segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

FILOSOFIA XIV - 16


EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Diferente das outras artes, a música permaneceu romântica. O realismo se mostrou mais compatível com a arte literária, pictórica e descritiva. A música erudita encontrou terreno fértil na Alemanha. Roberto Schumann (1810 a 1856) era compositor de canções e de música de câmara e para piano. Ele estimulou o ensino da música e publicou peças de Schubert que estavam esquecidas. Félix Mendelsohn (1809 a 1847), nascido em rica família judia, compôs músicas simétricas e dentro das formas estabelecidas. Da sua música emana jovialidade, quiçá por não ter problemas econômicos. As suas obras mais conhecidas são “Elias” e “Sonho de Uma Noite de Verão”. Frederico Chopin (1810 a 1849), polonês, nascido de mãe polonesa e pai francês, passou a maior parte da sua vida em Paris. Dedicou-se mais à música para piano. Poeta do som, a sentimentalidade das suas peças é intensa. Seu caso de amor com a escritora George Sand (pseudônimo de Aurore Dupin) não teve um final feliz. A breve e agitada vida de Chopin termina aos quarenta anos de idade. Morre tuberculoso. Franz Liszt (1811 a 1886), alemão, filantropo, viveu em Paris como viveram tantos artistas da “bela época”. Foi considerado o maior concertista de todos os tempos ao piano. As suas composições e execuções ao piano conduziram o romantismo ao ápice. Ele foi professor de música e regente de orquestra. Auxiliou Wagner quando este foi expulso da Alemanha.

Richard Wagner (1813 a 1883), notável figura do mundo musical, apreciava o drama e isto se refletiu na sua obra. As suas óperas eram dramas musicados como ele mesmo dizia. Tendia para a unidade: reunir todas as artes numa só. Nota-se um parentesco entre as suas óperas e a dramaturgia grega. Ele não se prendia à forma e escapou da ópera convencional. Os temas incluem deuses e heróis da mitologia germana. A música orquestrada atua como fundo para aquilo que se desenrola no palco; comunica o espírito da peça. Companheiro de Bakunin, Wagner também foi escritor de talento revelando espírito filosófico e dogmático. Ele foi expulso da Alemanha ao se envolver no jogo político com idéias e práticas revolucionárias. Entre os compositores alemães clássicos incluem-se Johannes Brahms (1833 a 1897) e Richard Strauss (1864 a 1949). O primeiro compositor retro citado (Brahms), intelectual, sutil, sucedeu Beethoven na música de câmara e na sinfonia. O segundo (Strauss) compôs óperas de grande sucesso que se assemelhavam à obra de Wagner. O ciclo iniciado com o canto gregoriano encerrou-se com as produções de Wagner, Brahms e Strauss.

O ciclo modernista tem início com o compositor francês Claude Debussy (1862 a 1918). Na sua música, ele suprimiu a modulação entre um som e outro a fim de criar imagens na mente do ouvinte. Combinações sonoras atraentes servem a este desiderato. Maurice Ravel (1875 a 1938) segue a linha impressionista e simbolista de Debussy. Colocam-se em extremos os compositores Arnold Schoenberg e Igor Stravinsky, nascidos respectivamente em 1874 e 1882. O primeiro (Schoenberg) é expoente do atonalismo: abandono do conceito de clave ou tonalidade. As notas são ligadas segundo a exclusiva estética do compositor. O segundo (Stravinsky) é expoente do politonalismo: emprego de duas ou mais claves simultânea e independentemente. Ambas as correntes são dissonantes.

A música não escapou ao nacionalismo. Óperas de Verdi foram aplaudidas como expressões do nacionalismo italiano, assim como outras de diferentes compositores na Bélgica, na Hungria, na Rússia. Governos autocráticos policiavam a produção de compositores, quer no conteúdo, quer na execução. Houve compositores espontaneamente nacionalistas e engajados cujas obras contêm tons ideológicos. Durante o século XIX, os compositores russos seguiam a orientação musical dos franceses, italianos e alemães. Assim se conduziu Tchaikowsky (1840 a 1893). Isto mudou a partir de Borodin, Moussorgsky e Korsakov, todos sem formação profissional. Eles trouxeram para suas composições o folclore eslavo.                 

No campo filosófico, o divisor de águas foi Immanuel Kant (1724 a 1804), cristão protestante, professor, nascido em Königsberg, pequena cidade da Prússia Oriental, onde sempre viveu de modo simples, metódico e laborioso. As pessoas podiam acertar os relógios ao vê-lo passar, tal a regularidade dos seus hábitos. Ele manteve boa saúde apesar de não ser robusto. A sua produção intelectual trouxe-lhe fama, mas não riqueza. Antes da cátedra universitária, Kant obtinha renda como preceptor dos filhos de aristocratas. Inspirou originalmente o idealismo romântico alemão com a sua teoria do idealismo transcendental. Apoiou os princípios republicanos da revolução francesa. Defendeu a existência dos direitos naturais do homem e a separação dos poderes do Estado como necessária proteção à liberdade individual. No panfleto “Paz Perpétua”, Kant emite opiniões sobre a paz e a cooperação internacional e propõe o governo representativo e a federação mundial de nações, entre outras idéias radicais para a época (1795). As suas obras fundamentais são: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, “Crítica da Razão Pura”, “Crítica da Razão Prática” e “Crítica da Faculdade de Julgar” (também traduzida como “Crítica do Juízo”).  

A sua reflexão filosófica gira em torno de duas questões básicas: (1) a possibilidade, o limite e a aplicação do conhecimento (o que o homem conhece ou pode conhecer a respeito do mundo e da realidade última); (2) a conduta humana do ponto de vista moral (a questão do lícito e do ilícito, do permitido e do proibido, do justo e do injusto); como o homem deve agir em suas relações mútuas, como proceder para obter a felicidade ou alcançar o bem supremo. O universo compõe-se de dois reinos: o dos noumena {cujo nome deriva do nous grego} que corresponde ao mundo espiritual (realidade última) e o dos phenoumena que corresponde à natureza física. O conhecimento de cada reino exige método adequado, distinto um do outro. O conhecimento do reino espiritual ocorre pela fé, intuição e convicção profunda, instrumentos tão válidos como a lógica e a ciência para o mundo físico. Fortes sentimentos formam a convicção de que: (1) o universo obedece a uma lei moral ditada por um ser divino; (2) a virtude e a felicidade estão ligadas de modo indissolúvel. O conhecimento do reino físico ocorre exclusivamente pela percepção e pela razão.  

O pensamento de Kant situa-se entre o empirismo e o racionalismo. Embora emane da experiência, o conhecimento não deriva exclusivamente dela. A experiência sensorial é necessária, porém insuficiente. O complemento se dá pela forma que assume o conhecimento e pelos princípios que transformam os dados da experiência em conhecimento. Essa forma e esses princípios independem da experiência (logo, são inatos no sentido cartesiano). Aos conceitos gerais utilizados pela razão para transformar a experiência em conhecimento, Kant denomina categorias. Ao conhecimento que independe da experiência, ele chama de “a priori”; ao conhecimento que deriva da experiência, ele chama de “a posteriori”. Ele classifica os juízos em dois tipos: (1) analítico, quando o predicado está contido no sujeito; (2) sintético, quando o predicado está agregado ao sujeito. Assim como o analítico, o juízo sintético também pode ser a posteriori e a priori. Somente o juízo sintético implica avanço no conhecimento. O juízo analítico é tautológico. Kant admite duas fontes do conhecimento: a sensibilidade e o entendimento. Pela sensibilidade, os objetos são dados; pelo entendimento, os objetos são pensados.

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