sábado, 11 de junho de 2011

FUTEBOL3

A festa de despedida de Ronaldo Nazário dá margem a questionamento. Chama atenção a ampla divulgação de uma homenagem que não aconteceu com outros grandes e mais qualificados jogadores como Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé, Rivelino, Gerson, Zico, Romário. Durante a fase áurea da vida profissional de Ronaldo, no que tange aos fundamentos da arte de jogar futebol, verifica-se que ele era: (i) forte na artilharia, no controle da bola e no drible; (ii) irregular nos passes; (iii) fraco no cabeceio, no escanteio, na cobrança de faltas e no desarme. A festa consistiu na despedida de alguém que já estava despedido há cinco (5) anos, desde o fiasco na copa de 2006, quando a seleção brasileira ficou nas oitavas de final. Ronaldo nunca mais foi convocado para integrar a seleção; não fazia parte da equipe que disputou a copa de 2010. Ora, despedida acontece quando o jogador está preste a sair da equipe. Despedidas se fazem na estação de saída e não depois que o trem partiu para outra estação. Se a intenção era festejar o encerramento da carreira profissional como jogador, o momento oportuno era o da saída do clube. A CBF, ao permitir essa festa durante partida internacional disputada pela seleção brasileira foi conivente com a impostura.
Desde que Ronaldo foi contratado pelo Corinthians instaurou-se uma campanha de promoção pessoal em seu favor. Naturalmente, essa campanha custou muito dinheiro, pois a propaganda na mídia é cara. O financiamento dessa campanha certamente coube ao jogador, ao clube e aos patrocinadores. Ao jogador interessava recuperar a imagem que foi borrada com o escândalo dos travestis. Ao clube interessava justificar a contratação de um jogador com alto salário, que jogava poucas vezes ao ano, em franco declínio, fora de forma, com o conceito moral abalado, demitido da função de embaixador da UNESCO junto à juventude mundial e rejeitado pelos clubes europeus de expressão. Aos patrocinadores interessava divulgar boa imagem do garoto propaganda a fim de evitar queda nas vendas dos seus produtos. A “festa de despedida da seleção brasileira” está incluída nesse contexto. A intensa e enganosa propaganda pode visar, ainda, a projetos futuros: candidatura a cargo público eletivo ou a cargo na CBF. Nas entidades esportivas da Alemanha e da França foram admitidos jogadores que encerraram sua vida profissional, como Beckenbauer, Platini e Zidane. Talvez Ronaldo pretenda o mesmo.
Na propaganda veiculada pelos meios de comunicação social, em favor desse jogador, há falsidades e distorções quanto ao seu desempenho como jogador. A afirmativa de que ele foi o maior artilheiro de todas as copas é uma dessas falsidades. Certamente, a divulgação dessas mentiras e distorções deve-se ao dinheiro distribuído aos jornalistas e às emissoras de rádio e TV. Não se elege o melhor artilheiro apenas por simpatia ou por interesse do jornalista em receber jabás e da empresa jornalística em publicidade. Com as devidas seriedade e honestidade, há que se considerar o universo de artilheiros e de competições, comparar os dados, calcular, obter a média aritmética. A base de cálculo varia segundo o propósito da demonstração: pode ser a carreira do jogador, o campeonato nacional, a copa do mundo, distintamente. No que tange à carreira, conta-se a quantidade de gols, o tempo da vida profissional dos artilheiros e se obtém a média. Exemplo: João fez 600 gols em 15 anos de carreira; obteve a média de 40 gols por ano. Paulo fez 500 gols em 10 anos de carreira; obteve média de 50 gols por ano. Da comparação entre eles, resulta que o melhor artilheiro foi Paulo; proporcionalmente, em menos tempo ele fez mais gols. No que tange a campeonato nacional o procedimento é o mesmo. Exemplo: João disputou 10 campeonatos e fez 300 gols; alcançou a média de 30 gols por campeonato. Paulo disputou 5 campeonatos e fez 200 gols; alcançou a média de 40 gols por campeonato. Embora o total de gols de Paulo tenha sido menor, ele se revelou proporcionalmente mais eficiente do que João. No que tange a copas do mundo não é diferente. Exemplo: João disputou quatro (4) copas e fez 15 gols; alcançou a média de 3,75 gols por copa. Paulo disputou duas (2) copas e fez 10 gols; alcançou a média de 5 gols por copa. Logo, pelo critério da proporcionalidade e pela média aritmética, Paulo se mostrou artilheiro mais eficiente do que João. Além da exatidão matemática, esse critério faz justiça aos artilheiros que fizeram mais gols em menos tempo, ou em menor número de campeonatos e de copas.
Adotado esse matemático e justo critério, verificar-se-á que o maior artilheiro em copas do mundo até o momento continua a ser Just Fontaine com 13 gols em uma só copa. Ronaldo não chegou nem perto dessa marca. Para fazer 15 gols ele teve de disputar quatro (4) copas. Na primeira (1994) não entrou em campo, pois havia jogadores mais qualificados. Na segunda (1998) ele amarelou quando Romário foi afastado. Perdeu a referência e passou mal. A seleção francesa venceu a brasileira. Na terceira (2002) a seleção venceu. Na quarta (2006) foi outro vexame; a seleção não passou para as quartas de final. Em suma: (i) das copas em que Ronaldo esteve em campo a seleção brasileira saiu vitoriosa em uma e derrotada em duas; (ii) a média de gols desse jogador foi de 3,75 por copa, se considerada a primeira copa em que ele ficou no banco, e de 5 por copa, se desconsiderada.
Da copa de 1950 até a de 2006, inclusive, os seguintes jogadores apresentam média acima da média de Ronaldo: Sandor Kócsis, com média 11; Ademir Menezes e Eusébio, com média 9 cada um; Gerd Muller, com média 7; Pelé e Rahn, com média 6 cada um; Klose e Lineker, com média 5, cada um; Vavá, Jairzinho, Rossi, Vieri, com média 4,5, cada um. Leônidas (“foi o Pelé da Era do Radio assim como Pelé foi o Leônidas da Era da Televisão”, na feliz definição de Domingos da Guia) disputou duas copas pela seleção brasileira nos anos 30, do século XX, marcou nove (9) gols, obteve média de 4,5 gols por copa.

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