terça-feira, 1 de março de 2011

TERAPEUTICA

Cura pela razão e pela fé – X.

A cura dos males da humanidade exige mudança da ótica mecanicista para a holística, o que já vem acontecendo graças à expansão da consciência ecológica. Até o século XVI (1501/1600) a economia não estava isolada da estrutura da vida social e política, nem havia sistema nacional de mercado. A corrente iluminista e a revolução científica abriram caminho à economia moderna: empirismo + materialismo + individualismo + pragmatismo + raciocínio crítico. No atual século XXI (2001/2100) parcela da humanidade reage a esse modelo que se mostrou insalubre, inconveniente, gerou graves distúrbios ecológicos, biológicos, psíquicos e sociais em todo o orbe.

Agir efetivamente após essa tomada de consciência implica substituir gradualmente o modelo competitivo por cooperativo, o cartesiano pelo holístico. A cura dos males sociais e individuais depende dos recursos da ciência e da espiritualidade aplicados segundo uma visão holística. O modo de vida gerado por um sistema social e econômico tem reflexos na saúde do povo. Poluição, droga, crime, violência, corrupção, prostituição, licenciosidade, miséria, fome, são distúrbios decorrentes do sistema. Na esfera individual, o sistema gera doenças somáticas e psíquicas; alguns remédios têm efeitos colaterais mais nocivos do que a doença que combatem; à indústria farmacêutica só interessa o lucro e o crescimento do mercado consumidor. Se a geratriz dos distúrbios não mudar, o estado mórbido persistirá.

Vida saudável implica harmonia entre: (i) as partes internas do corpo; (ii) a mente e o corpo; (iii) o organismo e o ambiente natural; (iv) os membros da comunidade nacional; (v) as nações do mundo; (vi) a humanidade e a dimensão espiritual do universo.

Essa harmonia implica efetiva preservação da dignidade humana. Não haverá harmonia, paz, fraternidade, enquanto: (i) os direitos fundamentais do ser humano não forem reconhecidos e respeitados; (ii) as potencialidades físicas, intelectuais e espirituais do ser humano não puderem ser atualizadas; (iii) houver nacionalismos exacerbados e governantes tirânicos ou desonestos (iv) a força e a violência forem os meios empregados para solucionar divergências ou submeter pessoas e nações; (v) a natalidade continuar sem controle; (vi) o risco de uma hecatombe nuclear não for eliminado; (vii) as fontes de energia não forem acessíveis a todos os povos; (viii) os benefícios da civilização não forem distribuídos equitativamente a toda a humanidade; (ix) a espiritualidade estiver ausente das relações humanas; (x) a competição prevalecer sobre a compaixão.

No que concerne à harmonização espiritual, a cura dos males depende da fé que desloca montanha (Marcos 11: 22/23 + Lucas 17: 6). Nesse estágio, a fonte curadora é a mente divina presente em cada ser da natureza. Fé intensa libera substâncias regeneradoras no organismo. A pessoa pode ignorar esse mecanismo e assim mesmo a cura se realizar. Isto significa que a importância maior para a cura é a crença inabalável em Deus, no governo do universo pela mente divina, no poder regenerador dessa mente.

Na busca da pedra fundamental da matéria, a ciência mergulhou no átomo, encontrou o elétron e o núcleo. No interior do núcleo encontrou elementos, uns gerando os outros, ora como partículas, ora como ondas. As causas não foram identificadas, inclusive a do salto do elétron de uma órbita a outra no interior do átomo. Segundo uma das teorias dos físicos contemporâneos, esses elementos se organizam de modo autônomo e inteligente. Nesse universo microscópico o caos aparente oculta certa ordem (ou certos padrões). Não há pedra fundamental e sim processos ordenadores de energia. Os místicos aí identificarão a incidência da mente divina, presente e atuante em cada átomo, molécula, célula, tecido e órgão do corpo. Colocar-se em harmonia com essa mente é elevar-se a um estado de consciência incomum. Deixando-se absorver na mente divina o paciente se mantém vivo e se livra da doença, ainda que a ciência a considere incurável. Para a mente divina, nenhum mal é incurável. “O que é impossível aos homens é possível a Deus” (Lucas 18: 27).

Dir-se-á que esse poder da mente divina traria vida eterna ao ser humano. Hipótese atraente, mas irreal. Esse poder traz vida longa, mas não eterna. O que no mundo natural nasce no mundo natural perece. Essa é a lei. Todo corpo físico se desgasta, muda de forma até se tornar energia incorpórea, variando apenas a duração. Ninguém sobe aos céus com o corpo, nem Elias, nem Jesus, ou qualquer outro, salvo em aeronave. A cura divina permite que a vida humana, no estrito significado biológico, termine – não por doença – e sim por desgaste do corpo decorrente do seu ininterrupto funcionamento.

Sem livrar-se das fantasias contidas nos textos religiosos, sem escapar do estelionato praticado por rabinos, aiatolás, gurus, padres, pastores, missionários, sem desvelar a propaganda enganosa, sem resistir à coação moral imposta pelas instituições religiosas, sem encarar a realidade social e a hipocrisia política, a civilização ocidental continuará vítima dos males resultantes dessa omissão.

A liberdade de pensamento desconforta os profissionais da exploração religiosa. O exame das escrituras fora do clero é visto como heresia. Os profissionais da fé religiosa incutem medo no espírito dos fiéis. Estes são ameaçados com a ira divina e castigos imaginados pelos espertos escritores dos textos religiosos que se dizem inspirados por Deus. Desvirtuam a religiosidade e mantêm o rebanho na ignorância. Rabinos, aiatolás, gurus, padres, pastores, missionários, passaram à categoria de estelionatários e os crentes à categoria de otários. A cega fé dos otários favorece a safadeza dos estelionatários.

A asfixia da voz de Cristo, a que aludiu o papa Bento XVI, não ocorreu agora, na sociedade contemporânea. Começou com Paulo, na aurora do movimento cristão e prosseguiu nos concílios. Ao se institucionalizar, a igreja calou a voz de Cristo. A igreja ecoa a voz farisaica de Paulo e não a voz cristã de Jesus.

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