domingo, 29 de outubro de 2023

TITICA JUDIA & ÁRABE

Oriunda do deserto da Arábia, a pequena e insignificante tribo, chefiada por um aventureiro semita chamado Abrão, chega e se instala em Ur, cidade da Caldeia, na Mesopotâmia, por volta do ano 1400 ou 1300 antes da era cristã (a.C.). Depois de alguns anos, a tribo se desloca para oeste, entra e se assenta em Canaã, área situada no litoral do Mar Mediterrâneo. Entre tapas e beijos com os nativos cananeus, os membros da tribo de Abrão recebem o nome de “hebreus” com o duplo significado de “nômades” e “bandidos”. Vindos da Ásia Menor e das ilhas do Mar Egeu, os filisteus aportam em Canaã, assentam-se e dominam os cananeus e os hebreus. De filisteu derivou o nome Palestina (filistina) como se tornou conhecido o país, em substituição ao nome Canaã. Organizado em monarquia por volta do ano 1000 ou 900 (a.C.), o povo hebreu, sob liderança de Davi, seu segundo rei, finalmente derrotou o povo filisteu. O território do reino filisteu ficou reduzido a uma pequena e estreita faixa na fronteira com o Egito, sul da Palestina (Gaza). O território restante ficou sob o poder soberano do rei hebreu. 
Com a morte do vaidoso, perdulário e medíocre rei Salomão, sucessor do rei Davi, a nação hebraica dividiu-se em dois reinos: (i) o do norte, denominado Israel, capital Samaria, composto de dez tribos (ii) o do sul, denominado Judá, capital Jerusalém, composto de duas tribos. Os dois reinos foram destruídos. Primeiro, o do norte, em 722 (a.C.), pelos assírios. Por último, o do sul, em 586 (a.C.), pelos caldeus. Sem pátria, israelitas e judeus espalharam-se por diversos países. 
Ciro, rei da Pérsia (Irã), ao vencer os caldeus, faz da Palestina um estado vassalo (539 a 332 a.C.). O rei persa permite, então, que os judeus retornem a Jerusalém (muitos preferiram ficar onde estavam). Depois disto e sucessivamente, a Palestina: [1] Em 332 (a.C.), cai sob o domínio da Macedônia [2] Em 63 (a.C.), torna-se protetorado de Roma. Na era cristã, a revolta armada dos judeus contra o domínio romano fracassou. Os judeus foram expulsos, Jerusalém foi destruída e a Palestina virou província de Roma no ano 70 (d.C.). A partir daí, a diáspora durou séculos com os judeus apátridas dispersos por diferentes países. 
Na Idade Moderna, gerações de israelitas e judeus emigraram, paulatinamente, dos seus países para a Palestina. Após a segunda guerra mundial, a Organização das Nações Unidas reconheceu a existência política e jurídica dos israelitas e judeus como estado soberano com o nome de Israel e território delimitado no interior da Palestina (1948). 
Vista em sua extensão territorial, a Palestina é uma titica de galinha na qual se remexem, exalando fedor, os povos de Israel, da  Cisjordânia e de Gaza. Os seus conflitos desbordam para países fronteiriços, como Egito, Líbano, Síria, Jordânia e para países próximos, como Turquia, Iraque, Arábia Saudita e Irã. Comparados com o espaço territorial desses e de outros países da África, da América, da Ásia e da Europa, os minúsculos territórios de Israel, Cisjordânia e Gaza são titicas. Neles vivem 14 milhões e 510 mil habitantes. Os hebreus (israelitas + judeus) compõem 70% dessa população.
[Dados geográfico e demográfico para comparação: 1. Numa pequena e estreita faixa do litorial brasileiro ocupada pelo Estado do Rio de Janeiro concentram-se mais de 16 milhões de habitantes. 2. A Palestina (Israel + Cisjordânia + Gaza) é 12 vezes menor do que o Estado do Rio Grande do Sul. 3. A sua área é igual à área do Estado de Alagoas]. 
Essas titicas têm diferentes forças protetoras. A favor de Israel colocam-se: Estados Unidos da América (EUA), Reino Unido e países satélites americanos e europeus. A favor de Gaza (talvez, a mais antiga cidade do planeta) e da Cisjordânia, colocam-se: China, Cuba, Rússia e países satélites asiáticos e africanos. Milhares de seres humanos de ambos os sexos e de todas as idades, vítimas da crueldade da guerra, estão sendo mortos, feridos, torturados, perdendo a liberdade e os seus bens. 
A propaganda favorável a Israel tem sido intensa, mentirosa e maliciosa, tanto a direta como a subliminar. Os hipócritas partidários do genocídio mostram-se numerosos no mundo, a começar pelo presidente dos EUA. Eles declaram (a) horror ao racismo, ao genocídio e à tirania (b) amor à vida, à democracia, à liberdade e à igualdade. Contudo, no plano dos fatos, por ação e omissão, eles (inclusive brasileiros) deficientes morais, comportam-se em sentido contrário. Entrevados espiritualmente, eles tentam encobrir: [1] o genocídio e a limpeza étnica promovidos pelos hebreus [2] o ilegal e criminoso propósito de expansão territorial do estado israelense.   
Os defensores dos crimes praticados pelo governo de Israel fazem corte cirúrgico num dos polos do conflito. Isolam o Hamas e o Hezbollah como se os ataques israelenses fossem apenas contra os militantes desses dois grupos e não contra a comunidade árabe. Hamas exerce o direito de resistência à opressão hebraica. A retaliação israelense foi desproporcional ao ataque sofrido em 7 de Outubro. Por evidente e censurável oportunismo, Israel aproveita-se da ocasião, não só para se vingar como, também, para executar o seu antigo projeto de exterminar a comunidade árabe.
Ao qualificarem os árabes de “raça de animais sub-humanos”, os nazistas judeus colocam-se numa posição de superioridade racial. O excesso de poder e de violência por eles praticado tipifica abuso do direito de defesa. Na guerra, infelizmente, amor, compaixão, sensatez, moralidade e juridicidade nada valem. Imperam ódio, estupidez e sordidez, a impactante expressão do elemento diabólico constituinte da natureza humana.

domingo, 22 de outubro de 2023

FUTEBOL

Nos jogos eliminatórios das seleções masculinas de futebol da América do  Sul, visando a classificação para a copa mundial de 2026, a brasileira venceu de modo folgado a da Bolívia e de modo apertado a do Peru, empatou com a da Venezuela e perdeu para a do Uruguai. Este sucessivo decréscimo nos resultados não significa decréscimo da capacidade dos jogadores e treinador e sim aumento da força adversária. Isto indica diminuta probabilidade de vitória nos próximos jogos contra as seleções da Colômbia e da Argentina (16-21/11/2023). 
A robotização do futebol iniciada com a seleção holandesa de 1974, aprimorou o jogo coletivo, mas, diminuiu o espaço do improviso e da criatividade pessoal. Hoje, nota-se em todos os continentes: (i) a prática do futebol europeu padronizado (ii) o individual trato artístico da bola por jogadores brasileiros imitado por estrangeiros. A importância do treinador ultrapassou a do jogador. Interiorizada na mente, a robotização faz a equipe se apresentar da mesma forma quando vence, empata ou perde. Os jogadores obedecem ao planejamento tático do treinador. Assim, firma-se a disciplina coletiva. 
A mercantilização influi no futebol de maneira mais incisiva nos países subdesenvolvidos. O fator moeda supera o fator chuteira. A prioridade passou a ser o dinheiro para os cofres das entidades esportivas e para os cofres particulares dos dirigentes, treinadores, jogadores e corretores. A mercantilização influi na escolha dos atletas para a seleção nacional. O patrimônio material obscurece o patrimônio moral e conforma o setor social. A função de competir fica em posição subalterna no cenário esportivo. 
Destarte, a história do futebol pode ser dividida em dois períodos: antes e depois da robotização e da mercantilização, tomando-se como divisor o ano 1970. 
1. Período romântico: 1930 a 1970. Prevalecem o amor à camisa e o amor  à arte de jogar futebol. O brasileiro Arthur Friedenreich, genial jogador da primeira metade do século XX, contestou a profissionalização. Ele temia os efeitos negativos disto no esporte. No período romântico, as seleções brasileiras foram: (a) três vezes campeãs mundiais ao vencerem as copas de 1958 na Suécia, a de 1962 no Chile e a de 1970 no México (b) duas vezes vice-campeãs mundiais ao disputarem as partidas finais nas copas de 1950 no Brasil e de 1966 na Inglaterra. Desse período, entre os brasileiros que encantaram o mundo esportivo podem ser citados, em ordem cronológica: Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé. Ainda podem ser destacados, entre outros, em ordem alfabética: Ademir Menezes, Amarildo, Carlos Alberto, Djalma Santos, Domingos da Guia, Fausto, Gérson, Heleno, Jair, Jairzinho, Nílton Santos, Rivelino, Tostão, Vavá, Zagalo. 
2. Período robótico/mercantil: 1974 a 2022. Nesse período, a tecnologia e o mercantilismo envolvem o profissionalizado esporte. Os atletas passaram a jogar mais pela harmonia do conjunto em campo e pelo dinheiro. As seleções brasileiras foram: (a) duas vezes campeãs mundiais ao vencerem as copas de 1994 nos Estados Unidos da América e a de 2002 na Ásia amarela (b) duas vezes vice-campeãs ao disputarem as partidas finais nas copas de 1998 na França e de 2014 no Brasil. Desse período, entre os brasileiros que encantaram o mundo esportivo podem ser citados, em ordem cronológica: Zico, Romário, Ronaldo Nazário e Ronaldinho Gaúcho. Ainda podem ser destacados, entre outros, em ordem alfabética: Ademir da Guia, Adriano, Alex, Cafu, Djalminha, Falcão, Geovani, Hulk, Juninho Pernambucano, Júnior, KK, Leandro, Lucas Moura, Luís Pereira, Marcelo, Pato, Rivaldo, Roberto Carlos, Sócrates, Thiago Silva, Zé Roberto, Zinho. 
Nenhum país tem a quantidade de excelentes jogadores como o Brasil. Por isto, fica difícil selecioná-los. Nas listas acima, por exemplo, cabem centenas, tais como: (1) goleiros: Ado, Barbosa, Castilho, Dida, Gilmar, Leão, Marcos, Poy, Rogério Ceni, Taffarel, Velloso (2) defensores e armadores: Branco, Clodoaldo, Juan, Lúcio, Marcos Assunção, Mauro Silva, Pinheiro (3) atacantes: Bebeto, Careca, Coutinho, Dener, Dirceu Lopes, Edmundo, Miller, Nelinho, Neto, Palhinha, Reinaldo, Roberto Dinamite, Zito.
Atualmente, há bons goleiros, defensores, armadores e atacantes, alguns deles convocados para a seleção brasileira. Há jogadores e treinadores bons em seus clubes, porém, sofríveis na seleção nacional. O treinador italiano cogitado pela imprensa brasileira nunca treinou seleção alguma. Portanto, não há certeza de que ele terá êxito na empreitada, caso aceite dirigir a seleção brasileira. Até o momento, sempre que provocado, Ancelotti nega entendimento com a Confederação Brasileira de Futebol e afirma sua intenção de permanecer à frente do Real Madrid.

domingo, 15 de outubro de 2023

ISRAEL versus PALESTINA

Nas relações humanas, a busca da verdade e da justiça é incessante porque o falso e o injusto são de uso constante. A mentira está presente na diplomacia e na propaganda. As opiniões veiculadas pelos jornais, pelas emissoras de rádio e televisão e pela rede de computadores, têm que ser filtradas, pois, via de regra, carregam mentiras camufladas. A propaganda universalizou e coloriu a mentira, tornando-a palatável e apta a enganar. O sítio Brasil 247 da rede de computadores publicou, no dia 17/08/2023, o substancioso artigo “Robert F. Kennedy Jr. O Idiota Útil do Lobby de Israel”, sobre a propaganda do governo de Israel e o encobrimento dos horrores e crimes praticados pelos judeus. Chris Hedges, autor do artigo, jornalista estadunidense, trabalhou durante 7 anos em Israel como correspondente do New York Times. Segundo a sua opinião, o governo judeu nivelou-se ao governo da Alemanha nazista. “Israel de Fantasia”, foi o apelido dado à falsa imagem construída pela máquina de propaganda do governo israelense. O jornalista mencionou o holocausto na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e o apartheid impostos aos palestinos, criticou a manobra jurídica que ampara antigo projeto judeu de limpeza étnica na Palestina, relatou a subnutrição e o elevado índice de desemprego dos palestinos, a morte de milhares de palestinos de ambos os sexos e de todas as idades, a dificuldade ou impossibilidade de acesso a água, alimentos, remédios e energia elétrica, as torturas, o bombardeio de casas, hospitais, escolas, ataques indiscriminados e nada “cirúrgicos”, referiu-se às mentiras dos judeus para justificar o genocídio, ao racismo, ao nacionalismo e ao fascismo dos judeus, à proibição de casamentos entre judeus e palestinos, e ao arremedo de democracia.
[Excertos do artigo “Verdades & Mentiras” publicado neste blog em 20/08/2023].
Alguns veículos progressistas da média brasileira questionaram o qualificativo “terrorista” dado ao Hamas pelos governos dos Estados Unidos da América (EUA) e de Israel e pela indecorosa média corporativa satélite. Lembraram que a Organização das Nações Unidas (ONU) não atribui tal qualificativo ao Hamas. Os grupos defensores da liberdade e dos direitos dos seus povos oprimidos são qualificados de “terroristas” por seus opressores. Em conclave internacional, os países mais potentes elaboram o conceito “terrorista” com notas que os excluem. Esse conceito funciona como “definição oficial”, na qual se enquadra como criminoso subversivo quem  luta pela liberdade e pelos direitos do seu povo. 
Terrorista é todo indivíduo, grupo, ou estado, que provoca e/ou espalha terror mediante ações aterrorizantes. Nessa definição entram os EUA, Israel e demais estados opressores. O terrorismo estatal configura sistema opressor de persuasão social e domínio político. O terrorismo social configura método utilizado pelo oprimido para obter o reconhecimento da sua dignidade e dos seus direitos. Os dois tipos de terrorismo utilizam meios violentos e cruéis para atingir os seus objetivos. Atropelam o direito internacional e a ética humanitária. Assumem posição refratária a quaisquer conceitos, sentimentos, regras e interesses que não sejam os deles próprios. 
EUA e Israel são exemplos de estados terroristas, criminosos, genocidas, que violam as regras jurídicas internacionais, afrontam decisões dos tribunais, menosprezam os princípios humanitários. Desde a segunda metade do século XX, com ajuda e beneplácito dos EUA, Israel vem invadindo e se apossando das terras da nação palestina, destruindo casas, edifícios e a infraestrutura hidráulica e elétrica, cerceando a locomoção, prendendo, torturando e assassinando adultos e crianças. O Hamas constitui um movimento paramilitar, social e político de resistência à tirania dos judeus militares, civis e religiosos. Leva o selo do temperamento, dos costumes e da milenar cultura dos povos árabes. 
Os acordos de paz nestes últimos 40 anos ficaram no esboço, não se concretizaram. O episódio de 11 de Setembro na América e agora o episódio de 07 de Outubro no Oriente Médio, foram respostas desesperadas e advertências singelas dadas pelos oprimidos aos opressores. Só haverá paz depois de lançada bomba atômica em cada uma das seguintes cidades: Washington, Nova Iorque, Tel Aviv, Jerusalém, Londres e Berlim. Desse modo, cortar-se-á o mal pela raiz. Sem esse bombardeio exitoso, a paz continuará a ser vã esperança, objeto de discursos demagógicos e de fingidos esforços, perda de tempo e de dinheiro. O oprimido de ontem (holocausto judeu) é o opressor de hoje (holocausto palestino). Ontem, rebelião heroica e suicida dos judeus contra os nazistas alemães. Hoje, rebelião heroica e suicida dos palestinos contra os nazistas judeus. Assim caminha a humanidade.  

domingo, 8 de outubro de 2023

TROVAS

 

Muito ajuda quem não atrapalha

Inútil ou imprestável vira tralha

Palavra acelerada virtude pouca

Confusão na meta decisão louca


Quem neste mundo muito arma

Mais do mal que do bem se vale

No seu destino faz que se instale

Merecido castigo da lei do carma

domingo, 1 de outubro de 2023

NUVENS

Ele agradece a deus pela concessão de mais um dia. Preenche a primeira hora de cada manhã com exercícios físicos no quintal da sua casa. Contempla as montanhas. Observa o movimento das nuvens. Como se fossem chumaços de algodão, elas se aproximam umas das outras, unem-se, formam um bloco. A nuvem assim encorpada cobre as montanhas, sobe e continua a se mover sem pressa alguma. Depois, começa a se desfazer e a desenhar figuras no céu.
Quando criança, Ariosto – esse era o seu nome – pensava que as nuvens se formavam no céu e pairavam sobre cidades e montanhas. Às vezes, elas ficavam muito escuras, ameaçadoras, revoltosas, trovoavam, lançavam chuvas e raios. A sua avó materna, italiana católica fervorosa, dizia que a fúria da natureza era sinal da zanga de deus provocada pelos pecados dos adultos e das crianças rebeldes e desobedientes. Segundo vociferava o padre da paróquia, “os homens são pecadores e devem fazer penitência para obter a misericórdia divina e salvar suas almas das labaredas do inferno”. Aos domingos, Ariosto ouvia essa ladainha durante a missa enquanto o sacristão sacudia o saco das esmolas diante do peito de cada fiel, insistentemente, percorrendo, um após outro, os bancos da igreja. O saco ficava pendurado na extremidade de uma vara que o sacristão segurava pela ponta oposta. Na sua ingenuidade infantil, Ariosto ficava intrigado. Só os homens? E as mulheres, não são pecadoras? Será que elas são protegidas por Nossa Senhora?  
Ainda garoto, Ariosto se admirava com a cerração matinal. Quando moço, associou a cerração à nuvem. Passeava pela neblina como se estivesse andando nas nuvens. Afinal, como dizia a sua mãe, ele sempre andava “com a cabeça nas nuvens”. A neblina era uma nuvem ao alcance dos pés. Pilotando automóvel, ele reduzia a velocidade, mas, às vezes, preferia parar e aguardar no acostamento até a neblina enfraquecer e melhorar a visibilidade. “Cautela e caldo de galinha mal não fazem”, ditado que ouvia na família. 
Ariosto lembrava dos ensinamentos de ciências naturais do curso ginasial da sua adolescência. Com o calor do sol, as águas do mar, do rio, da lagoa, evaporam. O vapor quente sobe e atinge o ar frio nas alturas. Desse encontro, formam-se os ventos e as nuvens. No entanto, ele viu nuvens que não desciam sobre as montanhas e sim que subiam das suas bases. Oriundas das águas dos vales e sopés, as nuvens se elevavam até cobrir a montanha. Então, deduziu, assim como lá em cima é aqui embaixo, e fez um muxoxo ao concluir o seu raciocínio.
Certa ocasião, ele percebeu detalhe que o incomodou. As nuvens nem sempre cobriam as montanhas. Na verdade, elas cobriam a visão que ele tinha das montanhas. Sentiu-se vítima da ilusão de ótica. Caso ele se postasse na montanha, notaria a distância entre ela e as nuvens. A beleza seria a mesma, porém, a informação seria diferente. Veria que as nuvens situadas à frente da montanha levantavam-se de baixo para cima, saíam da terra e não do céu. 
Ariosto já havia testemunhado esse fato na sua adolescência, mas, a memória apenas registrou o que os olhos viram sem especular. Jovem aspirante a alpinista, ele escalara algumas vezes a cadeia de montanhas do seu estado natal. Em uma dessas ocasiões, resolveu dormir no ponto mais alto da cordilheira. Mirou as estrelas e as desafiou a se esconderem. Não havia nuvens. As estrelas não tinham como se esconder e ficaram mais brilhantes. Ele não lhes deu importância. Recusou-se a lhes servir de plateia e foi dormir no leito de pedra. Sem a atenção dele, as estrelas ficaram a brilhar umas para as outras. Amanheceu. Ele sentiu o frescor da névoa matutina. As nuvens ocultavam o sol e o azul do firmamento. 
Na segurança do seu lar, na quietude do seu quarto, Ariosto meditava sobre as nuvens que cobrem os seus pensamentos e os seus sentimentos. Afastando as nuvens do seu cérebro, ele buscava o que elas ocultavam: o sol espiritual do sublime conhecimento. Ele ficara encasquetado com a nuvem do mundo tecnológico. Tal como a nuvem cerebrina, a nuvem tecnológica não era gás, nem outra coisa real. Ela ocultava dados contidos em partículas eletromagnéticas. Tratava-se de ambiente virtual de armazenamento de dados acessíveis por meio de aparelhos sincronizados, ferramenta invisível para armazenar virtualmente arquivos sem ocupar espaço na memória do aparelho celular. Sonhador, Ariosto imaginou essa nuvem como um setor do cinturão eletrostático que envolve o planeta. Demorou a conciliar o sono.