quinta-feira, 2 de junho de 2011

VIAGEM2

Adotamos uma rotina. Parávamos dois dias em cada cidade. O automóvel ficava no estacionamento do hotel. No momento do check-out, nenhum dos hotéis em que nos hospedamos conferiu o consumo dos produtos contidos no frigobar dos quartos. Confiavam na informação por nós prestada. Face à indiferença dos empregados, creio que o preço daqueles produtos já estava incluído na diária. No primeiro dia, caminhávamos pelas ruas da cidade para sentir a atmosfera local. Utilizávamos táxi só quando necessário. Nas cidades que visitamos havia poucas e largas avenidas; as ruas são estreitas, pavimentadas com pedras, a maioria de mão única, estacionamento de automóveis e motocicletas admitido em um dos lados, pequeno espaço para o trânsito dos veículos, o que exige especial habilidade dos condutores. Nas cidades italianas é espantosa a quantidade de lambretas, vespas, motocicletas, em movimento ou estacionadas. No segundo dia, o passeio incluía ônibus de turismo pelos locais mais interessantes. Ocupávamos a parte superior descoberta, com o vento primaveril em nossos rostos, temperatura em torno de 20 graus centígrados. Desembarcávamos em determinados pontos, segundo a nossa vontade; tornávamos a embarcar em outro ônibus da mesma empresa, pois a passagem era válida por 24 horas. Visitas a igrejas, museus, galerias de arte, estavam fora dos nossos planos. No Brasil não as fazemos, porque iríamos fazê-las no estrangeiro? Que as façam os devotos da religião e das artes. Ademais, há que enfrentar filas e pagar ingresso. Como diz minha filha Gabriela, mãe do meu neto Pedro: ninguém merece. Preferimos admirar a arquitetura urbana, os logradouros com seus jardins, esculturas, fontes e pontes; apreciar os rios que banham as cidades a refletir os raios solares e lunares; observar os costumes.
Ao acaso, escolhíamos restaurantes, bares, cafeterias, sorveterias. Notamos a boa qualidade das comidas servidas. A quantidade é pouca, porém suficiente para satisfazer o apetite moderado. Os vinhos são bons, independente do preço. As cervejas não me agradaram; as do Brasil são excelentes se comparadas com as da região que visitamos. Café preparado em máquinas. O café expresso mal cobre o fundo da xícara pequena. O café americano é servido em xícara grande e me agradou, mas o café aqui de casa é melhor. Atendimento profissional, sem calor humano, tanto em hotéis como em lojas, bares e restaurantes. Em alguns estabelecimentos, o garçom limita-se a abrir a garrafa; ao cliente cabe a tarefa de encher os copos. Os tripulantes do avião da Ibéria chegam a ser ríspidos. Aliás, a rispidez caracteriza os espanhóis; a arrogância, os franceses; a grosseria, os italianos. Colonizadores no passado, esses povos exibem ar de superioridade diante das pessoas de outros continentes (exceto da América anglo-saxônica). O deslumbramento dos turistas originários do terceiro mundo com as coisas da antiga metrópole européia estimula nos europeus essa atitude altaneira muito bem exemplificada no episódio em que o rei espanhol interpelou o presidente venezuelano durante reunião na América do Sul: “Porque não te calas?” O comportamento inconveniente de cidadãos de países emergentes também estimula os europeus a tratarem-nos como pessoas de inferior categoria. Entretanto, durante a viagem, testemunhamos condutas inconvenientes de cidadãos europeus. Exemplo: na chamada para entrar no avião em aeroporto espanhol foi solicitada ordem decrescente dos assentos (dos fundos para frente) o que evita congestionamento nos corredores e torna ágil a ocupação da aeronave. Pois bem. Os europeus ignoraram a solicitação e obstruíram a passagem de quem se dirigia às poltronas dos fundos. Os poucos e educados brasileiros daquele vôo censuraram aquele comportamento de modo irônico.
O número de turistas asiáticos amarelos parecia maior do que o número de turistas asiáticos morenos. Havia turistas do norte, do centro e do sul da América, além de europeus. Grupos de turistas tinham seus guias locais empreitados pelas agências de turismo. O guia, à frente do grupo, portava bandeirinha elevada sobre a cabeça para manter os turistas unidos, sem extravio, como um rebanho de reses. Falando inglês ou outro idioma, o guia interrompia a caminhada para expor a história de monumentos, pinturas, estátuas, casas antigas de pessoas famosas, castelos e assim por diante. Nos passeios de ônibus, as explicações estavam gravadas em fita; nos intervalos, boa música; aos passageiros eram fornecidas escutas para ser ligadas nas entradas existentes nos bancos. Pareceu-me forte e bem explorada a indústria do turismo na Europa. Os comerciantes exploram os turistas; tudo é caro, mas a pechincha rende algum desconto. Há estabelecimentos que simulam defeito nas máquinas para se livrarem dos cartões de crédito e receber em dinheiro. Emigrantes asiáticos amarelos (japoneses, chineses, coreanos) e morenos (indianos, paquistaneses) trabalhando nas lojas, bares e restaurantes. Topamos com alguns brasileiros. O assédio de vendedores ambulantes, muitos deles emigrantes, nas cidades visitadas, é mais discreto do que em Paris.

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