Os atos que tipificam o crime de responsabilidade são aqueles
que atentam contra a Constituição Federal, especialmente contra: (1) a
existência da União; (2) o livre exercício dos poderes Legislativo e
Judiciário, do Ministério Público e dos poderes constitucionais dos Estados
Federados; (3) o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; (4) a
segurança interna do país; (5) a probidade na administração; (6) a lei
orçamentária; (7) o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Os atos incriminadores que
ensejam a apuração da responsabilidade política
do titular de cargo eletivo são aqueles praticados na vigência do mandato. Se o
mandato estiver extinto, não há falar em impeachment e sim em processo judicial
comum. O mandato político se extingue: (1) por morte do mandatário; (2) por
doença que incapacite o mandatário para o exercício do mandato; (3) por
renúncia; (4) ao fim do prazo de vigência do mandato. A revogação do mandato por
decisão dos eleitores ainda não está contemplada no ordenamento jurídico
brasileiro. Fatos ilícitos ocorridos na vigência de um mandato presidencial não
se comunicam ao mandato posterior para o fim de apurar responsabilidade política; as situações de um período são
autônomas em relação ao período seguinte, neste particular.
Há real e lógica impossibilidade de
alguém perder: (1) mandato já extinto;
(2) cargo eletivo correlato a mandato
cujo prazo de vigência se exauriu. O cargo eletivo vincula-se ao mandato
político. Esse mandato é conditio sine
qua non à investidura no cargo eletivo. Ao se extinguir o mandato, o cargo
eletivo se mantém na estrutura do poder estatal, porém vazio. Extinto o
mandato, a vacância do cargo é conseqüência imediata e dura até a posse do
sucessor (suplente, vice, ou quem for eleito ou reeleito) ainda que o intervalo
da passagem seja de poucas horas. A candidata
ao cargo presidencial nas eleições de 2014 teve sua vitória reconhecida pelo
Tribunal Superior Eleitoral, onde recebeu um novo diploma correspondente ao
novo mandato. Depois, tomou posse do cargo em sessão do Congresso Nacional, o
que seria impossível se o cargo não estivesse vago de pleno direito. Empossada
no cargo, a reeleita entrou formal e efetivamente no exercício das suas funções
para novo quatriênio. Não há séria e consistente notícia de crime por ela
praticado nesse período de três meses de exercício do novo mandato
presidencial.
Os manifestantes da passeata
paulista de março de 2015 referem-se a fatos que teriam ocorrido no mandato
anterior da atual presidente, o que não autoriza o impeachment. Quanto aos
fatos ocorridos na Petrobrás, alcançam outros mandatos presidenciais de outros governantes,
tipificam delitos comuns e devem ser apurados pelas vias ordinárias. O
Procurador-Geral da República não vislumbrou indícios veementes de participação
da Presidente da República nos fatos narrados no inquérito policial. Nos termos
da Constituição Federal, a Presidente da República não pode ser responsabilizada
politicamente por atos estranhos ao exercício das suas funções.
No que tange ao desempenho do
governo federal nos campos social e econômico, as iniciativas, ações e omissões
decorrem da competência constitucional e administrativa dos órgãos do
Executivo. Alguns brasileiros e estrangeiros mostram-se satisfeitos enquanto outros
se mostram insatisfeitos com esse desempenho. Esta é uma situação comum em
qualquer país e, por si só, não caracteriza crise alguma. O processo eleitoral
é o mais seguro vetor estatístico. Se o campo da pesquisa for o Sul (incluindo
São Paulo) e/ou Oeste, do território nacional, onde foi menor a votação da
senhora Dilma, o grau de insatisfação popular com o seu governo será
provavelmente alto e geral. Se o campo de pesquisa for o Norte e/ou Leste
(excluindo São Paulo), onde foi maior a votação da senhora Dilma, o grau de
insatisfação popular com o seu governo será provavelmente baixo e pontual. Além
deste vetor quantitativo e lógico, entra o imponderável: a preferência pessoal
do pesquisador de campo e de quem escolhe e sistematiza os dados da pesquisa, pessoas
nem sempre confiáveis em decorrência da cultura brasileira do “jeitinho”. Daí,
a fraca credibilidade das pesquisas sociais.
Situa-se fora do esquadro e do
compasso ético e jurídico a desrespeitosa atitude e as ofensivas palavras dos
insatisfeitos em relação a mais elevada autoridade do Poder Executivo Federal.
A crítica às iniciativas, ações e omissões do governo há de ser fundada em cálculos
elaborados sem maquiagem e em dados concretos, sem logorréia. Necessário levar-se
em conta o panorama internacional, principalmente no que concerne à economia. Os
dados atuais devem ser comparados com os de governos anteriores. Se a
comparação for honesta e neutra, ver-se-á, com alta probabilidade, que o
desempenho do governo tucano foi pior do que o desempenho do governo petista,
para angústia dos insatisfeitos e decepção dos levianos detratores.
Gritar e bater em panela não
basta. Aliás, nas manifestações do dia 15, foram os ricos que bateram em
panelas da sacada dos seus luxuosos apartamentos, alguns deles, mui provavelmente,
titulares de contas bancárias na Suíça, nas Ilhas Cayman, Seychelles ou em
algum outro paraíso fiscal. Assistimos à rebeldia dessa direita aristocrática
inconformada com a permanência da esquerda democrática no governo da nação. A direita
aristocrática e simpática à ditadura, inventa uma “crise” artificial que existe
apenas na retórica agressiva dos insatisfeitos e detratores, difundida pela
grande imprensa aliada. Nas veias desses aristocratas sucumbentes, o sangue
ferve de ódio. Indignação diabólica.
As instituições políticas,
sociais e econômicas funcionam regularmente desde a promulgação da Constituição
da República (1988). Os poderes constituídos atuam harmoniosamente. A economia
brasileira está bem situada no ranking internacional, embora sinta o reflexo
das marés da economia mundial. Fatores internos fazem-na oscilar (greve, lockout,
estiagem, inundação, retração na produção e no consumo). Ações e omissões corrosivas
planejadas pela aristocracia vingativa (banqueiros, empresariado comercial e
industrial, proprietários das emissoras de televisão e de outros grandes
veículos de comunicação) freiam o crescimento econômico, minando a posição de
liderança do governo. O fato de o crescimento da economia nacional ser menor do
que o da economia dos EUA, da China, ou da Alemanha, não significa, ipso facto, incompetência dos
administradores brasileiros. A realidade social e histórica daqueles países é
diferente da brasileira. O que existe no Brasil é uma imoralidade crônica
surgida nos tempos coloniais, que passou incólume pelo império, prosseguiu na
república e se tornou aguda nos últimos 25 anos. Essa imoralidade inclui a
falta de espírito público, insensibilidade em relação ao interesse coletivo e ao
bem comum da nação.
Os partidos políticos PSDB e PT,
por abrigarem bandidos do colarinho branco, não gozam da minha simpatia. A
caverna de Ali Babá em que foi transformada a administração pública brasileira integra
a escandalosa história republicana do período posterior à promulgação da nova
Constituição (1988). Para não me sentir cúmplice, eu não votei nos candidatos desses
dois partidos nas eleições presidenciais de 2014. Por seu histórico pessoal, por
sua dignidade e bravura, eu teria votado na senhora Dilma Rousseff se ela fosse
filiada a um partido limpo.
Juridicamente adequada e
politicamente oportuna, a decisão do Presidente da Câmara dos Deputados que impediu
o processamento dos requerimentos de impeachment que lhe foram apresentados. Assim,
de modo legal e sensato, essa autoridade legislativa evitou dar curso a
pretensões indecorosas de gente frustrada que por motivos mesquinhos, imorais e
antipatrióticos, não titubeia em tumultuar a vida política e social do
Brasil.
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