quinta-feira, 28 de agosto de 2014

FILOSOFIA XIII - 21



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

Baruch Spinoza (1632 a 1677), holandês, filho de pais judeus, educado na ortodoxia hebraica, dela se afastou ao se dedicar à filosofia.  Em decorrência dos seus estudos e das suas idéias ele foi amaldiçoado e expulso da sinagoga e da comunidade judia. Razão, tolerância e justiça são os fundamentos da filosofia de Spinoza, defensor da liberdade de pensamento. O único bem perfeito que prodigaliza felicidade duradoura é o amor incondicional e desinteressado a deus. A idéia de deus formada por Spinoza foi adotada por Albert Einstein [ambos judeus pelo sangue, mas não pela religião e nem pela cultura]. Suas obras principais são: “Ética” e “Tractatus Theologico Politicus”. Na opinião de Spinoza, espírito e matéria são aspectos distintos de uma única substancia essencial. Deus, substância, universo, são uma só e mesma coisa (panteísmo). A inteligência humana é parte da inteligência divina. Mediante idéias adequadas o homem chega a conhecer a conexão entre as coisas. Perceber as coisas sob um ponto de vista atemporal faz parte da mente humana. A visão intelectual do universo fica turvada pelas paixões. A ignorância está na raiz de todo mal. O instinto de conservação é a força motriz dos atos humanos. Riqueza, prazer, poder e fama, são coisas vazias e vãs, mas o homem as preza. O homem se escraviza às coisas, às influências externas, e se liberta quando unido a deus. A liberdade consiste na independência, na capacidade de determinar a si próprio, de pensar e agir sem medo algum. O homem livre medita sobre a vida e não sobre a morte. Na função do corpo político {Estado} a liberdade é essencial. A liberdade de pensamento e a existência social comungam a mesma essência. Nem tudo pode ser regido por leis. O que não for proibido é permitido, apesar de danos eventuais. O bom governo promulga leis oportunas e pertinentes, sem se imiscuir nas crenças e na instrução. Tal governo deve ser exercido por uma classe privilegiada, politicamente responsável, que respeite a propriedade e a todos permita manifestar suas potencialidades. 

Jacques-Bénigne Bossuet (1627 a 1704) bispo, teólogo francês, orador, escritor, político, preceptor de Luiz XIV e do delfim, nasceu em Dijon e faleceu em Paris. Das suas obras, destacam-se os “Discursos sobre a História Universal” e “Política Tirada das Santas Escrituras”. Defende a monarquia absoluta. O fundamento da monarquia é a autoridade paterna advinda da natureza. Cada povo deve seguir como ordem divina o governo estabelecido no seu país, porque deus é um deus da paz que almeja a tranqüilidade das coisas humanas. Todo governo legítimo goza da proteção divina. Vós sois deuses, tendes um caráter divino em vossa autoridade que ostentais em vossa fronte, dizia Bossuet, dirigindo-se aos reis. Todo o poder vem de deus (omnis potestas a deo) e em nome de deus é exercido pelo monarca. Por isso mesmo, os súditos lhe devem obediência inconteste. Os reis são senhores absolutos e têm naturalmente a disposição plena e livre de todos os bens, tanto os seculares como os eclesiásticos, para deles usar como sábios ecônomos, ou seja, segundo as necessidades do seu Estado. O príncipe a ninguém deve prestar contas do que ordena. Acima do príncipe não há autoridade alguma, quer pessoal, quer legal; o seu julgamento é inapelável. Apesar de absoluta e indivisível, a soberania comporta freios. Governo absoluto não é o mesmo que governo arbitrário. Em que pese não estar sujeito à força coativa da lei, o soberano está submetido à força diretiva do direito e da moral. Não existe poder isento de toda lei divina, natural ou humana. Sob um deus justo, não existe poder arbitrário. O monarca deve respeitar os princípios éticos essenciais e as leis fundamentais do reino {perenes, difusas, que enlaçam os costumes e não brotaram de vontade individual}. A autoridade do Papa limita-se à matéria religiosa. O povo deve obedecer ao soberano sem qualquer tipo de resistência, sem comentários ou resmungos. A resistência só é legítima quando o soberano ordena contra deus.

As idéias absolutistas de Bossuet e de outros teóricos foram aceitas porque a época em França era tumultuada e as pessoas reclamavam ou aspiravam ordem e segurança mais do que a liberdade. Os indivíduos acreditavam que o rei só queria o bem de todos e que possuía as virtudes que o credenciavam. Os expositores de tais idéias esforçavam-se para agradar o monarca reinante e o credo religioso cristão (católico ou protestante). Conforme o momento histórico, ficava difícil conciliar a espada e a cruz. Os comerciantes queriam estabilidade política e proteção para os negócios. O mercantilismo e a política despótica encontravam apoio nas teorias sobre o governo absoluto. Época de crise, de incerteza, de perigo ou de transição, favorece o florescimento de governos fortes. Os homens sentiam-se impotentes para resolver individual e isoladamente os seus problemas. Acreditavam que o rei era o que devia ser (sábio, virtuoso, justo, magnânimo, protetor, valente, dedicado ao bem comum). Os súditos acabaram por se desiludir e se rebelar.   

Emanuel Swedenborg (1688 a 1772) nascido em Estocolmo, filho de um bispo luterano, destacou-se na literatura, na ciência e no misticismo. Em decorrência de conflito bélico, orientou o transporte por terra de duas galeras e cinco barcos num percurso de quatorze milhas, feito notável para a época (1718). Dedicou-se à mineração e ao estudo da química, ótica, fisiologia, matemática e astronomia. Descobriu o sétimo planeta do sistema solar. Escreveu inúmeros textos sobre essas matérias, tais como: “Economia do Reino Animal”, “De Coelo et Inferno Exauditis et Visis”, “Sapientia Angélica de Divino Amore”. No seu “Produmum Principiorum”, Swedenborg trata da estrutura molecular e expõe a sua teoria atômica. Após sentir-se iluminado espiritualmente, aos 54 anos de idade, chefiou a seita denominada Nova Igreja de Jerusalém, com adeptos na Europa, na América, na África e na Ásia. A sua doutrina partia da existência de um mundo espiritual onde se encontra tudo que existe no mundo material, porém, sob forma diferente. “Quanto mais sábio é o homem, mais adorador é da divindade”. A alma se nutre ao unir-se ao corpo humano. A natureza é sempre semelhante a si mesma; repete-se em sucessivos planos.       

No campo da filosofia, o ápice da revolução intelectual foi o movimento conhecido como iluminismo. Iniciado na Inglaterra por volta de 1680, espalhou-se pela Europa continental. A Enciclopédia, obra monumental que reunia o saber de filósofos e cientistas até o século XVIII, foi considerada o símbolo do iluminismo. Entre as idéias fundamentais desse movimento inscrevem-se: (1) A razão é o único guia infalível da sabedoria; as raízes do conhecimento estão na percepção sensorial; as impressões dos sentidos devem ser purificadas no cadinho da razão antes de adquirir valor para explicar o mundo ou para indicar o caminho de uma vida melhor. (2) O universo é máquina governada por leis inflexíveis; a natureza não comporta milagres ou interferência divina. (3) A melhor estrutura da sociedade é a mais simples e natural. (4) Religião, governo, economia, devem ser purgados de todo artificialismo e reduzidos a uma forma concorde com a razão e a liberdade natural. (5) Pecado original não existe. (6) A perfeição estará ao alcance da sociedade e do homem se houver liberdade para seguir as diretrizes da razão e dos instintos.

O iluminismo foi inspirado no racionalismo de Descartes, Spinoza e Hobbes. Os expoentes do iluminismo foram: John Locke (1632 a 1704) e Isaac Newton (1642 a 1727). Denis Diderot, Jean D´Alambert, Claude Helvetius, Barão de Holbach, todos filósofos do final do século XVIII, concordavam com o racionalismo e o liberalismo de Voltaire. Diderot (1713 a 1784) e D´Alambert (1717 a 1783) figuram entre os autores da “Encyclopédie” supra mencionada, por eles projetada como luz sobre trevas. Os enciclopedistas não eram ateus. Tinham sua peculiar noção de deus. Diderot era panteísta. “Se deus não existisse, teríamos de inventá-lo”, dizia Voltaire.

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