EUROPA (1600 a
1800). Continuação.
Na França, houve gradual evolução
da política a partir do século XIII. Assim como no mundo da natureza, as
mudanças na sociedade também podem resultar de um processo lento e às vezes
imperceptível semelhante a um movimento subterrâneo. Tal processo vem
mencionado pelo brasileiro Sílvio Romero (século XIX): “Tudo tinha adormecido à sombra do manto do príncipe feliz que havia
acabado com o caudilhismo nas províncias da América do Sul e preparado a
engrenagem da peça política de centralização mais coesa que já uma vez houve na
história de um grande país. De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de
todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez”.
(Transcrito por Alfredo Bosi em sua História Concisa da Literatura Brasileira). Em seu livro
O Futuro do Capitalismo, Lester C.
Thurow também se refere ao movimento subterrâneo comparando-o ao movimento das
placas tectônicas.
Felipe Augusto, Luiz IX e
Felipe IV contrataram soldados, substituíram obrigações feudais por tributação
nacional, administraram justiça por seus próprios juizes e afastaram os
senhores feudais dessa função judicante. Na regulamentação dos negócios
eclesiásticos os monarcas restringiram a autoridade do papa. Os senhores
feudais perderam poder e foram reduzidos a cortesãos, cujos títulos e prestígio
dependiam do monarca. A senda do absolutismo francês interrompe-se brevemente
no século XVI quando o país enfrentou uma questão externa (guerra com a Espanha)
e outra interna {batalha entre católicos e huguenotes
(apelido dado aos protestantes)}. Nobres aproveitaram-se da situação e
contestaram a sucessão no trono. Embora fosse líder dos huguenotes, Henrique IV
diz que “Paris vale uma missa”,
converte-se ao catolicismo e restabelece a paz (1593). Cinco anos depois, ele promulga
o Édito de Nantes garantindo a liberdade de consciência e direitos políticos a
todos os protestantes (1598). Esse rei encoraja o comércio e a indústria,
promove reformas econômicas e aniquila o poder da nobreza. Morre assassinado
(1610). O sucessor, Luiz XIII, confiou o governo do reino ao cardeal Richelieu.
O cardeal eliminou as limitações à autoridade do rei, estabeleceu a meta de
colocar a França no posto de nação mais poderosa do mundo e criou o sistema de
administração local por agentes do rei de modo a centralizar o governo da Coroa
e extirpar traços sobreviventes da autoridade feudal. Sob o governo dos três
últimos representantes da dinastia Bourbon a França atinge o auge do absolutismo,
a começar por Luiz XIV (1643
a 1715), cognominado o “Rei Sol” e autor da célebre
frase “l´état c´est moi”. [Não há
certeza de que assim tenha sido pronunciada, mas esta era a sua concepção de poder
político]. Ele consolidou o poder nacional reduzindo os nobres a parasitas da
corte e revogou o Édito de Nantes (1684). Restaurada a hegemonia católica,
súditos franceses buscaram abrigo em países protestantes. Os sucessores de Luiz
XIV também afirmaram governar por direito divino.
A revolução política caracterizou-se pela independência e pelo
fortalecimento de Estados nacionais com governos monárquicos absolutos que
substituíram o regime feudal e o império secular e religioso (católico). A reforma religiosa protestante incidiu no
mesmo erro que combatera: rigor exagerado. Os filósofos do iluminismo buscaram uma base racionalista ou psicológica para a
conduta humana (séculos XVII e XVIII). Anthony Ashley Cooper, Terceiro Conde de
Shaftesbury (1671 a
1713) {alguns nobres preenchiam o ócio pensando e escrevendo} afirmava que o homem
é dotado naturalmente de um senso de
decência que o capacita a distinguir o certo do errado; que essa capacidade
independe da noção de deus ou de vida extraterrena; que a moralidade independe
de sanções sobrenaturais e se amplia à medida que aumenta a capacidade racional
do indivíduo; que a virtude é o
equivalente da harmonia, da proporção e do bom gosto. Segundo Hume e Smith, a
moralidade é determinada em grande parte pela simpatia recíproca. Mediante
educação adequada o indivíduo percebe que o seu interesse próprio consiste em
não prejudicar o outro. O resultado dessa educação será a menor necessidade de
repressão. Segundo Goethe “o homem de
ação não tem consciência; só tem consciência aquele que contempla.”. Certamente,
o poeta alemão referia-se à consciência moral, posto ser a consciência orgânica
atributo cognitivo de todo ser vivo.
No período de 1400 a 1800 houve mais
batalhas do que paz na Europa. Os déspotas se guerreavam. A maioria dos
conflitos teve caráter religioso conexo ao político. A partir de 1600
preponderou o motivo político: as nações mais fortes pretendiam a supremacia e
a disputavam. Acrescentava-se o motivo econômico: a cobiça dos grupos
comerciais. Povos e territórios eram como peões em tabuleiro de xadrez jogado
por governos mais fortes. A maior contenda do século XVII se deu entre a
dinastia francesa dos Bourbon e a dinastia austríaca dos Habsburgo. Esta última
incluiu nos seus domínios a Hungria e a Boêmia. O líder da família Habsburgo
ostentava as dignidades remanescentes do Santo Império Romano. A ambição dessa
dinastia aliada ao triunfo da reforma católica incluía o domínio sobre a Europa
Central, o que provocou a reação dos países setentrionais (Dinamarca e Suécia).
Com a morte de Gustavo Adolfo, rei da Suécia, em 1632, a França, que o
apoiava, assume a direção da guerra. Além de religiosa, a disputa passou a ser
dinástica: Habsburgo x Bourbon. Após a vitória da França, a paz se restabelece
em 1648 pelo tratado de Westfália. À França, coube o território da Alsácia e
três bispados. A Suécia ganhou territórios situados na Alemanha. A Holanda
obteve independência. Aos príncipes alemães foi reconhecida soberania em seus
respectivos reinos, o que reduziu o Santo Império Romano a uma ficção. Luiz
XIV, ao assumir pessoalmente a direção política da França, em decorrência da
morte do seu ministro Mazarino (sucessor de Richelieu), resolveu reorganizar as
fronteiras da França junto das quais havia possessões inimigas. Áustria, Brandenburgo,
Espanha e Holanda se aliaram para evitar que as províncias belgas caíssem sob o
domínio da França. Esta aliança denominada Liga
de Augsburgo recebeu o apoio da Inglaterra na guerra que eclodiu (1688 a 1697).
Luiz XIV pediu a paz ante
o poderio inimigo. Três anos depois, a França volta à guerra motivada pela
sucessão no trono espanhol. Luiz XIV entendia que o herdeiro do trono era o seu
neto. A Áustria discordou, aliou-se com a Inglaterra, Holanda e Brandenburgo e
iniciou a guerra que só terminou com o Tratado de Utrecht (1702 a 1714). O neto de Luiz
XIV assumiu o trono espanhol com o compromisso de a Espanha jamais se aliar à
França. Pelo Tratado, a França perdeu Nova Escócia e Terra Nova para a
Inglaterra e Gibraltar para a Espanha. Aos Habsburgo couberam Milão e Nápoles
que eram províncias belgas. O abade de Saint-Pierre (1658 a 1743) apresentou
projeto para criação de uma Liga das
Nações com poderes para combater aqueles que violassem a paz internacional.
200 anos depois o projeto tornou-se realidade com o Tratado de Versalhes celebrado
em 1919. Os conflitos anteriores entre Inglaterra e França e a disputa pela
supremacia comercial e pelo domínio do continente americano culminou com a
chamada “guerra dos sete anos” (1756
a 1763). França, Espanha, Áustria e Rússia se uniram
contra Inglaterra e Prússia em confrontos na Europa, na América e na Índia.
Inglaterra e Prússia venceram. Na França, a derrota abriu caminho para a
revolução de 1789. Na Prússia, sob o governo dos Hohenzollern, a vitória
proporcionou aumento do território e o status
de potência européia. A vitória deu à Inglaterra o status de rainha dos mares e aumentou o seu prestigio
internacional.
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