segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

FILOSOFIA XIV - 18



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Kant seleciona dois tipos de certeza: (1) a intuitiva, expressa nos axiomas da intuição e antecipação da percepção; (2) a discursiva, expressa mediante analogias da experiência e postulados do pensamento empírico em geral. Nos domínios da Metafísica é possível pensar, mas impossível conhecer. Para a apreensão de um objeto é necessária uma intuição. Por isso, a alma não pode ser vista como substância pensante, pois o conceito de substância para ser aplicado a um objeto também supõe uma intuição. Não há coisa alguma no espaço e no tempo que possa ser considerada alma; não há qualquer percepção sensível da alma e tal percepção é condição fundamental do conhecimento; logo, a alma é uma forma do pensamento; ela não existe como objeto real. Podemos pensar a alma, mas não conhecê-la.

Primeira antinomia da razão: (1) Há um princípio no tempo e um limite no espaço. (2) Não há princípio nem limite do universo. Ambas as proposições têm a mesma força lógica. [A Astrofísica (Macrofísica) tende para a primeira tese: houve um começo mediante a explosão de energia concentrada (big-bang) e o universo está se expandido, mas pode chegar a um limite e se contrair]. Segunda antinomia da razão: (1) tudo quanto existe no universo é composto de elementos simples indivisíveis. (2) O universo é composto de elementos infinitamente divisíveis. Ambas as teses têm a mesma força lógica. [A Física Nuclear (Microfísica) tende para a primeira tese após a teoria das cordas. A partícula final da matéria, desprovida de estrutura e indivisível é um filamento vibrátil. Até o momento, a teoria não foi comprovada experimentalmente]. Terceira antinomia da razão: (1) Há uma causa primeira e um ser criador, necessário e supremo, dentro ou fora do universo. (2) O universo, sempre igual a si mesmo, resulta do movimento de forças cósmicas sem ter sido criado em tempo algum. A argumentação ontológica, cosmológica e teleológica usada para sustentar a primeira tese é rebatida por Kant, que sustenta a segunda tese: não há evidência alguma da causa primeira e da existência de um criador.

A razão é bidimensional: teórica e prática. A dimensão teórica refere-se à busca do conhecimento. A dimensão prática refere-se à ação criadora do mundo moral, domínio em que se encontram os fundamentos da Metafísica. A vida moral é a forma através da qual é possível conhecer a liberdade. A razão de ser da vida moral é a liberdade. A lei moral provém da idéia de liberdade. Esta idéia racional de liberdade determina por si mesma a vida moral e com isso demonstra sua própria realidade. Na esfera moral, a liberdade é o noumenon (a coisa em si mesma) inalcançável na esfera física. As máximas morais distinguem-se das leis morais. A máxima é subjetiva, condição considerada pelo sujeito como válida somente para a sua vontade. A lei é objetiva, condição válida para a vontade do ser racional. Imperativo categórico é a lei incondicionada e independente de qualquer estímulo empírico. Kant a formula da seguinte maneira: age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal. [Modo sofisticado de enunciar a conhecida “regra de ouro”: faça ao próximo o que gostaria que ele fizesse a ti]. Trata-se de lei moral, lei universal de conduta.

Tales revolucionou a matemática ao inventar os elementos mínimos das demonstrações geométricas sem necessitar de prova alguma segundo o juízo comum. Para apreender as propriedades de uma figura geométrica, Tales percebeu que não necessitava de rastrear o que via na figura ou no seu conceito, mas o que ele mesmo tinha de produzir e introduzir pensando aquilo que se apresentou a priori. Para saber, de modo seguro, algo a priori, Tales percebeu que nada precisava acrescentar à coisa, salvo o que ressaltava necessariamente daquilo que ele mesmo nela havia posto conforme o seu conceito.

[Ainda que impossível conhecer deus, alma e liberdade, possível pensá-los e considerá-los objetos de conhecimento para fins didáticos, tendo em vista a sua importância para a sociedade e para a vida dos humanos. Há sistemas jurídicos fundados nessas idéias, como o direito religioso (judeu, cristão, muçulmano) e o direito estatal (autocrático, democrático)].

Kant salienta o propósito de mudar o método de investigação para chegar a uma Metafísica de caráter científico. Na teoria por ele exposta, a razão pura é a que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori. Ele entende a razão como faculdade que fornece princípios do conhecimento a priori, isto é, sem condicionamento da vontade e dos sentidos. A Crítica da Razão Pura é uma ciência propedêutica ao sistema da razão pura, que estuda as fontes e os limites dessa razão, destinada a purificá-la e mantê-la livre de erros. Trata-se de uma crítica transcendental cujo propósito não é o de ampliar os conhecimentos, mas sim o de retificá-los e fornecer a pedra de toque que decide sobre a presença ou ausência do valor de todos os conhecimentos a priori. O seu objeto é o próprio entendimento humano.

Intuição e conceito constituem os elementos de todo o nosso conhecimento. Pela intuição a mente recebe as representações. Pelo conceito a mente conhece os objetos através de tais representações. Pela intuição o objeto é dado. Pelo conceito o objeto é pensado em relação à sua representação. Ambos (intuição e conceito) podem ser puros ou empíricos. Puros quando a representação não se mescla a qualquer sensação. Empíricos quando contêm alguma sensação que supõe a presença real do objeto. Somente as intuições e os conceitos puros podem ser a priori. Pensamentos sem conteúdo são vazios. Intuições sem conceitos são cegas. Os conceitos devem se tornar sensíveis. Para tanto, é preciso acrescentar-lhes o objeto intuído. As intuições devem se tornar compreensíveis. Para tanto, é preciso colocá-las sob conceitos. O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada podem pensar. {O pensamento não sente; o sentimento não pensa}. Entende-se como Estética, a ciência das regras da sensibilidade em geral. Entende-se como Lógica, a ciência das regras do entendimento em geral. A Lógica abrange o uso geral ou particular do entendimento. A Lógica Transcendental estuda a origem, o âmbito e a validade objetiva do conhecimento puro do entendimento (quando o objeto é pensado de modo inteiramente a priori). A Lógica Geral refere-se tanto ao conhecimento empírico quanto ao conhecimento puro da razão.

A verdade consiste na concordância do conhecimento com o seu objeto. No que tange ao conteúdo, não é possível critério geral e seguro da verdade válido para todos os conhecimentos. No que tange à forma, há critérios universais relativos ao pensamento em geral, mas insuficientes, porque o conhecimento pode estar conforme as regras lógicas, porém em contradição ao seu objeto {sofismas}. O juízo é o conhecimento mediato de um objeto. Os juízos matemáticos são todos sintéticos. A ciência da natureza (Física) contém em si juízos sintéticos a priori como princípios. O pensamento é o conhecimento mediante conceito. O entendimento em geral pode ser representado como a faculdade de julgar [inclusive a de apreender a idéia]. A Lógica Geral verifica se o predicado é atributo ou não do sujeito. A Lógica Transcendental considera o valor ou conteúdo do juízo. A síntese geral é o simples efeito da capacidade da imaginação, função cega da alma, embora indispensável, sem a qual de modo algum teríamos conhecimento, mas da qual raramente estamos conscientes.

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