EUROPA (1600 a
1800). Continuação.
Os movimentos inspirados
em idéias e sentimentos profanos e religiosos foram lastreados no comportamento
da economia medieval. Esta se desenvolvia em favor da comunidade, sem objetivo
de lucro, com pequeno acréscimo no justo preço como remuneração do mercador.
Daí, o caráter estático dessa economia. As cidades italianas que mantinham o
monopólio do comércio no Mediterrâneo cobravam caro pelos produtos vindos do
Oriente (sedas, perfumes, especiarias, tapeçarias). Os mercadores espanhóis e
portugueses procuraram descobrir novas rotas para o Oriente fora da área
dominada pelos italianos. A utilização da bússola e do astrolábio trouxe maior
segurança aos navegantes para se aventurarem no alto mar. Desde o século XII,
nos ambientes cultos, sabia-se da esfericidade da Terra. Somente o vulgo ainda
acreditava que a Terra era plana e que depois da linha do horizonte havia o
abismo. Espanhóis e portugueses incluíam nas suas viagens o objetivo da
catequese religiosa. Com o comércio internacional gerado pelas novas rotas, a
economia se dinamiza e o lucro é liberado. Esse fato é conhecido como
“revolução comercial” (1401 a
1500). Essa revolução lançou os
fundamentos do capitalismo moderno. Ganhar dinheiro tornou-se um fim em si
mesmo e acumular fortuna, um ideal aceito e almejado. A razão – e não a fé
religiosa – domina a economia. O planejamento é sua técnica. O mundo profano é
a pátria do dinheiro e do trabalho útil. A atividade econômica rompeu os
vínculos de subordinação com a igreja e a moral. Indiferente ao pecado, o lucro
é o principal e legítimo objetivo do negociante. A ambição de ganho condenada
como turpitudo por Tomás de Aquino,
agora é vista como vocação e mérito do homem de negócios. A busca e a posse de
metais preciosos, o aumento dos preços, a jogatina no mundo dos negócios, a
riqueza pessoal como válido propósito da vida, tudo isto passou a integrar o
novo capitalismo.
O lucrativo comércio com o
Oriente e a disputa entre Portugal e Espanha por riqueza e pelo domínio do novo
mundo descoberto pelas viagens marítimas despertou outras nações para a
navegação (França, Inglaterra, Holanda). Apesar de a América ter sido
descoberta pelos povos da Escandinávia por volta do ano 1000, coube ao genovês
Cristóvão Colombo a descoberta em nome dos reis da Espanha para fins de domínio
territorial, exploração econômica e catequese (1492). O pioneirismo da
navegação oceânica organizada coube aos portugueses nos meados do século XV.
Logo foram seguidos pelos espanhóis, ingleses, franceses e holandeses,
fundadores de colônias nos continentes americano, africano e asiático. Os
metais preciosos oriundos do tesouro dos Incas, dos Astecas e das minas do
México, da Bolívia e do Peru, aumentaram as reservas nos cofres europeus. Toda
aquela região americana estava sob o domínio espanhol. As relações entre
colônia e metrópole ajudaram na construção do capitalismo europeu. A acumulação
de riqueza para inversão futura com o propósito de lucro é característica do
capitalismo que atinge a maturidade no século XIX (1801 a 1900).
A revolução comercial inclui o sistema bancário. O empréstimo de
dinheiro como atividade comercial acontece na Europa no século XIV (1301 a 1400). Começa com
algumas casas comerciais em cidades italianas. Depois, o governo também se
dedica à atividade bancária, como na Suécia (1656) e na Inglaterra (1694). As
casas comerciais italianas introduzem na circulação econômica as letras de
câmbio e o cheque. Isto facilitou as trocas nacionais e internacionais. A
mineração, a fundição e a tecelagem se despregam do sistema corporativo quando
o capitalista se torna proprietário das ferramentas e das máquinas. Os
operários são contratados e recebem salários. Assistência social e garantia
trabalhista não existem. Na indústria de tecelagem adota-se o sistema doméstico
de produção capitalista. Os mercadores associam-se para monopolizar certa
atividade comercial em alguma parte do mundo, sem personalidade jurídica.
Submetem-se a riscos comuns e comprometem parte dos seus recursos. Contribuem
para a manutenção de docas, armazéns e para a defesa contra quem pretendesse
quebrar o monopólio. A associação era disciplinada mediante regras acatadas por
todos os membros. A sociedade por ações sucedeu esse tipo de companhia. Algumas
dessas companhias tinham patentes. O governo lhes concedia o monopólio
comercial e o privilégio de exercer autoridade sobre a população colonial.
Graças ao privilégio, a Companhia Inglesa
das Índias Orientais governou a Índia como se fosse um Estado particular
até 1784.
Outra característica da revolução comercial foi uma eficiente
economia monetária. Dificilmente moedas eram aceitas fora da cidade em que
circulavam. A partir de 1300, o ducado
(Veneza) e o florim (Florença)
começaram a circular e ser aceito em toda a Itália e na Europa Setentrional. A
experiência frutificou. O comércio e a indústria exigiam sistemas monetários
estáveis e uniformes para se desenvolver. Os Estados mais importantes adotaram
padrão de dinheiro para ser usado nas transações. A Inglaterra iniciou a cunhagem
uniforme durante o reinado de Elizabeth. Na França, o procedimento da cunhagem
completou-se na época de Napoleão. A revolução comercial inclui o
mercantilismo, modelo de economia em que o governo intervém para estimular a
prosperidade nacional e aumentar o tesouro do Estado (erário). Os mercadores
apoiaram os reis e obtiveram vantagens. A monarquia absoluta atendia aos
interesses dos mercadores associados aos empreendimentos do rei.
O mercantilismo apoiou-se na idéia de a prosperidade da nação ser determinada pela
quantidade de metais preciosos existentes dentro dos seus domínios e à sua
disposição. Essa doutrina foi inspirada na prosperidade e no poder da
Espanha, cuja fortuna parecia resultar da abundância de metais preciosos
oriundos das colônias americanas. O Estado que não tivesse metais preciosos
obrigava-se a incentivar a produção industrial e exportar mais do que importar
mercadorias. Desse modo, acumulava a prata e o ouro resultantes da balança
comercial favorável. O mercantilismo implicou nacionalismo, protecionismo e
imperialismo. Para ser forte a nação devia depender o menos possível das
mercadorias estrangeiras. O governo devia controlar os salários, as horas de
trabalho, os preços e a qualidade dos produtos, bem como, incentivar o
crescimento da população. Os pobres deviam servir como operários e soldados. A
caridade ou o espírito de justiça estavam ausentes da relação entre as camadas
alta, média e baixa da sociedade. As colônias forneciam matéria-prima e
consumiam os produtos vindos da metrópole. O Estado ganhava mais do que os
mercadores. Os atos de navegação de 1651 e 1660, expedidos pelo governo britânico,
tinham por objetivo garantir o monopólio do transporte de produtos da colônia
para a metrópole e que certos produtos, como o tabaco e o açúcar, viessem
diretamente para os portos da Inglaterra onde seriam pagas as taxas
alfandegárias. O espírito dessas leis era o de que as colônias serviam para
enriquecer a metrópole. A França, sob Luiz XIV, conheceu e aplicou amplamente o
mercantilismo (1643 a
1715). O grande maestro da economia dessa época foi o ministro Jean-Baptiste
Colbert. Sendo o Estado francês a encarnação do absolutismo, a tarefa de
Colbert ficou facilitada. O mercantilismo foi a expressão econômica lógica do
absolutismo político.
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