domingo, 26 de junho de 2011

FUTEBOL

Na página Yahoo da rede de computadores afirma-se que a seleção brasileira de futebol de 1950 amarelou. Os comentários incluem atletas do futebol e de diferentes modalidades esportivas que amarelaram. Na gíria esportiva, amarelar significa afrouxar-se diante do desafio; intimidar-se frente ao adversário.

Citam Ronaldo na copa de 1998. De fato, Romário era referência, força moral, a liderança dentro do campo, goleador, jogador que conduzia a equipe em caso de necessidade de reverter placar desfavorável. Por divergência interna, a comissão técnica afastou Romário da partida final. Ronaldo teria de assumir o papel e a função de Romário. Ao sentir o peso da responsabilidade, Ronaldo amarelou. Passou mal. Baixou hospital. Distúrbio orgânico não diagnosticado. Distúrbio psicológico com efeito somático, talvez. A comissão técnica excluiu Ronaldo da lista dos jogadores que disputariam aquela partida. Depois, ele se dispôs a jogar (ou a tanto foi convencido). A comissão apresentou nova lista no frigir dos ovos, incluindo o nome de Ronaldo. A imprensa estava em polvorosa. A seleção ficou sem liderança no gramado. Parecia uma equipe de zumbis. Perdeu o jogo e a copa. França campeã. Brasil vice-campeão.

Nada disso houve com a seleção brasileira de 1950, também vice-campeã. Do seu elenco participavam: Barbosa, melhor goleiro da competição (os dois gols que tomou outros goleiros também tomariam); Zizinho, genial; Jair, com seus chutes potentes; Ademir, dono de elevada média de gols. Nenhum brasileiro, até a presente data, alcançou média igual à de Ademir em copas do mundo. Somente um estrangeiro a igualou (Eusébio) e dois estrangeiros a superaram (Fontaine e Kócsis). Não se há de culpar jogador algum pela derrota.

Recentemente, a imprensa noticiou fato que o povo daquela época desconhecia. O presidente da entidade maior do futebol brasileiro compareceu ao vestiário dos jogadores, antes da partida. Solicitou-lhes brandura para preservar a boa imagem do Brasil perante as demais nações. Salvo engano, tratava-se de um militar de alta patente. Isto influiu no ânimo dos jogadores. Foram intimidados pelo dirigente máximo do esporte. Na época vigorava a máxima: “futebol é pra macho”. Virilidade exasperada em campo. Ao levar pancada, o jogador não ficava contorcendo-se no chão, gesticulando, reclamando, esperando o carro para tirá-lo de campo e depois retornar como se nada tivesse acontecido; não se comportava como criança mimada; não encenava para a torcida e para a televisão (que ainda não funcionava). Maca e todo aquele aparato de hoje em dia ainda não existiam. Na copa de 1962, Pelé saiu carregado de campo e não retornou mais, nem para aquela partida, nem para as demais. Na copa de 1950, a equipe estava invicta. Jogava com elevada capacidade técnica e sem brandura. Entrou em campo com certeza da vitória. Os jogadores, entretanto, não sabiam como era esse modo brando de atuar solicitado pelo dirigente; ninguém lhes ensinou e nem havia mais tempo para aprender conduta esportiva estranha aos costumes vigentes. O resultado foi desastroso. Ao invés de brandura, lassidão. Gentileza brasileira, vitória uruguaia.

Nenhuma equipe chega à partida final de uma copa do mundo sem apresentar um bom futebol. A seleção uruguaia era valorosa e aguerrida. Já antes da guerra mundial (1939/1945) mostrara bom futebol. Os estragos provocados por essa guerra afastaram países europeus da copa mundial de futebol de 1950. Normalmente, os uruguaios se esforçam até o apito final, estejam ganhando ou perdendo. Dificilmente se vê jogador uruguaio relaxar nos minutos finais do jogo. Assim como outras equipes, a uruguaia também recua taticamente quando o placar lhe é favorável, mas permanece atenta, sem esmorecer, confiante no contra-ataque. Quando o placar lhe é desfavorável, ataca intensamente para empatar ou vencer. Garra uruguaia.

Os jogadores brasileiros tendem a relaxar durante a partida quando o placar lhes é favorável ainda que por diferença mínima. Às vezes, recuam muito e não mostram vigor no contra-ataque. Quando o placar lhes é desfavorável, costumam perder o equilíbrio emocional, tanto em clubes como na seleção brasileira: correria em campo, perda do controle da bola, quebra do esquema tático, jogador tentando resolver sozinho. Os melhores jogadores do mundo pouco resolvem sem apoio dos companheiros e sem as falhas dos adversários.

A falta de modéstia virou moda. Agora é comum jogadores se colocarem como salvadores da pátria. Dizem: “vou ajudar” o meu clube; “vou ajudar” a seleção; estou aqui para “ajudar” a equipe. Colocam-se como seres estranhos ao clube, à seleção, à equipe, dotados de poderes e habilidades que aplicarão de modo assistencial. Ajudar ou socorrer é ato assistencial temporário. Jogador não ajuda a equipe, pois dela faz parte. Ao jogar, exerce sua função de modo satisfatório ou insatisfatório; cumpre a sua obrigação contratual ao empreender seus esforços e utilizar suas habilidades em prol da equipe a que pertence; não presta favor, ajuda ou socorro; presta serviço efetivo em caráter permanente.

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