EUROPA (1800
a 1900). Continuação.
Diferente das outras artes, a
música permaneceu romântica. O realismo se mostrou mais compatível com a arte
literária, pictórica e descritiva. A música erudita encontrou terreno fértil na
Alemanha. Roberto Schumann (1810
a 1856) era compositor de canções e de música de câmara
e para piano. Ele estimulou o ensino da música e publicou peças de Schubert que
estavam esquecidas. Félix Mendelsohn (1809 a 1847), nascido em rica família judia,
compôs músicas simétricas e dentro das formas estabelecidas. Da sua música
emana jovialidade, quiçá por não ter problemas econômicos. As suas obras mais
conhecidas são “Elias” e “Sonho de Uma Noite de Verão”. Frederico Chopin (1810 a 1849), polonês,
nascido de mãe polonesa e pai francês, passou a maior parte da sua vida em Paris. Dedicou-se
mais à música para piano. Poeta do som, a sentimentalidade das suas peças é
intensa. Seu caso de amor com a escritora George Sand (pseudônimo de Aurore
Dupin) não teve um final feliz. A breve e agitada vida de Chopin termina aos
quarenta anos de idade. Morre tuberculoso. Franz Liszt (1811 a 1886), alemão, filantropo,
viveu em Paris como viveram tantos artistas da “bela época”. Foi considerado o
maior concertista de todos os tempos ao piano. As suas composições e execuções
ao piano conduziram o romantismo ao ápice. Ele foi professor de música e
regente de orquestra. Auxiliou Wagner quando este foi expulso da Alemanha.
Richard Wagner (1813 a 1883), notável figura
do mundo musical, apreciava o drama e isto se refletiu na sua obra. As suas
óperas eram dramas musicados como ele mesmo dizia. Tendia para a unidade:
reunir todas as artes numa só. Nota-se um parentesco entre as suas óperas e a
dramaturgia grega. Ele não se prendia à forma e escapou da ópera convencional.
Os temas incluem deuses e heróis da mitologia germana. A música orquestrada
atua como fundo para aquilo que se desenrola no palco; comunica o espírito da
peça. Companheiro de Bakunin, Wagner também foi escritor de talento revelando
espírito filosófico e dogmático. Ele foi expulso da Alemanha ao se envolver no
jogo político com idéias e práticas revolucionárias. Entre os compositores alemães
clássicos incluem-se Johannes Brahms (1833 a 1897) e Richard Strauss (1864 a 1949). O primeiro compositor
retro citado (Brahms), intelectual, sutil, sucedeu Beethoven na música de
câmara e na sinfonia. O segundo (Strauss) compôs óperas de grande sucesso que
se assemelhavam à obra de Wagner. O ciclo iniciado com o canto gregoriano
encerrou-se com as produções de Wagner, Brahms e Strauss.
O ciclo modernista tem início com
o compositor francês Claude Debussy (1862 a 1918). Na sua música, ele suprimiu a
modulação entre um som e outro a fim de criar imagens na mente do ouvinte.
Combinações sonoras atraentes servem a este desiderato. Maurice Ravel (1875 a 1938) segue a linha
impressionista e simbolista de Debussy. Colocam-se em extremos os compositores
Arnold Schoenberg e Igor Stravinsky, nascidos respectivamente em 1874 e 1882. O
primeiro (Schoenberg) é expoente do atonalismo:
abandono do conceito de clave ou tonalidade. As notas são ligadas segundo a
exclusiva estética do compositor. O segundo (Stravinsky) é expoente do politonalismo: emprego de duas ou mais
claves simultânea e independentemente. Ambas as correntes são dissonantes.
A música não escapou ao
nacionalismo. Óperas de Verdi foram aplaudidas como expressões do nacionalismo
italiano, assim como outras de diferentes compositores na Bélgica, na Hungria,
na Rússia. Governos autocráticos policiavam a produção de compositores, quer no
conteúdo, quer na execução. Houve compositores espontaneamente nacionalistas e
engajados cujas obras contêm tons ideológicos. Durante o século XIX, os
compositores russos seguiam a orientação musical dos franceses, italianos e
alemães. Assim se conduziu Tchaikowsky (1840 a 1893). Isto mudou a partir de Borodin,
Moussorgsky e Korsakov, todos sem formação profissional. Eles trouxeram para
suas composições o folclore eslavo.
No
campo filosófico, o divisor de águas foi Immanuel Kant (1724 a 1804), cristão protestante,
professor, nascido em Königsberg, pequena cidade da Prússia Oriental, onde
sempre viveu de modo simples, metódico e laborioso. As pessoas podiam acertar
os relógios ao vê-lo passar, tal a regularidade dos seus hábitos. Ele manteve
boa saúde apesar de não ser robusto. A sua produção intelectual
trouxe-lhe fama, mas não riqueza. Antes da cátedra universitária, Kant obtinha
renda como preceptor dos filhos de aristocratas. Inspirou originalmente o
idealismo romântico alemão com a sua teoria do idealismo transcendental. Apoiou os princípios republicanos da
revolução francesa. Defendeu a existência dos direitos naturais do homem e a
separação dos poderes do Estado como necessária proteção à liberdade
individual. No panfleto “Paz Perpétua”, Kant emite opiniões sobre a paz e a
cooperação internacional e propõe o governo representativo e a federação
mundial de nações, entre outras idéias radicais para a época (1795). As suas
obras fundamentais são: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, “Crítica da
Razão Pura”, “Crítica da Razão Prática” e “Crítica da Faculdade de Julgar”
(também traduzida como “Crítica do Juízo”).
A
sua reflexão filosófica gira em torno de duas questões básicas: (1) a possibilidade,
o limite e a aplicação do conhecimento (o que o homem conhece ou pode conhecer
a respeito do mundo e da realidade última); (2) a conduta humana do ponto de
vista moral (a questão do lícito e do ilícito, do permitido e do proibido, do
justo e do injusto); como o homem deve agir em suas relações mútuas, como
proceder para obter a felicidade ou alcançar o bem supremo. O universo
compõe-se de dois reinos: o dos noumena {cujo
nome deriva do nous grego} que
corresponde ao mundo espiritual (realidade última) e o dos phenoumena que corresponde à natureza física. O conhecimento de
cada reino exige método adequado, distinto um do outro. O conhecimento do reino espiritual ocorre pela fé,
intuição e convicção profunda, instrumentos tão válidos como a lógica e a
ciência para o mundo físico. Fortes sentimentos formam a convicção de que: (1)
o universo obedece a uma lei moral ditada por um ser divino; (2) a virtude e a
felicidade estão ligadas de modo indissolúvel. O conhecimento do reino físico ocorre exclusivamente pela
percepção e pela razão.
O
pensamento de Kant situa-se entre o empirismo e o racionalismo. Embora emane da
experiência, o conhecimento não deriva exclusivamente dela. A experiência
sensorial é necessária, porém insuficiente. O complemento se dá pela forma que
assume o conhecimento e pelos princípios que transformam os dados da
experiência em
conhecimento. Essa forma e esses princípios independem da
experiência (logo, são inatos no sentido cartesiano). Aos conceitos gerais
utilizados pela razão para transformar a experiência em conhecimento, Kant
denomina categorias. Ao conhecimento
que independe da experiência, ele chama de “a
priori”; ao conhecimento que deriva da experiência, ele chama de “a posteriori”. Ele classifica os juízos
em dois tipos: (1) analítico, quando o predicado está contido no
sujeito; (2) sintético, quando o predicado está agregado ao sujeito.
Assim como o analítico, o juízo
sintético também pode ser a posteriori e a priori. Somente o juízo sintético implica avanço no
conhecimento. O juízo analítico
é tautológico. Kant admite duas fontes do conhecimento: a sensibilidade
e o entendimento. Pela sensibilidade, os objetos são dados; pelo
entendimento, os objetos são pensados.
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