quinta-feira, 19 de março de 2015

FILOSOFIA XV - 31



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Independente da consciência, a realidade objetiva contém em si as três categorias: singularidade, particularidade e universalidade. Georg Lukács cita Lênin: “A forma é essencial. A essência tem esta ou aquela forma”. [A energia pode ter a forma de onda e de corpúsculo]. Georg cita Hegel: “A forma da intuição sensível pertence à arte, que confere à verdade, a forma das representações sensíveis. O belo se define, por isto, como o aparecer sensível da idéia; (...) a idéia não só é verdade como também é beleza”. Cita Bielinski: “A arte é a intuição imediata da verdade, ou um pensar por imagens”. Cita Feuerbach: “A arte apresenta suas criações apenas como aquilo que são, isto é, como criações da arte, ao passo que a religião apresenta seus seres imaginários como seres reais”. A arte cria um mundo próprio. A forma estética genuína é sempre a forma de um determinado conteúdo. A forma artística é a forma específica e peculiar da matéria que constitui o conteúdo da obra de arte. Do ponto de vista científico, a técnica está divorciada da subjetividade humana (salvo no que tange à finalidade) e tende para a universalidade. Do ponto de vista artístico, a técnica é inseparável dessa subjetividade e tende para a singularidade. A personalidade do artista é determinante, inseparável da obra, mesmo quando esta é de autoria coletiva (como a catedral gótica ou a capela sistina, por exemplo). Não há objeto estético (obra de arte) sem um sujeito estético (artista). 

A originalidade consiste na reprodução da natureza pelo artista. A falta de originalidade consiste na reprodução da reprodução (cópia, imitação). Georg cita Hegel: “A originalidade consiste em produzir algo inteiramente universal (...) é idêntica à verdadeira objetividade; ela une estreitamente o lado subjetivo e o lado objetivo da representação de tal modo que cada um dos lados não conserva nada de estranho com relação ao outro”. Georg traz à balha a estética marxista: “original é o artista que consegue captar em seu justo conteúdo, em sua justa direção e em suas justas proporções, o que surge de substancialmente novo em sua época; o artista capaz de elaborar uma forma organicamente adequada ao novo conteúdo e por ele gerada como nova forma”. A originalidade consiste em captar os traços decisivos na luta entre o velho e o novo. A vida reproduz sempre o velho e produz incessantemente o novo. A luta entre o velho e o novo penetra em todas as manifestações da vida. Sobre a mais intensa forma de surgimento do novo (na política, a revolução), Georg cita Lênin: “Só quando os de baixo não querem e os de cima não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (afetando explorados e exploradores)”. A realidade refletida e plasmada pela arte, tomada em seu conjunto, implica já, desde o primeiro momento, uma tomada de posição em face das lutas históricas do presente no qual vive o artista (partidarismo).    

Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889 a 1951) nasceu em Viena, no seio de família abastada (filho de industrial e neto de banqueiro). Na juventude, estudou física e matemática em Linz (Áustria), engenharia mecânica na Escola Técnica Superior de Berlim, engenharia em Manchester (Inglaterra). No setor aeronáutico, fez pesquisas, projetou um motor a jato e um propulsor. Interessando-se pelos fundamentos da matemática, ingressa no Trinity College, torna-se aluno de Bertrand Russell e se dedica à Lógica (Cambridge, 1912). Destacou-se na linha do positivismo lógico embora sem pertencer ao Círculo de Viena. Depois da primeira guerra mundial, quando voluntariamente alistou-se no exército austríaco e prestou serviço militar, retorna à vida civil e publica o seu “Tractatus Logico Philosophicus” (1921). Posteriormente, ao mudar o rumo das suas reflexões, ele repudiou essa obra.

Ao tentar a vida monástica, Ludwig é rejeitado pelo abade (1926). [Cena provável: o abade olha o postulante à sua frente, coça a barba e pensa: este infeliz doa toda a sua imensa fortuna às suas duas irmãs sem reservar uma parte da rica herança a este monastério e agora, sem tostão algum, vem pedir admissão. Duvidando da higidez mental do postulante, diz o abade: meu filho: não vejo em ti vocação para o serviço de deus, mas você pode servir ao monastério na tarefa doméstica de faxina e jardinagem]. Frustrado o intento de se tornar monge, Ludwig presta serviço como auxiliar de jardineiro no mosteiro de Hütteldorf até decidir voltar a Cambridge quando, então, retoma os estudos de filosofia e obtém o título de doutor (1929).

Aluno de Bertrand Russell em Cambridge, Ludwig pergunta ao mestre: sou ou não sou um completo idiota? Bertrand quis saber a razão da pergunta. Ludwig explica: se eu for um completo idiota, dedicar-me-ei à aeronáutica; caso contrário tornar-me-ei filósofo. Bertrand solicitou-lhe um texto filosófico para avaliar e lhe dar a resposta. Depois de algum tempo, o aluno apresenta um trabalho escrito. [Cena provável: Bertrand olha o texto e pensa: um idiota que doa seu enorme patrimônio para viver na miséria só pode ser filósofo ou santo; a igreja desprezou-o; então, que a universidade o consagre. Bertrand suspira, encara o discípulo, move a cabeça de um lado a outro e com a flegma britânica responde: “não, você não deve se tornar um aeronauta”]. E, assim, o século XX ganhou um dos seus mais confusos e notáveis filósofos.

Na segunda guerra mundial, com mais de 50 anos de idade, Ludwig presta serviço voluntário como porteiro e ajudante em hospitais (1941 a 1944). Depois da guerra, ele renuncia à cadeira de Filosofia na Universidade de Cambridge (1947). Ludwig escreveu: “Algumas Observações sobre Forma Lógica”, “Investigações Filosóficas”, “Observações Filosóficas”, “Cadernos Azul e Marrom”, além de uma série de apontamentos organizada por amigos após a sua morte e contida no livro “Conferências e Discussões sobre Estética, Psicologia e Crença Religiosa”.

Na opinião de Ludwig, são tautológicas: todas as verdades da lógica e, por estarem despidas de significado factual, todas as proposições matemáticas. As suas pesquisas impulsionaram o positivismo lógico. Ele se interessou pela análise lingüística ao verificar que as perplexidades na Filosofia derivam do uso desleixado da linguagem. Cabe ao filósofo tornar claras as proposições. Quando uma questão é formulada adequadamente, a resposta será provavelmente clara e precisa. Do negligente uso da linguagem resultam divergências filosóficas. Captadas as ambigüidades, a solução se mostra simples e o problema insignificante.

A pergunta sobre o que aconteceu antes do início de um espetáculo é plausível e adequada. Perguntar o que aconteceu antes do início do universo não é plausível, nem adequado. Se alguma coisa precede o início, a pergunta tem sentido; se nada o precede, carece de sentido. O significado da palavra é revelado na sua aplicação. Como em um jogo, a linguagem segue as regras conhecidas pelos jogadores. Há movimentos permitidos e outros proibidos. Ludwig nega a possibilidade de uma linguagem que permita a comunicação entre pessoas sem confusão alguma. Os problemas metafísicos resultaram de uma defeituosa apreensão da “gramática” das palavras, ou seja, da lógica das palavras. Na opinião de alguns analistas lingüísticos, os enigmas surgem dos solecismos filosóficos {erros de sintaxe} e não da linguagem corrente, como se esta linguagem fosse imune à confusão.

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