segunda-feira, 29 de agosto de 2022

ELEIÇÕES 2022 - XII

No debate de ontem (28/08/2022, às 21,00 horas) no canal 13, da TV Bandeirantes, houve unanimidade entre os seis debatedores: Felipe, Simone, Soraia, Ciro, Jair e Lula. Todos eles preocupados em agradar o eleitorado e conquistar votos, mostraram-se a favor do agronegócio, da proteção ao meio ambiente, do combate à fome, do amparo aos pobres, dos direitos da mulher e do trabalhador, do desenvolvimento social e econômico. Todos eles se posicionaram contra a corrupção, a inflação, a discriminação racial, a desigualdade da mulher inclusive quanto à representação na política. A divergência cingiu-se a alguns tópicos das propostas, aos quantitativos e aos métodos.
Políticos tradicionais. Alguns candidatos apresentam-se como distintos dos políticos tradicionais. No entanto, todos são farinha do mesmo saco.  “Político tradicional” tem conotação pejorativa: sujeito desonesto, mentiroso, hipócrita, enganador, sem espírito público, defensor de interesses particulares (seus e do seu grupo). Numa notação semântica, entende-se por político tradicional quem (i) dedica-se à vida pública em cargos eletivos como função profissional (ii) mantém o discurso na superfície (iii) ceva o eleitorado de modo permanente (iv) tem interesses, olhos e costumes eleitoreiros. 
Espertezas. Muita conversa e enrolação. Os candidatos não se deixam enganar com perguntas capciosas. Respondem como lhes convém. Fazem promessas inexequíveis. Projetos mirabolantes. Alguns exibem nível intelectual e cultural acima da média; abusam dos sofismas. Na argumentação e na credibilidade ficam abaixo de Lula que tem a seu favor o êxito incomparável do seu governo (2003-2010). As candidatas e os candidatos com formação universitária são bons no discurso. O candidato sem tal formação é carismático, excelente na ação política e administrativa e tem o afeto da massa popular. As candidatas e os candidatos intelectuais pensam e falam. O operário pensa, fala e faz. Os adversários apelam para as ofensas. O estadista permanece firme e incólume. 
Sobre promessas fáceis. Felipe, Simone, Soraia, Ciro, nos respectivos discursos, exibiram apoio à privatização, aos ruralistas e outros empresários, inclusive golpistas. Falaram sobre educação e ensino profissionalizante (que muito interessa aos donos do capital). Lula não só falou como também mostrou as realizações do seu governo na área da educação primária, secundária e universitária. Simone e Soraia defenderam a paridade de mulheres e homens, quer no Legislativo, quer no Executivo. Lula recusou-se a assumir tal compromisso e a fazer promessas fáceis, prometer o que não poderia cumprir, porque a escolha do auxiliar do presidente (ministro) não se faz pelo sexo, pela roupa ou pela farda e sim pela inteligência, pelo preparo moral e profissional e pela visão do mundo. 
Sobre corrupção. Houve troca de farpas e invasão do terreno pessoal. Atacaram Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) como se não houvessem: (i) outros partidos apoiadores do seu governo (ii) governos anteriores e posteriores onde ocorreram desvios éticos. No período posterior à ditadura militar, o governo Cardoso (PSDB) conquistou a taça do mais corrupto. Disputam (i) a medalha de prata, os governos Sarney e Bolsonaro (ii) a medalha de bronze, os governos Temer e Lula. O candidato que promete acabar com a corrupção ganha o troféu Pinochio. A corrupção física é lei do mundo da natureza. A corrupção moral é lei do mundo da cultura. Onde estiver a pessoa humana ali estará a corrupção moral em potência. As mudanças dos valores morais e da respectiva hierarquização na sociedade humana acontecem no curso da história dos povos. A corrupção moral mais grave refere-se aos valores protegidos pelo direito e violados pelas pessoas naturais. O crime é corrupção moral em grau máximo. Algumas pessoas sucumbem à tentação, aos impulsos, instintos, desejos, violam os limites estabelecidos na regra moral e na regra jurídica vigentes na sociedade e no estado. 
Na terra brasileira, tempos colonial, imperial e republicano, até os dias de hoje, a corrupção moral tem sido a companheira inseparável de todos os governos. Culpar este ou aquele partido por corrupção em tal ou qual governo constitui leviandade do acusador. O ato culposo é da pessoa natural e não da pessoa jurídica. Nem todo prefeito, governador ou presidente é culpado pela corrupção que acontece no seu governo. Ele será culpado se provada a sua participação direta ou indireta no ato delituoso. Não se há de responsabilizar o chefe de governo por atos de outros agentes políticos ou administrativos como se ele fosse chefe de família responsável pelos atos dos filhos menores de idade.   
Sobre o agronegócio. A ressalva de Lula foi para com os empresários ruralistas que não respeitam o meio ambiente e nem as terras indígenas. Ele mencionou a operação curitibana lava-jato que, além de perseguir os empresários acusados de práticas criminosas, também destruiu as empresas, ou seja, além de punir a pessoa física, puniu também a pessoa jurídica, trazendo enorme prejuízo à economia do país. Destarte, não é o agronegócio que deve ser punido ou extinto e sim o ruralista delinquente.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

ELEIÇÕES 2022 - XI

Na entrevista de ontem (25/08/2022, às 20,30 horas) no jornal da emissora Globo de televisão, com Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à presidência da república nas eleições marcadas para outubro/2022, parecia que, em certos momentos, os entrevistadores se davam conta de que estavam diante de um estadista de prestígio internacional. Faço esse registro ante a posição histórica dessa emissora e dos seus jornalistas de ferrenho combate a esse político e ao seu partido. Essa empresa e seus jornalistas apoiaram a farsa da operação lava-jato que levou o petista à prisão ilegítima e infame. 
A emissora e seus jornalistas trataram indevida e maliciosamente a entrevista como “sabatina”. Isto coloca o sabatinado em posição subalterna diante dos examinadores. O entrevistado comparece à sabatina como o aluno da escola diante da professora. De costas para o futuro e o presente, os entrevistadores olhavam de frente para o remoto passado, vendo o entrevistado como pobre e simples operário, sem diploma universitário, brasileiro de segunda categoria diante da elite social e econômica. Os entrevistadores com pretensa autoridade de professores e examinadores, revelaram-se politicamente tendenciosos, intelectualmente desonestos e moralmente deficientes. Exibiram deficiências comuns a certo tipo de jornalista: inteligência e cultura medianas, mau caráter e falta de profissionalismo. Muita pose e pouca substância. Sem pensamento próprio, eles dependem da cola estampada na tela do laptop ou passada pelo ponto de escuta.
O entrevistado mostrou-se nervoso como menino de calças curtas ao prestar exame final diante da professora. Certamente, ele aguardava feroz ataque dos entrevistadores, como de costume. O “sabatinado” cuidou muito bem do mérito do questionamento. A lhe dar respaldo, tinha o seu excelente governo (2003-2010) que o elevou à categoria de estadista e de melhor chefe de governo da história republicana do Brasil, com aprovação de 87% do povo. 
Entretanto, na entrevista, faltou-lhe habilidade ou vontade para criticar as premissas de algumas das perguntas que lhe foram endereçadas. Nesse tipo de crítica preliminar, Leonel Brizola era mestre. Ciro Gomes também mostra-se hábil e ágil na argumentação. Antes de entrar no mérito, Brizola criticava, e Ciro ainda critica, a formulação da pergunta. Depois, na parte nuclear da pergunta, Brizola dava a resposta que melhor lhe convinha, sem se importar com a opinião do entrevistador. Katia Abreu também assim procedeu certa ocasião ao responder pergunta formulada por Míriam Leitão.
Na entrevista de ontem, os entrevistadores mencionavam o Partido dos Trabalhadores (PT), sem mencionar os demais partidos aliados. Luiz Inacio não foi eleito em 2002, não governou e nem governará com o apoio de um único partido. Em 2023 ele governará com 7 partidos, ou, até mais se houver adesão. No entanto, os entrevistadores insistiam em bater só no PT, tal como fazem os demais adversários. Colocaram esse partido nos casos de corrupção sem a direta e enérgica impugnação do entrevistado. Este se limitou ao óbvio ululante: (i) a confissão dos corruptos (ii) a partilha do produto do roubo (iii) a tentativa dos procuradores de participar da partilha.
A responsabilidade pela corrupção é do indivíduo que a pratica e não da instituição a que pertence. Se o diretor da instituição sabe do fato ilícito e nada providencia a fim de apurar resposabilidades, então será cúmplice. Exemplo concreto: Petrobrás. Constatada corrupção, fulano e beltrano foram responsabilizados e não a empresa (que é vítima), nem o partido político a que pertencem os corruptos, menos ainda o presidente da república (salvo se provada a sua participação efetiva como mandante). Exemplo hipotético: Globo. Suponhamos que Bonner desvie dinheiro da emissora. O autor do delito que ficará sujeito a processo criminal será Bonner e não a Globo (que é a vítima) nem o partido social democrático (PSDB) a que ele supostamente pertence.
No governo Cardoso (1995-2002) o responsável pela corrupção era quem a praticou; tanto podia ser Fernando Henrique, Aécio Neves, ou qualquer outro tucano ou funcionário, menos o partido a que pertenciam. Ademais, o corrupto pode não pertencer a partido algum. Na administração pública direta e indireta funcionam pessoas de ambos os sexos e de diferentes cores ideológicas, filiadas e não filiadas a partido político, honestas e desonestas, dedicadas ao trabalho e preguiçosas. Há diversidade na pluralidade. O fato de a corrupção acontecer durante determinado governo não significa necessariamente que o governante (prefeito, governador, presidente) seja corrupto. A corrupção é falha na estrutura moral da pessoa e acontece em todos os governos, desde a independência do Brasil até a época atual. Ocorre nas esferas municipal, estadual e federal. Poucas vezes, a corrupção é descoberta e os responsáveis punidos. 
Divergir da filosofia política e do programa de um partido político faz parte do sistema democrático. Natural que a divergência proceda dos cidadãos e dos partidos de direita, principalmente da extrema direita, quando o partido criticado é de esquerda. Nazistas e fascistas não suportam cidadãos e partidos socialistas e comunistas. Contra os adeptos do socialismo, os nazifascistas usam até violência física. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

ELEIÇÕES 2022 - X

Considerados os 57 milhões de votos recebidos em 2018 pelo nazifascista, estima-se que, desse total, pelo menos, 28 milhões e 500 mil tenham sido os votos dos “evangélicos” e que os 28 milhões e 500 mil restantes tenham sido os votos dos nazifascistas somados aos votos da direita moderada. Dos 90 milhões de eleitores que não votaram no nazifascista em 2018, 47 milhões são da esquerda e 43 milhões são daqueles que votaram em branco (direita moderada e antipetistas da esquerda). 
Nas eleições presidenciais de outubro/2022, os números da eleição de 2018 não se repetirão. O corpo eleitoral aumentou de tamanho: de 147 milhões passou para 156 milhões de eleitores. A esquerda aliada à direita moderada terá mais votos e vencerá a extrema direita por larga margem. O estrago feito pelo atual governo na ordem econômica e na ordem social pesará muito em desfavor do candidato nazifascista. 
A reação da sociedade civil neste ano contra o nazismo e o fascismo foi extraordinária. Os manifestos de agosto/2022 contra a restauração da ditadura e a favor do estado democrático de direito foram o ápice da resistência. A eles foi acrescentada a especial solenidade de posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a presença do atual presidente da república, de 4 ex-presidentes, do presidente do Congresso Nacional, do presidente da Câmara dos Deputados, de embaixadores, de juristas e de representantes da sociedade civil. O discurso de posse do novo presidente do TSE foi direto e incisivo na defesa do estado democrático de direito, do processo eleitoral brasileiro e das urnas eletrônicas. Houve repercussão nacional e internacional.
Esse movimento social e político da maioria da nação brasileira bate de frente contra os propósitos autocráticos do presidente da república e dos seus asseclas. 
Sobre as lutas internas na magistratura das quais eu participei, José Aloysio, juiz de direito da Guanabara, meu colega de concurso e de toga (1973), dizia-me, do alto da sua mineirice: “Lima, você bate de frente; você obterá melhor resultado se for com calma e mais leve”. Esse criticado modo de lutar tinha raiz na arte marcial por mim praticada em academias (karatê: 1969-2003). Ficava difícil não bater de frente. Na política partidária, entretanto, o mais aconselhável é a arte suave do jiu-ji-tsu; o menos aconselhável é a arte traumática do karatê. Todavia, nas ocasiões de crise como a que atravessa o povo brasileiro, bater de frente contra a ditadura e seus adeptos afigura-se necessário, oportuno e conveniente, com bons e imediatos resultados, sem prejuízo da civilidade e do devido processo jurídico. 
Luiz Inácio Lula da Silva manteve na vida política partidária o modo traumático de lutar dos tempos de sindicalista. Venceu eleição para o Legislativo, porém, sofreu seguidas derrotas para o Executivo. Então, mudou de postura. A partir de 2002, evitou bater de frente contra os adversários e tudo o que o desgostava na política. Adotou a arte suave no ritmo “paz e amor”, comendo pelas beiradas, na feliz imagem do mingau criada por Brizola. Exemplo recente, foi a resposta de tranquila indiferença dada por ele às ofensas e às fanfarronices do Ciro Gomes. Não se há de perder tempo e gastar energia batendo em cachorro morto e tampouco se amedrontar com latidos exangues. 
Há ocasiões e situações em que o discurso retido no cérebro funciona mais do que o manifestado oralmente ou por escrito. Na juventude curitibana, no meu círculo de amizades, concordávamos que o homem que se gaba de comer fulana e beltrana era fanfarrão, machista, mau caráter. Quem não alardeava as suas relações sexuais e nem revelava o nome das parceiras era considerado discreto, bem educado, bom caráter. Há tempo de falar e tempo de calar. O silêncio também tem o seu significado e o seu momento próprio e oportuno. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

ELEIÇÕES 2022 - IX

1. Os endinheirados. Recentemente, Bill Gates, um dos homens mais ricos do mundo, disse que não gostaria que a sua filha contraísse núpcias com um homem pobre. Na opinião dele, pobre é quem obteve dinheiro sem mérito algum (herança, loteria) e que não tem capacidade para bem administrar o seu patrimônio. Rico é aquele que, mesmo sem dinheiro, mas, por seu próprio esforço, habilidade e inteligência, mostra-se capaz de obter renda, bem administrá-la e construir o seu patrimônio. 
Esse pensamento espelha a admiração que o povo estadunidense tem pelo homem que, a partir da pobreza ou de uma situação adversa, progride e enriquece por seu próprio esforço. 
Tal conceito não envolve critério moral ou espiritual. O rico em patrimônio, oriundo da pobreza ou não, pode ser delinquente, imoral e pobre de espírito. A conduta do rico na sociedade civil evidenciará a sua honestidade ou desonestidade, a sua moralidade ou imoralidade, o seu egoísmo ou altruísmo, a sua solidariedade ou indiferença, a sua compaixão ou soberba, a sua vocação autocrática ou democrática. 
2. O dinheiro na política. Veio a público, nesta semana, a confabulação de 8 homens, ricos empresários que, no grupo de WhatsApp “Empresários & Política”, tramavam desobediência ao resultado das eleições presidenciais de outubro/2022, caso o vencedor fosse o candidato Luiz Inacio Lula da Silva.
Dentro do atual cenário político brasileiro em que o presidente da república, amigo desses empresários, manifesta o mesmo intuito de se opor ao resultado das urnas, a citada confabulação reveste caráter de conspiração. Não se trata, pois, de simples opinião, de juízo intermediário entre a certeza e a dúvida, de mero parecer ou pensamento inconsequente. Trata-se, isto sim, de premeditada intenção de atacar o processo eleitoral, de troca de ideias e de propósitos entre empresários para perpetrar golpe de estado no plano concreto da disputa eleitoral em curso. 
3. O dinheiro no crime. No mínimo, as mensagens trocadas entre os empresários constituem veementes indícios de crime contra o processo eleitoral brasileiro previsto na lei 14.197/2021; portanto, crime contra o estado democrático de direito. Ao propor resistência, inclusive armada, na hipótese muito provável de o candidato nazifascista ser derrotado nas eleições, o grupo de empresários está (i) exercendo a liberdade de expressão para destruir a liberdade e contrariar a vontade do povo depositada nas urnas (ii) usando as franquias democráticas para destruir a democracia.
A manifesta intenção de golpear já é suficiente para perturbar o processo eleitoral em andamento. Isto mais se acentua quando há possibilidade jurídica de qualquer candidato apresentar reclamação escrita. Se há o direito, a ameaça de exercê-lo fora do devido processo legal tipifica subversão, revela o intuito de se opor à forma democrática de governo estabelecida na Constituição da República. 
4. O delegado e o juiz. Compete ao juiz: (i) examinar a legalidade, a necessidade, a utilidade e a oportunidade das diligências pedidas pelo delegado de polícia (ii) autorizá-las ou não (iii) deferir ou indeferir os pedidos formulados pelo delegado de polícia no curso do inquérito policial, ou por cidadãos e entidades representativas. Para tanto, o juiz independe da oitiva do ministério público, da concordância ou discordância do promotor ou do procurador. Com essa independência, eu mesmo atuei quando era juiz de direito em vara criminal no Rio de Janeiro, inclusive para agilizar investigações evitando as idas e vindas dos pedidos do delegado para o juiz, do juiz para o ministério público, do ministério público para o juiz, do juiz para o delegado de polícia.
Portanto, corretas e oportunas as medidas autorizadas pelo ministro do supremo tribunal no caso em tela. Descabida a comparação entre o ex-juiz Moro e a operação lava-jato de um lado e, de outro, o ministro Moraes e a atual investigação dos empresários. Moro usou o poder jurisdicional de modo malicioso e parcial para fins ilícitos. Moraes usou o poder jurisdicional de modo correto, firme e imparcial para fins lícitos.


terça-feira, 23 de agosto de 2022

ELEIÇÕES 2022 - VIII

Na campanha eleitoral deste ano, o eleitorado protestante tem sido disputado pelos candidatos da direita e da esquerda. Nesse campo religioso, vê-se unidade de pensamento e de ação e tendência ao radicalismo à direita do espectro político. No entanto, a vida e os ensinamentos de Jesus, o Cristo, situam-se à esquerda desse espectro. No campo católico, há pluralidade: liberais, socialistas, nazifascistas, tanto no seio do clero como entre os fiéis. Católicos e protestantes apegam-se à prosperidade material enquanto o Cristo, na sua pregação, aponta para a prosperidade espiritual. 
Não ajunteis para vós tesouro na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouro no céu. Porque onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração.  
Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.  
Ai de vós, ricos, (i) porque tendes a vossa consolação (ii) que estais fartos, porque vireis a ter fome. O homem que entesoura para si mesmo não é rico para Deus. Considerai os lírios como crescem; não fiam, nem tecem; contudo, digo-vos, nem Salomão em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Como é difícil aos ricos entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo duma agulha do que o rico entrar no reino de Deus. 
[Mateus 6 : 19/21;  Marcos 12 : 17; Lucas 6 : 24/25 + 12 : 21,27 + 18 : 24/25].
A moeda não é de Deus e sim do estado (César). O dinheiro não é coisa divina e sim humana. Padres e pastores apegados ao dinheiro enriquecem, acumulam vasto patrimônio, gozam de elevado padrão de vida, constroem casas e templos suntuosos. Os fieis têm modesto padrão de vida, dificuldades para a subsistência, famílias sem comida e sem teto, Indiferentes à pobreza de parcela do rebanho humano, pastores exigem o pagamento do dízimo à igreja. Parte dessa receita vai para o cofre particular dos pastores. Muitos deles compõem a camada social dos milionários nos países americanos. 
Se as palavras de Jesus forem verdadeiras, então o inferno é o destino desses padres, pastores e de todos que, como eles, são escravos do dinheiro. Alias, a essa gente aplicam-se as palavras de Isaías repetidas por Jesus diante dos fariseus: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. 
Ao estado (César), a política; a Deus, a religião. Jesus distinguiu as duas ordens de interesses e os modos éticos de cultivá-las. De um modo geral, os pastores protestantes fazem tábula rasa das palavras e do exemplo do Cristo. Eles misturam política, religião e terapêutica. Usam maliciosamente a Bíblia e o nome de Jesus a fim de condicionar a mente dos crentes. Candidatam-se a cargos públicos eletivos. Introduzem a prática religiosa na administração pública. Contornam a laicidade do estado. Colocam-se como intérpretes exclusivos da vontade de Deus. Atribuem-se poder de cura igual ao de Jesus. 
No plano concreto da campanha eleitoral ora em andamento no Brasil, a unidade dos “evangélicos” está trincada por causa (i) da péssima gestão administrativa do governo federal (ii) da imoral conduta do “evangélico” presidente da república (iii) da penúria da camada pobre da comunidade “evangélica” (iv) da violação dos mandamentos de Cristo: não mates, não furtes, não digas falso testemunho, não cometas fraudes. [Marcos 10:19]. 
O “terrível evangélico” não é nada cristão..  

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O PASSADO PUNÍVEL

A escritora Patrícia Mello, no seu artigo que circulou pelo WhatsApp sobre o livro “Those Who Forget” de Géraldine Schwarz, diz que essa escritora franco-alemã conta que (i) o seu avô, filiado ao partido nazista, adquiriu de um judeu, por preço abaixo do mercado, uma companhia de gás (ii) o judeu tinha urgência de sair da Alemanha nazista (iii) depois da guerra, o judeu exigiu a devolução do que vendera (iv) o seu avô insistiu na licitude ética e jurídica do negócio, mas acabou por indenizar o judeu (v) a sua avó também adquiriu em leilão bens dos quais os judeus tinham sido expropriados (vi) o holocausto tornou-se um elemento definidor na identidade histórica da Alemanha, superando o discreto charme do nazismo proveniente da política do governo alemão voltada para o bem-estar, a justiça social, as donas de casa, a taxa zero de desemprego e a grande oferta de entretenimento. No seu comentário ao livro, Patrícia diz (i) que a Alemanha criticou o seu passado, admitiu a sua culpa e responsabilidade e reconstruiu o ethos democrático; (ii) que o Brasil também devia cuidar das duas feridas: a escravidão e a ditadura, fazer um acerto de contas com o passado de crimes dos quais os brasileiros foram cúmplices por conformismo, oportunismo, indiferença, cegueira ou medo. O artigo de Patrícia e o livro de Géraldine merecem ponderação diante dos fatos históricos.
Derrotada na guerra de 1914-1918, a Alemanha defrontou-se com inflação avassaladora. Disto, os judeus se aproveitaram para adquirir dos alemães bens móveis e imóveis a preço baixo. Nas chefias do governo em 1933 e do estado em 1934, vigente a Constituição Social Democrática de 1919 (Weimar), Adolf Hitler e o seu partido nacional socialista dos operários alemães, apoiados pelo parlamento, pela elite financeira e pela massa popular, superaram a crise e fizeram da Alemanha a maior potência econômica e militar do planeta. Pelos crimes de que são acusados, a responsabilidade moral é coletiva (governantes + governados) e a responsabilidade jurídica é individual (de quem os praticou). Algumas dessas acusações colidem com o princípio universal de direito penal: nullum crimen nulla poena sine lege
Multidões compareciam aos comícios do Führer. Compartilhavam dos seus sonhos de grandeza; orgulhavam-se da superioridade ariana; aplaudiam o projeto de afirmação nacional e de expansão territorial; testemunhavam o tráfego de trens em direção aos campos de concentração e extermínio. O nazismo era aceito, admirado e respeitado não só pelo povo alemão, mas, também, por outros povos da Europa, da Ásia e da América (inclusive o Brasil). Na ancestralidade de qualquer teuto-francês, ou teuto-brasileiro, encontram-se cidadãos comuns, funcionários públicos, membros do partido e das forças armadas, vinculados à ideologia nazista. Disto, os avós de Géraldine servem de exemplo. Ainda hoje, no Brasil, há nazistas tanto na elite econômica e social como na massa popular.  
O governo nazista iniciou a sua queda com (i) a volúpia dos governantes (ii) o deslumbramento pelo notável êxito alcançado (iii) a ilimitada ambição para dominar todos os povos da Europa continental e insular. Ao atacar a Inglaterra e a Rússia, ao mesmo tempo, o governo nazista assinou o seu atestado de óbito. Os ingleses foram socorridos pelos americanos; os russos usaram potência própria; aliados, eles empurraram os soldados alemães de volta a Berlim. O nazismo, então, passou a ser considerado o lobo mau. No período da pujança, os alemães compravam por baixo preço os bens móveis e imóveis dos judeus que fugiam da Alemanha. Adquiriam os bens mediante tratativas bilaterais entre civis, ou, nos leilões. Após a derrota da Alemanha (1945), os judeus, espertamente, pediram a devolução daqueles bens comprados pelos alemães civis. A esperteza dos judeus está mencionada na insuspeita narrativa do professor Norman G. Finkelstein, judeu estadunidense, no seu livro “A Indústria do Holocausto” (São Paulo, Editora Record, 2001). 
Quanto à escravidão, trata-se de fenômeno social e econômico do mundo civilizado que acontece desde a Antiguidade. Em cada época e em cada cultura, cada povo apresenta a sua justificação. Na terra do pau-brasil, os índios e os negros foram escravizados pelos portugueses para fins mercantis e para trabalhos domésticos (1500 -1825). Nessa época, o Brasil não existia como nação e nem como estado soberano; era colônia portuguesa na América. Como estado soberano, o Brasil nasceu em 1825 ao celebrar a paz com Portugal e findar a guerra da independência. A partir daí, a nação brasileira vai se formando: mazombos + índios e negros ladinos (aculturados) + caboclos + mulatos + cafuzos + imigrantes europeus e asiáticos. Aproximadamente, a escravidão dos negros durou 287 anos sob o governo português (1538-1825) e 63 anos, sob o governo brasileiro (1825-1888). Nos períodos colonial e imperial, a massa popular era passiva, rebanho conduzido primeiro pela nobreza e elite financeira de Portugal e depois, pela nobreza e elite financeira do Brasil. A passividade do povo brasileiro se manteve inclusive diante do golpe militar que substituiu a monarquia pela república (1889). 
Quanto à ditadura, trata-se de forma autocrática de governo republicano praticada desde a Roma antiga. No século XX, essa forma de governo vigorou na Europa e na América (inclusive no Brasil). O poder político é exercido autoritariamente por um indivíduo, ou, por um grupo dominante, sem a participação da massa popular. Liberdade individual e direitos fundamentais vigoram fracamente com eficácia restrita. Na autocracia e na democracia latino-americanas o poder político fascina, embriaga e enriquece todos que o exercem. 

  

  

   



quinta-feira, 11 de agosto de 2022

MANIFESTOS

No dia 11 de agosto de 1827, a fim de aparelhar a política e a administração pública com pessoal confiável, o imperador Pedro I, ainda no ardor da luta pela independência do Brasil, assinou a carta imperial de fundação dos dois primeiros cursos de ciências jurídicas e sociais do Brasil: o da cidade de Olinda, instalado no mosteiro de São Bento (Norte do Brasil) e o da cidade de São Paulo, instalado no convento de São Francisco (Sul do Brasil). Ambos passaram a funcionar no ano seguinte. Cinco anos depois, formaram os primeiros bacharéis em terra brasileira. Antes, só Coimbra oferecia o curso de direito. Poucas famílias podiam enviar os filhos a Portugal. O governo português só reconheceu a soberania do Brasil em 1825, ao celebrar a paz e ser indenizado.
No dia 11 de agosto de 1977, nas arcadas da vetusta Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, localizada no Largo de São Francisco, região central da capital paulista, foi lido publicamente um manifesto contra a ditadura militar e a favor da redemocratização do país. Intitulado Carta aos Brasileiros – Proclamação de Princípios, o manifesto escrito e lido pelo professor Goffredo Telles Junior, ao ensejo do sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil, repercutiu nacionalmente e inspirou outros movimentos. 
No dia 11 de agosto de 2022 (hoje), na vetusta Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, foram lidos publicamente dois manifestos em defesa da democracia: (i) um elaborado pela elite econômica e lido no salão nobre da faculdade, precedido de pronunciamentos do diretor e de representantes dos trabalhadores, estudantes, professores, artistas, juristas e movimentos sociais (ii) outro elaborado pela elite intelectual e lido a quatro vozes no pátio das arcadas, precedido de pronunciamentos do diretor da faculdade e da presidente do centro acadêmico e sucedido pela execução do hino nacional. Esses manifestos receberam apoio da massa popular. O da elite intelectual foi subscrito por quase 1 milhão de pessoas; o da elite econômica, por dezenas de entidades. Houve leituras no Distrito Federal e nos estados federados, dentro e fora de universidades, numa formidável comunhão nacional. 
Na faculdade paulistana de direito retro citada, eu frequentei, sem apresentar dissertação final, o curso de especialização em filosofia e sociologia jurídicas ministrado pelo professor Miguel Reale (1968). O conhecimento haurido nesse curso ampliou a minha compreensão do direito e muito contribuiu para minha aprovação em dois concursos públicos: um para a magistratura do Paraná (1970) e outro para a magistratura da Guanabara (1973). 
O atual presidente da república, obtuso líder do nazifascismo no Brasil, apelidou de “cartinha” o manifesto da elite intelectual gerado na faculdade de direito do Largo de São Francisco. O tratamento pejorativo é mais um dos elementos reveladores da ignorância e do despeito desse presidente por não ter o apoio das mais refinadas expressões da inteligência e da cultura da nação brasileira. Com tal censurável atitude, ele patenteou a sua boçalidade. Para aumentar o seu desgosto, milhares de pessoas (talvez supere 1 milhão) subscreveram a "cartinha" e inúmeras compareceram aos locais de leitura, ouviram e aplaudiram. Além disto, o texto circulou pela rede de computadores, por jornais impressos e por canais de televisão, para conhecimento geral dos brasileiros e de outros povos.
Manifestar significa externar, desabafar, tornar público o que era privado, expor o que estava oculto, libertar o potencial de alguma coisa (como o átomo, por exemplo). Manifesto significa tanto a ação de manifestar como o seu resultado (explosão, erupção, passeata, comício, documento). A natural liberdade de expressão permite às crianças, aos adolescentes e adultos de ambos os sexos manifestarem seus pensamentos, sentimentos, vontades, desejos, intenções, por diferentes modos (oral, escrito, gestual, birra, direto, simbólico), diferentes lugares (lar, escola, empresa, sindicato, teatro, praça pública) e diferentes veículos de comunicação (jornal, revista, livro, rádio, cinema, televisão, rede de computadores, telefone celular).
Os dois manifestos hoje lidos enaltecem o estado democrático de direito e se posicionam contrários ao regime autocrático de governo. Os sintomas do mal despertaram a consciência do bem e provocaram a reação da sociedade civil. A escuridão em que se encontra a alma brasileira necessita da luz da razão. Os abusos no exercício da autoridade são frequentes. Nação debilitada, cidadania manietada, dignidade humana pisoteada, princípios constitucionais violados. Extremas desigualdades nos campos econômico e social. Milhões de pessoas passando fome. Milhares de pessoas mortas por omissão do governo na pandemia. Explícita discriminação por causa da origem, sexo. cor, raça e orientação sexual das pessoas. Meio ambiente degradado em proveito de grileiros, garimpeiros e fazendeiros e em prejuízo dos povos da floresta. Poderes da república estremecidos pela vocação beligerante e autoritária do chefe de governo. Legislação e jurisdição desvirtuadas. Militarismo e avanço nazifascista. Corrupção nas esferas pública e privada. Orçamentos públicos secretos. Propostas de emendas à Constituição com o imoral propósito de proteger criminosos do colarinho branco.


quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O MAL PERENE

Mulheres e homens em suas comunidades buscam: (i) o bem em tudo o que lhes conforta a alma: justiça, verdade, bondade, beleza, santidade (ii) o bom em tudo o que lhes for necessário e útil: ar, água, alimento, agasalho, abrigo, fogo, parceria sexual. A natureza fornece-lhes matéria de subsistência e neles desperta apetites, desejos, vontades, sentimentos e pensamentos. O trabalho permite-lhes realizar os seus objetivos. Dessas vivências conexas, vistas como unidade psicossomática e consciência social, resultam normas de cunho religioso, ético e jurídico configuradoras do mundo da cultura. A violação dessas normas significa o mal na sociedade humana. Para o infrator, o castigo é um mal; para a sociedade, um bem. Há vários tipos de castigo: excomunhão, exoneração, exílio, expropriação, multa,  constrição, amputação, prisão, morte (veneno, fogueira, forca, fuzilamento, cadeira elétrica, injeção). 
A domesticação do animal humano pela educação e pelo castigo integra o mundo da cultura no interior do mundo da natureza. A doutrina religiosa nega – a teoria científica afirma – a natureza animal da espécie humana. O homem é um animal racional e político (Aristóteles). “O credo metafísico” [religioso, místico] “é uma consequência equivocada das emoções, embora essa emoção, colorindo e informando todos os outros pensamentos e sentimentos, seja inspirador do que há de melhor no Homem” (Bertrand Russell). 
Comum é atribuir o mal aos outros. Depois da guerra mundial (1939-1945) os EUA assumiram a postura de delegados de Deus e defensores do bem. Rotularam a URSS de império do mal. O capitalismo é o bem. O socialismo é o mal. A república é o bem. A monarquia é o mal. O cinema serviu de veículo da propaganda do poderio econômico e estratégico dos EUA. Nos filmes, o herói é americano branco e o vilão é russo, índio ou negro. Nos filmes israelenses da atualidade, o judeu é o herói e o árabe é o vilão. 
O bem e o mal são coetâneos do homem, companheiros inseparáveis da humanidade. A dualidade angelical/diabólica da natureza humana responde pela perenidade do bem e do mal. A humanidade melhora ou piora conforme a primazia seja dada (i) ao polo angelical, conjunto positivo de pensamentos, sentimentos e condutas ou (ii) ao polo demoníaco, conjunto negativo de pensamentos, sentimentos e condutas. 
Das leis, dos tratados internacionais, das declarações de direitos, constam o apreço pelo bem e o desprezo pelo mal. Textos religiosos e moralistas apostam na vitória do bem sobre o mal. Inventam (i) paraíso celestial como feliz destino dos praticantes do bem (ii) inferno como infeliz destino dos praticantes do mal. Absolutos no plano conceitual, bem e mal são relativos no plano empírico. O bem no passado pode ser o mal no presente. O mal no passado pode ser o bem no presente. Esse passado pode ser de milênios, de séculos, ou de anos, conforme a velocidade das mutações culturais em cada época e em cada região do planeta. O mal pode despertar a consciência para o bem.  
A colonização da América revestiu-se de maldade. Nativos e africanos escravizados receberam tratamento cruel. Os colonizadores castelhanos e portugueses tinham motivo mercantil e justificativa religiosa. 1. Explorar as riquezas minerais e vegetais das colônias em benefício da Espanha e Portugal. 2. Propagar a religião cristã. Jesuítas e franciscanos tinham por missão evangelizar os índios, salvar-lhes as almas, amoldá-los à civilização, livrá-los do mal. Tratavam os índios como bárbaros sem lhes reconhecer cultura e humanidade. 
Os navegantes europeus civis, militares e religiosos, invasores da terra do pau-brasil, estavam autorizados pelo rei e pela igreja a combater o mal. Isto implicava distribuir justiça, manter a ordem, domesticar os índios, preservar a vida dos submissos e tirar a vida dos insubmissos. Dentre os índios (i) submissos, muitos morreram em consequência das moléstias de que eram portadores os europeus (ii) insubmissos, muitos foram mortos pelas armas dos bandeirantes e dos mestiços. 
“Mal necessário em defesa de um bem maior”. Tal tem sido a justificativa para as atrocidades praticadas pelos donos do poder no curso da história.
Antes da descoberta da América, Dom Henrique de Avis (1394-1460), católico fervoroso, irmão do rei de Portugal, já apresentava essa justificativa salvacionista. As velas dos seus navios ostentavam a cruz de Cristo. Segundo ele, os tempos do Pai e do Filho haviam passado. Iniciava-se agora o milênio do Espírito Santo que traria amor e alegria. Para maior glória de Deus, seriam convertidos ao cristianismo os nativos e os muçulmanos que fossem encontrados nas terras a serem descobertas. A profecia para o milênio 1400-2400 ainda não se tornou realidade, ao contrário, os canais da maldade se multiplicaram e se universalizaram. Amor, paz, alegria, são momentos efêmeros nos intervalos dos conflitos. Ódio, hipocrisia, competição selvagem, guerra, são de usual constância. A eficácia das leis nacionais e dos tratados internacionais dura só enquanto atendem aos interesses do mais forte. Os direitos e interesses dos vulneráveis são negligenciados. 
No Brasil, a sociedade e o estado regurgitam maldade. Vitória do mal sobre o bem. Escuridão da alma brasileira. Frequentes abusos no exercício da autoridade e da liberdade. Nação debilitada. Cidadania manietada. Dignidade humana pisoteada. Extremas desigualdades nos campos econômico e social. Pessoas passando fome, aos milhões. Pessoas mortas por omissão do governo na pandemia, aos milhares. Poderes da república estremecidos. Militarismo. Legislação e jurisdição desvirtuadas. Sinais da certeza de impunidade: 1. Democracia desafiada abertamente no avanço do nazifascismo 2. Corrupção desenfreada nas esferas pública e privada 3. Explícita discriminação em razão da cor, raça e sexo das pessoas 4. Orçamentos públicos secretos 5. Mudança na Constituição a fim de proteger criminosos do colarinho branco.