MINHAS CONCLUSÕES
Na rede de computadores, lista do Grupo Reconstrução, exclusiva dos juízes do Estado do Rio de Janeiro, travou-se debate, no segundo semestre de 2009, sobre “Davi e sua vocação” e “Nem Jeová nem Javé”, comigo de um lado e três desembargadores de outro, todos mais novos do que eu na carreira. (Nota para quem não é da área: “desembargador” é o título que se dá ao juiz de direito que exerce a judicatura no tribunal de justiça). Dois desembargadores, um da ativa e outro aposentado, eram pastores protestantes e o terceiro, católico apostólico romano. Rememorar o episódio se me afigura interessante porque alguns leitores da série “Cura pela razão e pela fé”, publicada neste blog (fevereiro/2011) poderão fazer a mesma indagação com a qual fui interpelado. A certa altura daquele debate, o pastor desembargador aposentado interpelou-me: “de onde você tira as tuas conclusões?” De imediato, lembrei-me da interpelação feita a Jesus pelo grupo de sacerdotes, escribas e anciãos, no templo de Jerusalém: “Com que direito fazes isso? Quem te deu essa autoridade?” Os interpelantes menosprezavam ciência alheia. Colocavam-se como donos exclusivos da verdade e intérpretes fiéis das escrituras. Jesus contra-atacou formulando outra pergunta: “O batismo de João era do céu ou dos homens?” Aquelas autoridades responderam que não sabiam. Jesus replicou: “Nem eu vos direi com que direito faço estas coisas”. (Lucas 20: 2/8; Marcos 11: 28/33).
A hebraica, a cristã e a islâmica não são as únicas religiões do mundo, embora cada qual se considere a melhor. Além de religiões, há filosofias de vida como as de Lao Tse, Kong-fu-Tse e Sidarta, que orientam a conduta de povos. No seio da mesma comunidade, há povos com peculiaridades culturais. Exemplos: (i) com a implosão da União Soviética realçaram-se características culturais dos países que a compunham; (ii) a revolução na Tunísia produziu efeito dominó e colocou à mostra semelhanças e diferenças entre os povos do Oriente Médio e do Norte da África; concepções de mundo variam tanto em nível individual como em nível coletivo; (iii) cada região do Brasil apresenta aspectos culturais próprios. Concordei com o colega católico quando afirmou que as escrituras rotuladas de sagradas resultam do obrar humano e que os obreiros se dizem inspirados pela divindade. O deus do meu coração, justo e bondoso, não me nega inspiração, como o deus de Moisés não a negou aos obreiros judeus e o deus de Jesus não a negou aos apóstolos. Além da Bíblia e do Corão, outras escrituras qualificadas de sagradas existem no mundo. O ser humano é quem qualifica de sagrada às escrituras, segundo o seu pensamento, as suas crenças e os seus propósitos.
Respondi aos meus colegas que, além da fonte divina, eu tiro minhas conclusões das fontes naturais e humanas externas, no exercício da minha faculdade racional. Abasteço a minha mente com dados extraídos: (I) do estudo da Bíblia e de outros textos religiosos e místicos; (II) do estudo de História, Sociologia, Economia, Direito, Ciências Naturais, Filosofia, inclusive com título universitário; (III) da experiência institucional (família, escola, igreja, judiciário) e da experiência comum das ruas; (IV) da TV (entrevistas, reportagens, filmes documentários); (V) do patrimônio existencial acumulado ao longo da vida, mediante os processos de seleção, assimilação e maturação (reflexão e meditação).
Das pesquisas para o romance “O Evangelho da Irmandade”, para o referido debate e para os artigos publicados neste blog, constam, entre outras, as seguintes obras: (1) Bíblia (Centro Bíblico Católico, São Paulo. Editora Ave Maria, 1987); (2) La Vida Mística de Jesús (Lewis, H. Spencer. Califórnia. Amorc, 1967); (3) O Cristo Cósmico e os Essênios (Rohden, Huberto. São Paulo. Martin Claret, 1991); (4) A Doutrina Mística (Blavatski, Helena P. São Paulo. Hemus, 1981); (5) O Livro dos Espíritos (Kardec, Allan. São Paulo, Editora Pensamento, 1994); (6) Tao Te King (Lao Tse. São Paulo, Martin Claret, 12ª edição, s/d); (7) O Fenômeno Humano (Chardin, Pierre Teilhard. Porto. Tavares Martins, 1970); (8) O Homem Eterno (Pauwels, Jacques Bergier e Louis. São Paulo. Divisão Européia do Livro, 1971); (9) Leviatán (Hobbes, Thomas. Madri. Nacional, 1979); (10) Para compreender os manuscritos do Mar Morto (Shanks, Hershel. Organizador. Rio. Imago, 1993); (11) O Santo Graal e a Linhagem Sagrada (Baigent, Michael e/os. Rio. Nova Fronteira, 1993); (12) O Código Da Vinci (Brown, Dan. Rio, Sextante, 2004); (13) Quebrando o Código Da Vinci (Bock, Darrell L. Osasco. Novo Século, 2004); (14) Decodificando Da Vinci (Welborn, Amy. São Paulo. Cultrix, 2004); (15) Maria Madalena (George, Margaret. São Paulo, Geração Editorial, 2002); (16) Operação Cavalo de Troia (Benítez, J. J. São Paulo. Mercuryo, 1987); (17) Admirável Mundo Novo (Huxley, Aldous. São Paulo. Victor Civita, 1980); (18) Nem Marx nem Jesus (Revel, Jean-François. Rio, Artenova, 1973); (19) Tratado Sobre a Tolerância (Voltaire, François-Marie Arouet. São Paulo, Martins Fontes, 2000); (20) Pequena História da Maçonaria (C.W. Leadbeater. São Paulo. Pensamento, 1968); (21) Manual Rosacruz (Grande Loja do Brasil. Curitiba, 1964); (22) História da Civilização Ocidental (Burns, Edward Mcnall. Rio/SP/Porto Alegre. Globo, 1955).
Na busca do conhecimento mediante fontes naturais e humanas, coloco a fé no cabide e me sirvo da razão, plagiando Lavoisier. Enquanto os meus opositores lêem a Bíblia com as lentes da fé religiosa, eu a leio com as lentes da razão. Entendemos de modo diferente o mesmo texto. Ilustro o que digo, com a mensagem contida na lista do Grupo Reconstrução, em que o evangélico, o católico e um terceiro desembargador (meu colega de concurso) qualificam de lindo o salmo 51, afinados na mesma interpretação. Pois bem. Naquele texto eu não vejo beleza alguma. Vejo maldade. Passo à análise. Fundo histórico: o rei Saul acusa Davi de traidor. Davi e família fogem e descansam em diferentes lugares. Na cidade sacerdotal de Nobe, Davi é recebido pelo sacerdote Aquimelec, que lhe fornece provisões e entrega a espada que pertenceu a Golias. O edomita Doeg leva esse fato ao conhecimento de Saul que mata Aquimelec, 85 sacerdotes e respectivas famílias e toda a população da cidade: homens, mulheres, meninos, meninas, crianças de peito e animais. Carnificina (Samuel I, 22: 9/20).
O salmo 51 refere-se a esse episódio. O texto verte ódio; não há beleza ou nobreza. Ao atribuir ao rei, língua pérfida, afiada como navalha, o salmista exibe fraqueza ante a retórica régia. As palavras do salmista, inferiorizado ante a verve do destinatário, vêm calcadas em sentimento de vingança e no ânimo violento. Daí, o expresso desejo do salmista de que o seu adversário seja destruído, expulso da tenda e extirpado da terra dos vivos. Deseja, ainda, no distorcido conceito de justiça, que os justos zombem do adversário. Os justos cultivam a ironia com elegância e respeitam os mortos; não zombam nem tripudiam de cadáveres. O salmista, impotente para a criminosa tarefa, sente-se feliz em transferi-la à divindade. O salmo supõe o caráter satânico do deus Javé, em sintonia com a cultura hebréia; reflete os atributos do povo hebreu na Antiguidade, iguais aos daquele deus: genocida, homicida, materialista, vingativo, violento. Identificar esse deus com o Deus de Jesus, como faz a igreja de Paulo (católica e protestante) chega às raias do sacrilégio. Justificar os atributos satânicos de Javé com a hobbesiana tese de todos contra todos, equivale a esconder o sol com a peneira. Deus é invariável na sua natureza, sempre o mesmo, desde a criação do mundo, para todos os povos, indistintamente. Esse Deus que Jesus tanto amava é o Deus da luz (razão, inteligência, sabedoria), Deus da vida (física, moral, espiritual) e Deus do amor (incondicional, ilimitado, infinito). O Pai Celestial de Jesus não mandaria matar homens, mulheres, meninos, meninas, crianças do peito e exterminar todo um povo, na Antiguidade ou em qualquer outra época, como ordenou o deus de Moisés (Samuel I, 15: 1-4).
Pelo exposto, ao contrário dos meus opositores que acham lindo o salmo 51, eu o qualifico de horrível. Questão de ponto de vista. Cultura fiduciária versus cultura racional.
Na rede de computadores, lista do Grupo Reconstrução, exclusiva dos juízes do Estado do Rio de Janeiro, travou-se debate, no segundo semestre de 2009, sobre “Davi e sua vocação” e “Nem Jeová nem Javé”, comigo de um lado e três desembargadores de outro, todos mais novos do que eu na carreira. (Nota para quem não é da área: “desembargador” é o título que se dá ao juiz de direito que exerce a judicatura no tribunal de justiça). Dois desembargadores, um da ativa e outro aposentado, eram pastores protestantes e o terceiro, católico apostólico romano. Rememorar o episódio se me afigura interessante porque alguns leitores da série “Cura pela razão e pela fé”, publicada neste blog (fevereiro/2011) poderão fazer a mesma indagação com a qual fui interpelado. A certa altura daquele debate, o pastor desembargador aposentado interpelou-me: “de onde você tira as tuas conclusões?” De imediato, lembrei-me da interpelação feita a Jesus pelo grupo de sacerdotes, escribas e anciãos, no templo de Jerusalém: “Com que direito fazes isso? Quem te deu essa autoridade?” Os interpelantes menosprezavam ciência alheia. Colocavam-se como donos exclusivos da verdade e intérpretes fiéis das escrituras. Jesus contra-atacou formulando outra pergunta: “O batismo de João era do céu ou dos homens?” Aquelas autoridades responderam que não sabiam. Jesus replicou: “Nem eu vos direi com que direito faço estas coisas”. (Lucas 20: 2/8; Marcos 11: 28/33).
A hebraica, a cristã e a islâmica não são as únicas religiões do mundo, embora cada qual se considere a melhor. Além de religiões, há filosofias de vida como as de Lao Tse, Kong-fu-Tse e Sidarta, que orientam a conduta de povos. No seio da mesma comunidade, há povos com peculiaridades culturais. Exemplos: (i) com a implosão da União Soviética realçaram-se características culturais dos países que a compunham; (ii) a revolução na Tunísia produziu efeito dominó e colocou à mostra semelhanças e diferenças entre os povos do Oriente Médio e do Norte da África; concepções de mundo variam tanto em nível individual como em nível coletivo; (iii) cada região do Brasil apresenta aspectos culturais próprios. Concordei com o colega católico quando afirmou que as escrituras rotuladas de sagradas resultam do obrar humano e que os obreiros se dizem inspirados pela divindade. O deus do meu coração, justo e bondoso, não me nega inspiração, como o deus de Moisés não a negou aos obreiros judeus e o deus de Jesus não a negou aos apóstolos. Além da Bíblia e do Corão, outras escrituras qualificadas de sagradas existem no mundo. O ser humano é quem qualifica de sagrada às escrituras, segundo o seu pensamento, as suas crenças e os seus propósitos.
Respondi aos meus colegas que, além da fonte divina, eu tiro minhas conclusões das fontes naturais e humanas externas, no exercício da minha faculdade racional. Abasteço a minha mente com dados extraídos: (I) do estudo da Bíblia e de outros textos religiosos e místicos; (II) do estudo de História, Sociologia, Economia, Direito, Ciências Naturais, Filosofia, inclusive com título universitário; (III) da experiência institucional (família, escola, igreja, judiciário) e da experiência comum das ruas; (IV) da TV (entrevistas, reportagens, filmes documentários); (V) do patrimônio existencial acumulado ao longo da vida, mediante os processos de seleção, assimilação e maturação (reflexão e meditação).
Das pesquisas para o romance “O Evangelho da Irmandade”, para o referido debate e para os artigos publicados neste blog, constam, entre outras, as seguintes obras: (1) Bíblia (Centro Bíblico Católico, São Paulo. Editora Ave Maria, 1987); (2) La Vida Mística de Jesús (Lewis, H. Spencer. Califórnia. Amorc, 1967); (3) O Cristo Cósmico e os Essênios (Rohden, Huberto. São Paulo. Martin Claret, 1991); (4) A Doutrina Mística (Blavatski, Helena P. São Paulo. Hemus, 1981); (5) O Livro dos Espíritos (Kardec, Allan. São Paulo, Editora Pensamento, 1994); (6) Tao Te King (Lao Tse. São Paulo, Martin Claret, 12ª edição, s/d); (7) O Fenômeno Humano (Chardin, Pierre Teilhard. Porto. Tavares Martins, 1970); (8) O Homem Eterno (Pauwels, Jacques Bergier e Louis. São Paulo. Divisão Européia do Livro, 1971); (9) Leviatán (Hobbes, Thomas. Madri. Nacional, 1979); (10) Para compreender os manuscritos do Mar Morto (Shanks, Hershel. Organizador. Rio. Imago, 1993); (11) O Santo Graal e a Linhagem Sagrada (Baigent, Michael e/os. Rio. Nova Fronteira, 1993); (12) O Código Da Vinci (Brown, Dan. Rio, Sextante, 2004); (13) Quebrando o Código Da Vinci (Bock, Darrell L. Osasco. Novo Século, 2004); (14) Decodificando Da Vinci (Welborn, Amy. São Paulo. Cultrix, 2004); (15) Maria Madalena (George, Margaret. São Paulo, Geração Editorial, 2002); (16) Operação Cavalo de Troia (Benítez, J. J. São Paulo. Mercuryo, 1987); (17) Admirável Mundo Novo (Huxley, Aldous. São Paulo. Victor Civita, 1980); (18) Nem Marx nem Jesus (Revel, Jean-François. Rio, Artenova, 1973); (19) Tratado Sobre a Tolerância (Voltaire, François-Marie Arouet. São Paulo, Martins Fontes, 2000); (20) Pequena História da Maçonaria (C.W. Leadbeater. São Paulo. Pensamento, 1968); (21) Manual Rosacruz (Grande Loja do Brasil. Curitiba, 1964); (22) História da Civilização Ocidental (Burns, Edward Mcnall. Rio/SP/Porto Alegre. Globo, 1955).
Na busca do conhecimento mediante fontes naturais e humanas, coloco a fé no cabide e me sirvo da razão, plagiando Lavoisier. Enquanto os meus opositores lêem a Bíblia com as lentes da fé religiosa, eu a leio com as lentes da razão. Entendemos de modo diferente o mesmo texto. Ilustro o que digo, com a mensagem contida na lista do Grupo Reconstrução, em que o evangélico, o católico e um terceiro desembargador (meu colega de concurso) qualificam de lindo o salmo 51, afinados na mesma interpretação. Pois bem. Naquele texto eu não vejo beleza alguma. Vejo maldade. Passo à análise. Fundo histórico: o rei Saul acusa Davi de traidor. Davi e família fogem e descansam em diferentes lugares. Na cidade sacerdotal de Nobe, Davi é recebido pelo sacerdote Aquimelec, que lhe fornece provisões e entrega a espada que pertenceu a Golias. O edomita Doeg leva esse fato ao conhecimento de Saul que mata Aquimelec, 85 sacerdotes e respectivas famílias e toda a população da cidade: homens, mulheres, meninos, meninas, crianças de peito e animais. Carnificina (Samuel I, 22: 9/20).
O salmo 51 refere-se a esse episódio. O texto verte ódio; não há beleza ou nobreza. Ao atribuir ao rei, língua pérfida, afiada como navalha, o salmista exibe fraqueza ante a retórica régia. As palavras do salmista, inferiorizado ante a verve do destinatário, vêm calcadas em sentimento de vingança e no ânimo violento. Daí, o expresso desejo do salmista de que o seu adversário seja destruído, expulso da tenda e extirpado da terra dos vivos. Deseja, ainda, no distorcido conceito de justiça, que os justos zombem do adversário. Os justos cultivam a ironia com elegância e respeitam os mortos; não zombam nem tripudiam de cadáveres. O salmista, impotente para a criminosa tarefa, sente-se feliz em transferi-la à divindade. O salmo supõe o caráter satânico do deus Javé, em sintonia com a cultura hebréia; reflete os atributos do povo hebreu na Antiguidade, iguais aos daquele deus: genocida, homicida, materialista, vingativo, violento. Identificar esse deus com o Deus de Jesus, como faz a igreja de Paulo (católica e protestante) chega às raias do sacrilégio. Justificar os atributos satânicos de Javé com a hobbesiana tese de todos contra todos, equivale a esconder o sol com a peneira. Deus é invariável na sua natureza, sempre o mesmo, desde a criação do mundo, para todos os povos, indistintamente. Esse Deus que Jesus tanto amava é o Deus da luz (razão, inteligência, sabedoria), Deus da vida (física, moral, espiritual) e Deus do amor (incondicional, ilimitado, infinito). O Pai Celestial de Jesus não mandaria matar homens, mulheres, meninos, meninas, crianças do peito e exterminar todo um povo, na Antiguidade ou em qualquer outra época, como ordenou o deus de Moisés (Samuel I, 15: 1-4).
Pelo exposto, ao contrário dos meus opositores que acham lindo o salmo 51, eu o qualifico de horrível. Questão de ponto de vista. Cultura fiduciária versus cultura racional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário