EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Johannes Hessen (1889 a 1971) teólogo e
filósofo alemão, pastor protestante, professor, perdeu sua cátedra e a
circulação dos seus livros por determinação do regime nazista. A partir de
1947, seus livros voltaram a circular. O cargo de professor lhe foi restituído
em 1954 com o apoio político de Konrad Adenauer e o apoio acadêmico de Karl
Jaspers. A sua produção intelectual é imensa e inclui textos sobre Santo
Agostinho, filosofia existencial, filosofia da religião e autobiografia. No
prólogo da sua “Teoria do Conhecimento” publicada em 1926, Johannes diz
compartilhar com Nicolau Hartmann a convicção de que o último sentido do
conhecimento filosófico não é tanto resolver enigmas e sim descobrir maravilhas.
Johannes coloca o método fenomenológico a serviço da Teoria do Conhecimento e
expõe o problema da intuição de modo
pormenorizado como até então não acontecia com outros expositores. Ele
desenvolve tanto a teoria geral como
a teoria especial do conhecimento. A
consciência filosófica incide sobre o macrocosmo daí resultando a filosofia no
sentido da concepção do universo.
Quando essa consciência incide sobre o microcosmo, resulta a filosofia no
sentido da concepção do eu.
A filosofia é uma tentativa do espírito
humano para chegar a uma concepção do universo por meio da autorreflexão sobre
as suas funções teóricas e práticas. A filosofia tem duas faces: uma dirige-se
à religião e à arte; a outra, à ciência. O conhecimento filosófico dirige-se à
totalidade das coisas; o conhecimento científico, às particularidades. Há
profunda afinidade entre filosofia, arte e religião. A esfera da filosofia
divide-se em: teoria da ciência, teoria dos valores e concepção do universo.
Como disciplina autônoma, a Teoria da Ciência ou Teoria do Conhecimento surge
pela primeira vez em 1690, com a obra de John Locke. Depois de passar pela
epistemologia de Leibniz, Berkeley, Hume, a Teoria do Conhecimento atinge sua
culminância na obra de Immanuel Kant: “Crítica da Razão Pura”.
Sujeito e objeto são os dois elementos do conhecimento e ambos são correlatos: a função do sujeito consiste em apreender o objeto; a função do objeto consiste em ser apreendido pelo sujeito. Conhecimento é a transferência das propriedades do objeto para o entendimento do sujeito. A estrutura do conhecimento se opõe à da ação. Verdade se relaciona com a essência do conhecimento. Necessário alcançar a certeza de que o conhecimento é verdadeiro. Concorre um terceiro elemento: imagem (sujeito + objeto + imagem). O fenômeno toca a esfera psicológica através do sujeito, a esfera ontológica através do objeto e a esfera lógica através da imagem.
Sujeito e objeto são os dois elementos do conhecimento e ambos são correlatos: a função do sujeito consiste em apreender o objeto; a função do objeto consiste em ser apreendido pelo sujeito. Conhecimento é a transferência das propriedades do objeto para o entendimento do sujeito. A estrutura do conhecimento se opõe à da ação. Verdade se relaciona com a essência do conhecimento. Necessário alcançar a certeza de que o conhecimento é verdadeiro. Concorre um terceiro elemento: imagem (sujeito + objeto + imagem). O fenômeno toca a esfera psicológica através do sujeito, a esfera ontológica através do objeto e a esfera lógica através da imagem.
Johannes arrola as correntes do
pensamento filosófico no que concernem ao conhecimento.
(1) Dogmatismo: o problema do conhecimento não existe. A possibilidade
de o sujeito apreender o objeto é inquestionável. (2) Ceticismo: tal
possibilidade é questionável. O sujeito não pode apreender o objeto. Ainda que
a verdade existisse, não poderia ser alcançada. (3) Subjetivismo e relativismo:
a verdade tem validade limitada. Não há verdade universalmente válida. (4) Pragmatismo:
só é verdadeiro o que for útil, valioso, fomentador da vida. O homem é um ser
prático dotado de vontade e inclinado para a ação. (5) Criticismo: a
razão humana é confiável, porém, deve examinar todas as asserções e nada
aceitar sem este cuidado prévio. Trata-se de um método de filosofar calcado na
esperança de chegar à verdade. Consiste em investigar: (I) as fontes das
próprias afirmações e objeções; (II) as razões em que as mesmas se assentam.
Kant foi o fundador do criticismo.
Johannes também arrola as
correntes do pensamento filosófico sobre a origem
do conhecimento. (1) Racionalismo: corrente filosófica que vê no pensamento a fonte principal do
conhecimento. A inteligência dispensa a experiência para formular juízos
evidentes tais como: “o todo é maior do que a parte”, “todos os corpos são
extensos”. O pensamento verdadeiro é logicamente necessário e universalmente
válido. Johannes cita Platão. (2) Empirismo: corrente filosófica que vê
na experiência a única fonte do
conhecimento. Inexiste patrimônio da razão “a priori”. Enquanto os
racionalistas procedem da matemática {prioridade da dedução} os empiristas
procedem da ciência natural {prioridade da indução}. (3) Sensualismo:
modalidade do empirismo que só admite a percepção
dos sentidos (experiência externa) como fonte do conhecimento. O
sensualismo exclui a percepção de si próprio (experiência interna) como fonte
do conhecimento. Johannes cita Condillac. Há empiristas que combinam a
experiência externa (sensação) com a experiência interna (reflexão), admitindo
ambas como fontes válidas do conhecimento. Johannes cita Locke e Hume. (4) Intelectualismo:
corrente filosófica que concilia racionalismo e empirismo. Afirma que a fonte
do conhecimento tanto é o pensamento como a experiência. Há juízos logicamente
necessários e universalmente válidos, porém, não são “a priori”, pois derivam
da experiência. Nihil est intellectu quod
prius non fuerit in sensu (nada está no intelecto sem que antes não
estivesse no sentido). Johannes cita Aristóteles. (5) Apriorismo: é
outra tentativa para conciliar racionalismo e empirismo. Pensamento e
experiência são admitidos como fontes do conhecimento, porém, há elementos “a
priori” independentes da experiência. Os conceitos “a priori” são de natureza
formal, não são conteúdos e sim formas do conhecimento. Johannes cita Kant. (6)
Fenomenalismo: corrente epistemológica conciliadora do realismo e do
empirismo. Essa teoria afirma que não conhecemos as coisas como são em si
mesmas e sim como elas se nos apresentam. Há coisas reais, mas não podemos
conhecer a sua essência. Espaço e tempo
são unicamente formas da nossa intuição. A “coisa em si” é incognoscível. O
nosso conhecimento permanece limitado ao mundo fenomênico. Tal mundo surge em
nossa consciência porque ordenamos e elaboramos o material sensível em relação
às formas “a priori” da intuição e do entendimento.
Tomando posição própria, Johannes
distingue inicialmente o problema psicológico
do problema lógico. Do ponto de vista
psicológico, o conhecimento resulta do cruzamento de conteúdos de consciência
intuitivos e não intuitivos. Do ponto de vista lógico, cumpre distinguir o que
é próprio das ciências ideais do que
é próprio das ciências reais.
Tratando-se de ciência ideal, o
racionalismo está certo. A base de validade do conhecimento está na razão. As
proposições da lógica e da matemática independem da experiência. Tratando-se de
ciência real, o empirismo está certo.
Nesse campo, a base de validade do juízo é a experiência. O conhecimento
próprio da ciência real também
apresenta categorias “a priori”. O princípio
da causalidade serve de exemplo. Na ciência real, seria impossível estabelecer leis gerais sem supor que na
natureza reinam a regularidade, a ordem e a conexão. Todo processo natural tem
uma causa.
O verdadeiro problema do
conhecimento localiza-se na relação entre o sujeito e o objeto. O conhecimento
apresenta-se à consciência natural como uma determinação do sujeito pelo objeto.
Segundo a corrente objetivista, o sujeito se rege pelo objeto, ou seja,
o objeto determina o sujeito; este reproduz as propriedades do objeto. Segundo
a corrente subjetivista, o centro de gravidade do conhecimento reside no
sujeito; deste depende a verdade do conhecimento. O realismo é a posição
epistemológica segundo a qual há coisas reais independentes da consciência. O
objeto existe ainda que não o percebamos. O idealismo é a antítese do
realismo: não há coisas reais independentes da consciência. O objeto do
conhecimento é algo ideal, nada real. Para o idealismo psicológico toda a realidade está encerrada na
consciência do sujeito. Para o idealismo
lógico a realidade vem expressa no conjunto de juízos como no processo
científico: a realidade se reduz ao lógico.
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