segunda-feira, 7 de março de 2011

VIAGEM3

VIAGEM A CAMPINAS – Final.

Lothar, de bom humor, referiu-se algumas vezes ao seguinte episódio: em uma festa da TM (= Turma de Merda) em Curitiba, quando éramos jovens e solteiros, com algumas cervejas no caco, eu dissera que ele podia casar com a namorada (hoje, sua esposa), pois eu acabara de lhe dar uma baita cantada e ela resistira. A primeira parte da narrativa provavelmente ocorreu. Creio que ao inventar a cantada, eu testava a reação do Lothar. A segunda parte da narrativa me parece improvável por motivos óbvios: (i) eu jamais cantei mulher alguma, pois eu era avesso a esse tipo de conduta; (ii) cantar ou namorar irmãs ou namoradas dos meus amigos nunca fez parte dos meus costumes; (iii) eu era tímido.
Em pleno carnaval (1958) na sede do Coritiba FC, eu brinquei com uma garota que há muito tempo admirava. Ela morava no bairro vizinho ao meu. Sentamos na escadaria. Seria o nosso primeiro diálogo. Eu não acreditava que ela estivesse ali, ao meu lado. Ela quieta e eu sem saber o que falar. Abordei o assunto mais inadequado para a ocasião: esoterismo. Perdi a chance. Eu devia ficar calado. O silêncio é de ouro. A timidez me derrotou.
Certa vez (1964) em reunião com outra turma de amigos, todos conversavam ao mesmo tempo, quando Marisa levantou-se da poltrona, arregalou os olhos, abriu os braços e exclamou em voz alta: “o Antoninho é tímido; pessoal, o Antoninho é tíiiimido!” Aquilo me constrangeu. Ela descobrira – não sei como, talvez por eu enrubescer – um traço do meu caráter que a alegria, a boemia e as serestas escondiam. Apesar de aparentar o contrário, eu era tímido, especialmente com mulheres. Nunca mandei flores, presentes, nem fiz gesto ou tomei atitude alguma com o propósito de conquistar mulher, inclusive a minha esposa (e eu já estava com 31 anos de idade quando a namorei). O relacionamento acontecia naturalmente: vencida a timidez inicial, ambos os lados se entendiam.
Em São Paulo, quando eu cursava filosofia do direito (pós-graduação) recorri às artes marciais para vencer a timidez no campo profissional. Tentei não sucumbir diante dos desafios daquela metrópole (1968/1970). Tímido, pobre, moreno e modesto, eu seria engolido pelo desvario daquela cidade se não adquirisse agressividade. Praticando caratê fiquei agressivo e confiante.
Esse perfil me leva a duvidar da existência real daquela cantada a que o Lothar se refere. Não me lembro do ato, nem do relato. Provavelmente, o relato existiu, pois o Lothar nele insiste com firmeza, mas, certamente, o conteúdo do relato terá saído da minha imaginação a título de troça jovial.
Lothar referiu-se a mim como rei do cavaquinho. Contudo, poucas vezes toquei cavaquinho, assim mesmo, por simples divertimento. O meu instrumento sempre foi o violão. Isto lembra um dos maiores vultos da música popular brasileira: tocou cavaquinho, mas seu instrumento principal e preferencial era o violão. No entanto, ficou o apelido: “Nelson do Cavaquinho”. O rei do cavaquinho era Waldir Azevedo; o rei do bandolim era Jacó. Atualmente, existem exímios tocadores de violão, cavaquinho e bandolim.
Fim de noite. Despedidas, promessa de nos reunirmos em Guaratuba. Lina e Janete nos levaram ao hotel. Entreguei a Lina três exemplares do livro “O Evangelho da Irmandade” da minha autoria, para presentear pessoas que gostem do tema. Eu já presenteara Lina e Lothar com um exemplar no dia do aniversário, além do presente trazido pela Jussara.
Sábado. 19/02/2011. 09,00 horas. Lanchamos no hotel. O moço da portaria nos explicou o itinerário até a rodovia Pedro I. Abastecemos o carro no posto da Avenida Moreira Sales e seguimos reto, passamos pelo parque ecológico até a placa indicativa da rodovia. Com a nossa chegada, os cachorros (Pretinho, Bóris, Brigitte e Laika) ficaram alegres e fizeram festa. Voltamos à rotina.

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