domingo, 27 de março de 2011

RELIGIÃO

ANTIGO TESTAMENTO - VIII.

Isaías – segunda parte (capítulos 40/55).

Esta segunda parte do livro de Isaías também é conhecida como livro da consolação e provavelmente foi escrita por outra pessoa. Refere-se ao exílio dos judeus e ao regresso desse povo a Jerusalém, o que ocorreu em época posterior à morte de Isaías. Aliás, salvo alguma exceção (salmos, cânticos) os livros bíblicos, principalmente os históricos, não foram escritos por seus principais personagens. Nesta segunda parte do livro ora resumido, a mensagem é de esperança a um futuro melhor. Nela se vê poemas e referência constante a um Servo do Senhor, que não se sabe quem seja. Impressiona a semelhança com Jesus, em especial, os tormentos sofridos, o martírio e a morte entre facínoras, a resignação (não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro). Há oráculos contra outros povos (assírios, caldeus, egípcios, filisteus) causadores de tribulações aos hebreus, porém, vistos como instrumentos da vontade divina. Os padecimentos do povo hebreu eram considerados castigos divinos pela desobediência, infidelidade, corrupção e demais violações das leis de Deus. As nações que dominassem o povo hebreu seriam dominadas por outras nações mais poderosas até que o messias aparecesse e a todas destruísse. O profeta anuncia a chegada da divindade: abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso deus, que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas, que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas. Fala da glória da nova Jerusalém e faz orações.

Crônicas I e II.

Estes dois livros compunham, originariamente, uma só obra juntamente com os livros de Neemias e Esdras. Há indícios de que foram escritos pelo mesmo autor em época posterior aos fatos ali narrados. As Crônicas I e II recebem o nome de Paralipômenos. Essas obras são eminentemente religiosas. Procuram mostrar como a divindade serve-se dos reis, profetas e sacerdotes para realizar os seus desígnios. Nota-se o primado da crença religiosa e da fidelidade à aliança com Javé, em relação a todos os demais assuntos políticos, econômicos e sociais. Supõe-se que a época desses escritos foi a do retorno dos judeus à Jerusalém, depois de 70 anos de exílio na Babilônia. Na Palestina, eles não tinham autonomia política. A religião era o laço forte que mantinha unido aquele pequeno grupo de judeus. Acreditavam na intervenção direta da divindade nos negócios mundanos. Alimentavam a esperança na vinda de uma realeza espiritual como no tempo dos juízes em que o único rei das tribos era o deus Javé. Os livros contêm orações de Davi e de Salomão.

O primeiro livro começa com a genealogia dos hebreus, desde Adão até Jacó (Israel), continua com a descendência de Judá e informa que as genealogias estão consignadas no livro dos reis de Israel. Contém a história do reinado de Davi, incluindo as guerras, o recenseamento do povo, os preparativos para a construção do templo, a organização política e religiosa, a unção de Salomão e a morte de Davi. O segundo livro relata o reinado de Salomão, a sua súplica por sabedoria, a construção do templo e sua descrição, a aparição da divindade a Salomão, a visita da rainha de Sabá, a morte do rei, o cisma das 10 tribos, os reinados dos sucessores de Salomão, a reforma religiosa, a guerra entre os dois reinos (Judá x Israel), a guerra contra os sírios, a invasão dos sírios, a reorganização política e religiosa, a ruína de Jerusalém, a deportação dos judeus para a Babilônia e o edito de Ciro autorizando o retorno dos judeus a Jerusalém.

Comentário. A genealogia dos hebreus peca pela base: parte de Adão, pessoa que nunca existiu. Desconhece-se o ponto da evolução da vida na Terra em que surgem seres humanos no mundo animal. Certamente, pelos fósseis encontrados e estudados por paleontólogos, surgiram humanóides ao longo de milhões de anos em diferentes pontos do planeta até a estrutura humana atual. Calcula-se que o cérebro humano só atingiu o atual estágio há 50 mil anos. Falta amparo à crença na intervenção direta de Deus nos assuntos humanos. Da produção científica e do bom senso extrai-se a certeza de que não existe especial desígnio divino em relação ao planeta Terra e aos seres vivos que nele habitam. As estrelas se apagam e se transformam em buracos negros, sugando o que estiver nas imediações. O Sol é uma estrela e algum dia transformar-se-á em buraco negro, sugando os planetas próximos (Mercúrio, Vênus, Terra). Antes disto, a vida vegetal e animal se extinguirá em nosso planeta pelas baixas temperaturas geradas pela redução do calor solar. Isto se a vida já não estiver extinta pela própria loucura do ser humano: hecatombe nuclear, desastre ambiental. Outra probabilidade dentro de alguns milhares de anos: construção de novo habitat na Via Láctea ou em outras galáxias possibilitada pelo avanço científico e tecnológico; êxodo da humanidade em escala astronômica. Quanto mais tomamos consciência dos milhões de galáxias existentes no universo e de que o nosso minúsculo planeta situa-se em um pequeno sistema solar no cantinho de uma dessas galáxias, mais nos convencemos dessa dura verdade: as leis divinas atuam de modo inflexível, automático e impessoal, com lógica interna própria, sem a direta intervenção de um deus personalizado.

A inteligência divina comanda o universo mediante essas leis, desde as partículas no interior do átomo até o aparente caos no interior das galáxias. As ações e omissões dos seres humanos estão sujeitas a essas leis. A intervenção divina é tão somente um desejo, aspiração de quem se sente impotente diante da magnitude do universo, dos fenômenos da natureza e do mundo construído pelo homem (cultura e civilização); desejo e aspiração de quem pretende alcançar objetivos superiores às suas forças, indefeso ante as forças da natureza e as armadilhas dos seus semelhantes. Os apelos à ajuda divina facilitam a ilusão. O acesso a Deus se dá pela harmonização cósmica, possível a quem merece e se prepara com a mente arejada e o coração limpo. A resposta (iluminação espiritual) orienta o suplicante, mas não o substitui no agir. A palavra vem da fonte espiritual; a ação cabe ao indivíduo.

Deus não toma partido a favor ou contra; não dá vitória a um e derrota a outro; não veste armadura e capacete para pelejar no exército árabe ou no exército israelense. Os humanos são os únicos e exclusivos responsáveis por suas ações e omissões, por seu próprio karma positivo ou negativo, individual ou coletivo; são livres para praticar o bem e o mal e arcar com as conseqüências boas e más da conduta escolhida. Os humanos se consideram distintos e nobres em face dos demais seres vivos. Entretanto, nascem, crescem, reproduzem e morrem como todo ser vivo. Por ser racional e criar o seu próprio mundo (cultura) o humano imagina destino especial reservado por Deus. Doce ilusão. Não há certeza geral do que se passa na dimensão espiritual do universo. Há crenças, suposições, opiniões. O êxtase ilumina a mente, porém é experiência pessoal intransferível e incomunicável.

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