AZARES DA BÍBLIA
Vários livros da bíblia foram rejeitados pelos doutores do judaísmo e do cristianismo com o fim precípuo de garantir a unidade da doutrina e a versão mais conveniente aos desígnios dos líderes dessas religiões. Colocaram a fé acima da verdade histórica. Difundiram a versão que lhes interessava. Os textos que discrepavam dessa versão eram afastados como apócrifos. A pretexto de bem zelar pela vida espiritual dos devotos, a classe sacerdotal estava a zelar pela manutenção do seu poder e da sua riqueza. A cultura de rebanho atendia a esse desiderato; a submissão ao sacerdote era vital. A tutela religiosa está cedendo lugar à emancipação do crente. Reagindo contra a libertação, o clero qualifica o questionamento da bíblia ou do alcorão como heresia e coisa do diabo. A inteligência é vista como demoníaca.
Em assim procedendo, o clero se coloca, consciente ou inconscientemente, ao serviço do capeta. A inteligência faz parte da natureza humana e a natureza foi criada por Deus. O intelecto, pois, é criação divina. O seu uso é que pode ser bom ou mau. O extravio provém de um caráter humano voltado para a maldade. O fato de o cérebro, sede física da inteligência, estar protegido pela caixa craniana, indica o cuidado da natureza com esse predicado humano. Do ponto de vista anatômico, se a fé tivesse de se sobrepor à razão, o cérebro estaria abaixo do coração, provavelmente, nos intestinos. Do ponto de vista lógico, o entendimento precede a fé religiosa. Quando a inteligência alcança o seu limite na explicação e compreensão das coisas, entra em cena a fé religiosa. Esse limite varia de pessoa para pessoa, de cultura para cultura. A ignorância é o campo de atuação da crença, das crendices, da fantasia, do sonho, da ilusão. À medida que o conhecimento racional avança, o terreno da crença encolhe.
Além dos expurgos e interpolações, as escrituras judaicas e cristãs passaram por modificações decorrentes da série de traduções do aramaico para o grego, do grego para o latim, do latim para as línguas neolatinas e outros idiomas. Dificilmente encontrar-se-á o significado primitivo de passagens da bíblia. O reino de Deus pode significar: o mundo divino; o governo divino na Terra; a alma, a vida interior do ser humano. Sobre o reino de Deus, Jesus assim se pronuncia: não virá de um modo ostensivo, nem se dirá ei-lo aqui ou ei-lo ali, pois o reino de Deus já está no meio de vós. Isto pode significar que vivemos em um só mundo, material e imaterial ao mesmo tempo, ou que a alma humana é o reino divino. O vocábulo espírito vem empregado com distintos significados: alma, disposição da alma, fantasma, substância ou personalidade etérea (corpo astral), energia ou função essencial do ser. Espírito Santo pode significar: força que vem do mundo divino; energia suplementar da mente e do corpo que desperta poderes especiais nos seres humanos; atitude interior fervorosa e exaltada direcionada a Deus. Espírito de Deus pode significar: a própria divindade; o mesmo que espírito santo; sintonia do pensamento, do sentimento e da conduta humana com a divindade; submissão à vontade divina. Anjo pode significar: criança ou uma entidade corpórea ou incorpórea, boa ou má, que interfere na vida dos seres humanos. Anjo do Senhor significa um ser corpóreo ou etéreo, que aparece em vigília ou em sonho, como portador de mensagens da divindade. Os gregos davam às entidades etéreas, boas ou más, o nome genérico de demônio. Na doutrina cristã reserva-se o nome de demônio para o anjo mal (anjo decaído).
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