviram até o amanhecer. Quando o levita abriu a porta na manhã seguinte, lá estava a concubina estendida e morta. Ele a levou para sua casa, cortou-a em 12 pedaços e enviou cada pedaço a diferentes pontos do território de Israel. As lideranças das tribos se reuniram em assembléia e exigiram que a tribo de Benjamin lhes entregasse os habitantes de Gabaa responsáveis pelo crime. A exigência não foi atendida. A tribo de Judá foi escolhida por Javé, deus de Israel, para atacar a tribo de Benjamin. Os judeus foram derrotados. A assembléia resolveu atacar com todo o efetivo das tribos, após obter o consentimento e o apoio de Javé. A tribo de Benjamin foi vencida. Houve poucos sobreviventes; os vencedores queimaram as cidades e mataram habitantes e animais. A assembléia dos hebreus resolveu reabilitar a tribo de Benjamin, para que o número de tribos não ficasse alterado (12). Providenciaram mulheres para os poucos sobreviventes (o que indica que haviam matado quase todas as mulheres da tribo Benjamin) e permitiram a construção de cidades no território dos descendentes de Benjamin. Os demais israelitas voltaram para as suas respectivas tribos.

Rute

Este livro conta episódio da vida de um casal de judeus (Elimelec e Noemi), com seus dois filhos (Maalon e Quelion) partiu de Belém (Judá) para os campos de Moab, porque havia fome na Palestina no tempo em que governavam os juízes. Os dois filhos casaram com mulheres moabitas (Orfa e Rute). Morrem o marido e os filhos de Noemi que, por isso e porque havia notícia de que passara o período de fome na Palestina, resolve voltar para a terra de Judá. Mandou as duas noras para as respectivas famílias em Moab. Rute, demonstrando afeto e fidelidade, insistiu em permanecer ao lado da sogra. Rute converteu-se ao judaísmo e despertou o interesse de um judeu (Booz), dono do campo em que ela trabalhava. Noemi colocou a venda a parte do campo que pertencia ao seu falecido marido (Elimelec). Segundo a lei mosaica, o parente mais próximo tinha preferência na aquisição da propriedade do defunto. Como a compra incluía a nora viúva, o parente mais próximo se recusou a comprar e negociou o seu direito/dever de resgate com o parente seguinte na linha de sucessão. Esse parente era Booz que, assim, comprou a propriedade e tomou Rute por esposa. Desse casamento nasce o avô do rei Davi.

Samuel I e II

Originalmente, esses dois livros formavam um só; cobrem um período de 100 anos da história hebréia, que vai da época dos juizes à época do rei Davi. Descreve os episódios da realeza e o estabelecimento da linhagem de Davi com o seu caráter sagrado. As figuras de maior destaque são as de Samuel e Davi. Samuel nasceu de mulher estéril. Em agradecimento, a mãe o consagrou a Deus (fê-lo nazareno); findo o período de amamentação, entregou-o ao juiz e sacerdote Heli (cuja judicatura durou 40 anos). Samuel foi criado no templo a serviço do deus Javé. Ainda menino, Samuel recebeu a visita e a mensagem de Javé. Adulto, foi reconhecido como profeta e guia de Israel. Perdeu a primeira batalha contra os filisteus que levaram, inclusive, a arca da aliança. Diante das desgraças que os acometeram, os filisteus devolveram a arca aos hebreus. 20 anos depois disso, Samuel exorta os israelitas a abandonarem os cultos a deuses e deusas e se dedicarem ao culto exclusivo de Javé. O povo obedeceu. Samuel apoiou os hebreus em nova batalha com os filisteus. Desta vez, os hebreus venceram, recuperaram todas as suas cidades, expulsaram os filisteus da terra de Canaã e viveram em paz. Samuel foi juiz de Israel até a sua morte. A pedido do povo, Samuel nomeia um rei: Saul, da tribo de Benjamin, o mais belo jovem de toda a nação hebréia. Diante do povo, Samuel expôs os direitos do rei e os lançou em livro. Os amonitas ameaçavam a tribo de Gad, que pediu socorro às demais tribos. Saul as convocou, marchou com 330 mil homens contra Amon e venceu. Samuel providenciou cerimônia de confirmação da realeza de Saul. Durante o seu reinado, Saul combateu e venceu os seus vizinhos. A luta contra os filisteus foi constante e encarniçada. Samuel dá conhecimento a Saul da vontade de Javé: votar ao interdito o reino de Amalec. Isto significava destruir as cidades e matar homens, mulheres, crianças, bois, ovelhas, camelos e jumentos. Saul cumpriu parcialmente as ordens transmitidas por Javé a Samuel. Foram poupados: o rei de Amalec (Agag), o melhor do rebanho e tudo que havia de melhor naquele reino. Samuel recrimina Saul, em nome de Javé: a obediência é melhor que o sacrifício; a submissão vale mais do que a gordura dos carneiros. Samuel manda que o rei de Amalec venha à sua presença e o faz em pedaços a golpes de espada. Depois, Samuel retira-se para sua cidade e nunca mais viu Saul. Atendendo às ordens de Javé, Samuel vai a Belém, cidade de Judá, e unge com óleo o filho mais novo de Isaí, em cerimônia religiosa. Javé indicara esse moço para ser o novo rei de Israel. Davi era o seu nome, jovem forte, valente, louro, de boa fala e belo rosto, que sabia tocar harpa muito bem. Saul chamou-o para que o som da harpa o aliviasse das angústias. Davi foi nomeado escudeiro do rei. Davi dividia o seu trabalho entre o rei e o campo (apascentando o rebanho do pai). Mobilizaram-se os filisteus para outra guerra contra Israel. Um dos campeões, o filisteu chamado Golias, desafiou os israelitas para que enviassem o melhor guerreiro para com ele lutar; quem vencesse seria senhor do povo do guerreiro vencido. Davi, falando da sua luta contra um leão e contra um urso (havia urso na Palestina?) que roubavam ovelhas do rebanho, convenceu Saul e obteve autorização do rei para enfrentar o campeão filisteu, que era grande, forte e valente. De um lado, Davi com roupa de pastor (recusou a armadura oferecida por Saul, por desconfortável), cajado, uma funda e algumas pedras lisas no alforge. Do outro lado, Golias com armadura, capacete, espada, lança e escudo. Trocaram palavras desafiadoras e avançaram um contra o outro. Davi teve mais sorte; com a funda arremessou uma pedra que penetrou na fronte de Golias, matando-o. Saul confiou a Davi a chefia dos guerreiros. Davi venceu várias batalhas e ganhou a simpatia do povo. Saul deu-lhe como esposa a filha mais nova. Posteriormente, Saul ficou temeroso do prestígio de Davi e tentou mata-lo. Davi foge para junto de Samuel. Saul empreende implacável perseguição a Davi. Durante a jornada, Saul procurou uma gruta para fazer suas necessidades fisiológicas, no interior da qual estavam Davi e seus companheiros. Davi não permitiu que Saul fosse morto. O juiz Samuel morre. Depois de um novo encontro com Saul e de novamente ter poupado a vida do rei, Davi resolve homiziar-se junto aos filisteus a fim de colocar um paradeiro à perseguição. Torna-se, com seus guerreiros, um bandoleiro, assaltando e matando homens e mulheres em cidades e aldeias. Os filisteus atacaram Israel e mataram os filhos de Saul. O rei, ferido, se atirou contra a própria espada (ou lança) para não morrer nas mãos dos filisteus. Davi parte para Hebron, no território da tribo de Judá, onde é proclamado rei. Isboset, filho de Saul, se faz rei de Israel. Coexistiram 2 reinos hostis (Judá e Israel); só a casa de Judá se manteve fiel a Davi; as demais tribos se mantiveram fiéis a Isboset. A casa de Saul e a casa de Davi se guerrearam por alguns anos. Com a morte de Isboset, os anciãos e chefes das tribos vieram a Hebron e elegeram Davi rei de Israel. As 12 tribos foram reunificadas sob o mesmo soberano. O rei Davi mobilizou seu exército contra os jebuseus que ocupavam Jerusalém, expulsou-os e a tornou sede do reino. Os filisteus pretendiam apoderar-se de Israel, porém, foram vencidos por Davi. Houve outras guerras, posteriormente, em que os exércitos de Davi saíram vencedores. A arca da aliança foi trazida para a cidade de Davi; no caminho, a arca deslizou do carro em que era transportada e um dos condutores (Oza) a segurou. O deus Javé fulminou Oza que morreu ali mesmo, porque tocar na arca era profana-la. Davi teve muitas esposas e concubinas e muitos filhos, entre eles, Salomão, nascido em Jerusalém. Davi manteve relações adulterinas com Betsabé, esposa de Urias, oficial que estava na guerra. A mulher engravidou. Davi chamou Urias e tentou por duas vezes que ele fosse dormir em casa, junto à esposa. Com isto, Davi pretendia ocultar o adultério. Urias se recusou alegando ética militar; devia dormir com os servos e ao relento enquanto os seus companheiros estivessem no campo de batalha. Davi o mandou de volta e recomendou ao comandante dos exércitos (Joab) que colocasse Urias na linha de frente para que ele fosse morto pelos inimigos. Assim aconteceu. Passado o luto, Betsabé se tornou esposa de Davi. O primeiro filho de ambos adoeceu e morreu como castigo imposto por Javé. O primogênito de Davi, filho da primeira esposa, conspirou contra o seu próprio pai, obteve apoio das tribos de Israel, marchou contra Jerusalém e, diante da fuga de Davi, assumiu o trono. Depois, saiu para guerrear o pai, foi derrotado e morto. Davi retorna a Jerusalém e assume o trono. Desde que se tornara reino, Judá distinguia-se de Israel, embora sob o mesmo soberano. Havia rivalidade entre os dois grupos. Houve discussão entre judeus e israelitas durante o retorno de Davi, ao atravessarem o rio Jordão. Os israelitas reclamavam da blindagem que os judeus faziam em torno do rei. Os judeus diziam que o rei era mais próximo deles (Davi pertencia à tribo de Judá e fora o seu primeiro rei exclusivo). Os israelitas replicavam que tinham 10 partes do reino (10 tribos) e que eram os irmãos mais velhos e não havia motivo para o desprezo que os judeus lhes devotavam. Como os judeus treplicaram rudemente, os israelitas declararam autonomia em relação a Davi e voltaram para os seus respectivos territórios. O exército de Davi reprimiu a revolta e assegurou a integridade do reino (Judá + Israel). A dissensão entre os dois grupos prenunciava a separação definitiva em dois reinos independentes, o que veio a acontecer depois do reinado de Salomão. No final do livro (apêndice) há poemas, façanhas de heróis e referência a um recenseamento em Israel e Judá, determinado por Davi.

Reis I e II.

Tal qual os anteriores, estes dois livros eram um só e de autores desconhecidos. Cobrem o período que vai da morte de Davi até a primeira destruição de Jerusalém. Descrevem os reis de Judá e de Israel, cronologicamente. De todos os reis, o livro traz conceito favorável a Salomão, Asa, Josafá, Joás, Osias, Joatão, Ezequias e Josias. No governo deste último foi descoberto o livro da lei (Deuteronômio? Pentateuco?) pelo sacerdote Helcias, quando se estava reconstruindo o templo de Salomão. A profetiza Holda atesta a legitimidade do livro. Josias empreende uma reforma religiosa, retornando ao culto exclusivo de Javé e abandonando o culto dos demais deuses (Josias morre na peleja contra o exército egípcio). Esses livros incluem os profetas, que eram conselheiros dos reis, falavam em nome de Deus e tinham visão do futuro (daí serem chamados de videntes). A missão dos profetas era a de orientar os governantes e os governados no caminho de Javé (respeito à aliança) e nas ações políticas e sociais de maior relevo. Elias e Eliseu se destacam entre os profetas de Israel. Isaías se destaca entre os profetas de Judá. Após as suas proezas e profecias, Elias se dirige ao rio Jordão com seu discípulo Eliseu, bate na superfície, com seu manto, separa as águas e o atravessa em leito seco. Continua o seu caminho e é arrebatado ao céu por um carro de fogo com cavalos de fogo. Eliseu a tudo assiste e recebe os poderes de Elias. Ao retornar, Eliseu bate o seu manto na superfície das águas do Jordão, separando-as, atravessa em leito seco e cumpre a sua missão de profeta do reino de Israel (ressuscita um menino morto, cura pessoas enfermas e faz muitos milagres). Adonias, filho mais velho de Davi (o primogênito Absalão estava morto) aliado ao general Joab, ao sacerdote Abiatar e outros conspiradores, deu um banquete e se proclamou o novo rei de Israel e Judá. A mãe de Salomão, Betsabé, leva o fato ao conhecimento de Davi. Ao rei cabia nomear o seu sucessor. Davi nomeia Salomão, determina a sua imediata unção e assunção do trono. Davi morre após ter reinado por 40 anos. Salomão pune com a morte os principais conspiradores; casa com a filha do faraó egípcio (aliança política entre os dois soberanos); edifica o palácio, o templo e o muro em torno de Jerusalém; manda trazer (da cidade de Davi) a arca da aliança para o santuário do templo de Jerusalém e a deposita no santo dos santos (sanctum sanctorum), sob as asas dos querubins. Essas obras levaram 20 anos. Pela ajuda recebida, Salomão deu ao rei de Tiro 20 cidades da Galiléia (o rei de Tiro achou as cidades de pouco valor). O reino unido (Israel + Judá) teve enorme expansão e riqueza. Como juiz, Salomão proferiu a célebre sentença entre duas mulheres que disputavam a maternidade de um menino. Salomão mandou cortar o menino ao meio; cada mulher ficaria com a metade da criança. Uma delas concordou. A outra pediu que o menino fosse entregue inteiro e vivo à adversária. Salomão entregou o menino a mulher que renunciara; pelo sentimento, ela revelou ser a verdadeira mãe (preferiu renunciar ao menino a vê-lo morto). A fama de Salomão era a de ser o mais sábio dos homens. Ele prolatou cerca de 3 mil sentenças e compôs mil poemas. A rainha de Sabá (morena ou negra?) veio pessoalmente verificar se Salomão fazia jus à fama e se deu por convencida; trocaram régios presentes (e dividiram o leito); depois, ela regressou (grávida?) ao seu país (Arábia ou África?). Salomão teve 700 esposas da realeza estrangeira (princesas) e 300 concubinas. Javé proibia os hebreus de se relacionarem com mulheres estrangeiras. Salomão desafiou a ordem divina. Como castigo pela desobediência, Javé decretou a futura extinção do reino: o filho de Salomão perderia o reino e ficaria só com uma tribo (Judá). Após reinar 40 anos, Salomão morre. No reinado do seu filho e sucessor (Roboão) ocorre o cisma das 10 tribos que formaram o reino de Israel tendo Jeroboão como rei. A Roboão restou a casa de Davi (as tribos de Judá e Benjamin). Os dois reinos se hostilizaram enquanto existiram. O livro narra as invasões assíria em Israel e a babilônica em Judá e a destruição de Jerusalém. Depois de remover o povo de Israel, o rei da Assíria povoou o território da Samária com gente da Babilônia e de outros lugares do Oriente, que adorava os seus próprios deuses e ídolos. O reino de Israel chegava ao fim. Por determinação do rei assírio e para favorecer a prosperidade, os samaritanos incluíam o culto a Javé. Nabucodonosor II enviou seu exército contra o reino de Judá, arrasou Jerusalém, queimou o templo e removeu a população para a Babilônia. Aos poucos judeus e caldeus que ficaram em Judá, o conquistador nomeou um governador. Ismael, um dos chefes dos guerreiros judeus, liderando 10 homens, assassinou o governador mais os judeus e caldeus que residiam na cidade (Masfa). Em seguida, ele e os judeus restantes fugiram para o Egito. O reino de Judá chegava ao fim.

Amós

Este livro contém as revelações recebidas pelo profeta desse nome, no tempo de Ozias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. Tomando por referência Samaria e Sião, insurge-se contra as injustiças sociais, contra a corrupção dos juízes, contra as desordens e a violência, contra a luxúria de homens e mulheres ricos. Ameaça expressamente o reino de Israel com castigos divinos e condena a idolatria do reino de Judá. Diz que Javé suscitou profetas e nazarenos dentre os descendentes de Jacó, mas o povo embriagou os nazarenos e proibiu aos profetas de profetizarem. A destruição viria sobre os hebreus e seus vizinhos. Exorta os povos de Israel e de Judá a que busquem os caminhos do senhor Javé. O livro expõe as visões de Amós. Em razão dos seus discursos negativos, Amós foi expulso de Israel e da corporação dos profetas. Amasias, sacerdote de Israel, mandou que Amós fosse profetizar e ganhar o seu pão em Judá.

Ozéias

Ozéias era profeta do reino de Israel. O seu livro cobre o período que se seguiu à morte do rei Jeroboão II (746 AC) até a do sucessor (735 AC). Dirige a sua verve às infidelidades do povo de Israel em relação ao seu deus. Pela primeira vez, no ministério profético, é utilizada a imagem do noivado para se referir à união de Javé com o povo de Israel. Dessa imagem servem-se os profetas posteriores. Fala em castigos divinos (uma constante nos discursos dos profetas hebreus) e do amor de Javé para com o povo eleito.

Tobias

Os personagens centrais desse livro são Tobit, o seu filho Tobias da tribo e da cidade de Neftali, na Galiléia, e Sara, da província da Média, que se tornou esposa de Tobias. Tobit foi removido para Nínive, juntamente com sua família, por ocasião da conquista de Israel pela Assíria. Em meio à idolatria dos israelitas que tinham aderido aos deuses dos caldeus, essa família se mantinha fiel ao deus Javé e viajava periodicamente a Jerusalém para cumprir os ritos do judaísmo. Tobit é descrito como homem bondoso e caridoso. Ele caiu em desgraça porque sepultava os israelitas mortos por ordem do rei assírio; fugiu e só retornou após a morte do rei. Certo dia, enquanto repousava, ficou cego; caiu-lhe esterco quente de andorinha nos olhos. Tobit faz preces ao Senhor. Sara sentia-se amaldiçoada porque tivera 7 maridos e os 7 morreram quando dela se aproximaram. Prece de Sara: (...) vós (o Senhor) não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança, depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria. Ana censura duramente o seu marido Tobit, o que mostra o nível de igualdade entre marido e mulher na intimidade do lar. Após a cegueira de Tobit, Ana passou a trabalhar como tecelã e trazia para casa o produto do seu trabalho. Ao ser admoestada sobre a origem de um cabrito, que podia ser roubado e a escritura proibia que se comesse o que fosse produto de roubo, Ana reagiu com indignação e palavras duras. As preces de Tobit e de Sara foram ouvidas; para cura-los, o Senhor enviou Rafael, um dos 7 anjos que assistem na presença divina. Tobit dá conselhos ao filho Tobias e lhe confia a missão de cobrar uma dívida na cidade de Ragés, na província da Média (empréstimo de 10 talentos de prata que Tobit fizera a Gabel). O anjo Rafael se faz companheiro de viagem de Tobias. No rio Tigre um peixe grande salta em direção a Tobias. O anjo instrui Tobias a segurar o peixe e lhe retirar o coração, o fel e o fígado. Tobias e o anjo hospedam-se na casa do pai de Sara. Tobias pede Sara em casamento. Para não morrer como os outros maridos de Sara, Tobias queima o fígado do peixe, na primeira noite de núpcias; entra para a sociedade dos patriarcas na segunda noite; recebe a benção que lhe daria filhos saudáveis, na terceira noite; só na quarta noite tem o primeiro relacionamento sexual com Sara, pensando mais na procriação do que no prazer, como lhe orientou o anjo Rafael. Desse modo, Tobias livrou-se dos demônios que matavam os maridos de Sara. Tobias cumpre a tarefa (cobra a dívida) e retorna à casa paterna. Tobias coloca o fel do peixe nos olhos do pai e a cegueira some. Com um cântico e com o testamento de Tobit, o livro termina.

Judite

Este livro narra o feito heróico dessa mulher judia, viúva, rica, bela, que impediu a queda de Jerusalém frente ao exército assírio invasor. Enquanto as autoridades e os anciãos rasgavam as roupas, jogavam cinzas sobre suas próprias cabeças e se desesperavam ante a presença das forças estrangeiras, Judite se embelezou, se perfumou, orou e com as suas servas dirigiu-se ao acampamento do exército estrangeiro, entrevistou-se com o general comandante (Holofernes) o seduziu e decepou-lhe a cabeça quando ele dormia embriagado pelo excesso de vinho. Levou a cabeça de Holofernes como troféu e instruiu os judeus para que atacassem enquanto o inimigo estava desarvorado pela perda do comandante. Os assírios foram derrotados e a Judéia teve paz por 100 anos, até ser conquistada por Nabucodonosor II. O livro menciona a alegria do povo judeu e contém um cântico de Judite.

Estér

Xerxes (Ansuero é o seu apelido utilizado na Bíblia), rei da Pérsia e da Média, dominava partes de 3 continentes: Ásia, África e Europa; seu governo ia da Índia à Etiópia. Após separar-se da rainha, Xerxes escolheu Estér para esposa. Ela salvou o povo judeu do extermínio graças à sua hábil intervenção junto ao rei. Havia um edito de proscrição para exterminar os judeus. O edito foi revogado. Em retribuição ao beneplácito real, os judeus mataram todos os seus inimigos em cada uma das 127 províncias do reino persa. Foram cerca de 75 mil mortes entre adultos e crianças, homens e mulheres.

Isaías – primeira parte (capítulos 1-39)

Profeta do reino de Judá, Isaías era filho de Amós, profeta do reino de Israel (foi expulso de Israel e se radicou em Judá). Isaías é considerado o maior profeta do povo judeu. Nasceu em 760 AC, exerceu o ministério profético por 50 anos e morreu por volta de 690 AC. Como seu pai, ele é um profeta da justiça. Insurge-se contra a idolatria, as injustiças sociais, a frivolidade, a hipocrisia, os ricos e poderosos e os magistrados corruptos. Censura Jerusalém por seus pecados, anuncia a vinda do messias (“príncipe da paz”) e dos tempos messiânicos felizes. Essa parte do livro contém o episódio em que Isaías é chamado para o ministério profético e vê o Senhor sentado num trono muito elevado com as franjas do seu manto enchendo todo o templo e os serafins junto a ele. Há vários cânticos (da vitória, dos remidos, da vinha). Pela boca do profeta, o deus Javé se diz farto dos holocaustos de cordeiros, da gordura de novilhos cevados, do sangue de touros e bodes; nega qualquer serventia às oferendas; manifesta horror à fumaça dos sacrifícios e ao crime na festa religiosa; abomina as luas novas e festas, das quais se declara cansado; manda o povo cessar com as maldades, aprender a fazer o bem, respeitar o direito, proteger o oprimido e a viúva e fazer justiça ao órfão. Essa parte do livro relata o acordo entre o reino de Israel e a Síria para atacar o reino de Judá. Isaías profetiza que isso não acontecerá porque antes Israel e Síria cairão sob o domínio da Assíria e depois cairá a Assíria. O livro registra a importante profecia para os cristãos: referindo-se à Casa de Davi, o profeta diz: (...) o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará a luz um filho e o chamará Deus Conosco. Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem.

Observação: o profeta está falando aos judeus quando diz Casa de Davi, da mesma forma que fala dos israelitas quando diz Casa de Israel (ou Casa de José). Esse modo de falar não significa, pois, que o messias será descendente de Davi. Virgem no entendimento da época e daquele povo era moça solteira, que ainda não casara e nem tivera relacionamento sexual algum. Evidente que após a fecundação a moça não continua virgem. No vocabulário da gente simples do sul do Brasil, quando a jovem perdia a virgindade dizia-se “fulana não é mais moça”. O nome a ser dado ao messias era Emanuel = Deus Conosco. O filho de Maria recebeu o nome de Yoshua = Salvador. No livro há oráculos contra todos os povos daquela região e também sobre a primavera, às mulheres descuidadas, a angústia e a libertação de Jerusalém. Há profecias apocalípticas, inclusive a do juízo universal (a terra é feita em pedaços, estala, fende-se, é sacudida); profecias sobre a queda da Samária, sobre a aliança com o Egito, sobre o cerco de Jerusalém e reproduz a fala de Javé: Este povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim e o temor que ele me testemunha é convencional e rotineiro por isso continuarei a tratar este povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá. O autor do livro fala sobre a destruição dos assírios, sobre castigo dos pagãos, sobre os tempos messiânicos. No apêndice histórico (capítulos 36-39) consta o oráculo de Isaías sobre a defesa do reino de Judá pelo Senhor, deus de Israel, contra agressão dos assírios. Os assírios haviam conquistado o reino de Israel (norte) e se dirigiam ao reino de Judá (sul) quando o anjo do Senhor apareceu no acampamento assírio e feriu 185 mil homens (na verdade pode ter sido uma forte gripe ou peste que se abateu sobre as tropas, deixando milhares sem forças ou mortos).

Miquéias

Profeta do reino de Judá, contemporâneo de Isaías, Miquéias profetizou a ruína de Samária e a do reino de Judá (o que de fato aconteceu). Há uma referência a ele no livro de Jeremias (26: 18,19): Miquéias (...) assim falou ao povo: isto diz o Senhor dos Exércitos: Sião será como um campo lavrado; Jerusalém será um montão de escombros, e a colina do templo um morro cheio de mato. Ezequias, rei de Judá e o povo de Judá condenaram-no, por isso, à morte! Miquéias censura os poderosos, os pecados dos chefes e dos profetas, anuncia o futuro esplendor de Jerusalém, o retorno da realeza sobre a casa de Israel e prega reformas morais (praticar a justiça, amar a bondade e cultivar a humildade.

Naum

A biografia desse profeta é desconhecida. A aldeia em que nasceu, cujo nome era Elcosh não foi localizada. O livro descreve os atributos da divindade, o oráculo de Naum sobre Nínive e a queda dos babilônios: ai da cidade sanguinária, cheia de fraude e de violência, e que não põe termo à sua rapinagem!

Sofonias

Este livro trata do ministério profético sob o reinado de Josias (625 AC). Sofonias anuncia o dia do juízo final, quando os pecadores serão castigados, salvando-se apenas os justos, os humildes e os obedientes à lei do Senhor. Compara os chefes de Jerusalém a leões que rugem, os juízes a lobos da noite; diz que os seus profetas são jactanciosos e impostores, e que os sacerdotes são profanadores de coisas santas e transgressores da lei. Profetiza a glorificação do Senhor pelos pagãos e a purificação do povo hebreu.

Habacuc

Este livro refere-se ao período da invasão dos caldeus (605 AC). Habacuc trata do problema do mal. A solução, segundo esse profeta, está na intervenção divina que salvará o justo e punirá o malfeitor. Profetiza a extensão do conhecimento divino à terra inteira. Nesse livro há o diálogo do profeta com a divindade e 5 maldições: (i) ai daquele que amontoa o bem alheio (ii) ai daquele que procura lucros criminosos para a sua casa (iii) ai daquele que constrói uma cidade a preço de sangue, que funda uma cidade na iniqüidade (iv) ai daquele que dá a beber aos outros misturando um veneno que os embriague, para ver a sua nudez (v) ai daquele que diz à madeira “desperta-te” e à pedra “levanta-te”, não se ouvirá mais do que silêncio; do que serve a imagem esculpida para que o escultor a faça? O ídolo fundido que só ensina mentiras, para que o artífice nele ponha a sua confiança, fabricando divindades mudas? Mas o Senhor reside em sua santa morada; silêncio diante dele, ó terra inteira. Uma oração do profeta encerra o livro.

Jeremias

Este livro revela fatos sobre a pessoa do profeta. Há relatos das suas atividades, dos seus sentimentos, dos seus sofrimentos, suas lutas interiores. Interessante a interpelação que ele faz ao seu deus sobre a prosperidade dos maus. O profeta parece duvidar da justiça divina: vós sois sumamente justo, Senhor, para que eu entre em disputa convosco. Entretanto, em espírito de justiça, desejaria falar-vos; por que alcançam bom êxito os maus em tudo quanto empreendem? E por que razão os pérfidos vivem felizes? Vós os plantastes e eles criam raízes, crescem e frutificam. Jeremias nasceu na Judéia, de uma família sacerdotal (650 AC). Iniciou o seu ministério profético no reinado de Josias e sustentou a reforma religiosa após a descoberta do livro Deuteronômio (ou do Pentateuco?), porém o povo queixava-se muito do deus Javé e voltava-se para os deuses pagãos. O profeta combatia esses abusos, profetizava desgraças e aconselhava a não resistência aos caldeus e a fuga para o Egito, o que suscitou a ira do povo e dos poderosos. O profeta foi quase morto pelo povo e pelos sacerdotes. Acabou preso em uma cisterna; foi salvo por um escravo do rei. Anunciou a queda de Jerusalém (o que aconteceu de fato em 586 AC). O ministério de Jeremias durou 40 anos. O livro conta a vocação de Jeremias para o ministério profético quando ele conversa com o Senhor; registra os oráculos contra Judá e Israel (irmãs prostituídas), contra a idolatria, os crimes praticados, as promessas de restauração da unidade do reino (Judá + Israel). Há exortação aos judeus na porta do templo em que Jeremias fala em nome do Senhor: se reformardes vossos costumes e modos de proceder, se verdadeiramente praticardes a justiça; se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão, a viúva; se não espalhardes neste lugar o sangue inocente e não correrdes, para vossa desgraça, atrás dos deuses alheios, então permitirei que permaneçais neste lugar, nesta terra que dei a vossos pais por todos os séculos. Como os judeus não libertaram os seus escravos e desobedeceram as demais prescrições, Jeremias disse que o Senhor os entregaria em cativeiro ao rei da Babilônia. Por ordem do Senhor, Jeremias ditou todos os oráculos a Baruc, que os escreveu a tinta em um rolo. Joaquim, rei de Judá, mandou buscar o rolo, leu-o, queimou-o e mandou prender Jeremias e Baruc. Os dois fizeram outro rolo e acrescentaram mais oráculos, inclusive sobre a morte do rei. Após a destruição de Jerusalém, alguns sobreviventes, entre eles Jeremias, permaneceram em Jerusalém, sob as ordens do governador nomeado por Nabucodonosor II. Alguns judeus que haviam escapado à deportação assassinaram o governador e fugiram. Os demais judeus também fugiram para o Egito e levaram Jeremias com eles.

Lamentações

Atribui-se a autoria deste livro a Jeremias. O livro se compõe de 5 elegias (pequenos poemas consagrados ao luto e à tristeza). Insere-se em período posterior à destruição de Jerusalém. Esse livro era lido pelos judeus no dia do aniversário da citada destruição. Exortava os judeus a reconhecer os seus pecados e a renovar a confiança no seu deus Javé (ou Jeová). Havia súplica a Javé para que voltassem os dias felizes de outrora.

Ezequiel

Este livro situa-se no período da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor II (599 AC). O rei, os poderosos e 7 mil guerreiros judeus foram deportados para a Babilônia, onde receberam autorização para se estabelecer onde quisessem, cultivar a terra, comerciar e se organizar em comunidades. Tratava-se mais de exílio do que de cativeiro. Os judeus aderiram ao politeísmo dos caldeus e se entregaram à idolatria. O ministério profético de Ezequiel no seio dos exilados coincide com o de Jeremias entre os judeus que permaneceram em Jerusalém. Ezequiel anunciou a destruição de Jerusalém. Quando esta ocorreu (586 AC) houve nova deportação de judeus. Isto aumentou o número de exilados na Mesopotâmia. O livro atribui esse fato ao castigo divino, censurando a infidelidade e a corrupção do povo judeu e dos seus chefes. O profeta estabelece normas sobre a partilha da terra, pesos e medidas, oferendas e outras prescrições. Ezequiel profetiza a restauração de Israel e um futuro reino de justiça, sob o comando da divindade. Ao narrar a sua vocação para o ministério profético, Ezequiel fala da aparição de Javé (glória divina) como uma silhueta humana em uma espécie de trono situado acima de uma abóbada que havia sobre as cabeças de 4 seres vivos com 4 faces e 4 asas cada um, todos aparentando forma humana, com rostos humanos, pernas direitas, pés semelhantes aos do touro e mãos humanas que saíam por debaixo das suas asas. O deus e os seres vivos chegaram à terra em uma espessa nuvem com um feixe de fogo resplandecente. Ao lado de cada um dos 4 seres vivos havia uma roda. As rodas pareciam construídas uma dentro da outra, seus aros eram de assombrosa altura, guarnecidos de olhos em toda circunferência. As rodas se locomoviam ou se elevavam sempre que os seres vivos se locomoviam e se elevavam para qualquer lado ou altura. O espírito que animava os seres vivos animava também as rodas. Nessa aparição, o Senhor Javé instrui Ezequiel a profetizar entre os judeus e o adverte sobre a testa dura e o coração insensível desse povo. O Senhor Javé qualifica o povo judeu de raça pertinaz, rebelde, indomável, teimosa e traiçoeira como escorpião. Para enfrentar esse povo, o Senhor Javé endurece as feições de Ezequiel e o faz engolir um rolo, doce como o mel, contendo cânticos de luto, queixumes e gemidos. Tal foi a visão de Ezequiel. Passados 7 dias dessa visão, Ezequiel recebe a missão do Senhor Javé, que faz promessas, alerta contra os falsos profetas, refere-se à espada, à fome, às feras e à peste como os 4 funestos flagelos divinos. O profeta individualiza a responsabilidade dos homens ao declarar que os justos não merecem punição e que nenhum dos seus filhos e parentes escaparão do castigo se pecarem, se não observarem as leis e prescrições divinas, se não agirem com retidão. Pela voz de Ezequiel, o Senhor Javé qualifica Samaria e Jerusalém de prostitutas. No livro há os oráculos do Senhor Javé contra os amonitas (povo de Amon) os edomitas (povo de Edom), os filisteus (povo de Gaza); oráculos contra as cidades de Tiro, Sidon, contra o Egito e contra os pastores infiéis. Há referência a uma visão de ossos secos em uma planície, que o Senhor Javé, por intermédio de Ezequiel, une em esqueletos, cobre-os de carne e músculos, reveste-os de pele e lhes sopra espírito, dando-lhes vida. Javé diz que esses ossos representam toda a raça israelita que necessita de reviver. Ezequiel descreve a visão que teve do futuro templo da nova Jerusalém.

Abdias

Este é um oráculo de profeta desconhecido. Situa-se na época do exílio. Censura o povo de Edom por se alegrar com a desgraça de Jerusalém. Diz que Edom será julgado por Javé e receberá o merecido castigo. Profetiza a restauração de Israel e o triunfo da Casa de Jacó (Judá) e da Casa de José (Israel) sobre a Casa de Esaú (Edom).

Isaías – segunda parte (capítulos 40/55)

Esta segunda parte do livro de Isaías é chamada de livro da consolação. Certamente foi escrita por outra pessoa. Isto porque essa parte se refere ao exílio dos judeus e ao regresso desse povo a Jerusalém, o que ocorreu em época posterior a morte de Isaías. Aliás, salvo alguma exceção (salmos, cânticos) os livros bíblicos, principalmente os históricos, não foram escritos por seus principais personagens e sim por seus pósteros. Nesta segunda parte do livro sobre Isaías, a mensagem é de esperança de um futuro melhor. Há uma série de poemas e referência constante a um servo do Senhor, que não se sabe quem seja. Há oráculos contra outros povos, ao mesmo tempo em que esses outros povos (assírios, caldeus, egípcios, filisteus) que causaram sofrimento aos hebreus, são considerados instrumentos da vontade divina. Os padecimentos do povo hebreu eram considerados castigos divinos pela desobediência, infidelidade, corrupção e demais violações das leis do Senhor Deus. As nações que dominassem o povo hebreu seriam dominadas por outras nações mais poderosas até que o messias aparecesse e destruísse a todas. O profeta anuncia a chegada do deus: abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso deus, que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas, que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas. Fala da glória da nova Jerusalém e faz orações.

Crônicas I e II

Estes dois livros compunham, originariamente, uma só obra juntamente com os livros de Neemias e Esdras. Há indícios de que foram escritos pelo mesmo autor em época posterior aos fatos que narram. As crônicas I e II recebem o nome de Paralipômenos. Essas obras são eminentemente religiosas. Procuram mostrar como a divindade serve-se dos reis, profetas e sacerdotes para realizar os seus desígnios. Nota-se o primado da crença religiosa e da fidelidade à aliança com Javé, em relação a todos os demais assuntos políticos, econômicos e sociais. Supõe-se que a época desses escritos foi a do retorno dos Judeus à Jerusalém, depois de 70 anos de exílio na Babilônia. Na terra de Judá, o povo não tinha autonomia política. A religião era o laço mais forte que mantinha os judeus unidos em uma comunidade restaurada. Acreditavam na intervenção direta da divindade nos negócios mundanos. Alimentavam a esperança na vinda de uma realeza espiritual (retorno ao tempo dos juízes, em que o único rei das tribos era o deus Javé). Registre-se de interessante as orações de Davi e de Salomão e a dedicação ao templo. O primeiro livro começa com a genealogia dos hebreus, desde Adão até Jacó (Israel), continua com a descendência de Judá e informa que as genealogias estão consignadas no livro dos reis de Israel. Contém a história do reinado de Davi, incluindo as guerras, o recenseamento do povo, os preparativos para a construção do templo, a organização política e religiosa, a unção de Salomão e a morte de Davi. O segundo livro relata o reinado de Salomão, a sua súplica por sabedoria, a construção do templo e sua descrição, a aparição da divindade (o Senhor) a Salomão, a visita da rainha de Sabá, a morte do rei, o cisma das 10 tribos e os reinados dos sucessores de Salomão, a reforma religiosa, a guerra entre os dois reinos (Judá x Israel), a guerra contra os sírios, a invasão dos sírios, a reorganização política e religiosa, a ruína de Jerusalém, a deportação dos judeus para a Babilônia e o edito de Ciro autorizando o retorno dos judeus a Jerusalém (terra de Judá).

Observação: Cabe aqui a observação feita na introdução deste roteiro. A crença na intervenção direta de Deus nos assuntos dos seres humanos ou em qualquer outra parte do universo não parece razoável. Não existe qualquer desígnio especial de Deus em relação ao planeta Terra e seus habitantes. Quanto mais tomamos consciência dos milhões de galáxias existentes no universo e de que o nosso minúsculo planeta situa-se em um pequeno sistema solar no cantinho de uma dessas galáxias (Via Láctea), mais nos convencemos dessa dura verdade. As leis de Deus atuam automática, inflexível e indefinidamente, desde a criação do mundo, sem necessidade da sua direta intervenção. A inteligência divina comanda essas leis. As ações e omissões dos seres humanos estão sujeitas a essas leis. A intervenção do deus Javé ou de qualquer outro deus ou deusa é tão somente um desejo, uma aspiração de quem se sente impotente diante da magnitude do universo, diante dos fenômenos da natureza e diante dos acontecimentos no mundo construído pelo homem neste planeta; desejo e aspiração de quem pretende alcançar algum objetivo e recorre à ajuda transcendental; de quem se acredita indefeso ante as forças da natureza e os ataques e armadilhas dos seus semelhantes. Os apelos à ajuda divina elevam um mundo de ilusão. O acesso a Deus se dá pela harmonização cósmica e esta somente é possível a quem merece e se prepara com a mente arejada, coração limpo e humildade. A resposta divina (iluminação espiritual) orienta o suplicante, mas não o substitui no agir. Deus não toma partido em favor de um ou de outro; não dá vitória a um e derrota a outro. Os seres humanos são os únicos e exclusivos responsáveis por suas ações e omissões, inclusive pelo que acontecer ao planeta Terra; são livres para praticar o bem e o mal e arcar com as conseqüências (boas e más) da conduta escolhida. Deus nada tem a ver com isso. O ser humano almeja distinção dos demais seres da natureza. Perante Deus, somos todos iguais: nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos, como qualquer ser vivo. Por ser racional e criar o seu próprio mundo (o mundo da cultura) o homem pensa que Deus lhe reserva um destino especial. Esse destino situa-se no mundo da ilusão. Não há certeza alguma do que se passa no lado imaterial do mundo divino (a natureza é o lado material do mundo divino). Há suposições, opiniões e experiências extáticas individuais.

Neemias e Esdras

Estes dois livros compõem uma unidade. Cuidam do mesmo período histórico (538 a 400 AC), quando os judeus deportados retornaram à Judéia por consentimento de Ciro, rei da Pérsia. O sacerdote Esdras restabeleceu o império da lei mosaica, regulamentou o culto à divindade, incentivou a prática religiosa e vedou o casamento de judeus com pessoas de outra religião. A aliança com o deus Javé se restabeleceu. Os judeus formavam uma comunidade religiosa, sem autonomia política. A classe sacerdotal adquiriu poder cada vez maior. O culto exterior e a rigorosa obediência à lei sagrada tomaram vulto e geraram um formalismo exacerbado, cultivado pelos fariseus que se tinham na conta de homens justos e santos porque cumpriam os ritos e seguiam a letra da lei. Além de textos de arquivos e outros documentos, estes livros contêm recordações pessoais desses autores, orações e a narrativa da reconstrução do templo. O livro de Esdras começa recapitulando o regresso dos judeus à Judéia, pelo edito de Ciro, prossegue com a lista dos repatriados, servos e animais, a reunião do povo judeu em Jerusalém para a reconstrução do templo e a reorganização do culto. Narra a chegada de Esdras a Jerusalém, transcreve a carta do rei Artaxerxes autorizando Esdras a inspecionar Judá e Jerusalém, para ver como estavam sendo cumpridas as obrigações para com a divindade, isentando de tributos e encargos os sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e servos da Casa do Senhor; concedendo poderes a Esdras para nomear juízes e magistrados. O livro conta a viagem de Esdras e a reforma que ele implantou obrigando os judeus a se separarem das suas esposas estrangeiras e dos filhos que com elas tiveram. O livro de Neemias intitula-se, também, Esdras II. Neemias se diz copeiro do rei da Pérsia, Artaxerxes, de quem obteve autorização, salvo-conduto e escolta para retornar a Jerusalém e reconstruir a cidade. Conta os lances da reconstrução das muralhas e das portas da cidade, o recenseamento (42.360 pessoas, 7.337 servos e servas, 245 cantores e cantoras, 736 cavalos, 245 burros, 435 camelos, 6.720 jumentos), a leitura da lei pelo sacerdote e escriba Esdras, a longa oração dos levitas, a lista dos sacerdotes e dos levitas e as reformas religiosas. A bíblia católica assim se refere a Esdras: oriundo da Babilônia, escriba versado na lei de Moisés dada pelo senhor Deus de Israel, aplicou seu coração ao estudo da lei do Senhor, a praticara e ensinara em Israel. Sacerdote e escriba versado no conhecimento do texto da lei do Senhor e de suas prescrições concernentes a Israel. Versado na lei de Deus do céu. Fiscal da lei divina que estava em suas mãos. Depositário da lei de Deus de Israel.

Observação. As escrituras do antigo testamento foram postas nas formas em que hoje as conhecemos por Esdras, após o regresso do exílio, por volta de 536 AC. Esdras é referido, no livro que leva o seu nome, como escriba versado na lei de Moisés (Pentateuco), que liderou um grupo de judeus saído da Babilônia com destino a Jerusalém. Thomas Hobbes, na terceira parte do seu livro Leviatã, escrito em 1651 DC, disserta sobre o Estado Cristão e transcreve o capítulo 14 do livro de Esdras. A intenção de Hobbes ao escrever o citado livro era a de chamar a atenção dos governantes, ingleses e estrangeiros, para as suas teses, com o cuidado de não ofender a religião cristã, da qual era seguidor. Confessa-se obediente à Igreja da Inglaterra. Aceita os cânones selecionados pela igreja. A Bíblia em que Hobbes se baseou continha o livro de Esdras II com o capítulo 14, versículos 21 e seguintes e versículo 45, que ele assim transcreveu: palavra do próprio Esdras ao dirigir-se a Deus: “Tua lei foi queimada, portanto, ninguém conhece as coisas que fizeste, nem as obras que estão para começar. Mas, se encontre graça perante ti, envia o Espírito Santo até mim e escreverei tudo que foi feito no mundo, desde o início, todas as coisas que foram escritas na lei, para que os homens possam encontrar teu caminho e para que possam viver aqueles que irão viver nos dias mais longínquos” (...) “e veio a acontecer que depois de cumpridos os 40 dias, o Altíssimo falou e disse: o primeiro que escreveste publica-o abertamente para que os dignos e os indignos possam lê-lo, mas guarda os últimos 70 para que possas entrega-los apenas a aqueles de entre o povo que sejam sábios”. Esse capítulo e os versículos não se encontram nas atuais bíblias católica e protestante. A redação dos versículos sobre Esdras varia de uma para outra dessas bíblias, mudando o sentido. Os versículos transcritos por Hobbes combinam com o que se conhece da história: o incêndio e destruição de Jerusalém, incluindo o templo de Salomão, o que significa queima dos papiros lá existentes. Esdras, provavelmente, baseou-se na tradição oral para refazer as escrituras. Ao concluir o seu trabalho, reuniu o povo judeu em Jerusalém e procedeu à leitura respectiva, como sendo a da lei de Moisés para o povo de Israel. Os demais povos do planeta estavam excluídos. Esdras recebeu tratamento cerimonioso na carta do rei Artaxerxes, certamente, escrita pelo escriba da corte persa, sob influência dos judeus que lá prestavam serviços. “Artaxerxes, rei dos reis, a Esdras, sacerdote doutor eruditíssimo na lei de Deus do céu, saúde”. Esdras devia visitar (fiscalizar e controlar) a Judéia e Jerusalém “segundo a lei do teu Deus que está na tua mão”. Em momento algum o rei se referiu ao deus de Israel como fosse dele próprio. Certamente ouviu a leitura e subscreveu a carta para atender a súplica do seu copeiro, o judeu Neemias, mais tarde nomeado governador da Judéia, região minúscula, decaída, população pequena, sem qualquer importância social, política ou econômica para a Pérsia e para o mundo. Daí que os pomposos termos da carta beiravam o ridículo, desproporcionais à insignificância da terra e do povo. Vêm de longe as denúncias de fraudes praticadas por sacerdotes e doutores contra as “sagradas” escrituras. Os III e IV livros de Esdras, além de outros, foram extirpados da Bíblia.

Ageu

Este livro, provavelmente, foi redigido por algum discípulo do profeta Ageu. O ministério desse profeta aconteceu em Jerusalém, à época da reconstrução do templo (520 AC). Compõe-se de 4 oráculos. No primeiro, o profeta censura os judeus que moram em vivendas confortáveis enquanto o templo está em ruínas. O governador de Judá (Zorobabel) e o sumo-sacerdote (Josué) ficaram sensibilizados com o oráculo, reuniram o povo e se puseram a trabalhar na construção da Casa do Senhor. O segundo oráculo incentiva essas autoridades e o povo a continuarem a obra e lhes promete esplendor e paz ao lugar. No terceiro oráculo o deus Javé promete derramar bênçãos após o lançamento das pedras de fundação do templo. O quarto oráculo é a eleição divina de Zorobabel precedida dessa promessa de Javé: Abalarei o céu e a terra, derrubarei o trono de todos os reis e aniquilarei o poder das nações, destruirei os carros e suas equipagens; cavalos e cavaleiros cairão e matar-se-ão a golpes de espada.

Zacarias

Este profeta é contemporâneo de Ageu. Recebe os oráculos de um anjo do Senhor. Exorta o povo a reconstruir o templo e prega uma reforma moral. Trata Zorobabel como o eleito do Senhor, o gérmen messiânico. Descreve o reino do Messias, cheio de paz, a ruína dos inimigos de Judá e a conversão das nações. Fala das suas visões, incluindo a libertação de Sião e o retorno de Jerusalém como residência da divindade. Na segunda parte do livro há previsões airosas para os judeus e oráculo sobre o pastor e a libertação de Jerusalém.

Isaías – terceira parte (capítulos 56/66)

A terceira e última parte do livro de Isaías, contém profecias relativas ao exílio e à restauração. Havia facções que se rivalizavam entre os judeus. O Senhor diz ao povo para respeitar o direito e praticar a justiça; acolhe o estrangeiro e o eunuco que observarem os sábados e se afeiçoarem à aliança, condena a indignidade das autoridades, a idolatria e os costumes imorais do povo e consola os aflitos. Critica o jejum convencional, vazio, distante dos princípios essenciais; diz que o jejum que o Senhor aprecia é romper as cadeias injustas, livrar os oprimidos, repartir o seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos sem abrigo, vestir os maltrapilhos em lugar de se desviar dos seus semelhantes. Diz que os pecados do povo são obstáculo à felicidade, barreira entre os homens e a divindade. Há o oráculo de glorificação de Jerusalém. Isaías se diz o portador da boa nova (evangelho) aos humildes, com poderes para curar, anunciar aos cativos a redenção e a liberdade; diz que o Senhor fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações; exalta o Sião, fala das ameaças e promessas do Senhor.

Malaquias

Esse profeta foi, provavelmente, o precursor da reforma empreendida por Neemias. (444 AC). Fala do amor da divindade pelo seu povo, do pacto de vida e prosperidade, da violação da lei pelos sacerdotes, do desrespeito à santidade do matrimônio (casamentos com estrangeiros), da fraude no pagamento do dízimo. Assim como Isaías, Malaquias fala em mensageiro que preparará o caminho do Senhor, o anjo da aliança (messias?) que purificará os filhos de Levi (tribo de sacerdotes). O Senhor virá para julgar os mágicos, os adúlteros, os perjuros, os que retêm o salário do operário, os que oprimem a viúva e o órfão, os que maltratam o estrangeiro e os que afrontam e desafiam a divindade.

Observação: Nota-se mudança no tratamento dado à divindade pelos profetas judeus, a começar por Isaías e Miquéias. O nome de Javé rareia. Em seu lugar vem o tratamento de Senhor, Senhor Deus e Senhor dos Exércitos. Esboça-se uma tendência a escapar do deus nacional, evoluir para o deus universal o que significa um novo conceito da divindade, o que seria alcançado plenamente com o advento da doutrina de Jesus.

Joel

Este livro contém poema de Joel, profeta que nasceu e profetizou em Jerusalém em época posterior ao exílio. Joel fala da devastação vegetal, da falta de alimento, apela para o jejum e para a penitência, promete fartura da terra por benção divina. Na segunda parte do livro, Joel fala do espírito divino, do julgamento das nações e da salvação definitiva.

Jonas

Este livro conta a desventura do profeta Jonas. A palavra do Senhor lhe foi dirigida para que fosse a Nínive e lá proferisse seus oráculos, pois, aquela cidade mergulhara na iniqüidade. Jonas desobedeceu e fugiu para Társis, cidade que ficava em posição oposta a de Nínive. Durante a fuga, o mar ficou bravio e ameaçava a embarcação; Jonas confessou a sua culpa e foi jogado ao mar, engolido por um peixe muito grande em cuja barriga ficou por 3 dias, fez sua prece de arrependimento, foi vomitado pelo peixe e voltou à sua cidade para obedecer ao chamado divino. Foi a Nínive e profetizou a destruição da cidade. O rei e o povo da cidade ficaram sensibilizados, fizeram jejum e mostraram arrependimento pelos pecados, merecendo o perdão do Senhor. Isto irritou Jonas, pois, o fato de a cidade não ter sido destruída o desautorizava como profeta. O Senhor fala a Jonas, dando-lhe uma lição de tolerância e amor.

Provérbios

Este livro é uma coletânea dos provérbios atribuídos ao rei Salomão e tem como fulcro o amor à sabedoria. Diz que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução. Primeira exortação do sábio: fugir da companhia dos maus. Segunda exortação do sábio: utilidade da sabedoria (origem divina da sabedoria, da ciência e da prudência). Terceira exortação do sábio: a prática da sabedoria. Quarta exortação do sábio: sabedoria e caridade (a glória será o prêmio do sábio; a ignomínia será a herança dos insensatos). Quinta exortação do sábio: vantagens da sabedoria (examina o caminho onde colocas os pés; se na retidão, não te desvies nem para a direita nem para a esquerda e retira teu pé do mal). Sexta exortação ao sábio: fugir da mulher leviana (por que hás de te enamorar de uma alheia e abraçar o seio de uma estranha?). Máximas diversas (coisas que o Senhor abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projetos perversos, pés pressurosos de correr ao mal, falso testemunho que profere mentiras e quem semeia discórdia entre irmãos). Banquete da sabedoria e banquete da loucura (se tu és sábio, é para o teu bem que o és, mas se tu és mofador, só tu sofrerás as conseqüências; a senhora loucura é irrequieta, uma tola que nada sabe). Na segunda parte do livro são arrolados vários provérbios atribuídos a Salomão. Na terceira e quarta partes estão as palavras dos sábios, coleção de provérbios cuja autoria é desconhecida. Na quinta parte, outros provérbios de Salomão. Seguem-se palavras de autores conhecidos e as chamadas máximas numéricas. O livro se encerra com um poema sobre a mulher virtuosa (a graça é falaz e a beleza é vã; a mulher inteligente é a que se deve louvar).

Este livro, de elevado teor dramático, trata essencialmente do sofrimento do personagem principal, que perde todos os seus filhos e todos os seus bens, fica doente, se acha injustiçado e atribui suas desgraças à vontade do Senhor. Satanás desafiara o Senhor, dizendo que Jó tinha boas qualidades porque era protegido pela divindade, mas tão logo retirada essa proteção, Jó amaldiçoaria o Senhor. Jó desmente Satanás. Apesar das desgraças, mantém-se fiel ao Senhor, porém faz suas queixas. Os amigos o consolam e Jó responde com discursos longos. Jó fala da origem da sabedoria (um véu a oculta de todos os viventes; a sabedoria vale mais do que as pérolas; não pode ser igualada ao topázio da Etiópia; não pode ser equiparada ao mais puro ouro). Inconformado com o diálogo entre os mais velhos, o amigo mais jovem, de nome Eliu, profere uma série de discursos recriminando a pretensão de Jó de se justificar (Deus está envolto numa majestade temível; não podemos atingir o todo-poderoso, eminente em força, em equidade e em justiça, não tem a dar contas a ninguém; que os homens, pois, o reverenciem; ele não olha aqueles que se julgam sábios). Seguem-se dois discursos pronunciados pelo Senhor, com as respectivas respostas de Jó (Então, do seio da tempestade, o Senhor deu a Jó esta resposta: Quem é aquele que obscurece assim a Providência com discursos sem inteligência?(...) Aquele que disputa com o Todo-Poderoso apresente suas críticas! Aquele que discute com Deus responda!). O livro se encerra com uma admoestação do Senhor aos amigos de Jó que não souberam aconselhar e não falaram bem do Senhor. Jó é abençoado, recupera sua riqueza, teve 7 filhos e 3 filhas e viveu mais 140 anos depois da benção.

Eclesiastes

Eclesiastes significa assembléia ou aquele que comanda uma assembléia. Este livro é uma coletânea de meditações sobre a vida humana atribuídas ao personagem de nome Eclesiastes, alusão ao rei Salomão que personificava a sabedoria. O livro começa com a indicação: Palavras do Eclesiastes, filho de Davi, rei de Jerusalém. No prólogo, a mais conhecida das máximas: Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. O livro expõe a vaidade da sabedoria (o acúmulo de sabedoria é vento que passa; quem aumenta a ciência, aumenta a dor), a vaidade dos prazeres (ao pecador Deus incumbe acumular bens que depois passará a quem lhe agradar; isto ainda é vaidade e vento que passa), a vaidade das riquezas (aquele que ama o dinheiro nunca se fartará; aquele que ama a riqueza não tira dela proveito; também isso é vaidade). Está nesse livro: há tempo para tudo, para cada coisa há um momento, debaixo dos céus: tempo para nascer, tempo para morrer, tempo para plantar, tempo para colher. Há referência às injustiças do mundo (o destino dos racionais é o mesmo dos irracionais: a morte; nada há de melhor para o homem do que se alegrar com os frutos do seu trabalho), aos tormentos da vida humana, aos conselhos de piedade, às máximas de sabedoria (Deus criou o homem reto, mas é o homem que procura os extravios), à submissão ao rei (juramento de fidelidade tendo Deus como testemunha), ao igual destino dos homens (tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria), à sabedoria (a sabedoria vale mais que a força, mas a sabedoria do pobre é desprezada e às suas palavras não se dão ouvidos; quem observa o vento não semeia e quem examina as nuvens não sega – isto é, não ceifa, não corta). No epílogo, o autor sintetiza: teme a Deus e observa os seus preceitos; é este o dever de todo o homem.

Eclesiástico

Este livro foi escrito por volta do ano 200 AC, em um período em que a Palestina era disputada pela Síria e pelo Egito. O seu autor é um homem chamado Jesus. Daí o livro ser conhecido também como Sabedoria de Jesus, filho de Sirac ou simplesmente Sirac. Trata de todos os aspectos da vida humana, sempre relacionados com os mandamentos divinos e à fidelidade ao Senhor. A primeira parte é dedicada à sabedoria na vida. Trata da origem da sabedoria, do temor ao Senhor, da paciência, da piedade filial, doçura, bondade, humildade, amor à sabedoria, prudência, justiça, domínio próprio, amizade, presunção, atenção, respeito para com Deus, cautela nas relações sociais, mulheres, governo, juízos temerários, moderação, desconfiança com estranhos, riqueza e pobreza, inveja e mesquinhez, felicidade do sábio, liberdade do homem, justiça divina, mansidão, insensatez, disciplina da língua, segredo, hipocrisia, negócios, distribuição de bens, orações, médicos e terapias, exortações e outros tópicos. Eis alguns trechos selecionados: toda sabedoria vem do Senhor Deus; aqueles que temem o Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles; como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe; Deus é verdadeiramente honrado pelos humildes; tua mão não seja aberta para receber e fechada para dar; faças justiça tanto para o pequeno como para o grande; a boa palavra multiplica os amigos e apazigua os inimigos; não abandones um velho amigo, pois o novo não o valerá; concentra teu pensamento nos preceitos de Deus e a sabedoria que desejas ser-te-á concedida; não pratiques o mal e o mal não te iludirá; honra teu pai de todo o coração e não esqueças os gemidos da tua mãe; estende a mão para o pobre; não disputes com um homem poderoso; o homem de conversas imprudentes torna-se odioso; não abras teu coração a qualquer homem para não receberes falsa amizade e ultrajes; não tenhas ciúme da mulher que repousa no teu seio; não fites com insistência uma beleza desconhecida, pois muitos pereceram por causa da beleza feminina; um governador sábio julga o seu povo; o governo de um homem sensato será estável; não avalies um homem pela sua aparência; não empreendas coisas em demasia; não tragas um homem qualquer à tua casa; o amigo não se conhece durante a prosperidade; a riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada, péssima é a pobreza do mau que se lastima; o olhar do invejoso é mau; o olhar do avarento é insaciável a respeito da iniqüidade; o homem de coração mesquinho só pensa em vaidades; feliz o homem que persevera na sabedoria e que se exercita na prática da justiça; o Senhor não ordenou a ninguém fazer o mal e a ninguém deu licença para pecar; toda a misericórdia colocará cada um em seu lugar conforme o mérito das suas obras e a sabedoria do seu comportamento; não misturar a repreensão com o benefício; antes de julgar, procura ser justo; antes de falar, aprenda; instruir um insensato é tornar a ajustar um vaso quebrado; quem magoa um coração, nele excita a sensibilidade; o homem acostumado a dizer palavras injuriosas jamais se corrigirá disso; a maldade da mulher é uma malícia consumada; não há cólera que vença a da mulher; quem revela o segredo de um amigo perde a sua confiança; aquele que tem olhar lisonjeiro trama negros propósitos; quem lança uma pedra para o ar a vê recair sobre sua cabeça; aquele que se quer vingar sofrerá a vingança do Senhor; o homem sensato crê na lei de Deus; é melhor que teus filhos te peçam do que estares tu olhando para as mãos dos teus filhos; doce é a vida do operário que se basta a si próprio. Na segunda parte do livro do Eclesiástico, o autor louva a Deus e aos antepassados; fala da grandeza de Deus na criação e elogia os grandes vultos da história do povo hebreu. Na terceira parte do livro, há um apêndice em que o autor se refere aos filisteus e aos samaritanos de modo pejorativo, autentica o seu livro, lança uma oração e exorta todos à busca da sabedoria.

Sabedoria

Livro provavelmente do século II ou I AC, dividido em 3 partes, além da introdução. O autor conclama as pessoas a amar a justiça, a ter sentimentos perfeitos com o Senhor e a procura-lo na simplicidade do coração. Na primeira parte, trata da mentalidade e da diferente sorte dos ímpios e dos justos. Na segunda parte, fala como se fora o rei Salomão. Exorta a todos a almejarem a sabedoria, expõe a doutrina e a oração de Salomão para obter a sabedoria. Na terceira parte, descreve o papel da sabedoria na história da humanidade, em geral, e na dos hebreus, em particular. Trata especialmente do Êxodo, da travessia do Mar Vermelho, da idolatria e da justiça divina (cada indivíduo recebe de Deus o que merece).

Baruc

O personagem principal, profeta judeu Baruc, é homônimo do secretário (Baruc) do profeta Jeremias. O livro foi escrito e lido para os judeus que permaneciam na Babilônia, sob o governo de Nabucodonosor II. Os ouvintes se comoveram com o precário estado de Jerusalém, fizeram uma coleta de dinheiro de acordo com as posses de cada um e enviaram a ajuda ao sacerdote que pontificava na Judéia. O livro cita os pecados do povo desde que deixou o Egito e contém súplicas ao Senhor. Refere-se à sabedoria, de origem divina, como a única via que conduz à salvação. Há uma série de pronunciamentos do profeta com o objetivo de consolar os judeus. Conclui afirmando que é o próprio deus que conduz Israel, pleno de júbilo no esplendor de sua majestade, pela sua justiça e misericórdia.

Daniel

Daniel é o herói dessa narrativa dos fatos que ocorreram na Babilônia. O ponto comum e constante é a vinda do reino de Deus. O livro se divide em 3 partes. A primeira parte relata o recrutamento de Daniel e outros jovens bem dotados do ponto de vista físico e intelectual, para o serviço do rei da Babilônia (Nabucodonosor II). Ao fim do triênio de estudos com os magos caldeus, os jovens se apresentaram ao rei, por ele foram entrevistados e se tornaram seus conselheiros. Daniel se sobressaiu. O rei chamou escribas, mágicos (magos?), feiticeiros e caldeus para que adivinhassem o sonho que tivera e o interpretassem. Todos acharam a tarefa impossível. O rei mandou mata-los. Daniel solicitou um prazo para executar a tarefa e impedir o morticínio. Conseguiu. Orou ao seu deus e obteve a resposta. O rei sonhara com uma estátua com cabeça de ouro, corpo de prata, pernas de bronze e pés de barro. Daniel revelou o sonho e o interpretou. O rei ficou agradecido, deu muitos presentes a Daniel e o nomeou governador da província da Babilônia e chefe dos escribas, dos sábios e dos magos. 3 companheiros de Daniel descumpriram as ordens do rei e não se prostraram perante a estátua de ouro que ele mandara construir. Denunciados, os 3 foram jogados em uma fornalha aquecida acima do comum. No entanto, não se queimaram e passeavam pelo fogo orando ao Senhor. O rei glorifica o deus dos judeus. Durante o governo de Baltazar, filho e sucessor de Nabucodonosor II, em conseqüência de intrigas palacianas, Daniel foi jogado na cova dos leões por ordem do rei. No dia seguinte, o rei foi à cova e chamou por Daniel, que respondeu, dizendo-se protegido do Senhor, eis que os leões mantiveram as bocas fechadas. Daniel foi retirado da cova. Em seu lugar, o rei mandou jogar, na mesma cova, os acusadores com as respectivas famílias, que serviram de comida aos leões. Na segunda parte do livro, narra-se as visões proféticas, todas veladas sobre o futuro, a oração de Daniel, o destino do povo judeu, a disputa dos reis pelo domínio dos povos, profecia contra Antíoco IV Epifanes (175/163 AC), da dinastia selêucida que governava a Palestina e a Síria, descrito como homem vil e sem dignidade real. O ser em forma humana que apareceu a Daniel e que lhe revelou o futuro termina essa parte referindo-se aos tempos messiânicos e anunciando a morte do profeta. A terceira parte (apêndices) contém as histórias de Suzana, Bel e do dragão venerado pelos babilônios. Suzana era mulher bela e piedosa, casada e educada na lei de Moisés. Dois juizes, anciãos, apaixonaram-se por ela. Tramaram contra ela, porém não lhe obtiveram os favores sexuais. Denunciaram-na à assembléia dos anciãos e prestaram falso testemunho. Suzana foi condenada à morte por adultério. Na sessão de julgamento estava o jovem Daniel, que percebendo a injustiça, protestou. Intuitivamente acusou os anciãos de mentirosos. Daniel pediu que os dois juízes acusadores fossem ouvidos em separado. Formulou a mesma pergunta para cada um. As respostas foram diferentes. A sentença de Suzana foi cancelada. Os acusadores foram condenados à morte. Bel era um ídolo da Babilônia. Convidado a prestar culto a esse deus, Daniel se recusou, dizendo que já cultuava um deus vivo e aquele era um deus morto. O rei lhe disse que morto era o deus de Daniel, pois o deus babilônico comia e bebia as oferendas. Daniel respondeu que isso era impossível, porque o deus era de barro por dentro e de bronze por fora. Para verificar de que lado estava a verdade, o rei mandou oferendas ao ídolo, evacuou o recinto e antes que trancasse a porta, quando todos se haviam retirado, Daniel lhe pediu para espalhar cinzas por todo o chão. Assim se fez. No dia seguinte, ao amanhecer, o rei verificou que as portas continuavam lacradas. Ao abri-las, viu que as oferendas tinham sido consumidas. Daniel, então, lhe chamou a atenção para o piso, todo marcado por pés de adultos e crianças. Os sacerdotes, esposas e filhos, entravam por uma porta secreta, embaixo da mesa de oferendas, pela qual penetravam e consumiam as comidas e bebidas. O rei mandou matar a todos e entregou o ídolo a Daniel, que o destruiu. O rei convidou Daniel a adorar um dragão, deus vivo que bebe e come. Daniel recusou e disse que mataria aquele dragão sem arma alguma. O rei permitiu que Daniel provasse o que afirmava. Daniel preparou um cozido e deu para o dragão comer. O deus animal morreu. Os sacerdotes se enfureceram e pediram que Daniel fosse lançado na cova dos leões. Daniel ficou 6 dias na cova sem ser devorado. Alimentava-se da comida que lhe trazia da Judéia o profeta Habacuc. O transporte de Habacuc da Judéia à Babilônia se fazia nas asas do anjo do Senhor (o avião foi inventado muitos séculos depois). No 7º dia, Daniel foi libertado pelo rei, que mandou atirar os detratores na cova dos leões.

Macabeus I e II

Estes livros foram escritos por volta de 100 AC. No primeiro livro, o autor conta que, antes de morrer, ainda jovem, Alexandre Magno repartiu o seu império entre seus cortesãos e amigos. Narra a conquista do Egito por Antioco IV, o assalto a Jerusalém, o edito do rei para a união dos povos sob sua jurisdição, impondo a religião pagã a todos e proibindo os ritos judaicos. Aos desobedientes previa a pena de morte. Matatias se rebela contra o decreto e contra os judeus que aderiram à idolatria; convida os judeus que se mantinham fiéis ao deus hebreu a que o seguissem; abandonou seus bens e foi para o deserto. Alguns judeus foram alcançados e mortos pelos guerreiros da Síria. Isto levou os judeus a se organizarem sob o comando de Matatias, a enfrentar os sírios, a massacrar os judeus prevaricadores e traidores, a circuncidar crianças à força, e a viver sob as próprias leis. Com a morte de Matatias, seu filho, Judas Macabeu, o sucedeu e promoveu incursões por todo o território judeu, expulsando os ímpios. Judas, seus irmãos e seu exército venceram os sírios invasores, entraram em Jerusalém e purificaram o templo. Judas e seus companheiros atacaram os vizinhos hostis à Judéia, enfrentaram e derrotaram forças inimigas; celebraram aliança com Roma. Judas morre em combate e é sucedido por seu irmão Jônatas. Com a prisão de Jônatas, Simão assume o comando e renova a aliança com Roma e Esparta. O segundo livro começa com as cartas aos judeus do Egito e a Aristóbolo, conselheiro do rei Ptolomeu. Há um prólogo em que o autor diz que resumiu o conteúdo de 5 livros escritos por Jasão de Cirene, sobre os acontecimentos no tempo de Judas Macabeu e de seus irmãos, a purificação do augusto templo, a dedicação do altar, as guerras sustentadas contra Antioco Epifanes e seu filho, as manifestações celestes sobrevindas em favor dos bravos que pelejaram pelo judaísmo, que se tornaram senhores do país, que puseram em fuga as hordas bárbaras, que recobraram a posse do templo, que livraram a cidade e restabeleceram as leis, tudo isso graças à misericórdia divina. Depois desse prólogo, o autor relata as perseguições religiosas, a revolta e a vitória de Judas Macabeu, repetindo e explicitando os temas do primeiro livro.

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