sábado, 19 de março de 2011

RELIGIÃO

ANTIGO TESTAMENTO – IV.

Samuel I e II.

Originalmente, esses dois livros formavam um só. Cuida-se de um período de 100 anos da história hebréia, que vai da época dos juizes à época do rei Davi. Descreve os episódios da realeza e do estabelecimento da linhagem de Davi. Destacam-se os personagens Samuel, último juiz da nação hebréia, Saul, primeiro rei daquela nação, e Davi, primeiro rei exclusivo de Judá e depois sucessor de Saul no trono nacional (tribos de Judá e Benjamin + 10 tribos). Samuel nasceu de mulher estéril. Em agradecimento pelo milagre, a mãe o consagra. Findo o período da amamentação, a mãe o entrega ao juiz e sacerdote chamado Heli, cujo governo durou 40 anos. Samuel foi criado no templo a serviço do deus Javé. Ainda menino, ele recebe a visita e a mensagem desse deus. Adulto, foi reconhecido como profeta e guia de Israel. Perdeu batalha contra os filisteus. Os vencedores levaram a Arca da Aliança, porém, devolveram-na vinte anos depois, atribuindo a ela as desgraças que sofreram. Samuel exorta os hebreus a abandonarem cultos a deuses e deusas e a se dedicarem ao culto exclusivo de Javé. O povo obedece. Em nova batalha com os filisteus, a vitória coube aos hebreus. Todas as cidades perdidas foram recuperadas. Os vencidos foram expulsos de Canaã.

O povo pediu um rei. Samuel nomeia Saul, um belo jovem da tribo de Benjamin. Diante do povo, Samuel expôs os direitos do rei e os registrou em livro. Agredida pelos amonitas, a tribo de Gad pede socorro às demais tribos. Saul marcha com 330 mil homens (o escritor bíblico exagera habitualmente) contra Amon e venceu a batalha. Samuel providenciou cerimônia de confirmação da realeza de Saul. Durante o seu reinado, Saul combateu e venceu os seus vizinhos. Samuel passa ao rei Saul ordem de Javé: votar ao interdito o reino de Amalec. Isto significava destruir cidades e matar homens, mulheres, crianças e animais (bois, ovelhas, camelos e jumentos). Saul cumpriu a ordem parcialmente. Poupou Agag, rei de Amalec e tudo que havia de melhor naquele reino. Samuel recrimina Saul, em nome de Javé: a obediência é melhor que o sacrifício; a submissão vale mais do que a gordura dos carneiros. Samuel chama Agag à sua presença e o faz em pedaços a golpes de espada. Depois disto, Samuel retira-se para sua cidade; nunca mais se avistou com Saul. Atendendo à vontade de Javé, Samuel vai à cidade de Belém (da tribo de Judá) e, em cerimônia religiosa, unge com óleo o filho mais novo de Isaí, cujo nome era Davi, para ser o novo rei de Israel. Forte, valente, louro, de boa voz e belo rosto, Davi tocava harpa muito bem. Saul chamou-o para que o som da harpa o aliviasse das angústias.

Davi foi nomeado escudeiro. Dividia o seu trabalho entre o rei e o campo (apascentava o rebanho do pai). Mobilizaram-se os filisteus para outra batalha contra os hebreus (esses dois povos viviam às turras; parecia mal resolvido caso de amor). Golias, campeão filisteu, desafiou o melhor guerreiro hebreu para luta individual. O vencedor seria senhor do povo do guerreiro vencido. Davi contou a Saul que lutara contra um leão e contra um urso (havia urso na Palestina? Ou seria quati?) que roubavam ovelhas do rebanho. Obteve, assim, autorização do rei para enfrentar o campeão filisteu, que era grande, forte e valente. De um lado, Davi, com o cajado em uma das mãos, a funda na outra, pedras lisas no alforje e roupa de pastor (recusou a armadura oferecida por Saul, porque era desconfortável). Do outro lado, Golias, com armadura, capacete, espada, lança e escudo. Trocaram palavras desafiadoras (certamente, um elogiou a mãe do outro) e avançaram. Davi arremessou uma pedra com a funda e afundou a fronte de Golias, matando-o. Saul confiou a chefia dos guerreiros a Davi, que venceu várias batalhas e ganhou a simpatia do povo. Saul deu-lhe como esposa a filha mais nova. O crescente prestígio de Davi despertou, em Saul, inveja e temor. Para não ser morto pelo rei, Davi busca refúgio em Samuel. Começa implacável perseguição. Durante a jornada, Saul entrou numa gruta para satisfazer necessidade fisiológica. Por coincidência, no interior da gruta escondiam-se Davi e seus companheiros. Davi não se deixou afetar pelo fétido odor da régia evacuação e impediu que Saul fosse morto. Morre Samuel. Em novo confronto, Davi poupa, novamente, a vida de Saul. A fim de colocar paradeiro à perseguição, Davi homizia-se com os filisteus, torna-se bandoleiro, assalta e mata homens e mulheres em cidades e aldeias.

Nova refrega, filisteus x hebreus (não há notícia da participação de Davi, que vivia entre os filisteus). Na batalha morrem alguns filhos de Saul. Ferido e não querendo morrer nas mãos dos inimigos, o rei pede ao seu escudeiro que o mate. O escudeiro se nega. Então, o rei se suicida: atira-se contra a própria espada (ou lança). Em Hebron, Davi é proclamado rei. Isboset, filho e herdeiro de Saul, também se declara rei. Em conseqüência, surgem dois reinos mutuamente hostis: Judá (tribo de Judá + tribo de Benjamin = Casa de Judá) x Israel (10 tribos restantes = Casa de Saul). A Casa de Judá se manteve fiel a Davi. A Casa de Saul se manteve fiel a Isboset. Com a morte de Isboset, os anciãos e chefes das tribos foram a Hebron e elegeram Davi rei de Israel. As 12 tribos ficaram sob um só comando. O rei Davi mobilizou seu exército contra os jebuseus, expulsou-os de Jerusalém e elegeu a cidade como sede do reino. Houve mais guerras vencidas por Davi. A Arca da Aliança foi trazida para a sua cidade. No caminho, a arca deslizou do carro que a transportava. Oza, um dos condutores, evitou a queda amparando-a com as mãos. Irado, Javé, deus cruel e sanguinário, o fulminou. Tocar na arca com as mãos significava profana-la. O zelo de Oza custou-lhe a vida. (Esta é mais uma das patacoadas do escritor bíblico. Os raios de Zeus certamente o inspiraram).

Davi teve muitas esposas, concubinas e filhos, entre os quais, Salomão, nascido em Jerusalém. Davi manteve relações adulterinas com Betsabé, esposa de Urias, oficial que estava na guerra. A mulher engravidou. Para ocultar a prova do adultério, Davi chamou Urias e tentou por duas vezes que ele fosse dormir em casa junto à esposa. Urias se recusou alegando ética militar: devia dormir ao relento, na companhia dos servos, enquanto seus comandados estivessem no campo de batalha. Davi o mandou de volta e recomendou a Joab, comandante do exército, colocar Urias na linha de frente para que ele fosse morto pelos inimigos. Assim aconteceu, porém, não se descarta a hipótese de Urias ter sido morto por flecha amiga e não por flecha inimiga. Passado o luto, Betsabé torna-se esposa de Davi. O primeiro filho do casal adoece e morre. O infortúnio foi interpretado como castigo imposto por Javé. Adonias, filho de Davi com a primeira esposa, neto de Saul, conspirou contra o próprio pai, obteve apoio das tribos do norte, marchou contra Jerusalém e assumiu o governo. Depois, saiu em perseguição do pai, que fugira, mas foi derrotado e morto. Davi retorna a Jerusalém e reassume o trono.

Apesar da união pessoal (sob o mesmo rei) a Casa de Judá e a Casa de Saul constituíam duas facções rivais e se comportavam como nações distintas. Judeus e israelitas discutiram ao atravessar o Rio Jordão, quando Davi retornava a Jerusalém. Os israelitas (Casa de Saul) reclamavam da blindagem que os judeus (Casa de Judá) faziam em torno do rei. Os judeus diziam que o rei era mais próximo deles; que Davi pertencia à tribo de Judá e fora o seu primeiro rei exclusivo. Os israelitas replicavam: tinham 10 partes do reino (10 tribos); eram os irmãos mais velhos; não havia motivo para o desprezo que lhes devotavam os judeus, seus irmãos mais novos. Os judeus treplicaram rudemente. Os israelitas declararam autonomia em relação a Davi e voltaram para os seus respectivos territórios. O exército de Davi reprimiu a revolta e assegurou a integridade do reino (Judá + Israel). A dissensão entre os dois grupos prenunciava a separação definitiva em dois reinos independentes. De fato, o cisma aconteceu depois do reinado de Salomão. No final do livro há um apêndice com poemas, façanhas de heróis e referência a um recenseamento em Israel e Judá, determinado por Davi.

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