sexta-feira, 1 de agosto de 2014

FILOSOFIA XIII - 11



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

A expansão comercial da Inglaterra e a abundância de matéria-prima e de mercadorias oriundas do seu império colonial contribuíram para a revolução industrial e para dar os contornos da civilização ocidental moderna: democracia, nacionalismo e industrialização (1760 a 1914). Empresários e investidores privados impulsionados pelo propósito de produzir barato e vender caro, pelo crescimento econômico e pela perspectiva de um mercado mundial, geraram um sistema mecanizado de fábricas que não só atendia à demanda existente como também criava novo mercado e estimulava maior demanda. Esse fato econômico foi denominado “revolução industrial”. Suprida a procura interna, exporta-se o excedente. O mercado externo ficou maior do que o doméstico. Leito tradicional da revolução industrial, a pioneira indústria algodoeira foi criada em função do comércio colonial e se desenvolveu com o trabalho escravo nas plantações das colônias. Não se falava em “revolução industrial” enquanto o sistema fabril atendia apenas ao mercado existente como, por exemplo, a produção de artigos de metal para consumo doméstico (alfinetes, facas, tesouras). A “revolução” se caracterizou quando o volume de produção se tornou muito grande a custo decrescente gerando maior quantidade de consumidores. {A produção de automóveis, por exemplo, fomentou a massiva procura quando a aquisição ficou acessível à classe média. O mesmo se diga do cigarro e de outros produtos}.

A revolução francesa colocou fim ao que restara do feudalismo. No que tange à geografia política, essa revolução foi o termo final da Idade Média e o termo inicial da Idade Moderna e mudou a fisionomia política e ideológica do mundo tal qual a “revolução industrial” britânica mudou a fisionomia econômica. A queda do mercantilismo propiciou a ascensão do novo capitalismo e do individualismo econômico. A classe média urbana teve acesso ao poder político. Com a revolução industrial a partir de 1760 a vida moderna na Europa se torna essencialmente urbana. Há novas profissões, melhor padrão de vida, aumento da população e do consumo de bens, imperialismo, novas teorias econômicas, políticas e científicas, novos costumes, sofreguidão pelo progresso e por explicação racional dos fenômenos naturais e dos fatos sociais. A revolução industrial também produziu miséria e descontentamento no seio dos trabalhadores pobres, dos pequenos comerciantes, da pequena burguesia, protagonistas da revolução social (1848). Essas mudanças no mundo da cultura (sociais, políticas, econômicas) recebem o nome genérico de revoluções por analogia não só com o movimento dos astros como também com o revolver da terra para o lavradio: o humo social é revolvido para o plantio dos novos conhecimentos, técnicas e costumes.  

Um surto de orgias especulativas ocorreu nos séculos XVII e XVIII e atingiu o auge com a falência de duas sociedades por ações: Companhia dos Mares do Sul e Companhia do Mississipi (1720). Ambas prometiam elevados rendimentos nas suas atividades comerciais na América do Sul e nas ilhas do Pacífico (a primeira) e na colonização da Louisiana (a segunda). Na ânsia de ganhar muito, os investidores compraram o máximo de ações que lhes foi possível. O valor das ações dessas companhias subiu dezenas de vezes em pouco tempo. Os acionistas tardaram a perceber que as possibilidades econômicas dessas companhias tinham sido exageradas. As ações perderam o valor rapidamente causando a ruína dos investidores. O colapso na economia suspendeu, por algum tempo, o fervor especulativo. A cobiça por ganhos especulativos logo recomeçou. Nos séculos XIX a XXI, a orgia de inversões de capital com fim especulativo ocorreu periodicamente, assim como as conseqüentes crises econômicas e financeiras que abalaram o mundo.

Da revolução na economia resultou a ascensão da burguesia ao poder econômico e ao poder político. Os hábitos, usos e costumes da Europa expandiram-se por todos os continentes. No século XVII, a burguesia se torna a classe econômica dominante em quase todos os países da Europa Ocidental: banqueiros, comerciantes, proprietários de navios, empresários da indústria e seus principais acionistas. No século XIX, a burguesia alcança a supremacia política na Europa. A escravatura que cessara por volta do ano 1000 retorna com todo o vigor no século XVI. Negros são importados da África para o trabalho nas colônias européias da América. A escravatura passou a integrar o regime colonial por mais de 200 anos. A revolução comercial preparou o caminho da revolução industrial ao criar uma classe de capitalistas que ansiava por aplicar o excedente dos seus ganhos em atividade lucrativa. O poderoso estímulo às manufaturas decorrente do mercantilismo, o colossal aumento de produtos oriundos do império colonial muitos dos quais exigindo manufatura antes do consumo, fizeram surgir novas indústrias livres do sistema corporativo. A tecelagem se mecanizou. Melhoramentos técnicos como a roda de fiar, a máquina de fazer meias e o método de purificar metais aumentaram a produção de bens. 

A alta dos preços e o aumento da população urbana fizeram com que a agricultura se tornasse um negócio rendoso. O pastoreio é substituído pelo cultivo da terra. A Peste Negra e a migração dos homens do campo para a cidade reduziram a população rural valorizando a mão-de-obra do camponês e a sua produção. Os progressos na agricultura se deram também com o desbravar de novas terras de cultivo pelo sistema de trabalho livre e de empreendimento individual. As Cruzadas e a Guerra dos 100 anos solaparam a estrutura da sociedade medieval. Isto permitiu a modernização da agricultura. Estes fatos ocasionaram uma revolução agrícola. A redução de habitantes no campo forçou os senhores a arrendar suas terras cultiváveis. A prática converteu o senhorio em proprietários comuns, nos moldes modernos. Lotearam o sistema feudal de campo aberto com faixas selecionadas e distribuídas entre os servos da gleba. O trabalho cooperativo foi substituído pelo trabalho individual dos lavradores. As partes não cultiváveis onde os camponeses pastoreavam suas manadas e recolhiam lenha em regime comunitário foram cercadas para uso exclusivo dos senhores. Direitos de arrendamento também foram perdidos pelos lavradores. O resultado desse isolamento de terras foi o empobrecimento dos camponeses que recorreram a empregos no campo e na cidade. Os proprietários destinaram as suas terras ao pasto de carneiros tendo em vista o alto preço da lã. O isolamento com cercas começou no século XVII e foi até o século XIX. Além do aspecto econômico, isto atendia a aspiração de ascensão social dos proprietários que, na qualidade de senhores agrários, pretendiam alçar-se à aristocracia. O isolamento completou a transformação da agricultura inglesa em empresa capitalista.

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