quinta-feira, 31 de março de 2011

RELIGIÃO

ANTIGO TESTAMENTO - X.

Isaías – terceira parte (capítulos 56/66).

A terceira e última parte do livro de Isaías contém profecias relativas ao exílio dos judeus e à restauração. Entre os judeus havia facções que se rivalizavam. O Senhor exige do povo respeito ao direito e que se pratique justiça; acolhe o estrangeiro e o eunuco que observarem os sábados e se afeiçoarem à aliança; condena a indignidade das autoridades, a idolatria e os costumes imorais do povo; consola os aflitos. Isaías critica o convencional jejum, distante dos princípios essenciais; diz que o jejum que o Senhor aprecia é romper as cadeias injustas, livrar os oprimidos, repartir o alimento com o esfaimado, abrigar os desabrigados, vestir os maltrapilhos; os pecados do povo são obstáculos à felicidade, barreira entre os homens e a divindade. Há, no livro, o oráculo de glorificação de Jerusalém. Isaías se diz portador da boa nova aos humildes, com poderes para curar, anunciar aos cativos a redenção e a liberdade; que o Senhor fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações; exalta Sião; fala das ameaças e promessas do Senhor.

Malaquias.

Esse profeta foi precursor da reforma empreendida por Neemias. Fala do amor da divindade por seu povo, do pacto de vida e prosperidade, da violação da lei pelos sacerdotes, do desrespeito à santidade do matrimônio (casamentos com estrangeiros), da fraude no dízimo (sonegação aos cofres do clero). Malaquias fala em mensageiro que preparará o caminho do Senhor cuja presença purificará os filhos de Levi (tribo de sacerdotes). O Senhor virá para julgar mágicos, adúlteros, perjuros, os que retêm o salário do operário, os que oprimem a viúva e o órfão, os que maltratam o estrangeiro e os que afrontam e desafiam a divindade.

Comentário. Nota-se mudança no tratamento dado à divindade pelos profetas judeus a partir de Isaías e Miquéias. O nome Javé rareia; avulta o de Senhor, Senhor Deus, Senhor dos Exércitos. Verifica-se tendência a evoluir do deus nacional (hebreus) para o deus universal (humanidade), novo conceito que seria alcançado plenamente com a doutrina de Jesus. Quanto à profecia sobre o mensageiro que preparará a vinda do Senhor, há semelhança com a de Isaías; o preparo do terreno parece terraplanagem para pista de pouso de aeronaves.

Joel.

Este livro contém poema de Joel, profeta que nasceu e atuou em Jerusalém posteriormente ao exílio. Joel fala da devastação vegetal, da falta de alimento, apela para o jejum e para a penitência, promete fartura da terra por benção divina. Na segunda parte do livro, Joel fala do espírito divino, do julgamento das nações e da salvação definitiva.

Jonas.

Este livro conta a desventura do profeta Jonas. O Senhor lhe ordenara ir a Nínive e lá proferir oráculos, pois aquela cidade mergulhara na iniqüidade. Jonas desobedeceu e fugiu para Társis, cidade geograficamente oposta a Nínive. Durante a fuga, o mar ficou bravio e ameaçava a embarcação. Jonas confessou a sua culpa e foi jogado ao mar, engolido por um peixe muito grande em cuja barriga ficou por 3 dias. Jonas faz prece de arrependimento, foi vomitado pelo peixe e voltou à sua cidade para obedecer ao chamado divino. Vai a Nínive e profetiza a destruição da cidade. Sensibilizados, o rei e o povo da cidade jejuaram e se arrependeram dos pecados. O Senhor os perdoou. Isto irritou Jonas. Com a cidade salva, ele perderia credibilidade como profeta. O Senhor fala a Jonas, dando-lhe uma lição de tolerância e amor.

Jó.

Este livro trata essencialmente do sofrimento do personagem principal, que perde todos os seus filhos e todos os seus bens, fica doente, se acha injustiçado e atribui suas desgraças à vontade do Senhor. Jó passou por essas provações porque Satanás desafiara o Senhor, dizendo que Jó tinha boas qualidades porque era protegido pela divindade, mas tão logo retirada essa proteção, Jó amaldiçoaria o Senhor. Apesar das desgraças, Jó se mantém fiel ao Senhor, porém faz suas queixas. Os amigos o consolam. Ele responde com longos discursos; fala da origem da sabedoria: um véu a oculta de todos os viventes; a sabedoria vale mais do que as pérolas; não pode ser igualada ao topázio da Etiópia, nem equiparada ao mais puro ouro. Inconformado com o diálogo entre os mais velhos, o seu jovem amigo Eliu profere uma série de discursos recriminando Jó por se justificar: Deus está envolto numa majestade temível; não podemos atingir o todo-poderoso, eminente em força, em equidade e em justiça, não tem a dar contas a ninguém; que os homens, pois, o reverenciem; ele não olha aqueles que se julgam sábios. Segue-se a resposta: Então, do seio da tempestade, o Senhor deu a Jó esta resposta: Quem é aquele que obscurece assim a Providência com discursos sem inteligência?(...) Aquele que disputa com o todo-poderoso apresente suas críticas! Aquele que discute com Deus responda! O livro se encerra com uma admoestação do Senhor aos amigos de Jô, porque não souberam aconselhar e não falaram bem do Senhor. Jó é abençoado, recupera sua riqueza, tem 7 filhos e 3 filhas e vive mais 140 anos depois da benção.

Sabedoria.

Livro provavelmente dos anos 200 ou 100, a.C., dividido em 3 partes, além da introdução. O autor conclama as pessoas a amar a justiça, a ter sentimentos perfeitos com o Senhor e a procurá-lo na simplicidade do coração. Na primeira parte, trata da mentalidade e da diferente sorte dos ímpios e dos justos. Na segunda parte, fala como se fora o rei Salomão; a todos exorta a busca da sabedoria; expõe a doutrina e a oração de Salomão para obter a sabedoria. Na terceira parte, descreve o papel da sabedoria na história da humanidade, em geral, e na dos hebreus, em particular. Trata especialmente do Êxodo, da travessia do Mar Vermelho, da idolatria e da justiça divina: cada indivíduo recebe de Deus o que merece.

Provérbios.

Este livro é uma coletânea dos provérbios atribuídos ao rei Salomão e tem como fulcro o amor à sabedoria. Diz que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução. Exortações do sábio: (i) fugir da companhia dos maus; (ii) utilidade da sabedoria (origem divina da sabedoria, da ciência e da prudência); (iii) prática da sabedoria; (iv) sabedoria e caridade (a glória será o prêmio do sábio; a ignomínia será a herança dos insensatos); (v) vantagens da sabedoria (examina o caminho onde colocas os pés; se na retidão, não te desvies nem para a direita nem para a esquerda e retira teu pé do mal); (vi) fugir da mulher leviana (por que hás de te enamorar de uma alheia e abraçar o seio de uma estranha?). Coisas que o Senhor abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projetos perversos, pés pressurosos de correr ao mal, falso testemunho que profere mentiras e quem semeia discórdia entre irmãos. Banquete da sabedoria e da loucura: se tu és sábio, é para o teu bem que o és, mas se tu és mofador, só tu sofrerás as conseqüências; a senhora loucura é irrequieta, uma tola que nada sabe. Na segunda parte do livro arrolam-se vários provérbios também atribuídos a Salomão. Na terceira e quarta partes, palavras dos sábios e coleção de provérbios cuja autoria é desconhecida. Na quinta parte, mais provérbios de Salomão. Seguem-se palavras de autores conhecidos e as máximas numéricas. O livro se encerra com um poema sobre a mulher virtuosa: a graça é falaz e a beleza é vã; a mulher inteligente é a que se deve louvar.

Cântico dos Cânticos.

A autoria deste livro é atribuída a Salomão, embora ele aí conste como homenageado. Poemas selecionados; nata dos cânticos. O tema é o amor entre o homem e a mulher. Eis algumas passagens do livro: “Ah! Beija-me com os beijos da tua boca! Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho”. “Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho”. “A égua dos carros do Faraó eu te comparo, ó minha amiga; tuas faces são graciosas entre os brincos e o teu pescoço entre os colares de pérolas.” “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e corças dos campos, que não desperteis nem perturbeis o amor antes que ele o queira”. “Levanta-te, minha amiga, vem, formosa minha, eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. Em nossas terras já se ouve a voz da rola.” “Tu és bela, minha querida, tu és formosa! Por detrás do teu véu os teus olhos são como pombas, teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo impetuosas pela montanha de Galaad”. “O meu bem amado desceu ao seu jardim, aos canteiros perfumados, para apascentar em meu jardim e colher lírios”. “Desvia de mim os teus olhos, porque eles me fascinam”. “Como são graciosos os teus pés nas tuas sandálias, filha de príncipe! A curva de teus quadris assemelha-se a um colar, obra de mãos de artista, teu umbigo é uma taça redonda, cheia de vinho perfumado.” “Como és bela e graciosa, ó meu amor, ó minhas delícias.” “Eu sou para o meu amado o objeto de seus desejos”.

Comentário. Em alguns versos há erotismo. Intérpretes religiosos tentam amenizar a sensualidade dos poemas, qualificando-os de parábola sobre o amor entre a divindade e os crentes, ou entre Deus e a Igreja, na célebre imagem do noivado. Interpretação tendenciosa para mudar o humano em divino. Trata-se de obra poética, simplesmente, e nada mais.

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