EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Os séculos XIX e XX foram de veneração
pela ciência. Além das certezas, a pesquisa científica também trouxe incertezas
e isto se refletiu na filosofia. Das descobertas sobre a estrutura da matéria
veio a lume o princípio da incerteza.
Alguns filósofos fizeram da utilidade
o centro das suas reflexões enquanto para outros o centro foi a existência ou a beleza. Nova escola filosófica chamada pragmatismo nasce nos EUA, fundada por Charles Peirce, sistematizada
por William James e John Dewey e derivada da filosofia utilitarista de Jeremy
Bentham. Segundo essa escola, só é verdadeira a idéia que vence a prova
pragmática sem colidir com a experiência. Verdadeiro é tudo o que dá resultados
práticos e úteis. Se a crença em deus ou em deuses traz paz e conforto
espiritual ao indivíduo, tal crença é verdadeira para ele. A metafísica é
fútil. Não há verdade absoluta, nem como determinar a natureza última da
realidade. O conhecimento deve ser buscado – não como um fim em si mesmo – mas
sim como instrumento para melhorar as condições terrenas. Todo determinismo,
material ou espiritual, deve ser rejeitado. A liberdade prevalece sobre a
servidão.
O existencialismo, demolidor do ídolo científico, desempenhou papel relevante na França e na Alemanha e virou moda em outros países. Os filósofos dessa corrente consideravam a filosofia racionalista incapaz de explicar satisfatoriamente o significado da existência humana. Saber se tal existência tem algum sentido já é um problema. Se propósito algum existe, é o de viver do modo mais conveniente e agradável possível (hedonismo). Qualquer outro propósito além deste, será quimérico.
O existencialismo, demolidor do ídolo científico, desempenhou papel relevante na França e na Alemanha e virou moda em outros países. Os filósofos dessa corrente consideravam a filosofia racionalista incapaz de explicar satisfatoriamente o significado da existência humana. Saber se tal existência tem algum sentido já é um problema. Se propósito algum existe, é o de viver do modo mais conveniente e agradável possível (hedonismo). Qualquer outro propósito além deste, será quimérico.
Ante as incertezas da ciência,
alguns filósofos refugiaram-se na Estética. Trancaram-se na torre de marfim
para viver artisticamente, adorando a beleza
ante a inevitabilidade das forças cegas e irresistíveis que determinam o ser
humano. Palavras de Anatole France: os
seres humanos podem aprender a viver artisticamente, devem adotar uma atitude
de calmo e sereno desprezo em face do destino implacável. A ironia ajuda a
suportar a dura realidade da vida. A felicidade consiste na reflexão filosófica
sobre as loucuras e os absurdos do espetáculo humano aliada a uma tolerância
com os erros humanos. George Santayana, nascido em Madri, mas radicado nos
EUA, também era desta escola. A sua filosofia caracteriza-se por uma recusa de:
(1) aceitar a autoridade divina de qualquer sistema de idéias; (2) se deixar
arrastar pelas panacéias de uma sociedade perfeita; (3) tomar as leis da ciência
como verdades finais. A desilusão é o começo da sabedoria porque possibilita
ver os aspectos da vida em suas exatas proporções. Não há certeza absoluta. A
sabedoria consiste em se tornar artista e gozar com sereno desprendimento todo
o colorido e toda a poesia deste mundo.
A seguir e até o final desta
série, são arrolados alguns filósofos pela data de nascimento com a síntese do
pensamento de cada um. O objetivo é situá-los na atmosfera social em que
viveram e publicaram as suas idéias.
F. H. Bradley (1846 a 1924), inglês,
professor, filósofo, estudou e lecionou em Oxford (Inglaterra). Inaugura a
corrente filosófica seguida por Benedetto Croce na Itália, inspirada em Hegel
(quando exalta o Estado e subordina o indivíduo ao grupo) e em Kant (quando expõe
a idéia do paralelismo entre religião e ciência, esferas distintas que não
colidem). Em síntese, essa corrente
idealista, que rejeita o materialismo e o mecanicismo, aceita outros
métodos além do científico para perceber a realidade. A ciência vê aparências; o espírito vê essências. A intuição descortina a
cidade de deus governada com bons propósitos, repleta de esperanças para o
homem. Este instrumento mental (intuição)
é mais valioso do que o telescópio ou o microscópio para atingir a essência do
universo. A doutrina de Bradley vem exposta no seu livro “Aparência e
Realidade”. Serve-se do método dialético. A realidade situa-se no nível da
sensibilidade e da experiência. O pensamento falsifica a realidade. Ao
distorcer o real, o pensamento gera aparências. Envolver-se em contradição no
processo intelectivo é inevitável. O pensamento é relacional e as relações
envolvem o sujeito pensante em contradições. Enquanto
aparência, o deus da religião também
deve ser repudiado. O absoluto é
experimentado no interior de cada indivíduo. As imperfeições das aparências
desaparecem no absoluto.
Vilfredo Pareto (1848 a 1923), nascido
Wilfried Fritz Pareto, na França, pais italianos, engenheiro, dirigiu a
companhia de ferrovias da Itália. Faleceu na Suíça, onde lecionava Economia
Política na Universidade de Lausanne. Entre os seus alunos estava o então
agitador socialista Benito Mussolini. Encorajado por Vilfredo, Benito empreendeu
a célebre “Marcha Sobre Roma” (1922). Vilfredo se declarava adepto da
democracia liberal, aproximou-se do fascismo e foi nomeado senador do Reino da
Itália (1923). Os seus estudos abrangem os campos da política, da economia e da
sociologia. Estudou o papel das elites na sociedade. Mostrou como um sistema de
mercados em funcionamento ideal gera o máximo de bem-estar geral. A utilidade e a satisfação não são substâncias mensuráveis ou comparáveis na
interação de indivíduos, mas tão somente, modo prático de se referir às escalas
individuais subjetivas de preferências. Ao escolher entre alternativas
quantitativamente equivalentes de consumo, o indivíduo maximiza a utilidade. Em certas condições, o
sistema de mercado gera uma situação em que o sistema de preços permite a
compatibilidade entre o lucro máximo
perseguido pelo produtor e a satisfação
máxima perseguida pelo consumidor. Alcançada tal situação, qualquer melhora
na posição de um lado acarreta piora na posição do outro. O objeto da economia
são as ações lógicas. O objeto da sociologia são as ações alógicas. O campo da
ação é a utilidade; o campo da
ciência é a verdade. “O homem não é
um ser racional e sim um ser que raciocina e que se deixa levar pelos
sentimentos e emoções”. De modo costumeiro, os homens tentam cobrir ações
ilógicas com manto lógico. No período de 1897 a 1922, entre outras obras, Vilfredo escreveu:
“Curso de Economia Política”, “Os Sistemas Socialistas”, “Mitos e Ideologias da
Política”, “Marxismo e Economia Política”, “Manual de Política Econômica”,
“Tratado Geral de Sociologia”, “Transformação da Democracia”.
Edmundo Husserl (1859 a 1938) fundou a fenomenologia como filosofia e como
método. Partindo da filosofia da aritmética, ele assentou as bases de uma nova
lógica, afirmando que podemos e devemos penetrar na essência das coisas
disciplinando o espírito através de uma descrição de essências. O método fenomenológico permite captar a
essência dos dados percebidos pela consciência. Esse método repousa no caráter
intencional da consciência que é sempre “consciência de algo”. Compreende as
reduções eidética e fenomenológica. Na redução eidética, prescinde-se da existência do “eu”, dos atos
apreensivos e dos objetos; considera-se apenas a essência desses elementos. Na redução fenomenológica, suspende-se a
independência da consciência desses elementos. Do ponto de vista lógico, os fenômenos
podem ser intuídos sem necessidade de se recorrer a confrontos e comparações. A
fim de atingir a essência do fenômeno (eidos)
mediante fases de evidência apodítica, o sujeito deve afastar de si todo
preconceito e todo juízo prévio a respeito do objeto e se prevenir contra
refração que resulte das preferências pessoais. Mediante análise progressiva, o
sujeito chega à essência (redução
eidética). Edmundo assim define “fenomenologia”: teoria das vivências em geral, considerados tanto os dados reais como os dados intencionais que se mostrem evidentes. A fenomenologia pura está situada fora da natureza física, animal ou
psicofísica. Cuida-se de filosofia
transcendental, de teoria dos fenômenos puros, dos fenômenos da consciência
pura (eu puro).
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