EUROPA (1600 a
1800). Continuação.
A expansão comercial da
Inglaterra e a abundância de matéria-prima e de mercadorias oriundas do seu
império colonial contribuíram para a revolução
industrial e para dar os contornos da civilização ocidental moderna:
democracia, nacionalismo e industrialização (1760 a 1914). Empresários e
investidores privados impulsionados pelo propósito de produzir barato e vender
caro, pelo crescimento econômico e pela perspectiva de um mercado mundial,
geraram um sistema mecanizado de fábricas que não só atendia à demanda
existente como também criava novo mercado e estimulava maior demanda. Esse fato
econômico foi denominado “revolução industrial”. Suprida a procura interna,
exporta-se o excedente. O mercado externo ficou maior do que o doméstico. Leito
tradicional da revolução industrial, a pioneira indústria algodoeira foi criada
em função do comércio colonial e se desenvolveu com o trabalho escravo nas
plantações das colônias. Não se falava em “revolução industrial” enquanto o
sistema fabril atendia apenas ao mercado existente como, por exemplo, a
produção de artigos de metal para consumo doméstico (alfinetes, facas,
tesouras). A “revolução” se caracterizou quando o volume de produção se tornou
muito grande a custo decrescente gerando maior quantidade de consumidores. {A
produção de automóveis, por exemplo, fomentou a massiva procura quando a
aquisição ficou acessível à classe média. O mesmo se diga do cigarro e de outros
produtos}.
A revolução francesa
colocou fim ao que restara do feudalismo. No que tange à geografia política,
essa revolução foi o termo final da Idade Média e o termo inicial da Idade
Moderna e mudou a fisionomia política e ideológica do mundo tal qual a “revolução
industrial” britânica mudou a fisionomia econômica. A queda do mercantilismo
propiciou a ascensão do novo capitalismo e do individualismo econômico. A
classe média urbana teve acesso ao poder político. Com a revolução industrial a partir de 1760 a vida moderna na
Europa se torna essencialmente urbana. Há novas profissões, melhor padrão de
vida, aumento da população e do consumo de bens, imperialismo, novas teorias
econômicas, políticas e científicas, novos costumes, sofreguidão pelo progresso
e por explicação racional dos fenômenos naturais e dos fatos sociais. A
revolução industrial também produziu miséria e descontentamento no seio dos
trabalhadores pobres, dos pequenos comerciantes, da pequena burguesia,
protagonistas da revolução social
(1848). Essas mudanças no mundo da cultura (sociais, políticas, econômicas)
recebem o nome genérico de revoluções
por analogia não só com o movimento dos astros como também com o revolver da
terra para o lavradio: o humo social é revolvido
para o plantio dos novos conhecimentos, técnicas e costumes.
Um surto de orgias
especulativas ocorreu nos séculos XVII e XVIII e atingiu o auge com a falência
de duas sociedades por ações: Companhia
dos Mares do Sul e Companhia do
Mississipi (1720). Ambas prometiam elevados rendimentos nas suas atividades
comerciais na América do Sul e nas ilhas do Pacífico (a primeira) e na
colonização da Louisiana (a segunda). Na ânsia de ganhar muito, os investidores
compraram o máximo de ações que lhes foi possível. O valor das ações dessas
companhias subiu dezenas de vezes em pouco tempo. Os acionistas tardaram a
perceber que as possibilidades econômicas dessas companhias tinham sido
exageradas. As ações perderam o valor rapidamente causando a ruína dos investidores.
O colapso na economia suspendeu, por algum tempo, o fervor especulativo. A
cobiça por ganhos especulativos logo recomeçou. Nos séculos XIX a XXI, a orgia
de inversões de capital com fim especulativo ocorreu periodicamente, assim como
as conseqüentes crises econômicas e financeiras que abalaram o mundo.
Da revolução na economia
resultou a ascensão da burguesia ao poder econômico e ao poder político. Os
hábitos, usos e costumes da Europa expandiram-se por todos os continentes. No
século XVII, a burguesia se torna a classe econômica dominante em quase todos
os países da Europa Ocidental: banqueiros, comerciantes, proprietários de
navios, empresários da indústria e seus principais acionistas. No século XIX, a
burguesia alcança a supremacia política na Europa. A escravatura que cessara
por volta do ano 1000 retorna com todo o vigor no século XVI. Negros são
importados da África para o trabalho nas colônias européias da América. A
escravatura passou a integrar o regime colonial por mais de 200 anos. A
revolução comercial preparou o caminho da revolução industrial ao criar uma classe
de capitalistas que ansiava por aplicar o excedente dos seus ganhos em
atividade lucrativa. O poderoso estímulo às manufaturas decorrente do
mercantilismo, o colossal aumento de produtos oriundos do império colonial
muitos dos quais exigindo manufatura antes do consumo, fizeram surgir novas
indústrias livres do sistema corporativo. A tecelagem se mecanizou.
Melhoramentos técnicos como a roda de fiar, a máquina de fazer meias e o método
de purificar metais aumentaram a produção de bens.
A alta dos preços e o aumento da população urbana
fizeram com que a agricultura se tornasse um negócio rendoso. O pastoreio é
substituído pelo cultivo da terra. A Peste
Negra e a migração dos homens do campo para a cidade reduziram a população
rural valorizando a mão-de-obra do camponês e a sua produção. Os progressos na
agricultura se deram também com o desbravar de novas terras de cultivo pelo
sistema de trabalho livre e de empreendimento individual. As Cruzadas e a
Guerra dos 100 anos solaparam a estrutura da sociedade medieval. Isto permitiu
a modernização da agricultura. Estes fatos ocasionaram uma revolução agrícola. A redução de habitantes no campo forçou os
senhores a arrendar suas terras cultiváveis. A prática converteu o senhorio em
proprietários comuns, nos moldes modernos. Lotearam o sistema feudal de campo
aberto com faixas selecionadas e distribuídas entre os servos da gleba. O
trabalho cooperativo foi substituído pelo trabalho individual dos lavradores.
As partes não cultiváveis onde os camponeses pastoreavam suas manadas e
recolhiam lenha em regime comunitário foram cercadas para uso exclusivo dos
senhores. Direitos de arrendamento também foram perdidos pelos lavradores. O
resultado desse isolamento de terras foi o empobrecimento dos camponeses que recorreram
a empregos no campo e na cidade. Os proprietários destinaram as suas terras ao
pasto de carneiros tendo em vista o alto preço da lã. O isolamento com cercas
começou no século XVII e foi até o século XIX. Além do aspecto econômico, isto atendia
a aspiração de ascensão social dos proprietários que, na qualidade de senhores
agrários, pretendiam alçar-se à aristocracia. O isolamento completou a
transformação da agricultura inglesa em empresa capitalista.
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