sábado, 23 de dezembro de 2023
IRRACIONALIDADE HUMANA
domingo, 17 de dezembro de 2023
TROVAS
Vontade mansa de rimar
Nem sei para que isto serve
Se para nutrir a fraca verve
Se para meu tempo ocupar
Noite chuvosa sombria
Leve cadência para embalar
As mágoas da alma fria
De quem se recusa a sonhar
Trovas e trovoadas
Chegam enlaçadas
Aquelas para alegrar
Estas para assustar
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
SABER NOTÁVEL
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
CRISE
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
FUTEBOL
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
FELIZ ANIVERSÁRIO
O clima no amplo apartamento era de animada conversação. Algumas fumavam e se ajudavam ao acender os cigarros. Dora, uma das amigas, dedicada ao comércio de joias, exibia sofisticados isqueiro e piteira. Música instrumental em som baixo. As netas ansiosas para escapulir. Os namorados aguardavam na pracinha próxima ao prédio da avó das garotas situado num bairro de classe média da cidade. Empadão, salgadinhos, docinhos, sucos, refrigerantes, água mineral. Cadê o bolo? Inês havia esquecido. Na véspera, ela o encomendara à confeitaria do bairro. Desculpou-se e saiu às pressas a fim de buscá-lo. As filhas aproveitaram o ensejo e saíram à francesa.
Júlia era viúva, dona do apartamento em que morava, tinha como fontes de renda os proventos da sua aposentadoria como funcionária pública e a pensão gerada por morte do seu marido, contribuinte autônomo da previdência social. No mercado de capitais, investiu o valor da apólice do seguro de vida do marido. A sua poupança permitia cobrir os gastos extras como estes do seu aniversário, os de eventuais viagens e as pequenas quantias que esporadicamente dava às netas.
Ao retornar com o bolo, Inês notou a ausência das filhas. Conformou-se. Acostumara-se a tais escapadas. As amigas da aniversariante discutiam várias coisas, inclusive política e religião. A falta de homens na casa foi intencional. Júlia assim pensou: Além de não ajudar, eles ainda atrapalham. Ficou a matutar: O marido de Inês viajara a negócios. Ele começou a viajar “a negócios” depois de vinte anos de casado e de ter conquistado bom padrão de vida. Inês nada questiona; prefere manter a estabilidade da família, o seu papel na sociedade e costuma dizer que felicidade é coisa ilusória. Cita os versos do poeta: “O amor é eterno enquanto dura”. Falava mais para convencer a si própria do que aos outros. Dizia que durável é o amor sereno da maturidade. Felicidade? Momentâneo estado da alma que acontece de vez em quando. Convicta e realista, afirmava: Neste mundo, eterna é a luta pela vida, por subsistência, bem-estar, liberdade e justiça.
Jornalista vivaz e experiente, Eugênia pergunta em tom provocador: Júlia, o que você acha dessa tragédia? Quando, por alguns segundos, Júlia mergulhara naqueles pensamentos, perdera parte da conversa. Saiu pela tangente: Queridas amigas, sempre houve tragédias. De qual delas vocês querem a minha opinião? Letícia, assistente social ativa e brincalhona, exclama: Acorda amiga! Nós estávamos falando do genocídio em Gaza. Júlia se desculpou pelo apagão. Claro que concordo com vocês (ela presumiu que havia unanimidade). A nossa geração está testemunhando atrocidades praticadas por gente genocida e selvagem. Essa gente criminosa e racista ainda tem o desplante de qualificar os palestinos de animais sub-humanos! Devemos organizar uma passeata de mulheres a partir do nosso grupo, protestando contra esse crime cometido por aquele estado terrorista. Devemos exigir do governo posicionamento claro e firme. Os homens que atualmente governam o nosso país não têm colhões roxos. No mundo violento em que vivemos, essa tibieza é anacrônica e inoportuna, ainda que disfarçada de diplomacia. Nós, mulheres, devemos tomar a iniciativa de sacudir esses homens para que tomem vergonha na cara.
Homens também são vítimas da violência, ponderou Iracema, procuradora estadual aposentada. Agora mesmo, alguns brasileiros estão sendo perseguidos em solo brasileiro e privados da sua liberdade a pedido de um governo estrangeiro nazista. As prisões ocorrem por simples suspeita, sem prova, sem que esses cidadãos estejam cometendo crime. Motivo dessa prisão cautelar: denúncia do primeiro-ministro e do serviço de inteligência de Israel, sem carta rogatória. Cidadãos brasileiros são acusados de terroristas contratados pelo Hezbollah, instituição libanesa inimiga de Israel. No campo da futurologia, em frontal colisão com os direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros, a polícia brasileira colocou-se a serviço de um paranoico governo estrangeiro.
Selma, advogada e professora universitária, lamenta: Realmente é surreal, sem trocadilho. Aduz: De acordo com a nossa Constituição, ninguém será privado da sua liberdade sem o devido processo legal; ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; ninguém será preso senão em flagrante delito; ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória. Fala-se de ordem de prisão expedida por autoridade judiciária brasileira. Se isto for verdade, a justiça brasileira, mais uma vez, terá se precipitado, violado a Constituição, ferido a dignidade humana de cidadãos brasileiros, sem a evidência de fatos que estivessem provados no devido processo jurídico. O nosso sistema de segurança submeteu-se, de modo servil e vergonhoso, ao capricho de um governo estrangeiro nazista. A vida e a liberdade são os bens mais preciosos das pessoas civilizadas, mas, o estado israelense age como se tais preciosidades fossem patrimônio exclusivo dos judeus. Trata os palestinos como seres inferiores sem direito a esses bens.
Maria Augusta, médica que presta serviço hospitalar e ainda atende pacientes em seu consultório, manifesta a sua opinião: Os políticos são craques no jogo das palavras. Escondem a verdade com filigranas. O discurso dos ministros para justificar a submissão do governo brasileiro aos interesses e orientações do governo estrangeiro não me convenceu. O argumento cronológico de que a polícia brasileira já se debruçava sobre o caso antes dos acontecimentos em Gaza mostra-se falacioso, pois, a operação sanduíche foi iniciada agora, depois de tais acontecimentos. O que foi, Isabel?
Artista plástica de reconhecido valor, Isabel segurava o seu queixo com a mão direita, o cigarro entre os dedos da mão esquerda e rindo divertida, respondeu: Maria, meu anjo, o nome da operação policial é “trapiche” e não “sanduíche”. Você olhava para a mesa do lanche quando falou. Calma! Lá estaremos tão logo a Inês chamar. No diapasão em que tocamos o assunto (Isabel mantinha o tom divertido enquanto falava) “trapiche” significa o armazém próximo do “caos” onde as mentiras são depositadas antes de serem embarcadas com destino à massa ignara.
A feminina audiência riu às gargalhadas da “definição” posta por Isabel. Cessado o ruído, ela continuou a jocosa dissertação: Eu sei e vocês sabem que todos que nascem e vivem em cidade são cidadãos. Lembro que a palavra “cidade” vem do grego “polis”. Portanto, como moramos e vivemos na “polis”, todas nós somos “políticas”. Em sentido estrito, apelidamos de “políticos” os homens e mulheres filiados a partidos que se dedicam à causa pública e exercem, ou aspiram a exercer, o poder do estado. Aqui no Brasil, as cidadãs e os cidadãos devem ter a idade mínima de 16 anos para escolher governantes; de 18 anos, para servir às forças armadas; de 21 anos, para adquirir a capacidade civil plena. No entanto, desde o nascimento, todos são titulares dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança, sustentáculos da dignidade humana.
Inês faz soar o pequeno gongo e, como arauto, conclama: Meninas, eu sei que vocês querem esticar a conversa, porém, antes, venham aqui para a sala, sentem-se em torno da mesa e compartilhem do lanche que preparei para vocês, auxiliada pela Rosa, nossa fiel escudeira. Júlia agradeceu. Às convivas, em tom de gracejo, ela diz: O bolo da velhinha está sem velinhas. Por gentileza, não cantem “parabéns a você”!
quinta-feira, 9 de novembro de 2023
SEMITISMO
Desde o holocausto de ciganos, de homossexuais, de comunistas e de pessoas de “raça inferior”, ocorrido na segunda guerra mundial, os judeus colocam-se como eternas vítimas, fazem chantagem emocional e usam argumentos falaciosos a fim de obter vantagens políticas e econômicas. Assim, desse modo: I. Eles conseguiram um estado próprio, depois da choradeira na ONU, em 1948. II. Obtiveram apoio e proteção dos EUA para: (i) violar fronteiras e invadir o território do povo palestino (ii) oprimir a comunidade árabe da Palestina (iii) atacar e exterminar a população de Gaza (iv) destruir casas, prédios, escolas, hospitais, vias públicas (v) impedir a saída de civis de ambos os sexos e de todas as idades, daquela faixa conflagrada.
Nesse conflito não há paridade de forças. O poderio bélico de Israel é superior. O exercício do direito de defesa de Israel no episódio Sete de Outubro foi desproporcional e abusivo. Os nazistas judeus aproveitaram a ocasião para executar o projeto de extermínio dos árabes. Portanto, afigura-se legítima a reação popular nos diversos países contra a ação criminosa de Israel. A justa reação popular brota do senso humanitário das pessoas naturais civilizadas, o que não se confunde com antissemitismo. Cuida-se de (i) ação contrária ao nazismo judeu (ii) protesto contra o sofrimento imposto aos palestinos. Os judeus residentes em outros países também são responsáveis pelos atos praticados pelo governo da sua pátria comum: Israel. O governo nazista desse estado foi eleito pelo povo judeu. Destarte, se as comunidades judias no estrangeiro pretendem livrar-se da culpa, deverão se manifestar publicamente, de modo oficial, organizado e inequívoco. Mediante declarações coletivas autênticas, exigirão do governo israelense: I. Que cesse imediatamente as hostilidades contra Gaza e liberte os reféns. II. Que devolva aos palestinos as terras invadidas desde a segunda metade do século passado. III. Que cumpra sem subterfúgios as recomendações da ONU e as decisões do Tribunal Internacional. IV. Que respeite o direito internacional. V. Que indenize Gaza por perdas e danos.
Sem essa concreta manifestação coletiva, objetiva e válida, os judeus de qualquer país serão vistos como cúmplices das atrocidades praticadas por Israel e ficarão sujeitos às represálias como aquelas noticiadas. A omissão ensejará contra eles a radical opinião de um policial brasileiro: “bandido bom é bandido morto”, ou, parafraseando, “judeu bom é judeu morto”.
O apelo à semântica ajuda a esclarecer o assunto. Entende-se por semitismo a cultura dos povos semitas, o respeito a essa cultura, a experiência histórica, o estudo e a expansão dessa cultura. Segundo a lenda bíblica do dilúvio e da arca, esses povos descendem do filho de Noé chamado Sem. De acordo com a História, os povos semitas eram assim chamados em virtude da sua língua comum. Falavam-na árabes, arameus, assírios, babilônios, cananeus, etíopes, fenícios, hebreus, sírios. Originários da Arábia, os semitas migraram para a Mesopotâmia e outras regiões da Ásia morena (+ ou – 3000 a.C.).
Antissemitismo ou semitofobia significa: (i) aversão à cultura semita (ii) antipatia, inimizade ou ódio aos povos semitas. No sentido estrito, significa antipatia, inimizade ou ódio aos árabes e aos judeus, dois povos semitas da atualidade, cultores de duas grandes religiões: o islamismo e o judaísmo.
Tal como no Irã, em Israel não há separação entre política e religião. Nesse tipo de estado, a lei religiosa ("divina") é suprema, bússola da validade da lei votada no parlamento. No Irã, prevalecem os preceitos ditados por Maomé. Em Israel, prevalecem os preceitos ditados por Moisés. Destarte, o combate à política de Israel pode ser visto pelos judeus ortodoxos como ataque à sua religião. Entretanto, esse modo de ver desvia o foco da questão central. Vista sem malícia, a reação popular tem por alvo a política israelense e não a religião judaica. O noticiado movimento popular em outros países é contra o terrorismo de estado praticado por Israel. A violenta e mortal ação dos judeus ortodoxos estriba-se no Pentateuco (Torá). O citado movimento popular não se deixou impressionar com a propaganda enganosa que qualifica o Hamas e o Hezbollah de “terroristas” quando, na verdade, são duas instituições políticas responsáveis pela liberdade, segurança, desenvolvimento e bem-estar dos seus povos. A resistência à opressão hebraica é uma das formas de exercer essa resposabilidade.
Bauman, Zygmunt – Retrotopia. Rio. Zahar. 2017.
Burns, Edward McNall – História da Civilização Ocidental. P.Alegre. Globo. 1955.
Finkelstein, Norman G. – A Indústria do Holocausto. Rio. Record. 2001.
Velasco, Francisco Diez. Breve Historia de las Religiones. Madrid. Alianza. 2008.
Bíblia Sagrada. Centro Bíblico Católico. SP. Ave Maria. 1987.
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Caldas Aulete/Santos Valente. Rio. Delta. 1958.
domingo, 29 de outubro de 2023
TITICA JUDIA & ÁRABE
domingo, 22 de outubro de 2023
FUTEBOL
domingo, 15 de outubro de 2023
ISRAEL versus PALESTINA
Alguns veículos progressistas da média brasileira questionaram o qualificativo “terrorista” dado ao Hamas pelos governos dos Estados Unidos da América (EUA) e de Israel e pela indecorosa média corporativa satélite. Lembraram que a Organização das Nações Unidas (ONU) não atribui tal qualificativo ao Hamas. Os grupos defensores da liberdade e dos direitos dos seus povos oprimidos são qualificados de “terroristas” por seus opressores. Em conclave internacional, os países mais potentes elaboram o conceito “terrorista” com notas que os excluem. Esse conceito funciona como “definição oficial”, na qual se enquadra como criminoso subversivo quem luta pela liberdade e pelos direitos do seu povo.
Terrorista é todo indivíduo, grupo, ou estado, que provoca e/ou espalha terror mediante ações aterrorizantes. Nessa definição entram os EUA, Israel e demais estados opressores. O terrorismo estatal configura sistema opressor de persuasão social e domínio político. O terrorismo social configura método utilizado pelo oprimido para obter o reconhecimento da sua dignidade e dos seus direitos. Os dois tipos de terrorismo utilizam meios violentos e cruéis para atingir os seus objetivos. Atropelam o direito internacional e a ética humanitária. Assumem posição refratária a quaisquer conceitos, sentimentos, regras e interesses que não sejam os deles próprios.
EUA e Israel são exemplos de estados terroristas, criminosos, genocidas, que violam as regras jurídicas internacionais, afrontam decisões dos tribunais, menosprezam os princípios humanitários. Desde a segunda metade do século XX, com ajuda e beneplácito dos EUA, Israel vem invadindo e se apossando das terras da nação palestina, destruindo casas, edifícios e a infraestrutura hidráulica e elétrica, cerceando a locomoção, prendendo, torturando e assassinando adultos e crianças. O Hamas constitui um movimento paramilitar, social e político de resistência à tirania dos judeus militares, civis e religiosos. Leva o selo do temperamento, dos costumes e da milenar cultura dos povos árabes.
Os acordos de paz nestes últimos 40 anos ficaram no esboço, não se concretizaram. O episódio de 11 de Setembro na América e agora o episódio de 07 de Outubro no Oriente Médio, foram respostas desesperadas e advertências singelas dadas pelos oprimidos aos opressores. Só haverá paz depois de lançada bomba atômica em cada uma das seguintes cidades: Washington, Nova Iorque, Tel Aviv, Jerusalém, Londres e Berlim. Desse modo, cortar-se-á o mal pela raiz. Sem esse bombardeio exitoso, a paz continuará a ser vã esperança, objeto de discursos demagógicos e de fingidos esforços, perda de tempo e de dinheiro. O oprimido de ontem (holocausto judeu) é o opressor de hoje (holocausto palestino). Ontem, rebelião heroica e suicida dos judeus contra os nazistas alemães. Hoje, rebelião heroica e suicida dos palestinos contra os nazistas judeus. Assim caminha a humanidade.
domingo, 8 de outubro de 2023
TROVAS
Muito ajuda quem não atrapalha
Inútil ou imprestável vira tralha
Palavra acelerada virtude pouca
Confusão na meta decisão louca
Quem neste mundo muito arma
Mais do mal que do bem se vale
No seu destino faz que se instale
Merecido castigo da lei do carma
domingo, 1 de outubro de 2023
NUVENS
domingo, 24 de setembro de 2023
O RETORNO DO TORNEIRO
domingo, 17 de setembro de 2023
ÉTICA NO FUTEBOL
O agir humano rege-se por impulsos instintivos e por normas convencionais. A origem dos impulsos é irracional. O pensamento, o sentimento, a vontade e a experiência dos humanos estão na origem das normas convencionais de natureza moral (obediência livre) e de natureza jurídica (obediência obrigatória). Desobedecer às regras morais enseja censura pela família e pela sociedade. Desobedecer às normas jurídicas enseja punição pelo estado. A desobediência também pode ser reprovada pelo tribunal da consciência. As normas jurídicas produzidas pelo estado são de maior extensão e estão contidas nas leis. As normas jurídicas produzidas pela sociedade são de menor extensão e estão contidas nos contratos. Inato, o senso moral está presente tanto na produção das normas jurídicas como na produção das normas éticas.
O refinamento intelectual distingue Ética e Moral. No entanto, a real distinção limita-se à origem das palavras. Ética vem do grego ethos. Moral vem do latim mores. Ambas têm o mesmo significado: costume, conjunto das regras de conduta obedecidas constante e historicamente como se fossem escritas e obrigatórias. Em nível prático, Ética ou Moral compõe-se dessas regras que orientam o comportamento humano. Em nível teórico, Moral ou Ética é a ciência do bem e do mal, estudo metódico e sistemático desse fenômeno cultural normativo.
A universal lei do movimento atua não só no mundo da natureza como também no mundo da cultura. Os costumes mudam conforme as vicissitudes sociais, econômicas e políticas das diversas nações no curso dos anos e séculos. Na cultura ocidental, valores morais como justiça, bondade, veracidade, honestidade, estão dominados pelo utilitarismo. O bem e o mal são vistos através da lente econômica e mudam de posição conforme mudam os interesses. Disto, resultou um pragmatismo divorciado dos preceitos morais que, de um modo geral, inseriu-se no lar, na escola, na empresa, no clube, enfim, nas instituições civis, militares e religiosas.
No setor esportivo, ocorrências publicadas na imprensa revelam a fraqueza moral de atletas, treinadores e dirigentes. Recentemente (2023), um jogador acusado de agredir a namorada foi excluído da seleção brasileira enquanto outro jogador, acusado de estuprar a namorada, foi incluído na seleção brasileira. O critério moral do treinador e dos dirigentes mostrou-se flutuante. Certamente, a pecúnia é brisa que sopra nessa biruta. Provavelmente, por constatar essa realidade, o apresentador do programa “Os Donos da Bola”, da TV Bandeirantes, distinguiu a seleção da CBF da seleção idealizada por ele, notável craque do passado que, no presente, afoito e mal-educado, interrompe os convidados quando estão falando e opinando. A distinção permite os acréscimos: [1] Na seleção da CBF pesa mais o dinheiro no preenchimento das vagas [2] Na seleção do povo pesam mais o bom caráter, a honestidade, o talento, o refinamento técnico e a eficiência dos jogadores [3] A seleção da CBF é real [4] A seleção do povo é virtual.
Nas competições eliminatórias para a Copa do Mundo/2026, partida Brasil x Bolívia, por haver tirado doce das mãos de criança, o artilheiro foi considerado gigante pelo treinador. Com base em petulante enganação, o jogador recebeu – sem merecer – placa de maior artilheiro da seleção brasileira por ter supostamente superado a marca de Pelé. Na ocasião, o jogador disse que a placa não significava ser ele melhor do que Pelé. Isto nem precisava ser dito, salvo por falsa modéstia. Ele nunca foi melhor do que Pelé, Garrincha, Zico, Romário, Ronaldo Nazário e Ronaldinho Gaúcho. Isto sem falar de outros notáveis como Domingos da Guia, Djalma Santos, Nílton Santos, Carlos Alberto, Gérson, Júnior, Falcão, Sócrates, Ademir da Guia, Didi, Zizinho, Ademir Menezes e Leônidas. Perto destes, quer como pessoa, quer como atleta e cidadão, o emplacado é nanico.
No que tange à artilharia da seleção, o trono ainda é de Pelé com 95 gols. Seguem-se: Neymar com 79 gols, Ronaldo Nazário com 67, Zico com 66, Romário com 56. Outro é o cenário que resulta do cálculo proporcional [mais adequado para esse tipo de classificação] quando é considerada a quantidade de jogos dos quais cada jogador participou. A lista dos maiores artilheiros da seleção tem as seguintes médias: Pelé 0,93; Romário 0,77; Zico 0,68; Ronaldo 0,63; Neymar 0,62.
A lógica matemática não mente, porém, os falsificadores manipulam os números segundo os seus interesses. Eles surrupiaram 18 gols feitos por Pelé em jogos da seleção a fim de que o “gigante” deles pudesse ultrapassá-lo. Argumentaram que gols feitos em jogos da seleção contra clube ou contra selecionado de clubes não podem ser computados na artilharia. Tal vedação não consta do código do futebol e nem dos bons costumes. No futebol, artilharia é arma de ataque. O artilheiro toca na bola (chute, cabeceio) imprime força e velocidade à bola (projétil) arremessando-a contra o gol adversário (alvo). O êxito desse movimento (passagem da bola para o espaço interior das traves) entra para o cabedal do artilheiro, pouco importando se aconteceu em jogo amistoso ou de campeonato, se o adversário era um clube, um selecionado de clubes ou uma seleção nacional.
Retirar, em proveito próprio ou de terceiros, gol da conta do artilheiro, tipifica ato ilícito sob o prisma moral e jurídico. O “gigante” deles escorou-se no prestígio de Pelé. Na carreira, o “gigante” também está longe de alcançar a marca de Pelé (1.282). Antes de pendurar as chuteiras, jogando mais deitado do que em pé [royalties para Casagrande], mais andando do que correndo, o “gigante” talvez chegue à marca do Romário. Ao sair da Europa, o “gigante” causou alívio aos europeus. Isto indica que o patrimônio material ainda não aniquilou o patrimônio moral de uma parcela da humanidade. Isto também lembra que Gulliver só era gigante no país dos liliputianos.