sábado, 9 de agosto de 2014

FILOSOFIA XIII - 13



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

Na França, houve gradual evolução da política a partir do século XIII. Assim como no mundo da natureza, as mudanças na sociedade também podem resultar de um processo lento e às vezes imperceptível semelhante a um movimento subterrâneo. Tal processo vem mencionado pelo brasileiro Sílvio Romero (século XIX): “Tudo tinha adormecido à sombra do manto do príncipe feliz que havia acabado com o caudilhismo nas províncias da América do Sul e preparado a engrenagem da peça política de centralização mais coesa que já uma vez houve na história de um grande país. De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez”. (Transcrito por Alfredo Bosi em sua História Concisa da Literatura Brasileira). Em seu livro O Futuro do Capitalismo, Lester C. Thurow também se refere ao movimento subterrâneo comparando-o ao movimento das placas tectônicas.

Felipe Augusto, Luiz IX e Felipe IV contrataram soldados, substituíram obrigações feudais por tributação nacional, administraram justiça por seus próprios juizes e afastaram os senhores feudais dessa função judicante. Na regulamentação dos negócios eclesiásticos os monarcas restringiram a autoridade do papa. Os senhores feudais perderam poder e foram reduzidos a cortesãos, cujos títulos e prestígio dependiam do monarca. A senda do absolutismo francês interrompe-se brevemente no século XVI quando o país enfrentou uma questão externa (guerra com a Espanha) e outra interna {batalha entre católicos e huguenotes (apelido dado aos protestantes)}. Nobres aproveitaram-se da situação e contestaram a sucessão no trono. Embora fosse líder dos huguenotes, Henrique IV diz que “Paris vale uma missa”, converte-se ao catolicismo e restabelece a paz (1593). Cinco anos depois, ele promulga o Édito de Nantes garantindo a liberdade de consciência e direitos políticos a todos os protestantes (1598). Esse rei encoraja o comércio e a indústria, promove reformas econômicas e aniquila o poder da nobreza. Morre assassinado (1610). O sucessor, Luiz XIII, confiou o governo do reino ao cardeal Richelieu. O cardeal eliminou as limitações à autoridade do rei, estabeleceu a meta de colocar a França no posto de nação mais poderosa do mundo e criou o sistema de administração local por agentes do rei de modo a centralizar o governo da Coroa e extirpar traços sobreviventes da autoridade feudal. Sob o governo dos três últimos representantes da dinastia Bourbon a França atinge o auge do absolutismo, a começar por Luiz XIV (1643 a 1715), cognominado o “Rei Sol” e autor da célebre frase “l´état c´est moi”. [Não há certeza de que assim tenha sido pronunciada, mas esta era a sua concepção de poder político]. Ele consolidou o poder nacional reduzindo os nobres a parasitas da corte e revogou o Édito de Nantes (1684). Restaurada a hegemonia católica, súditos franceses buscaram abrigo em países protestantes. Os sucessores de Luiz XIV também afirmaram governar por direito divino.

A revolução política caracterizou-se pela independência e pelo fortalecimento de Estados nacionais com governos monárquicos absolutos que substituíram o regime feudal e o império secular e religioso (católico). A reforma religiosa protestante incidiu no mesmo erro que combatera: rigor exagerado. Os filósofos do iluminismo buscaram uma base racionalista ou psicológica para a conduta humana (séculos XVII e XVIII). Anthony Ashley Cooper, Terceiro Conde de Shaftesbury (1671 a 1713) {alguns nobres preenchiam o ócio pensando e escrevendo} afirmava que o homem é dotado naturalmente de um senso de decência que o capacita a distinguir o certo do errado; que essa capacidade independe da noção de deus ou de vida extraterrena; que a moralidade independe de sanções sobrenaturais e se amplia à medida que aumenta a capacidade racional do indivíduo; que a virtude é o equivalente da harmonia, da proporção e do bom gosto. Segundo Hume e Smith, a moralidade é determinada em grande parte pela simpatia recíproca. Mediante educação adequada o indivíduo percebe que o seu interesse próprio consiste em não prejudicar o outro. O resultado dessa educação será a menor necessidade de repressão. Segundo Goethe “o homem de ação não tem consciência; só tem consciência aquele que contempla.”. Certamente, o poeta alemão referia-se à consciência moral, posto ser a consciência orgânica atributo cognitivo de todo ser vivo.

No período de 1400 a 1800 houve mais batalhas do que paz na Europa. Os déspotas se guerreavam. A maioria dos conflitos teve caráter religioso conexo ao político. A partir de 1600 preponderou o motivo político: as nações mais fortes pretendiam a supremacia e a disputavam. Acrescentava-se o motivo econômico: a cobiça dos grupos comerciais. Povos e territórios eram como peões em tabuleiro de xadrez jogado por governos mais fortes. A maior contenda do século XVII se deu entre a dinastia francesa dos Bourbon e a dinastia austríaca dos Habsburgo. Esta última incluiu nos seus domínios a Hungria e a Boêmia. O líder da família Habsburgo ostentava as dignidades remanescentes do Santo Império Romano. A ambição dessa dinastia aliada ao triunfo da reforma católica incluía o domínio sobre a Europa Central, o que provocou a reação dos países setentrionais (Dinamarca e Suécia). Com a morte de Gustavo Adolfo, rei da Suécia, em 1632, a França, que o apoiava, assume a direção da guerra. Além de religiosa, a disputa passou a ser dinástica: Habsburgo x Bourbon. Após a vitória da França, a paz se restabelece em 1648 pelo tratado de Westfália. À França, coube o território da Alsácia e três bispados. A Suécia ganhou territórios situados na Alemanha. A Holanda obteve independência. Aos príncipes alemães foi reconhecida soberania em seus respectivos reinos, o que reduziu o Santo Império Romano a uma ficção. Luiz XIV, ao assumir pessoalmente a direção política da França, em decorrência da morte do seu ministro Mazarino (sucessor de Richelieu), resolveu reorganizar as fronteiras da França junto das quais havia possessões inimigas. Áustria, Brandenburgo, Espanha e Holanda se aliaram para evitar que as províncias belgas caíssem sob o domínio da França. Esta aliança denominada Liga de Augsburgo recebeu o apoio da Inglaterra na guerra que eclodiu (1688 a 1697).

Luiz XIV pediu a paz ante o poderio inimigo. Três anos depois, a França volta à guerra motivada pela sucessão no trono espanhol. Luiz XIV entendia que o herdeiro do trono era o seu neto. A Áustria discordou, aliou-se com a Inglaterra, Holanda e Brandenburgo e iniciou a guerra que só terminou com o Tratado de Utrecht (1702 a 1714). O neto de Luiz XIV assumiu o trono espanhol com o compromisso de a Espanha jamais se aliar à França. Pelo Tratado, a França perdeu Nova Escócia e Terra Nova para a Inglaterra e Gibraltar para a Espanha. Aos Habsburgo couberam Milão e Nápoles que eram províncias belgas. O abade de Saint-Pierre (1658 a 1743) apresentou projeto para criação de uma Liga das Nações com poderes para combater aqueles que violassem a paz internacional. 200 anos depois o projeto tornou-se realidade com o Tratado de Versalhes celebrado em 1919. Os conflitos anteriores entre Inglaterra e França e a disputa pela supremacia comercial e pelo domínio do continente americano culminou com a chamada “guerra dos sete anos” (1756 a 1763). França, Espanha, Áustria e Rússia se uniram contra Inglaterra e Prússia em confrontos na Europa, na América e na Índia. Inglaterra e Prússia venceram. Na França, a derrota abriu caminho para a revolução de 1789. Na Prússia, sob o governo dos Hohenzollern, a vitória proporcionou aumento do território e o status de potência européia. A vitória deu à Inglaterra o status de rainha dos mares e aumentou o seu prestigio internacional.

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