terça-feira, 7 de junho de 2011

FUTEBOL

Recebo mensagem eletrônica do engenheiro e historiador J.E.O. Bruno, com artigo do falecido Armando Nogueira, recentemente publicado no jornal eletrônico “Tribuna da Imprensa”, sobre os fundamentos do futebol, em que o articulista manifestava sua admiração pelo drible. O ilustre remetente acrescenta sua opinião: o jogador brasileiro Neymar é melhor do que o jogador argentino Messi; o brasileiro é bom no drible, no passe e no gol, enquanto o argentino é bom apenas no passe e no gol; ao jogar por suas respectivas seleções nacionais, o brasileiro mantém a sua qualidade técnica, enquanto o argentino se apaga.

Realmente, dominar os fundamentos da arte de jogar futebol é capacidade de poucos jogadores. Manter a regularidade técnica e a eficiência, ainda que sem dominar todos os fundamentos, também não é fácil e exige muita dedicação.

Bola parada: (i) cobrança de faltas, de penalidades e de escanteio; (ii) execução de tiro de meta; (iii) reposição pelas laterais do campo. Jogadores apresentam eficiência e deficiência nesses fundamentos. Faltas mal cobradas, principalmente quando o jogador se apressa e acaba entregando a bola ao adversário. Para superar a barreira adversária e fazer o gol o jogador tem que ser especialista e nem sempre as equipes o possuem. Há jogadores, alguns craques inclusive, que cobram mal a penalidade. A obrigação de acertar é do cobrador, eis que tem um enorme gol à sua frente, a curta distância e sem barreira. Se o goleiro não consegue defender, nenhuma censura merece, pois a sua posição em face do cobrador é desvantajosa. Essa desvantagem faz parte da punição aplicada à equipe cujo jogador cometeu falta dentro da área. Se o goleiro consegue defender, merece aplauso. Pelo que se tem visto nos últimos anos, o goleiro tem mais chance de defender se permanecer no centro do gol, por onde tem passado a bola em inúmeras cobranças. Atirar-se para um dos cantos em exercício de adivinho tem se mostrado infrutífero na maior parte dos casos. Pouquíssimos jogadores são capazes de fazer gol olímpico. A cobrança do escanteio exige precisão acima do comum. Alguns jogadores conseguem lançar a bola na cabeça do companheiro, certeira e intencionalmente, como se fora uma assistência bem planejada e ensaiada. Se o companheiro tiver perícia, cabeceará a bola para o fundo da rede adversária. Há jogadores deficientes no tiro de meta por não atribuírem a devida importância a esse fundamento. Chutam a bola sem destino específico ao invés de endereçá-la a um companheiro bem colocado; chutam de qualquer jeito, até para fora das quatro linhas. Às vezes, com o tiro de meta mal realizado a bola cai nos pés do adversário, gera ataque relâmpago e a equipe do cobrador sofre gol. O tiro de meta bem realizado pode ser o início de um proveitoso ataque da equipe do cobrador. A rápida e bem realizada devolução da bola pelo goleiro aos seus companheiros também pode ser altamente proveitosa para sua equipe. Na reposição da bola pelas laterais do campo, por ser com as mãos, há mais acertos do que erros. Sempre há quem desatende a regra.

Bola em movimento: passes, controle da bola, dribles, cabeceios. Inteligência lúdica, ampla visão de jogo, treino, dedicação, respondem pela boa execução desses fundamentos. Acerto nos passes longos ou curtos, precisos nos pés do companheiro ou no espaço vazio para oportuna, proveitosa e surpreendente chegada do companheiro. Os craques são peritos nesse fundamento de suma relevância para o desempenho da equipe e que bem evidencia a natureza coletiva desse esporte. Geralmente, os jogadores que dominam esse fundamento são grandes articuladores de jogadas ofensivas e defensivas. Infelizmente, são poucos. Erros de passes – alguns clamorosos – são constantes no futebol brasileiro para desespero das torcidas. O Barcelona, um dos melhores clubes de futebol da atualidade (necessita vencer o próximo campeonato mundial de clubes para se considerar o ímpar entre pares; não basta o campeonato da liga européia) exibe desempenho coletivo extraordinário em decorrência dos acertos nos passes, do toque de bola rápido, certeiro e eficiente. Os clubes passam por momentos mágicos como esse do Barcelona de Messi, ou aquele do Real Madri de Zidane, ou do Santos de Pelé, ou do Botafogo de Garrincha. No desempenho individual jogadores de excelente técnica têm controle da bola ao recebê-la, mantê-la em seus pés e sem perdê-la até se desvencilhar com êxito. Nota-se controle deficiente quando a bola foge dos pés do jogador, embora se possa debitar a fuga a: (i) defeito no campo; (ii) inadequação da bola quanto ao peso e à dimensão; (iii) contusão; (iv) habilidade do adversário no desarme; e assim por diante. A máxima falta de controle se dá quando o jogador não acha a bola, “fura” como se diz no jargão esportivo; o “furo” é deprimente e desmoralizador. O drible é o controle individual da bola que mais exige talento do jogador. Implica conduzir a bola, enfrentar e passar pelo adversário de modo lampeiro e concluir a jogada com passe ou chute a gol. O driblador é caçado, às vezes com violência, por jogadores que encaram o drible como provocação e humilhação; os caçadores sentem raiva e inveja do talento e da habilidade do jogador adversário. Cabecear a bola também requer técnica. Raros são os jogadores que dominam esse fundamento, que batem na bola com a parte adequada da cabeça e a enviam de modo certeiro para o gol adversário ou para o companheiro. A maioria cabeceia de qualquer jeito, até contra o seu próprio gol. Nesse fundamento destacou-se Balthazar por seus cabeceios fortes e certeiros. Ele integrava a equipe do Corinthians nos anos 50.

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