quarta-feira, 23 de março de 2011

RELIGIÃO

ANTIGO TESTAMENTO - VI.

Tobias.

Os personagens centrais deste livro são: Tobit, seu filho Tobias e Sara que casou com Tobias. Pai e filho da tribo de Neftali, localizada na Galiléia, e ela da província da Média. Tobit foi removido para Nínive, juntamente com sua família, por ocasião da conquista de Israel pela Assíria. Em meio à idolatria dos israelitas que tinham aderido aos deuses dos caldeus, essa família se mantinha fiel ao deus Javé e viajava periodicamente a Jerusalém para cumprir os ritos do judaísmo. Tobit é descrito como homem bondoso e caridoso. Ele sepultava os israelitas que o rei assírio mandava matar. Isto desagradava ao monarca. Ante a expectativa de também ser morto, Tobit foge da Caldéia e só retorna após a morte do rei. Certo dia, quando repousava, caiu-lhe fezes quentes de andorinha nos olhos, cegando-o. Após a cegueira de Tobit, a esposa Ana passou a trabalhar como tecelã e trazia para casa o produto do seu trabalho. Certo dia, trouxe um cabrito. Tobit ficou cabreiro. Admoestada pelo marido (a lei mosaica proibia comer produto de roubo) Ana reagiu com indignação e palavras duras, o que mostra nível de igualdade entre marido e mulher na intimidade do lar hebreu.

Depois de aconselhar o filho, Tobit o incumbe de cobrar uma dívida na cidade de Ragés, na província da Média (empréstimo de 10 talentos de prata que Tobit fizera a Gabel). Para acompanhar Tobias na viagem, o deus Javé envia Rafael, um dos seus 7 anjos auxiliares. Do Rio Tigre salta um peixe grande. Tobias, instruído pelo anjo, segura o peixe e lhe retira o coração, o fel e o fígado. Ambos se hospedam na casa do pai de Sara. Tobias pede Sara em casamento. Sara sentia-se amaldiçoada porque tivera 7 maridos e os 7 morreram quando dela se aproximaram. Prece de Sara: (...) vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança, depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria. Para não morrer como os outros maridos de Sara, Tobias queima o fígado do peixe na primeira noite de núpcias; entra para a sociedade dos patriarcas na segunda noite; recebe a benção que lhe daria filhos saudáveis, na terceira noite; tem o primeiro relacionamento sexual com Sara na quarta noite, pensando mais na procriação do que no prazer, conforme recomendado pelo anjo Rafael. Desse modo, Tobias livrou-se dos demônios que matavam os maridos de Sara. Tobias cobra a dívida, retorna à casa paterna, coloca o fel do peixe nos olhos do pai curando-o da cegueira. As preces de Tobit e de Sara foram ouvidas. Com um cântico e com o testamento de Tobit, o livro termina.

Oséias.

Profeta do reino de Israel. O seu livro cobre o período seguinte à morte do rei Jeroboão II (746 a.C.) até a do sucessor (735 a.C.). Dirige a sua verve às infidelidades do povo de Israel em relação ao seu deus. Pela primeira vez, no ministério profético, é utilizada a imagem do noivado para se referir à união de Javé com o povo de Israel. Dessa imagem servem-se os profetas posteriores. Fala em castigos divinos (lugar comum nos discursos dos profetas hebreus) e do amor de Javé para com o povo eleito.

Amós.

Profeta do reino de Israel. Este livro contém as revelações recebidas por Amós no tempo de Ozias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. Tomando por referência Samaria e Sião, o profeta se insurge contra as injustiças sociais, contra a corrupção dos juízes, contra as desordens e a violência, contra a luxúria de homens e mulheres ricos. Ameaça o reino de Israel com castigos divinos e condena a idolatria do reino de Judá. Diz que Javé suscitou profetas e nazarenos dentre os descendentes de Jacó, mas o povo embriagou os nazarenos e proibiu aos profetas de profetizarem. A destruição viria sobre os hebreus e seus vizinhos. Exorta os povos de Israel e de Judá a buscarem os caminhos do senhor Javé. O livro expõe as visões de Amós. Em razão dos seus discursos pejorativos, Amós foi expulso de Israel e da corporação dos profetas. Amasias, sacerdote de Israel, mandou que Amós fosse profetizar e ganhar o seu pão em Judá.

Isaías – primeira parte (capítulos 1-39).

Profeta do reino de Judá. Isaías era filho do profeta Amós radicado em Judá depois de ter sido expulso de Israel. Isaías é considerado o maior profeta do povo judeu. Nasceu em 760 a.C. Exerceu o ministério profético por 50 anos. Morreu em 690 a.C. Assim como o pai, Isaías insurge-se contra a idolatria, as injustiças sociais, a frivolidade, a hipocrisia, os magistrados corruptos, os ricos e poderosos. Censura Jerusalém por seus pecados, anuncia a vinda do príncipe da paz (messias) e de tempos felizes. Essa parte do livro contém o episódio em que Isaías é chamado para o ministério profético e vê o Senhor sentado num trono muito elevado com as franjas do seu manto enchendo todo o templo e os serafins junto a ele. Há vários cânticos (da vitória, dos remidos, da vinha). Pela boca do profeta, o deus Javé se diz farto dos holocaustos de cordeiros, da gordura de novilhos cevados, do sangue de touros e bodes; nega qualquer serventia às oferendas; manifesta horror à fumaça dos sacrifícios e ao crime na festa religiosa; abomina as luas novas e festas, das quais se declara cansado; manda o povo cessar com as maldades, aprender a fazer o bem, respeitar o direito, proteger o oprimido e a viúva e fazer justiça ao órfão. Relata o acordo entre o reino de Israel e a Síria para atacar o reino de Judá. Isaías profetiza que isto não acontecerá porque antes Israel e Síria cairão sob o domínio da Assíria; depois, também a Assíria cairá. Referindo-se à Casa de Davi, o profeta diz: o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará a luz um filho e o chamará Deus Conosco (Emanuel). Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem.

Comentário. Ao abolir o holocausto e as festividades, ao dar ênfase aos preceitos éticos e à caridade, o profeta traz nova concepção do deus Javé em direção à universalidade e não mais à exclusividade do povo hebreu. Fala aos judeus quando diz Casa de Davi, da mesma forma que fala aos israelitas quando diz Casa de Israel (ou Casa de José). Esse modo de falar não significa, pois, que o messias será descendente de Davi. Virgem no entendimento da época e daquele povo era moça que ainda não casara e nem tivera relacionamento sexual. A gravidez resulta desse relacionamento. No vocabulário da gente simples do sul do Brasil, quando a jovem perdia a virgindade dizia-se “não é mais moça”. O nome a ser dado ao messias era Emanuel = Deus Conosco. Ao conceber, Maria perdeu a virgindade; o seu filho recebeu o nome de Yoshua = Salvador e não há notícia de ter sido nutrido com manteiga e mel.

No livro há oráculos contra todos os povos daquela região e também sobre a primavera, as mulheres descuidadas, a angústia e a libertação de Jerusalém. Há profecias apocalípticas, inclusive a do juízo universal: a terra é feita em pedaços, estala, fende-se, é sacudida (na terra há terremotos e maremotos, mas uma hecatombe nuclear pode destruir o planeta); profecias sobre a queda da Samária, sobre a aliança com o Egito, sobre o cerco de Jerusalém. Isaías reproduz a fala de Javé: Este povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim e o temor que ele me testemunha é convencional e rotineiro, por isso continuarei a tratar este povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá. O profeta fala sobre a destruição dos assírios, sobre castigo dos pagãos, sobre os tempos messiânicos. No apêndice histórico (capítulos 36-39) consta o oráculo de Isaías sobre a defesa do reino de Judá pelo Senhor, deus de Israel, contra agressão dos assírios. Os assírios haviam conquistado o reino de Israel (norte) e se dirigiam ao reino de Judá (sul) quando o anjo do Senhor apareceu no acampamento assírio e feriu 185 mil homens (pode ter sido uma forte gripe ou peste que se abateu sobre as tropas). O livro de Judite, resumido no bloco anterior aqui publicado, conta outra versão: ela decapitara o comandante assírio e mandara os judeus atacarem; acéfalos, os assírios fugiram em debandada (o que também é difícil de acreditar).

Miquéias.

Profeta do reino de Judá, contemporâneo de Isaías, Miquéias profetizou a ruína da Samária e do reino de Judá (o que de fato aconteceu). Miquéias censura os poderosos, os pecados dos chefes e dos profetas, anuncia o futuro esplendor de Jerusalém, o retorno da realeza à Casa de Israel e prega reformas morais (praticar a justiça, amar a bondade, cultivar a humildade). Há uma referência a ele no livro de Jeremias (26: 18,19): Miquéias (...) assim falou ao povo: isto diz o Senhor dos Exércitos: Sião será como um campo lavrado; Jerusalém será um montão de escombros e a colina do templo um morro cheio de mato. Ezequias, rei de Judá e o povo de Judá condenaram-no à morte por causa dessa profecia!

Naum.

A biografia desse profeta é desconhecida. A sua aldeia natal, cujo nome era Elcosh, não foi localizada. O livro descreve os atributos da divindade, o oráculo de Naum sobre Nínive e a queda dos babilônios: ai da cidade sanguinária, cheia de fraude e de violência, e que não põe termo à sua rapinagem!

Sofonias.

Este livro trata do ministério profético sob o reinado de Josias (625 a.C.). Sofonias anuncia o dia do juízo final, quando os pecadores serão castigados, salvando-se apenas os justos, os humildes e os obedientes à lei do Senhor. Compara os chefes de Jerusalém a leões que rugem; os juízes, a lobos da noite. Diz que os profetas são jactanciosos e impostores; que os sacerdotes são profanadores de coisas santas e transgressores da lei. Profetiza a glorificação do Senhor pelos pagãos e a purificação do povo hebreu.

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