segunda-feira, 21 de março de 2011

RELIGIÃO

ANTIGO TESTAMENTO - V.

Reis I e II.

Livros de autor desconhecido. Originalmente, estes dois livros eram um só. Cobrem o período que vai da morte de Davi até a primeira destruição de Jerusalém. Descrevem os reinados de Judá e de Israel. De todos os reis, o livro traz conceito favorável a Salomão, Asaf, Josafá, Joás, Osias, Joatão, Ezequias e Josias. No governo deste último foi descoberto o livro da lei pelo sacerdote Helcias, na reconstrução do templo. A profetiza Holda atesta a legitimidade do livro. Josias empreende reforma religiosa: retorno ao culto exclusivo de Javé e abandono do culto dos demais deuses. Josias morre na peleja contra o exército egípcio. Os livros ora resumidos incluem os profetas. Esses homens e mulheres falavam em nome da divindade, aconselhavam e repreendiam os reis e o povo e tinham visão do futuro. A missão dos profetas era fazer o povo respeitar a aliança com Javé, expressar a vontade desse deus, orientar governantes e governados nas ações políticas e sociais de maior relevo. Destacam-se como profetas: Elias e Eliseu, em Israel, e Isaías em Judá.

Após as suas proezas e profecias, Elias se dirige ao Rio Jordão com seu discípulo Eliseu, bate na superfície das águas com seu manto, separa-as e o atravessa em leito seco. Continua o seu caminho e é arrebatado ao céu por um carro de fogo com cavalos de fogo. Eliseu a tudo assiste e recebe os poderes de Elias. Ao retornar, Eliseu bate o seu manto na superfície das águas do Rio Jordão, separa-as, atravessa em leito seco e cumpre a sua missão de profeta do reino de Israel (ressuscita um menino, cura pessoas enfermas e faz muitos milagres). Não há lei física, química ou biológica que detenha os profetas hebreus. Ascendem ao céu com o corpo físico, sem escafandro ou aeronave; não se queimam no fogo; com suas varas mágicas e seus mantos separam águas nos rios e mares, produzem pragas e chagas. Essas fantasias mostram que os livros bíblicos são frutos da imaginação dos seus autores; muita literatura e pouca verdade. Elias matara os sacerdotes de Baal, deus adorado pela rainha Jezabel. Furiosa, ela ordena a morte de Elias, que some do mapa. Então, Elizeu inventa o episódio da ascensão para manter Elias vivo, longe da rainha, dispensado de exibir o cadáver como prova da morte, já que o corpo do profeta estava no céu. Saída honrosa para a covardia de Elias. O corpo físico pertence ao mundo material; para ele, não há lugar no mundo espiritual. Para ter um corpo, o espírito necessita voltar ao mundo material. Mesmo quem não acredita na reencarnação (judeu, cristão ou muçulmano) aceita a idéia de que o corpo pertence ao mundo material e ao morrer será sepultado e aguardará a ressurreição no juízo final. Outros preferem a cremação do cadáver, pois não acreditam na ressurreição e no juízo final. A ciência explica que a ressurreição é impossível, pois o corpo passará pelo processo de decomposição química do qual não há volta. Diz o preceito bíblico: do pó vieste e ao pó voltarás. Diz o preceito científico: da energia fundamental vieste e à energia fundamental volverás.

Morreu Absalão, primogênito de Davi. Seu irmão Adonias passa à condição de filho mais velho de Davi. Com o apoio do general Joab, do sacerdote Abiatar e de outros conspiradores, durante um banquete, Adonias proclama-se novo rei. A mãe de Salomão, Betsabé, leva o fato ao conhecimento de Davi, pois a este cabia nomear o sucessor. Davi nomeia Salomão, determina a sua imediata unção e assunção do trono. Davi morre após ter reinado por 40 anos. Salomão pune com a morte os principais conspiradores; casa com a filha do faraó egípcio (aliança política entre os dois soberanos); edifica o palácio, o templo e o muro em torno de Jerusalém; manda trazer (da cidade de Davi) a arca da aliança para o santuário do templo de Jerusalém e a deposita no santo dos santos (sanctum sanctorum). Essas obras levaram 20 anos. Pela ajuda recebida, Salomão deu a Hiram, rei de Tiro, 20 cidades da Galiléia. Hiram ficou desgostoso porque as cidades pouco valiam. O reino unido (Israel + Judá) expandiu-se e enriqueceu. Salomão proferiu a célebre sentença entre duas mulheres que disputavam a maternidade de um menino. O rei mandou cortar o menino ao meio. Cada mulher ficaria com a metade da criança. Uma delas concordou. A outra discordou e pediu que o menino fosse entregue inteiro e vivo à adversária. Salomão entregou o menino à mulher que havia renunciado. O sentimento materno revelou a verdadeira mãe: aquela que preferiu perder a guarda do filho a vê-lo morto.

Esse episódio, ficto ou real, contribuiu para a fama de Salomão: o mais sábio dos homens. Nem todos os historiadores concordam com essa fama. Debitam-na ao estilo encomiástico dos escritores bíblicos, desprovida de base real. Ele prolatou cerca de três mil sentenças e compôs mil poemas. A rainha de Sabá, da raça negróide, veio pessoalmente verificar se Salomão fazia jus à fama. Trocaram régios presentes e dividiram o leito. Findo o período da hospitalidade, a rainha volta à sua pátria, quiçá grávida. Salomão teve 700 esposas da realeza estrangeira e 300 concubinas. Javé proibia os hebreus de se relacionarem com mulheres estrangeiras. Salomão desafiou a ordem divina. Como castigo pela desobediência, Javé decretou a extinção do reino: o filho de Salomão ficaria só com duas tribos. Morre Salomão após reinar por 40 anos.

No reinado de Roboão, filho e sucessor de Salomão, as tribos separam-se: dez tribos formam o reino de Israel tendo Jeroboão como rei; duas tribos formam o reino de Judá tendo Roboão como rei. Os dois reinos se hostilizavam. O livro narra a invasão assíria em Israel, a conquista de Judá pelos babilônios e a destruição de Jerusalém. Após remover o povo de Israel, o rei da Assíria enviou ao território desocupado (centro e norte da Palestina) população oriunda das várias regiões do seu reino. Essa população tinha seus próprios deuses e ídolos. Visando à tranqüilidade local, o rei assírio determinou a inclusão do deus Javé naquele panteão. Decorridos 100 anos, chegou a vez de Judá ser conquistada por exército estrangeiro. Por ordem do rei da Babilônia, Nabucodonosor II, Jerusalém foi arrasada, templo destruído, parcela considerável e influente da população removida para a Mesopotâmia. O rei nomeou governador para os habitantes que permaneceram na região. Ismael, liderando 10 homens, assassinou o governador e habitantes da cidade. Depois, em companhia de sobreviventes judeus, fugiu para o Egito.

Judite.

Este livro narra o feito heróico dessa mulher judia, viúva, rica, bela, que impediu a queda da sua cidade. As autoridades e os anciãos rasgavam as roupas, jogavam cinzas sobre suas próprias cabeças e se desesperavam ante a proximidade das forças estrangeiras (que já haviam conquistado o reino de Israel). Judite se embelezou, perfumou-se, orou e com as suas servas dirigiu-se ao acampamento do inimigo, entrevistou-se com o general comandante dos assírios (Holofernes), seduziu-o e decepou-lhe a cabeça enquanto ele dormia embriagado pelo excesso de vinho. Levou para a cidade a cabeça de Holofernes como troféu e instruiu os judeus para que atacassem, pois o inimigo estava desarvorado pela perda do comandante. Os assírios foram derrotados e a Judéia viveu em paz por um século, até ser conquistada por Nabucodonosor II. O livro menciona a alegria do povo judeu e contém um cântico de Judite.

Comentário. Dizer que Judite voltou intocada pelo assírio me parece fora da realidade. O general, longe de casa, guiado pelos costumes da sua terra, não ia manter aquela dondoca por três dias no seu acampamento sem transar com ela. O escritor bíblico tem essa mania de cercar certas mulheres dessa falsa pureza. Assim foi com Sara, esposa de Abraão, que ficava na companhia dos soberanos que dela se agradavam, mas sem ser tocada. Depois, cheia de presentes, regressava ao convívio do marido. Assim foi com a gravidez das mães de Samuel, Sansão, João, Jesus, atribuída aos anjos ou ao espírito santo. Ora, pois. Como dizem os brasileiros: “me engana que eu gosto”. O escritor bíblico exagera nas patacoadas e nos encômios aos personagens que lhes agrada. Enaltece um povo rude, pequeno, pobre e ignorante, apresentando-o sob vestes esplendorosas. Explora o fantástico, o extraordinário, confiando na fé cega dos crentes que abdicam da razão.

Salmos.

Em hebraico, a palavra salmo significa louvor. Cuida-se de uma substanciosa coleção de cinco livros conhecida como saltério. A igreja adotou o saltério como livro de oração. Este livro inclui-se entre os livros sapienciais porque nele avultam ensinamentos, meditações, além de exortações à fé, louvores à divindade, orações, lamentações, graças, messianismo. Ao todo, são 150 salmos. Sobre a autoria dos Salmos não há certeza histórica. Paira consenso sobre Davi, que seria autor de 74 salmos. Salomão seria autor de dois, apenas. Seriam autores de 10, os filhos de Coré; de 8, o rei Asaf. Autores de um salmo cada um, seriam Moisés, Hemão e Etão. Há salmos pessoais, que refletem os sentimentos do autor e outros litúrgicos, com ou sem execução musical. Como soe acontecer nas escrituras, das inúmeras traduções do hebraico para o grego, do grego para o latim, do latim para as línguas modernas, resulta perda do significado original de algumas expressões. De um modo geral, os salmos expressam veneração pela divindade, agradecimentos pelas bênçãos recebidas, crueldade da justiça divina (os inimigos dos hebreus, povo eleito de Deus, eram tratados como inimigos de Deus), vingança (santidade da violência contra o inimigo), alegria e tristeza, temor dos perigos, contrição diante dos pecados, esperança de paz e felicidade. Vejamos trechos de alguns, a título de ilustração. “O Senhor é meu pastor, nada me faltará; em verdes prados ele me faz repousar; conduz-me junto às águas refrescantes; restaura as forças da minha alma.” (Primeiro Livro). “Não foi em meu arco que pus minha confiança, nem foi minha espada que me salvou; mas fostes vós que nos livrastes de nossos inimigos e confundistes os que nos odiavam.” “Será que realmente fazeis justiça, ó poderosos do mundo? Será que julgais pelo direito, ó filhos dos homens? Não, pois em vossos corações cometeis iniqüidades, e vossas mãos distribuem injustiças sobre a terra.” (Segundo Livro). “Por pouco não escorreguei (sobre a fé na justiça divina); porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus: não existe sofrimento para eles; seus corpos são robustos e sadios; dos sofrimentos dos mortais não participam; não são atormentados como os outros homens.” “Concluí, dizeis vós, uma aliança com o meu eleito; liguei-me por juramento a Davi, meu servo; conservarei tua linhagem para sempre; manterei teu trono em todas as gerações.” (Terceiro Livro). “É bom louvar o Senhor e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo, proclamar de manhã a vossa misericórdia e durante a noite a vossa fidelidade. Com a harpa de dez cordas e com a lira, com cânticos ao som da cítara. Pois, vós me alegrais Senhor, com vossos feitos, exulto com as obras das vossas mãos.” “Cantarei a bondade e a justiça. A vós, Senhor, salmodiarei. Pelo caminho reto quero seguir; ó, quando vireis a mim? Caminharei na inocência do meu coração, no seio de minha família.” (Quarto Livro). “Feliz o homem que teme o Senhor e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos. Será poderosa sua descendência na terra e bendita a raça dos homens retos. Suntuosa riqueza haverá em sua casa e para sempre durará sua abundância. Como luz, se eleva nas trevas para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo.” “Ele (o Senhor) eleva do pó o indigente e tira o pobre do monturo para, entre os príncipes, fazê-lo sentar junto dos grandes do seu povo; e a mulher, que antes era estéril, ele a faz, em sua casa, mãe feliz de muitos filhos.” (Quinto Livro).

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