sábado, 29 de novembro de 2014

FILOSOFIA XIV - 15



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Romantismo, realismo e simbolismo convivem na Idade Moderna. O movimento simbolista caracteriza-se pelo modo de expressão e pelo psicologismo. A obra de arte é utilizada para provocar sensações, emoções e pensamentos. Os simbolistas devotavam-se à arte sem a preocupação de transmitir uma filosofia ou algum conhecimento científico. Valem-se do colorido, do florido, da delicadeza, primando pelo refinamento do estilo. Ao fugir do realismo, alguns simbolistas adentraram no misticismo; outros, cativados pela psicologia freudiana, procuravam revelar os segredos do subconsciente por meio de imagens e palavras sugestivas. Da França, o simbolismo difundiu-se por outros países europeus e americanos. Na opinião geral dos simbolistas, as anteriores formas de expressão deformavam o espírito humano. O homem não pensa por sentenças bem elaboradas e sim por palavras e frases desconexas. [A lógica de Aristóteles tem como pressuposto esse fato e por objetivo colocar ordem no pensamento e nas palavras que o expressam]. Stéphane Mallarmé (1842 a 1898), poeta francês, professor de literatura, deu ao movimento simbolista a sua teoria e a sua técnica. “A Tarde de um Fauno” foi considerado o seu mais primoroso poema, enquanto “Um Lance de Dados” foi considerado obscuro, apesar do seu valor estético. Paul Verlaine (1844 a 1896), poeta francês, autor dos versos reunidos em “Romances sem Palavras”, que expressam as suas tempestuosas relações com Rimbaud. O poema “Sabedoria” expressa a sua conversão ao catolicismo. Além desses, ainda se incluem entre a sua melhor produção: “Poemas Saturnianos”, “Festas Galantes” e “Poetas Malditos”. Arthur Rimbaud (1851 a 1891), poeta francês, literato revolucionário, aos 17 anos de idade escreve “O Barco Ébrio”, seu poema retumbante que empolgou gerações de escritores. Na Inglaterra, quando compartilhava sua vida com Verlaine, mergulhou na aventura mística para se tornar profeta. Disto resultaram duas coletâneas de poemas em prosa: “Uma Temporada no Inferno” e “Iluminações”.

O romantismo e o realismo marcaram presença também na pintura. Os pintores Jean-François Millet (1814 a 1873) e Dante Gabriel Rossetti (1828 a 1882) enquadram-se no romantismo. O primeiro artista retro citado (Millet) seguiu a tradição da escola de pintura de paisagens, mas também incluiu no seu trabalho a luta dos trabalhadores contra a pobreza e as forças da natureza como exemplificam os quadros “Homem com Enxada” e “O Semeador”. O segundo artista retro mencionado (Rossetti) primava pela simplicidade e naturalismo. Ele desprezava o artificialismo na pintura. Para ser digna do nome, a arte há de ser ligada à vida, veículo para idéias e útil para atender às necessidades do homem. Honoré Daumier (1808 a 1879) e Gustave Coubert (1819 a 1877) foram pintores realistas, defensores dos oprimidos e explorados. Ambos inseriram suas obras em uma dimensão social. Apresentavam os fatos da vida real tal qual eram vistos. Manifestavam consciência social e simpatia pelos pobres. Pintavam o sujo e o mísero, bem como os vícios e fraquezas da burguesia. Daumier expôs a corrupção dos funcionários, os disparates dos profissionais do direito e ridicularizou a piedade hipócrita dos ricos. Coubert recusou a Cruz da Legião de Honra oferecida por Napoleão III.

Nessa mesma época surge um novo movimento derivado do realismo: o impressionismo. Os pintores deste movimento também primam por reproduzir aquilo que seus olhos enxergam. Além disto, consideram a visão científica da natureza. A técnica é singular: o que esses pintores apresentam em suas obras é a impressão imediata dos seus sentidos. Cabe ao observador preencher lacunas ou adicionar detalhes. As figuras são deformadas. Poucos traços representam por inteiro o objeto. Cores são lançadas lado a lado no mesmo quadro para que o observador as misture com seus próprios olhos. Estava presente no espírito desses pintores o fato comprovado pela ciência de que a luz se decompõe em várias cores. Buscaram luz e sombra fora do atelier, no seio da natureza. O que de perto parece borrão de tinta, de longe revela imagens. A França foi o berço desse movimento e seu fundador foi Édouard Manet (1832 a 1883). Este pintor sofreu a influência dos mestres espanhóis. O pintor Claude Monet (1840 a 1926) destacou-se no modo de interpretar a paisagem. Ele fugiu do plano convencional; sugere, apenas, os modelos que pinta (contornos de montanhas, rochedos, árvores, campos). Esse pintor dava grande importância à luz. Augusto Renoir (1841 a 1919), o mais popular dos impressionistas, distingue-se pela variedade dos seus modelos, além da qualidade das suas pinturas. Ele pinta paisagens e também cenas da vida social moderna.

A ausência de formas, a falta de volume e de idéias e os aspectos casuais e momentâneos da natureza na obra dos impressionistas provocaram nova onda na pintura. Esta devia revestir-se da solidez que se nota na escultura. Segundo a nova corrente, a arte deve exprimir algum sentido. A forma e a técnica devem servir a um propósito. Esse movimento foi coetâneo ao tipo de sociedade que surgia no século XIX e refletia as inquietações da época moderna. Paul Cézanne (1839 a 1906), pintor francês, preferia como temas: natureza morta, paisagens e retratar a própria esposa. Ele impulsionou o desenvolvimento da arte ao lado de Gauguin e Van Gogh; lançou os fundamentos da pintura escultural, movimento artístico resultante da reação aos movimentos anteriores (romantismo, realismo e impressionismo). Ele alcançou o objetivo de representar a natureza de um modo que as imagens pintadas em uma tela plana parecessem ter o relevo e a profundidade de uma escultura. O sucesso da sua pintura gerou o brocardo: “depois de Cézanne, não há mais razão para a escultura”. [Quando um tipo de arte atinge o seu auge, a nova geração procura diferentes formas de expressão]. Paul Gauguin (1848 a 1903), peruano afrancesado, declara independência em relação aos tipos do passado. Afirma a liberdade do artista. Pinta seus quadros com cores berrantes e exótico simbolismo. Retrata o mundo segundo os seus próprios sentimentos (subjetivismo). Imprime um sentido emocional à natureza. Desiludido com a complexidade e o artificialismo da civilização moderna, ele se refugia nas ilhas dos mares do sul e passa os seus derradeiros dias pintando as cores de uma sociedade primitiva e inexplorada. Torna-se, desse modo, o precursor do movimento primitivista na arte do século XX. Vincent Van Gogh (1853 a 1890), holandês genial e genioso, desenhista e pintor cujos quadros revelam intensidade emotiva. Retratava a vida dos camponeses em cores e de forma sombria. Influenciado pelos impressionistas e pelas gravuras japonesas, já morando em Paris (1886), ampliou os temas para paisagens, retratos e natureza morta. Influenciou os pintores modernos que consideram a expressão do subjetivismo como exclusiva função da arte. A sua vasta produção pictórica nada lhe rendeu financeiramente. Viveu na pobreza. Alcoólatra, Van Gogh sofria crises nervosas, alucinação e depressão. Numa dessas crises, após brigar com Gauguin, cortou parte da própria orelha. Internado em manicômio, continuou a pintar. Suicidou-se com um tiro.

A obra dos escultores foi numerosa, porém sem originalidade. Prevaleceu o barroco (grande, pesado, decorativo). A exceção coube ao francês Auguste Rodin (1840 a 1917). Influenciado pela produção artística de Miguel Ângelo, esse pintor se mostra eclético ao refletir as correntes do romantismo, realismo e impressionismo. Interessava-se pela origem do homem e suas qualidades psíquicas. Inspirado na obra de Dante, ele produz “A Porta do Inferno”. A sua escultura mais conhecida é “O Pensador”, que sugere a culminância da evolução física do homem e a sua faculdade distintiva: a racionalidade. A arquitetura do século XIX continuou a mesma dos séculos anteriores: grandes construções barrocas como a Ópera de Paris, a catedral luterana de Berlim e o Reichstag. Notavam-se construções ornamentadas com motivos bizantinos, egípcios, chineses, mouriscos e hindus. Reviveu-se o estilo gótico medieval, adotado na construção de igrejas, universidades, parlamentos e outras edificações públicas.

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