EUROPA (1800
a 1900). Continuação.
Kant
seleciona dois tipos de certeza:
(1) a intuitiva, expressa nos axiomas da intuição e antecipação da
percepção; (2) a discursiva, expressa mediante analogias da experiência
e postulados do pensamento empírico em geral. Nos domínios da Metafísica é possível
pensar, mas impossível conhecer. Para a apreensão de um objeto é necessária uma
intuição. Por isso, a alma não pode
ser vista como substância pensante, pois o conceito de substância para ser aplicado
a um objeto também supõe uma intuição. Não há coisa alguma no espaço e no tempo
que possa ser considerada alma; não
há qualquer percepção sensível da alma e tal percepção é condição fundamental
do conhecimento; logo, a alma é uma forma do pensamento; ela não existe como objeto real.
Podemos pensar a alma, mas não conhecê-la.
Primeira antinomia da razão: (1) Há um
princípio no tempo e um limite no espaço. (2) Não há princípio nem limite do
universo. Ambas as proposições têm a mesma força lógica. [A Astrofísica (Macrofísica)
tende para a primeira tese: houve um começo mediante a explosão de energia
concentrada (big-bang) e o universo está se expandido, mas pode chegar a
um limite e se contrair]. Segunda
antinomia da razão: (1) tudo quanto existe no universo é composto de
elementos simples indivisíveis. (2) O universo é composto de elementos
infinitamente divisíveis. Ambas as teses têm a mesma força lógica. [A Física Nuclear
(Microfísica) tende para a primeira tese após a teoria das cordas. A partícula
final da matéria, desprovida de estrutura e indivisível é um filamento
vibrátil. Até o momento, a teoria não foi comprovada experimentalmente]. Terceira antinomia da razão: (1) Há
uma causa primeira e um ser criador, necessário e supremo, dentro ou fora do universo.
(2) O universo, sempre igual a si mesmo, resulta do movimento de forças
cósmicas sem ter sido criado em tempo algum. A argumentação ontológica,
cosmológica e teleológica usada para sustentar a primeira tese é rebatida por
Kant, que sustenta a segunda tese: não há evidência alguma da causa primeira e
da existência de um criador.
A
razão é bidimensional: teórica e prática. A dimensão teórica
refere-se à busca do conhecimento. A dimensão prática refere-se à ação criadora
do mundo moral, domínio em que se encontram os fundamentos da Metafísica. A
vida moral é a forma através da qual é possível conhecer a liberdade. A
razão de ser da vida moral é a liberdade. A lei moral provém da idéia de
liberdade. Esta idéia racional de liberdade determina por si mesma a vida
moral e com isso demonstra sua própria realidade. Na esfera moral, a liberdade
é o noumenon (a coisa em si mesma) inalcançável na esfera física. As máximas
morais distinguem-se das leis morais. A máxima é subjetiva, condição considerada pelo sujeito
como válida somente para a sua vontade. A lei é objetiva, condição válida para a vontade do ser racional. Imperativo
categórico é a lei incondicionada e independente de qualquer
estímulo empírico. Kant a formula da seguinte maneira: age de tal maneira
que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal. [Modo
sofisticado de enunciar a conhecida “regra de ouro”: faça ao próximo o que gostaria que ele fizesse a ti]. Trata-se de
lei moral, lei universal de conduta.
Tales
revolucionou a matemática ao inventar os elementos mínimos das demonstrações
geométricas sem necessitar de prova alguma segundo o juízo comum. Para
apreender as propriedades de uma figura geométrica, Tales percebeu que não
necessitava de rastrear o que via na figura ou no seu conceito, mas o que ele
mesmo tinha de produzir e introduzir pensando aquilo que se apresentou a
priori. Para saber, de modo seguro, algo a priori, Tales percebeu
que nada precisava acrescentar à coisa, salvo o que ressaltava necessariamente
daquilo que ele mesmo nela havia posto conforme o seu conceito.
[Ainda
que impossível conhecer deus, alma e liberdade, possível pensá-los e considerá-los
objetos de conhecimento para fins didáticos, tendo em vista a sua importância
para a sociedade e para a vida dos humanos. Há sistemas jurídicos fundados
nessas idéias, como o direito religioso (judeu, cristão, muçulmano) e o direito
estatal (autocrático, democrático)].
Kant
salienta o propósito de mudar o método de investigação para chegar a uma
Metafísica de caráter científico. Na teoria por ele exposta, a razão pura é a que contém os princípios
para conhecer algo absolutamente a priori. Ele entende a razão
como faculdade que fornece princípios do conhecimento a priori, isto é, sem condicionamento da
vontade e dos sentidos. A Crítica da Razão Pura é uma ciência
propedêutica ao sistema da razão pura, que estuda as fontes e os limites
dessa razão, destinada a purificá-la e mantê-la livre de erros. Trata-se de uma
crítica transcendental cujo propósito não é o de ampliar os conhecimentos, mas
sim o de retificá-los e fornecer a pedra de toque que decide sobre a presença
ou ausência do valor de todos os conhecimentos a priori. O seu objeto é
o próprio entendimento humano.
Intuição
e conceito constituem os elementos
de todo o nosso conhecimento. Pela intuição a mente recebe as
representações. Pelo conceito a mente conhece os objetos através de tais
representações. Pela intuição o objeto é dado. Pelo conceito o objeto é pensado
em relação à sua representação. Ambos (intuição e conceito) podem ser puros ou
empíricos. Puros quando a
representação não se mescla a qualquer sensação. Empíricos quando contêm alguma sensação que supõe a presença real
do objeto. Somente as intuições e os conceitos puros podem ser a priori.
Pensamentos sem conteúdo são vazios. Intuições sem conceitos são cegas. Os
conceitos devem se tornar sensíveis. Para tanto, é preciso acrescentar-lhes o
objeto intuído. As intuições devem se tornar compreensíveis. Para tanto, é
preciso colocá-las sob conceitos. O entendimento nada pode intuir e os sentidos
nada podem pensar. {O pensamento não sente; o sentimento não pensa}. Entende-se como Estética, a ciência das regras da sensibilidade em geral. Entende-se
como Lógica, a
ciência das regras do entendimento em geral. A Lógica
abrange o uso geral ou particular do entendimento. A Lógica Transcendental
estuda a origem, o âmbito e a validade objetiva do conhecimento puro do
entendimento (quando o objeto é pensado de modo inteiramente a priori).
A Lógica Geral refere-se tanto ao conhecimento empírico quanto ao
conhecimento puro da razão.
A verdade
consiste na concordância do conhecimento com o seu objeto. No que tange ao
conteúdo, não é possível critério geral e seguro da verdade válido para
todos os conhecimentos. No que tange à forma, há critérios universais
relativos ao pensamento em geral, mas insuficientes, porque o conhecimento pode
estar conforme as regras lógicas, porém em contradição ao seu objeto {sofismas}.
O juízo
é o conhecimento mediato de um objeto. Os juízos matemáticos são todos
sintéticos. A ciência da natureza (Física) contém em si juízos sintéticos a
priori como princípios. O pensamento é o conhecimento
mediante conceito. O entendimento em geral pode
ser representado como a faculdade de julgar [inclusive a de apreender a idéia]. A Lógica Geral
verifica se o predicado é atributo ou não do sujeito. A Lógica Transcendental
considera o valor ou conteúdo do juízo. A síntese geral é o simples efeito da capacidade da imaginação,
função cega da alma, embora indispensável, sem a qual de modo algum teríamos
conhecimento, mas da qual raramente estamos conscientes.
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